26.1.22

O crepúsculo do capital nacional (3)

 

Para onde vai a riqueza nacional? Para o estrangeiro, para a finança europeia e mundial, os governos da República, os empresários e as famílias, não são os gastadores irresponsáveis com que a propaganda da direita europeia, ao leme da UE, procura mistificar a sua política servil e neocolonial e que os partidos da sua família política ampliaram em Portugal, sob a consigna de ir mais longe que a Troika!

A história recente das causas do crescimento económico insuficiente e do empobrecimento da nação

Ana Suspiro, no livro “Portugal à Venda”, revelava já em 2015 o crepúsculo do capitalismo nacional. Dou-lhe a palavra.

No final de 2008, os acionistas portugueses qualificados, ou seja, com uma participação igual ou superior a 2%, controlavam quase metade das empresas do PSI 20. Entre 43% e 45% do valor bolsista das maiores companhias estava em mãos nacionais. No final de 2014, o peso dos capitalistas portugueses caíra para 26,3%. A descida só não era mais significativa porque empresas como a Cimpor e a Brisa, já sobre hegemonia internacional,  saíram do índice e foram substituídas por grupos dominados por acionistas familiares nacionais com pouco capital disperso.

Entre 2008 e finais de 2014, o estado, os  acionistas privados e empresários portugueses, venderam a investidores estrangeiros empresas e participações num valor próximo dos 30 mil milhões de euros. O número engorda para 37 mil milhões de euros com a alienação aprovada já no início de 2015 da PT Portugal. A transação foi feita entre brasileiros e franceses, mas envolveu a operação em Portugal da PT.

O negócio de maior dimensão, a PT, tem a particularidade de a receita não ficar em Portugal, mas sim no Brasil. A Oi protagonizou a maior alienação realizada em Portugal, e que só indiretamente está associada aos sócios portugueses da PT SPGS,

A capitalização bolsista de Lisboa terá atingido o pico em 2007, perto dos 180 mil milhões de euros. Caiu drasticamente no ano seguinte, abalada como todos os mercados pela falência do Lehman Brothers. Recuperou em 2009, que foi um ano de recessão acentuada, e voltou a mergulhar no vermelho quando emergiu a crise das dívidas dos países mais fracos do euro. A bolsa de Lisboa chega a 2014 a valer pouco mais de 50 mil milhões de euros. O índice PSI 20, que reúne as principais empresas cotadas, fechou o ano como PSI 18, depois da saída  da Espírito Santo Financial Group e do Banco Espírito Santo. A gestora da bolsa não encontrou empresas e ações que cumprissem os critérios exigidos para aceder ao indicador nobre da praça lisboeta.

O Estado foi o principal vendedor através das privatizações e da alienação de participações detidas pela Caixa, que responderam por dois terços da receita gerada em Portugal. A banca privada cedeu operações por mais de quatro mil milhões de euros, montante equivalente às alienações concretizadas pela Portugal Telecom e pela Galp de ativos no Brasil. A aquisição da Cimpor pela brasileira Camargo Corrêa foi o maior desinvestimento privado português com impacto no mercado doméstico.

Os resultados desta privatização, colocando a Cimpor nas mãos do Grupo Camargo_ Brasil foram desastrosos: Queda de valor de 93% na Bolsa, de 3500 para 235 M €. Menos 400 empregos. Mais dívida, de 1600 para 3300 M €.

O Regabofe

Desnacionalizações e Privatizações: Balanço e Falácias

Os CTT eram uma empresa lucrativa, das mais lucrativas das empresas públicas. Nos sete anos anteriores à privatização (entre 2007 e 2013) apresentou, em média, lucros superiores a 50 milhões de euros. Nos dois anos seguintes à privatização, a trajetória ascendente parecia consolidar-se, os seus lucros ultrapassaram os 70 M. Mas a que preço? Perderam-se 2853 postos de trabalho e  foram encerradas 481 Estações de Correio e 1047 Postos de Correio. Após a privatização a ANACOM passou a autorizar aumentos de tarifários muito superiores à inflação, como é o exemplo da tarifa base que aumentou 12% logo em 2014. O contrato laboral da empresa foi lançado às urtigas, Entretanto, os lucros foram caindo, os CTT fecharam 2018 com um lucro de  21,8 M e 2019 com um lucro de 29,2 milhões de euros. Enfim, os CTT foram vendidos por 909,2 milhões de euros  mas valem hoje apenas 654 milhões de euros. Não obstante, a administração distribuiu  329,25 M€ de dividendos entre 2014 e 2017 aos acionistas, um valor que superou os lucros, o que descapitaliza a empresa.

