30.3.20

AS LEIS DA GUERRA E O SENTIDO DA VIDA

A crise sanitária permitirá revelar a verdadeira natureza política dos regimes que governam o mundo
4.
Este é o tempo de criar o governo de frente única, em Portugal, chame-se assim ou governo de salvação nacional, como e bem, propôs o líder do maior partido da oposição; mas também de construir a frente única e democrática na União Europeia, para enfrentar a crise que já germinava sobre os pés de barro dos poderosos da Europa e de construir, na diversidade política, um futuro comum para a humanidade, como há muito preconiza a República Popular da China.


Um general não deve empreender uma guerra num ataque de ira, nem deve enviar as suas tropas num momento de indignação… um Estado que pereceu nunca poderá ser reavivado, nem um homem que morreu poderá ser ressuscitado.
Na guerra só pode haver um estado-maior e uma voz de comando. A crítica partidária para desgastar e responsabilizar o atual governo, impulsionada por alguns líderes e grupos da oposição, na mira de futuros ganhos eleitorais, é inaceitável e sobretudo inútil para combater a pandemia. Inaceitável, porque este o governo é o único que tem poder efetivo para conter o número de infetados, reequipar os hospitais e os seus cuidados intensivos, mobilizar a solidariedade internacional e proteger o pessoal de saúde.
Quando a comunicação social, em nome da liberdade de informação e do princípio de “mostrar tudo”, vai á caça das desgraças pessoais, dos pontos fracos, dos gritos de desespero, dos especialistas e porta vozes que enchem os ecrãs com o seu protagonismo, vai mal, distorce a realidade mostrando a parte pelo todo e semeia a desconfiança, quando é a base do cerrar fileiras dos soldados/cidadãos.
Quando uma instituição, que representa os juízes, vem a terreiro com propostas positivas, como a de libertar os presos que não representam ameaça social (avaliando, desde já, os que  beneficiam de saídas precárias), esta crítica positiva contribui para a derrota da pandemia, pois reduz os riscos de gerar novos focos nas comunidades prisionais, para os técnicos, guardas, reclusos e suas famílias.
Mas quando os representantes das três ordens da saúde publicam um manifesto negro, que em nome das carências de meios de proteção  projeta um pico de crise sem os profissionais suficientes, semeia a inquietação e o terror, e nada resolve. Estas entidades têm acesso direto ás autoridades de saúde, então, porquê lançar na comunicação social o alarme, sem esgotar as possibilidades de fechar com as autoridades as brechas e reforçar os pontos fracos? Um bastonário não deve empreender uma guerra num ataque de ira, nem deve mobilizar as suas tropas num momento de indignação…
Não foi a pandemia que causou o caos nas redes sociais: por um lado, as centrais da contrainformação, perfeitamente identificadas, que proclamam a culpa da China, que são mentiras as informações da Organização Mundial de Saúde e avisam da ameaça dos cubanos e dos russos…
Mas quem mais nos virá ajudar, se não for a China? Quem mandou para 89 países equipas médicas e material sanitário, criou plataformas científicas e médicas abertas na internet, senão este país? Quem enviou equipas médicas para a América Latina e a Europa, senão Cuba? Que país Europeu enviou mais de uma centena de pessoal de saúde, unidades especiais do exército e camiões de material sanitário para a Europa, senão a Rússia, que também está a ajudar a Venezuela? E, agora, também a pequena Albânia, que destacou para a Itália, o seu antigo colonizador, ajuda médica e de enfermagem!
Não, a pandemia que infesta as redes sociais e chega à comunicação social, espalhamo-la nós, reproduzindo notícias falsas e tendenciosas, sem verificar as suas fontes e questionar os interesses que servem, esquecendo que, neste momento, a mão curadora que nos pode abrir a porta na desgraça e instruir na defesa da nossa família, vizinhos e conterrâneos, é a mão da Organização Mundial de Saúde, unida, como os diferentes dedos da mão, com as autoridades de saúde de cada país, de Portugal.
Este é o tempo de criar o governo de frente única, em Portugal, chame-se assim ou governo de  salvação nacional, como e bem, propôs o líder do maior partido da  oposição; mas também de construir a frente única e democrática na União Europeia ,para enfrentar a crise que já germinava sobre os pés de barro dos poderosos da Europa e de construir, na diversidade política, um futuro comum para a humanidade, como há muito preconiza a República Popular da China.

“Um general não deve empreender uma guerra num ataque de ira, nem deve enviar as suas tropas num momento de indignação… um Estado que pereceu nunca poderá ser reavivado, nem um homem que morreu poderá ser ressuscitado” (Sun Tsu)
Este é também o tempo de colocar face à nossa consciência e livre arbítrio, o pensamento dos homens bons, face ao sentido da vida.
Mas os que não quiserem saber deste caminho, deverão reconhecer, como primeira lição desta crise trágica, que hoje e no futuro, ficarão mais expostos à Morte, sejam, países ou pessoas, ricos ou pobres, gente boa ou gente má.


José Mujica, apelidado de Pepe Mujica, foi presidente do Uruguai de 2010 a 2015. Ex-guerrilheiro dos Tupamaros, entre os anos 60-70, foi preso como refém pela ditatura entre 1973 e 1985. Ele prega uma filosofia de vida em torno da sobriedade: aprender a viver com o que é necessário e o que é justo

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