A crise sanitária permitirá revelar a verdadeira natureza política dos regimes que governam o mundo
1.
Confesso que, como ser humano, a minha maior preocupação com
a evolução da pandemia vai para o povo dos EUA. A ausência de um Serviço
Nacional de Saúde, a ignorância do governo de Trump e dos seus conselheiros
face aos avisos dos próprios cientistas e profissionais de saúde americanos, a
indiferença da oligarquia que financiou e levou ao poder o presidente perante
as camadas mais pobres e arruinadas da população que classifica como
"losers", são prenúncios de catástrofe.
Acabei de ver e ouvir na CNN o apelo dramático dos
governadores de Nova York e de New Jersey, que necessitam urgentemente de
material médico, afirmando que se esgotará num prazo de dez dias e de duplicar
o número de camas. Ouvi-os censurar a competição entre estados para comprar os
recursos médicos e temer a morte de inúmeros pacientes por falta de equipamento
indispensável, nomeadamente ventiladores.
Assisti ontem, na RTP2, no programa GPS de Fareed Zakaria, à
entrevista com o anterior presidente dos Centers for Disease Control and
Prevention_CDC, a entidade da administração responsável pela saúde pública nos
EUA, a alertar o governo dos EUA para o risco de a pandemia, sem medidas de
controle e combate imediato, poder infetar a maioria da população americana e
chegar á cifra trágica de um milhão de mortos, afirmando, ao mesmo tempo, que
nos governos de Bush e de Obama, eles também sujeitos a ameaças do mesmo tipo,
que então emergiram nos EUA, souberam enfrentá-las e as equipas científicas que
orientaram esse combate, continuavam a existir na instituição a que recentemente
presidira.
Assisto agora à conferência de imprensa do Presidente,
despojado da sua arrogância, a ler hesitante um texto que previamente foi
escrito, prometendo efeitos milagrosos de medicamentos para outras doenças, uma
vacina que chegará, enumerando fundos e apoios, medidas contra os
especuladores, convocando as Forças Armadas para as tarefas de logística,
delegando poderes e responsabilidades nos estados, enquanto fora da Casa
Branca, 80 milhões de americanos já estão sob quarentena ( mas qual, com que
medidas?), mais de 42.000 foram infetados e se choram perdas superiores a 500
falecidos, que a velha ceifeira já leva consigo , aos 100 em cada dia...
"Que Deus, proteja a América!", mas que o governo
dos EUA , como apela o Secretário-Geral das Nações Unidas a todas as nações
beligerantes, suspenda as guerras que trava nos quatro quadrantes do mundo,
escute os economistas estadunienses que lhe dizem não poder salvar os seus negócios
e a economia sem proteger os seus trabalhadores e gestores, mobilize os seus
formidáveis recursos militares para proteger o seu povo e aceite a mão estendida da China, sem custos nem contrapartidas, para salvar a sua nação da
catástrofe e o mundo duma crise económica e social devastadora.
PS: No dia seguinte, o governador de New York voltava à TV para mostrar a sua indignação face ao comportamento do governo federal: tinha pedido urgentemente 30.000 ventiladores e o governo de Trump entregou uma quota de 400!
Enquanto Trump anunciava que queria reabrir os negócios e os espaços públicos, para celebrar a Páscoa!
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