Na lista dos principais compradores constavam dois grandes bancos internacionais, o Deutsche Bank, com 2%, e o Goldman Sachs, com 5%. Quatro anos depois, nenhum dos bancos constavam dos acionistas. O Goldman Sachs repetia o golpe bem sucedido no Royal Mail britânico, privatizado uns meses antes dos CTT: comprar em baixa, vender por cima e encaixar o lucro. José Luís Arnaut, cujo escritório de advogados participou no processo de privatização,  ganhou um lugar na estrutura internacional do banco. E ascendeu à administração da ANA. Atualmente, é acompanhado no banco por Durão Barroso, então presidente da Comissão Europeia. O Goldman Sachs, foi acusado de fraudes e práticas ilegais que conduziram  à crise financeira global de 2008, e esteve na iminência de ir à falência. O Goldman Sachs foi responsabilizado pela origem da crise financeira da Grécia, pois ajudou a esconder o déficit das contas do governo conservador, que conduziu o país à bancarrota.

Como detentores do capital do CTT, destacam-se hoje bancos internacionais (BNP Paribas e Norges Bank), fundos de investimento especulativos (Wellington e Kairos) e o multimilionário espanhol Rafael Domínguez de Gor, dono de marcas de roupa infantil (Mayoral) e de participações em diversos sectores, da moda às telecomunicações móveis.

Manuel Champalimaud, SGPS, S.A. 19.683.269

Global Portfolio Investments, S.L.    15.057.937

GreenWood Builders Fund I, LP       10.020.000

Green Frog Investments Inc  7.730.000

Norges Bank   3.105.287

Bestinver Gestión S.A. SGIIC          3.024.366

CTT, S.A. (ações próprias)    1.500.001

Restantes acionistas    89.879.140

TOTAL           150.000.000

O mau funcionamento de entrega de encomendas e correspondência por parte dos Correios é alvo de queixas diárias na plataforma da DECO. Os empresários queixam-se das demoras no processamento dos serviços de correio internacional, mas a administração responde com os bons resultados no mercado espanhol. O tempo de espera nas estações continuou a aumentar. Em 2019, 48 concelhos ficaram sem estação de correio. Sobre pressão política e popular foram reabrindo.

No contexto das eleições desse ano, o ministro do planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, criticou no Parlamento o governo anterior de centro-direita por ter privatizado os CTT a 100%, indo além do que exigia a troika, "por razões ideológicas". Para o ministro, "o Estado devia continuar a ter participação no capital na empresa, mas hoje estamos confrontados com a realidade".

Com a venda da EDP, REN, ANA, ENVC e dos CTT, o governo do PSD/CDS encaixou quase 7 mil milhões de euros em privatizações, quando o acordo com a Troika lhe exigia um valor inferior de 5,5 mil milhões

Desafiado por Jerónimo de Sousa a recuperar o "controlo público dos CTT e do serviço postal", António Costa não disse que sim, mas também não disse que não, adiando uma decisão sobre a matéria para 2020, ano em que terminava o contrato de concessão do serviço postal universal.

Chamado ao debate, o presidente do PSD, Rui Rio, considerou  que, "bem ou mal", os CTT "foram privatizados" e disse não ver "razão para alterar nada" neste modelo de gestão da empresa.

O contrato de concessão terminou a 31 de dezembro de 2021, após ter sido prorrogado unilateralmente pelo Governo em 2020. Devido a esta prorrogação, os CTT exigem uma compensação de 44 milhões de euros ao Estado, a que se junta um pedido de indemnização de 23 milhões de euros devido aos impactos da pandemia,

Em janeiro de 2022 com as eleições à vista, o governo do PS decidiu renovar, por ajuste direto, a concessão  do Regime Postal universal aos CTT, por mais 7 anos, exigindo que existisse “em cada concelho uma estação de correios”. Haverá prova maior de incoerência fraqueza e impotência política, à luz das próprias leis do mercado e da boa gestão empresarial,  na defesa do serviço público de correios?

A ANA foi entregue à Vinci, França. E os aeroportos nacionais concessionados por 50 anos. Anualmente, faz aumentar as taxas portuárias. Deixa ao governo o ónus de investir na  criação de um novo aeroporto, exige a manutenção da Portela, com extensão ao Montijo.

O colapso da banca privada

A principal causa da falência geral da banca privada em Portugal foi a concorrência desleal dos bancos gigantes e fundos abutre internacionais, associada à má gestão orientada pelos dogmas neoliberais e à corrupção das suas elites. A crise financeira com epicentro nos bancos dos EUA, foi o seu detonador.

