…Não compreender onde está o perigo principal, é hoje o risco maior dos partidos de esquerda em Portugal, mas também dos partidos da direita democrática. A maioria de esquerda expressa em votos, continuou a prevalecer, ao contrário das contas erradas que a própria TV pública propaga, mas perdeu metade da vantagem sobre os votos na direita; depois de dois anos de governação do PS, essa maioria baixou para cerca de 600.000 eleitores votantes. Saliente-se que foram os novos partidos da direita radical e da extrema-direita a colher os benefícios, em votos e deputados. E que esse processo pode acelerar rapidamente…
... Numa situação internacional em que assistimos,
nos EUA, à destruição interna da sua democracia liberal e ao intensificar,
pelos governos republicano e democrático, de uma política global de confronto e
boicote económico, de condicionamento da
economia da UE e de interferência
direta na vida política das suas nações soberanas; de intervenção militar onde
os interesses americanos não prevalecem…
1. A maioria social e política de esquerda, que emergiu em 2015, foi o fruto da falência dos bancos, do abuso das Parcerias Público Privadas_ PPP, do desbaratar das privatizações, da corrupção dos líderes e da brutalidade da Troika… que mudaram a consciência popular. Para a maioria do povo português ficou claro que a responsabilidade dessa política desastrosa recaía no PSD e CDS e na ala direita (liberal) do PS, que culminou na governação de Sócrates e de Passos Coelho/Portas.
2. A maioria de centro-esquerda da atual direção do
PS, demarcou-se dessa política a nível nacional e também no quadro da União Europeia,
há muito governada por uma coligação de centro-direita, ultraliberal .na economia.
O governo do PS proclamou então a retoma da tradição social-democrata, com o
estado social como bandeira política e, no início da pandemia, subscreveu a declaração
conjunta
de 9 partidos e governos (uma frente
eclética, predominantemente constituída por liberais, mas também por filiados
na Internacional socialista, e até
conservadores autoritários e eurocéticos), declaração que propunha introduzir algumas
reformas democráticas na União Europeia_ da mutualização da divida à
coordenação do combate às novas pandemias extensiva ao domínio global da saúde.
Um grupo eclético que nasceu do efeito
desastroso da política de austeridade e revela o seu falhanço.
Aquela declaração, foi assinada por LSophie Wilmès, primeira-ministra da Bélgica; Emmanuel Macron, presidente da República Francesa; Kyriakos Mitsotakis, primeiro ministro de Grecia; Leo Varadkar, primeiro ministro de Irlanda e federalista; Giuseppe Conte, primeiro ministro de Italia; Xavier Bettel, primeiro ministro de Luxemburgo; António Costa, primeiro ministro de Portugal; Janez Janša, primeiro ministro de Eslovenia, y Pedro Sánchez, presidente do Governo de España, que foi o seu primeiro subscritor.
3. Esse foi o caminho escolhido pelo primeiro
governo de António Costa e a sua experiência de alianças à esquerda, adotada
como exemplo pela Internacional Socialista, e depois replicada em Espanha, como
agora na Alemanha.
Esquecida ficou a nova via do Siryza: abrir o debate sobre o Federalismo Democrático, em alternativa ao atual Federalismo Financeiro e Burocrático, e que lhe custou ser afastado do poder, em consequência da intervenção agressiva da Troika na Grécia, que desrespeitou completamente a sua soberania, infligiu á nação grega as maiores privações até conseguir virar contra o governo uma nova maioria.
4. A aliança política que viabilizou na Assembleia
da República os governos do PS e os seus orçamentos, resultou de uma visão
política amadurecida pela direção do PCP, que foi o seu primeiro proponente e
visava reverter a política ultraliberal da Troika, convergindo com outra visão
política igualmente ponderada, da (maioria) direção do PS de António Costa, face à crise dos partidos
socialistas a leste e a ocidente da Europa.
O BE, mudou então a sua tática política, que antes conduzira à divergência que criou o Livre e associou-se à frente parlamentar da esquerda.
5. Ainda hoje os ideólogos da direita, que de forma precipitada e errónea, classificaram como “geringonça”, coisa
improvisada, pronta a desconjuntar-se, uma aliança que perdurou por seis anos, fazem
pagar aos seus partidos um elevado preço político por esse erro descomunal, que
os poderá afastar do poder muitos e longos anos…ou não, se a crise económica e
social se agravar na Europa e nos atingir mais profundamente.
PSD e CDS ( este
a rivalizar com o estilo radical e
extremista do Chega), ao defenderem a continuidade da política austeritária e
neoliberal, em versão mitigada, para Portugal e para a União Europeia, mesmo
que adoçada com promessas de migalhas social-democratas num futuro incerto e
condicional, continuaram afastados do
sentimento maioritário da nação.
