22.5.05

Turismo: Região Centro_Nova imagem de marca

Contributo para a reflexão acerca da imagem de marca regional


1. Províncias
Há mais de uma centena de anos e no âmbito da leitura, interpretação e usufruto da paisagem, dos seus valores naturais, culturais e mesmo estéticos, a que hoje chamamos o turismo cultural e de natureza, a Geração de 70 equacionou a questão com base na crítica ao conceito de distrito, considerado artificial e não científico, que foi superado pela introdução do conceito de província.
Ao mesmo tempo, os nossos primeiros geógrafos, como Silva Teles, mas também publicistas-geógrafos como Batalha Reis, antropólogos e etnólogos, como Teófilo Braga, Adolfo Coelho e Leite de Vasconcelos, sistematizavam critérios científicos e culturais que consagrariam o termo província, aplicado à diversidade das Beiras, distinguindo-as da Estremadura (e do Alentejo) e do Norte (Atlântico e Transmontano).

2. Províncias e Regiões
Orlando Ribeiro introduziria para explicar os cambiantes regionais e a transição para o Sul, o factor latitude. Considerando, em função deste critério, a existência de três grandes regiões em Portugal continental: O Norte Atlântico, o Norte Transmontano e o Sul, matizadas pela diversidade sub-regional que encontramos no espaço geográfico de cada uma delas. Antropólogos como Jorge Dias perseguem a mesma linha de pensamento.
Na verdade, desde a década de 20, com o início da publicação da obra monumental e premonitória do turismo cultural e do turismo de natureza, denominada Guia de Portugal, com o volume dedicado a Lisboa (1924), os restantes sete às diversas províncias de Portugal, sob a orientação de Raul Proença e mais tarde de Sant'Ana Dionísio, que a elite intelectual portuguesa faz coexistir os conceitos de províncias da Beira, Portugal central ou Centro de Portugal.

3. Complementaridade da Paisagem Ibérica e Identidade da paisagem portuguesa
Desde Oliveira Martins e todos os companheiros da Geração de 70, aos colaboradores de Raul Proença no Guia de Portugal, até à geração de cientistas e divulgadores contemporâneos de Orlando Ribeiro, a complementaridade da paisagem Ibérica afirma-se, na Europa e no Mundo, ao mesmo tempo que a necessidade de evidenciar, no contexto da Península e da Europa, a identidade da paisagem e da cultura nacionais.
A Geração de 70 confiou esta tarefa sobretudo a Eça de Queirós, que com tal missão se radicou em Paris e à Revista de Portugal, que ele dirigiu e onde se publicava uma secção em Francês com esse fim, mas partilhou com ele, sobretudo nos escritos de Oliveira Martins, o reconhecimento de uma identidade peninsular, a que Miguel Unamuno chamaria "iberismo espiritual", tema recorrente numa linha contínua de pensadores e escritores que vai de Pascoaes a Nemésio e Saramago.
Raul Proença elaborou uma súmula do Guia de Portugal em Francês, editada em Paris em 1931 pela Hachette, para afirmar a identidade de Portugal no quadro da Península Hispânica e promover Portugal como destino turístico autónomo.
Orlando Ribeiro cita Barros Gomes como "o fundador da Geografia científica em Portugal", referindo a sua obra Cartas Elementares de Portugal, Lisboa, 1878, enquanto exemplo intuitivo de delineamento dos principais conjuntos do território e de definição da identidade de Portugal no contexto da Península Ibérica, ideia desenvolvida posteriormente pelos trabalhos de Silva Teles e Lautensach (autor da Die Iberissche Halbinsel, München, 1964, uma Geografia completa da Península).
Em suma, o que a nossa tradição cultural e de divulgação da informação turística consagra, no país e no espaço internacional, é a coexistência dos conceitos de Beiras e Centro, perceptíveis pelo público nacional e o conceito de Portugal, como elemento distintivo nos quadros peninsular e europeu. Mas pergunta-se, à luz das realidades actuais das marcas, fluxos turísticos e destinos internacionais, qual é ainda o valor e a eficácia desta tradição?

4. Novos territórios e a perspectiva da Espanha, da Europa e do Mundo
As NUTs Oeste e o Médio Tejo, da Estremadura, estão hoje na Região Centro.
A Espanha constitui, actualmente, o nosso principal mercado, em nº de visitantes (21 milhões) e rendimentos do turismo, e o 2º destino turístico mundial. O conceito de província é familiar em toda a Espanha, pois as suas comunidades estão organizadas com base nessa divisão política e correspondente organização turística.
A denominação Beiras não é imediatamente perceptível aos viajantes de outros países e mesmo a de Centro, peca pela sua dimensão indefinida. Internacionalmente, confunde-se com a designação adoptada pelo Eurostat para denominar os destinos turísticos europeus: Centro é um destino turístico da Itália! O Eurostat designa o nosso país, enquanto destino turístico e sem as regiões autónomas, por Continente (Portugal).
A única marca com dimensão e projecção internacionais, perceptível na Península Ibérica, na Europa e no Mundo é Portugal. Então, ela tem de estar presente na marca regional.
Concluindo:

5. Centro de Portugal, como marca ?
Sim…mas, talvez seja útil particularizar a área de Portugal com uma sub-referência que seja familiar ao mercado espanhol e aos seus clientes provenientes de outros países. E essa sub-referência parece poder ser Entre Douro e Tejo. Qualquer espanhol conhece os dois rios, aspectos globais das suas paisagens e produtos e localiza genericamente os seus trajectos, entre Castilla y León, a Estremadura espanhola e o extremo da Espanha Verde. Em menor escala, o turista de outros países que conhece o mercado espanhol fica com uma percepção mínima das suas características e localização. Em suma:

6. Centro de Portugal
_Entre Douro e Tejo

Reflecte as novas realidades territoriais da Região e o seu papel de charneira a Norte e a Sul, e de articulação entre regiões transfronteiriças.
Afirma uma identidade própria e distinta, mas perceptível, em Portugal, na Península Ibérica e na Europa.
Incorpora toda a tradição comum e as marcas e produtos existentes: Beiras, Centro, Templários, Leiria/Fátima, Beira Douro, Douro Sul, Beira Alta e Beira Baixa, Beira Litoral, Vale do Côa e Além Douro, Dão Lafões, Serra da Estrela, Coimbra-Conimbriga-Terras de Sicó, Baixo-Mondego-Gândara, Costa e Praias Atlânticas_da Figueira da Foz a Peniche e Aveiro, Rota da Luz, Vale do Zêzere, Oeste, Médio Tejo, Serras do Caramulo, da Lousã e do Açor, Cova da Beira, etc…
Concluindo: Centro de Portugal_Entre Douro e Tejo, com todas as sub-marcas, em função da tradição, dos novos públicos-alvo e dos fluxos turísticos ibéricos e internacionais, já que, se olharmos apenas para a componente mais valiosa das cadeias de valor, a Hotelaria, o nº de dormidas de hóspedes residentes noutros países foi, no ano de 2002 em Portugal, de 23.562.694 e este valor, relativo aos nacionais, já se elevava a 10.646.274.
Mas sub-marcas e produtos ligados em Rede, em função da organização de Cadeias de Valor e de um plano estratégico unificado e racional de organização e promoção turística, através do estabelecimento das Grandes Rotas territoriais e temáticas e correspondentes Circuitos turísticos.

Conimbriga, Abril de 2005 António dos Santos Queirós

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