A banca americana criou um novo instrumento financeiro (CDO ou Collaterized Debt Obligation), uma amálgama de títulos de crédito – hipotecários, ao consumo, de cartões de crédito, capazes de gerar lucros muito superiores  às ações,  depósitos e obrigações tradicionais. Venderam-nos em todos os mercados financeiros a ocidente, a preços especulativos, até que uma vaga de incumprimento dos primeiros devedores e o excesso de oferta destes obscuros papéis, levaram os seus promotores a desembaraçar-se deles e a precipitar a sua venda.

Começa aqui o desvio do capital internacional para fora da economia produtiva e a abertura duma via de sentido único para o plano inclinado de novas e cada vez mais frequentes ciclos de crise global.

O negócio imobiliário era a nova galinha dos ovos de ouro. Os 17 bancos gigantes, hoje sob a alçada dos procuradores americanos e ingleses, por constituírem um cartel que fixa as taxas de juros interbancárias, emprestavam abundantemente aos bancos mais pequenos, recursos que estes não possuíam,  para financiar generosas parcerias público-privadas, grandes obras públicas e projetos privados megalómanos e alimentar o consumo, a compra da habitação e a ambição dos pequenos investidores, que eram compensados com uma fatia dos juros altos. Uma pequena fatia: os relatórios internos desses grandes bancos e das companhias  que gerem os fundos de reforma privados, assinalam que 80% dos pequenos acionistas perdem dinheiro na roleta bolsista onde esses fundos especulam, mas não se apercebem disso, devido ao baixo nível de literacia financeira e a impossibilidade de acompanhar e fiscalizar a contabilidade dos seus gestores seniores.

Em Portugal, aos balcões do BPN, do BPP, do BES, do BANIF, do BCP, do Santander, do BPI, vendiam-se os novos produtos com garantia de segurança e maior retorno, financiavam-se sem garantias reais os empresários tidos como mais empreendedores, partia-se à aventura de novo para África, mas também para o Médio Oriente e para partilhar o novo maná que o mercado aberto e desregulado do Leste europeu prometia. As administrações desses bancos tinham consciência de que estavam a criar um  perigoso diferencial entre os juros que pagavam aos bancos gigantes e os lucros que lhes proporcionavam a venda dos “produtos financeiros derivados”, as parcerias público-privadas e os empréstimos lucrativos que faziam aos governos, empresas e famílias, mas não procuraram diminuir o risco; apesar de o seu capital não representar sequer 2% da banca europeia, nenhum esforço de fusão foi feito, antes se optou pela fuga para a frente e para o recurso aos métodos dos fundos abutre.

Nos EUA, o presidente Bush, secundado pelo presidente Clinton, Republicanos e Democratas e na Europa, os governos conservadores e trabalhistas do Reino Unido, desregularam a banca, que passou a autorregulou-se e eliminou todos os limites de negócios que a grande recessão mundial dos anos trinta do século XX determinara, tudo lhes foi permitido em nome do crescimento económico.

Quando surgiram os primeiro sinais de crise, a UE  insistiu na receita neoliberal e a ordem foi para aumentar o investimento público em favor da economia privada. A falência das primeiras casas financeiras e depois o crash financeiro do Lemon Brothers, provocaram um terramoto que chegou à Europa.  O sistema financeiro dos EUA recebeu da Reserva Federal gigantescos financiamentos e institui-se o princípio do risco sistémico: Os bancos tinham de ser salvos, os grandes bancos eram demasiado grandes para falir.

Os bancos franceses e alemães tinham cerca de 1,6 biliões de dólares em ativos aplicados no sistema financeiro de Grécia, Itália, Espanha, Irlanda e Portugal. Entre 2009 e 2013, reduziram quase para metade a sua exposição a Portugal, de 240 mil milhões para cerca de 130 mil milhões de dólares. Os grandes bancos deixaram de emprestar dinheiro entre si; o ajustamento foi de tal forma violento que os bancos locais cortaram todo o crédito às empresas, mas já não impediu a sua falência em série.

A dívida pública tinha aumentado, em nome do crescimento económico sem restrições, da internacionalização dos negócios, da produção para a exportação, e, no auge da crise,  de acordo com a canalização de recursos públicos para salvar os primeiros bancos privados, comportando mais endividamento, justificado pelo risco sistémico, pela salvaguarda dos direitos dos depositantes, e dos postos de trabalho. A receita neoliberal prevaleceu, salvar para privatizar. Vender em baixa. Mas os despedimentos continuaram e os acionistas, sobretudo os mais pequenos, perderam poupanças e rendimentos de uma vida inteira.

