A Jangada de Pedra e o Velho do Restelo
Título do Romance de Saramago, A Jangada de Pedra, é a
Península Ibérica que se desprendeu da Europa
Fala do Velho do Restelo, face à armada, quando parte para
as Índias
Canto IV, dos Lusíadas
Ó glória de mandar, ó vã cobiça
desta vaidade a quem chamamos Fama!
.../...
Deixas criar às portas o inimigo,
por ires buscar outro de tão longe,
por quem se despovoe o Reino antigo, (Portugal)
se enfraqueça e se vá deitando a longe; (deitando a
perder)
buscas o incerto e incógnito perigo
por que a Fama te exalte e te lisonje
chamando-te senhor, com larga cópia…
Do debate eleitoral têm estado
ausentes a política da UE e internacional, como se vivêssemos longe da sua
influência, na jangada de pedra de Saramago e também, a regionalização, com se
o futuro dos 70% dos portugueses que vivem no Litoral e nas suas duas grandes
áreas metropolitanas, em nada dependesse
da sobrevivência do modo de vida rural, do destino comum desses outros 30%
concidadãos, e a sua agonia fosse da responsabilidade política das autarquias locais
e não da Assembleia da República e dos governos, que só dela emanam.
Duas televisões privadas e uma pública, confinam cada partido em doze escassos minutos, impõem as questões política em debate, monocórdicas: com quem se vai coligar no governo ( as sondagens já elegeram um de dois primeiros-ministros, qual parlamento?); em que condições se demite…e já quando o tempo escasseia: diga lá quem é o responsável pelo caos no SNS…e pelo falhanço da educação pública…e pela pesada carga fiscal… Depois vêm os comentadores, no mesmo tom, sentenciar quem ganhou o totobola da política e quem cativou melhor o seu eleitorado, como se o voto livre dos cidadãos já se tivesse perdido para sempre.
Finalmente, o ato de votar é
sacralizado: os mais altos magistrados da nação, sublinham-no. O povo português
vai eleger os seus deputados.!
E já nem sequer nos lembramos que a legislação
eleitoral não permite nem a formação de listas cidadãs, nem a votação direta no
deputado. De facto, são os partidos que primeiro escolhem os seus deputados, quase
todos dispensando a vontade dos seus militantes: ao líder entronizado cabe a
parte de leão e aos barões, a outra parte. Nós, cidadãos, votamos nessas listas,
para que não fomos nem ouvidos nem achados
Mesmo assim vale a pena votar? Sim.
Se olharmos para o programa de cada partido e, com pensamento crítico, o desmontarmos.
A quem diz servir, mas a quem serve de facto? Pergunta difícil, mas que só a
compreensão da vida política globalizada, pode responder. Aqui não há atalhos,
nem figuras carismáticas, nem coros louvaminhas, que nos iluminem. Só a nossa
consciência política nos vale.
É o primeiro dever da intervenção
de cada partido na campanha eleitora: elevar a nossa consciência política. Mas
quem o faz?
Assim entendi eu, a voz desse velho…Cum
saber só de experiências feito, tais palavras tirou do experto peito.
1 comentário:
O António Queirós tem duas teses académicas que analisam, informam e fazem a crítica, em geral muito positiva, das mensagens dos nossos escritores em temas como a estratégia de desenvolvimento de Portugal, de satisfação das necessidades do povo, de respeito pelo ambiente e de amor à natureza. Vale a pena ler estas teses, ou os artigos que ele fala destas descobertas, pois descobrimos a grandeza e amor aos Portugueses destes nossos extraordinários escritores, poetas, romancistas e ensaístas. A cultura em que me tenho procurado educar, em especial na reforma, deve muito a estes escritos António Queirosianos. Esta recordação do que diz sobre isto Camões nos lusíadas é de uma clarividência de grande argúcia e grandeza de alma. Pergunto muitas vezes se nós como povo merecemos Luís Vaz de Camões? A resposta é sim, porque ele, que morreu esquecido e na miséria achou que SIM, e eu não tenho o direito de duvidar! O problema é que tendo Camões morrido em 1580, só em meados do século XX o povo Português começou a ser alfabetizado e a poder ler Camões! O Lutero no princípio do século XVII, unificou a língua alemã, propôs e praticou a escolarização, para que os cristãos pudessem ler a Bíblia. Ora os Portugueses têm duas bíblias, a última é de Camões! Mas ainda não têm políticos e bispos, nem cidadania à altura das suas mais elementares necessidades socioeconómicas, veja-se a falta escandalosa de coesão socio territorial, ou seja os diferenciais escandalosos de investimento produtivo, apoios sociais e emprego entre as duas zonas macrocéfalas e o resto do território e população que já não é suficiente, nem para a manutenção dos recursos naturais de mais de metade de Portugal!...
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