28.3.20

Unidos como os dedos da mão. Ou a necessidade de uma Frente Única em Portugal e na Europa


A crise sanitária permitirá revelar a verdadeira natureza política dos regimes que governam o mundo
3.
“A estratégia sem tática é o caminho mais lento para a vitória. A tática sem estratégia é o estertor antes da derrota.” (Sun Tsu, A Arte da Guerra)

A declaração do FMI e do Banco Mundial sobre o perdão da dívida dos países pobres não pode cair em saco roto e a Carta dos 9 primeiros-ministros ao Conselho da Europa, também não.

Ela preconiza uma estratégia comum no combate à pandemia e pela saúde na Europa e a criação de um fundo comum de financiamento, contra a lógica dos mercados especuladores que a Troika e os seus partidários canonizaram, para desgraça das políticas socias da Europa e dos seus Serviços Nacionais de Saúde.
Leia em anexo a carta, assinada por LSophie Wilmès, primeira ministra de Bélgica; Emmanuel Macron, presidente da República Francesa; Kyriakos Mitsotakis, primeiro ministro de Grecia; Leo Varadkar, primeiro ministro de Irlanda; Giuseppe Conte, primeiro ministro de Italia; Xavier Bettel, primeiro ministro de Luxemburgo; António Costa, primeiro ministro de Portugal; Janez Janša, primeiro ministro de Eslovenia, y Pedro Sánchez, presidente do Governo de España.
Mas na reunião do Conselho como no Eurogrupo a divisão tornou-se clara. Países como a Holanda (que pratica o dumping fiscal e recebe os impostos das 20 maiores empresas portuguesas, que para lá transferiram as suas sedes fiscais), a Áustria e a Finlândia opõem-se a qualquer tipo de mecanismo comum para evitar uma crise económica e social. A Alemanha está mais próxima deste grupo de países, mas dividida: economistas tão diferentes como Michael Hüther, o responsável do instituto de pesquisa patronal, o líder do IFO, o liberal Clemens Fuest, e o dirigente do Instituto de Política Marcroeconómica, Sebastian Dullien, entre outros, exigiram "que os países da zona euro emitissem obrigações conjuntas no valor de mil biliões de euros (cerca de 8% do produto interno bruto da zona euro), limitadas a esta crise".
Em Portugal, expressando a necessidade política de uma frente única, partidos e Presidência da República, as associações empresariais e sindicais, o Banco de Portugal, unem-se em torno deste caminho.
Mas, em Portugal, os juros da dívida soberana, impostos pela Troika e outros obscuros financiadores que permanecem na sombra, com o argumento de que acabara o tempo do dinheiro barato, em Portugal ainda representam 7.000.000 milhões de euros/ano, tal como os juros pagos pelos bancos nacionais aos grandes bancos e fundos financeiros internacionais, das empresas aos bancos e das famílias aos bancos, têm de ser renegociados, sem o que nem os países, nem as empresas e os bancos nacionais, nem as famílias, poderão recuperar a economia. Para este combate as nações pobres e dependentes e todos os povos, têm de estar Unidos como os Dedos da Mão.
O mecanismo de "cooperação reforçada" permite a mais de nove países iniciar uma política comum, mesmo que outros Estados se lhe oponham. Hoje já são treze. Algumas políticas comuns importantes - como o acordo de Schengen - começaram assim. É isso que defende, por  Carsten Brzeski, do ING alemão.
A Frente Única é um acordo político, em torno de um programa político mínimo, para atingir um objetivo estratégico comum.
Existe pois uma estratégia que pode vencer o bloqueio, a da cooperação reforçada: mas e se a Alemanha continuar a opor-se?
Do fundo dos séculos, responde-nos Sun Tzu: “Há estradas que não devem ser seguidas, exércitos que não devem ser atacados, cidades que não devem ser sitiadas, posições que não devem ser contestadas e comandos do soberano que não devem ser obedecidos.”(Sublinhado meu)

1 comentário:

acmc52 disse...

Nem mais...
Os trocos (povos do norte), por vezes, ficam no fundo do saco... As notas (povos do sul), é que são importantes; saem e compram o pão ou o progresso.