A banca internacional encontrou uma nova mina de lucros usurários: em troca da ajuda prometida ao estado endividado, neste caso o português, 75 mil milhões € de empréstimos, a pagar com o valor usurário de 36 mil milhões € de juros, justificados com o argumento do fim do dinheiro barato (O próprio presidente da República à época, invocando a sua autoridade como economista, proclamou esse período como longo, de austeridade e controle estrangeiro, por 35 anos !). A Troika (Banco Europeu, FMI e Comissão Europeia), ciosa de lucros imediatos, impôs um plano de privatizações e desmantelamento do estado social, de congelamento de salários e pensões, que a colocou no papel de tutela semicolonial do governo PSD/CDS. A ação deste governo,  que aceitou e quis ir mais além da política austeritária, e aquela política de espoliação, mais privatizações  e restrições orçamentais, conjugaram-se para transformar-se  no canto do cisne do capitalismo nacional.

Sublinho. através do mecanismo financeiro dos empréstimos, a Troika retirou com uma mão o que a UE transfere com a outra, 36 mil milhões e o muito mais que continua no segredo das chancelarias e dos cofres fortes.

Consultando as estatísticas do Banco de Portugal sobre os empréstimos que financiaram os governos da República, na década de 2000, encontrei juros entre 5 e 6% e um valor estimado de 51.000 milhões de euros de juros pagos pelo nosso estado que foram alimentar a banca e as finanças europeias e internacionais. Outra vez a mão invisível do mercado que nos leva muito mais do que as transferências da UE perecem conceder-nos. Daí que não é estranho que em 2007, a dívida pública portuguesa já atingisse 72% do PIB, num quadro nacional em que a dívida das empresas cresce em paralelo mais de duas vezes o valor da dívida soberana e com ela a dívida das famílias. Para onde vai a riqueza nacional? Para o estrangeiro, para a finança europeia e mundial: os governos da República, os empresários e as famílias, não são os gastadores irresponsáveis com que a propaganda da direita europeia, ao leme da UE, procura mistificar a sua política servil e neocolonial e que os partidos da sua família política ampliaram em Portugal, sob a consigna de ir mais longe que a Troika!

A EDP, foi temporariamente o elo mais fraco da cadeia de valor da economia do país.

Na primeira fase da privatização, a administração privada da EDP esmagou a rede de pequenas empresas que subcontratava, com a imposição de contratos ruinosos.

A EDP tem 130.000 acionistas e quando a CTG chinesa comprou os 23,75% do que restava das ações do estado português, superou no concurso a empresa alemã que oferecia metade do valor pago pelos chineses. Nessa altura, a maioria das ações já pertencia a grupos de acionistas estrangeiros, com destaque para um fundo abutre, denominado Capital Group, que detinha então 17% do capital. E a EDP tinha um serviço de dívida anual de mil milhões de euros, num contexto de crise austeritária onde nenhum banco, lhe emprestava esse dinheiro, nem o governo de direita estava autorizado a fazê-lo pela União Europeia. A CGT chinesa pagou o dobro pelas ações e ainda emprestou à EDP mil e oitocentos milhões de euros, a juros simbólicos, impedindo assim que entrasse em incumprimento. Só por estas razões a EDP não foi entregue, a preço de saldo, à Alemanha. Em Julho de 2012, o China Development Bank (CDB) assinou um contrato de empréstimo com a EDP no montante de 1000 milhões de euros; em Outubro do mesmo ano, a EDP contraiu um empréstimo adicional, junto do Bank of China (BoC), financiando-se em 800 milhões de euros.

A empresa chinesa estabeleceu com a EDP uma parceria estratégica, em benefício mútuo e renovou-a recentemente, apesar de não lhe sido autorizada a OPA, que  lhe permitiria reforçar a sua posição acionista, que é agora ligeiramente inferior a 20%.

A REN é outra empresa que o governo privatizou. Insurgem-se contra o acionista principal da REN, uma empresa estatal chinesa,  líderes da direita e da esquerda, que omitem que a maior parte das ações estão nas mãos de outros acionistas privados, fundos de investimento, bancos de investimento e até de uma empresa que pertence ao estado espanhol.

E tem sido assim; jornalistas, investigadores, políticos, banqueiros, empresários… quase todos, omitem o facto que esses acionistas privados são largamente maioritários e que, em Assembleia de Acionistas têm o poder de decisão.

