25.1.16

Perplexidades





Edgar Silva recebeu nestas eleições presidenciais 19,70% /22.414 votos na Madeira, quando nas legislativas o PCP apenas alcançara nesta região 3,57% 4.468 votos e a nível nacional a sua candidatura presidencial se ficou pelos 3,95% 182.905 votos, face aos 8,27% 444.955 votos do PCP nas legislativas. Destes dados concluo que o povo da Madeira, o único que o conhece realmente, demonstrou, contra todos os constrangimentos e adversidades, o seu reconhecimento pelo trabalho político que faz. Pergunto-me, se Edgar Silva pudesse publicitar regularmente esse trabalho político na TV, para que todo o povo português o conhecesse, quantos votos somaria? A questão é válida para todos os candidatos vencidos na primeira volta das presidenciais.

Marisa Matias alcança 10,13% 469.307 votos, quando o resultado do BE nas legislativas foi de 10,22% 549.878 votos. Portanto, o BE perde cerca de 80.000 votos e vê o candidato que os seus adversários políticos de direita apoiaram, subir à Presidência da República Portuguesa. Para além do bom desempenho da candidata na elevação da consciência política dos seus concidadãos, há mesmo motivo para festejar?

Nas legislativas de outubro de 2015  votaram 5.380.451 cidadãos para 9.439.701 inscritos e nas presidenciais, para 9.091.031 escritos, votaram 4.737.373, menos 650.000 eleitores. A coligação PAF teve 1.981.459 votos nas legislativas mais 81.054 votos do PSD e 7.536 votos + 3.654 votos do CDS, perfazendo 2.073.703 votos. Marcelo Rebelo de Sousa superou esta soma em mais de 340.000 votos, atingindo 52,00% 2.410.130 votos. Parece crível que estes votos tenham vindo do eleitorado das esquerdas.

O PS teve 1.742.012 votos nas legislativas, Sampaio da Nóvoa 1.060.769 votos e Maria de Belém 196.582 votos; tal significa menos cerca de 500.000 votos: O pragmatismo político tem um preço elevado, nos confrontos decisivos.

O líder cessante do CDS  concluiu que não se confirmou nestas eleições o apoio popular à aliança das esquerdas: suprema falácia dum habilidoso politico que sai (?), finalmente, de cena; na realidade, estas eleições mostraram a esquerda completamente dividida, com 4 candidatos oriundos do PS e 1 apoiado implicitamente pela sua direção, mais as candidaturas do PCP e BE que afirmaram, até ao fim, quererem ser escolhidas para a segunda volta. O resultado, é que, uma vez mais, um candidato oriundo da direita, embora realinhado com o atual governo, sobe à Presidência da República com apenas 25% dos votos dos eleitores e num quadro eleitoral em que a esquerda plural é maioritára.

Vitorino Silva, no início do apuramento de votos, estava em 3º lugar no Porto e superava Marisa Matias; acabou com metade dos votos da candidata do BE, mas logo a seguir na lista  desse círculo. Os primeiros apuramentos são os das pequenas freguesias do campo, expressando sobretudo o voto de protesto dum mundo rural em agonia que já não tem peso eleitoral.

Henrique Neto levantou problemas fundamentais do país e da sua presidência, como a estratégia nacional perante um mundo caótico e perigoso, que ninguém quis discutir. A sua posição inicial de defesa do bloco central em alternativa à aliança das esquerdas que suporta o governo de centro esquerda de Carlos Costa, colocou-o na pele do Velho do Restelo, condenado ao fracasso, não pela sua lucidez, mas por não ter alternativa para o futuro.

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa  representa politicamente  a média e grande burguesia portuguesa, democrática e liberal, que demonstra uma grande fraqueza económica e financeira, e tem os  seus (dessa burguesia) interesses interligados com a oligarquia financeira que controla a Comissão Europeia e as suas instutições; por isso e perante a  força impiedosa dessa oligarquia sem pátria, tende para a cedência e a resignação política. ( recorde-se a falência do BES e a entrega do BANIF, da TAP, da REN, da GALP...a transferência para a Holanda das ( holding) sedes fiscais das 19 maiores empresas da Bolsa portuguesa...) 

A missão constitucional do  Presidente da República é liderar a defesa da independência nacional e, para o fazer, terá que ser uma ponta de lança na União Europeia e no mundo, defendendo a soberania, os direitos constitucionais e a paz, procurando a aliança com todos os governos europeus, presidências e forças políticas empenhadas na refundação democrática e solidária da União Europeia; deve ser um protagonista internacional da construção de uma ampla aliança, mesmo que precária , contra a política austeritária e a sua deriva chauvinista que já domina a Polónia e a Hungria… A Comissão Europeia dos partidos conservadores é tolerante com a degeneração do regime democrático desses países, em nome do austeritarismo e é implacável na austeridade que impôs à Grécia, a Portugal, a Malta...  que reclamam mais democracia social para a União Europeia e solidariedade entre os seus estados membros.
Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República, cumprirá o seu dever patriótico, enfrentando os seus próprios partidários, nacionais e europeus,  ou, como foram os líderes do último governo do PSD-CDS,  será forte com os fracos, o seu povo e fraco com os fortes, a Comissão Europeia conservadora?










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