A empresa State Grid Corporation of China  é o maior acionista da REN, mas esta é composta maioritariamente por acionistas privados, de acordo com a seguinte proporcionalidade e origem:

Pontegadea Inversiones/Zara, Espanha                         12% da REN

Lazard Asset Management, USA/ Hamilton, Bermudas  7% da REN

Red Electrica Internacional SAL, Espanha (Estatal)      5%  da REN

Great-West Lifeco Inc., Canadá                                        3,7% da REN

Total……………………………………………………  27,7%

Outros:                                                                              41,4% da REN

Fidelidade, FOSUN, China                                                 5,3% da REN

State Grid Corporation of China,                                      25%  da REN

 

A State Grid, o maior acionista identificado,  é uma empresa estatal da República Popular da China, cuja “missão é fornecer energia mais segura, mais limpa, mais econômica e sustentável”, que investiu e opera com sucesso redes de energia em nove países e regiões, incluindo três países da União Europeia_  Portugal, Itália, Grécia, além do  Omã, Chile, Brasil, Filipinas, Austrália e Hong Kong China.

Constitui uma parceira fiável para a transição enérgica para esses países. Adicionalmente, assinou acordos-quadro de cooperação em Energias Renováveis com a Électricité de France (EDF), a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), a Agência Alemã de Energia (dena), a Energinet, a agência nacional da Dinamarca e a REN.

Uma lógica política anti chinesa conduziria Portugal e a Europa a recusarem a parceria estratégica com a Huawei _ empresa privada, para aceder no imediato à tecnologia 5 G, o que significaria atrasar o seu desenvolvimento tecnológico em dois anos, conforme afirmaram os CEO deste sector (NOS) . Com esse propósito e com base na acusação do risco dessa tecnologia ser usada para fins de espionagem, que os governos europeus e as empresas recusaram, tentou a diplomacia americana forçar essa recusa, de forma aberta e intrusiva.

Nessa maioria de acionistas privados pontificavam e pontificam ainda, os chamados fundos abutre e obscuros fundos financeiros, que não criam empregos, não contribuem com parcerias económicas, técnicas ou científicas…e podem afundar o valor de uma empresa com manobras especulativas bolsistas.

Mas a confusão da opinião pública aumenta, quando vem da esquerda a critica às privatizações  centrada na presença de acionistas chinesas, alimentada recentemente pela coordenadora do BE.  Nos debates televisivos com os líderes do PSD e do CGS, repetiu  declarações  escolhendo como alvo o Partido Comunista da China, desde a acusação ao PSD de  “ter entregado ao Partido Comunista da China” a Fidelidade e a REN, até à chacota ao CDS, que teria aberto garrafas de champanhe celebrando com o Comité Central do PCCh, essa entrega.

Quanto à Fidelidade, foi comprada pela FOSUN, que é uma empresa privada chinesa, criada por quatro jovens universitários, no âmbito do processo de Reforma e Abertura da República Popular da China.

E continuam a difundir-se artigos, notícias, livros, proclamações, campanhas… em todos os quadrantes políticos, em regra copiados de autores que abertamente se apresentam como opositores do “Socialismo com Caraterísticas Chinesas”, sem verificação das fontes nem contraditório, tal como acontece na generalidade da comunicação social.

Sobre a mesma base falaciosa, a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu, aprovam moções, resoluções, ameaças de sanções, suspensões e restrições económicas contra a China, mesmo que controversas no que respeita ao direito internacional, aos seus próprios compromissos políticos e às regras e leis do mercado e das suas convenções internacionais (OMS), tomando como pretexto a defesa da Declaração Universal dos Direitos do Homem. De facto alinhadas com a política hostil emanada dos governos e interesses norte americanos, onde as forças democráticas parecem já ser insuficientes para conter sozinhas a ascensão da extrema-direita e a institucionalização da sua política belicista no topo do estado, pondo em causa os próprios fundamentos da democracia liberal e das instituições de cooperação pacífica mundiais (ONU. OMS…).

Este quadro das falácias do crescimento e das privatizações, ainda incompleto, permite-nos, no entanto, avançar até ao fundo das questões, com base em referências reais: O crescimento das exportações é a via unica ou principal de prosperidade dos países? Essa prosperidade, mede-se com que indicadores? Pode um país descapitalizado, numa economia globalizada, e desregulada, com a fronteira aberta pelos tratados da UE, desprovido do instrumento que é a moeda nacional, prescindir, no curto e médio prazo, do investimento estrangeiro? Esse investimento tem todo a mesma natureza política e valor económico? Olhemos para a realidade nacional, à luz da economia política.

...continua

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