Mas os sinais de enfraquecimento dessa tendência maioritária de votos à esquerda, já estão presentes nestas eleições. Se considerarmos a votação global nos partidos de direita, por comparação com os partidos de esquerda: mantém-se a maioria de votos à esquerda, contudo, a vantagem da ordem de 1 milhão, caiu para perto da metade, cerca de 600.000, em dois anos, traduzidos na recuperação de 18 lugares de deputados, mas em favor da direita radical e da extrema direita.
A eleição do presidente Marcelo Rebelo
de Sousa, mas sobretudo a perda da Câmara de Lisboa, não foram lidas como
sinais de alerta pela direção do PS. e a vitória do PSD na Câmara de Lisboa criou uma falsa euforia neste partido, já que só a dispersão dos votos na esquerda o permitiu.
Analisemos ganhos e perdas em pormenor, ainda sem os votos recolhidos no estrangeiro, que correspondem s 4 deputados:
O PS ganhou mais 380.000 votos e 11 deputados. O Livre mais 13.315 votos e conservou o deputado.
O BE perdeu 252.224 votos, um pouco mais de metade e 14 dos 19 deputados. Também o PAN perdeu um pouco mais de metade dos votos, 84.600 e 3 dos 4 deputados. O PCP/PEV, resistiu melhor, mas também perdeu um terço dos votos, 84.608 e 6 dos 12 deputados. Isto é, parece que estamos em presença de uma transferência de votos em favor do PS, no campo da esquerda partidária. PS e Livre somam mais 393.313 votos e as perdas do BE, PAN e PCP/PEV somam 421.432 votos. Tal resultado parece significar que ainda não existe no eleitorado um movimento de fundo em favor do campo político da direita, que terá crescido sobretudo com antigos abstencionistas.
O PSD teve mais 77.941 votos, mas, ainda assim, perdeu 6 deputados. O CDS perdeu 129.876 votos e todos os deputados, 5.
O Chega ganha mais 319.111 votos e 11 deputados. O IL sobe 202.869 votos e ganha mais 7 deputados.
Contas feitas, a direita sobe 392.104 votos. Recordamos, que faltam os resultados da votação dos círculos da Europa e de Fora da Europa. A conclusão política a tirar é que a política do PSD formalmente ao centro-direita, conservou e fez crescer ligeiramente o seu eleitorado e a radicalização do CDS, que vem da antiga liderança, após a derrota das eleições de 2015, já não tem espaço político, depois do aparecimento do Chega e da IL. Restaria ao CDS a democracia-cristã, mas não cortou este partido com as figuras políticas e as proclamações desta corrente que parece estar a desaparecer na UE? A direção política de Rui Rio não errou na direção estratégica da sua campanha eleitoral, mas falhou na sua demarcação política perante o Chega e a IL, aceitando para um futuro governo o apoio parlamentar do primeiro, e o acordo político encapotado que tal pressupõe _, tácito, informal, ou secreto e o apoio parlamentar e integração no governo do segundo.
O crescimento da
Iniciativa Liberal, entre os eleitores da classe média, quadros e profissionais
liberais, deve-se sobretudo à sua propaganda mistificadora, que apresenta o neoliberalismo
como uma novidade redentora (Onde estavam os seus líderes, durante o exercício
político dos governos neoliberais do arruinado “arco do poder”, senão nesses
partidos?_ Prometem que todos poderão escolher o melhor hospital e a melhor
escola, distribuindo individualmente os recursos do estado democrático alocados
à Saúde e à Educação Pública ( suspenderam do seu programa a medida de cada estudante do ensino superior
pagar as propinas do seu curso, recorrendo ao crédito bancário quando a família
não as poder pagar, mas continuam a defender o princípio); querem privatizar parcialmente a Segurança Social lançando na roleta da bolsa
uma parte das contribuições dos trabalhadores; garantem que o crescimento
económico, por si só, será o novo maná, servido pelos mais aptos discípulos do todo
poderoso e omnipotente mercado; classificam o regime político de Portugal como
socialista ( consequentemente, PCP e BE são politicamente cegos e de extrema
esquerda por quererem ainda mais estado); apesar de, na realidade, pouco mais
restar para privatizar do que a Segurança Social, a Escola Pública, o que ainda
resiste de Serviço Nacional de Saúde e a TAP… privatizar ainda, quando o
capitalismo português colapsou em favor do capital sem pátria!
No entanto, os partidos da direita e da extrema-direita, continuarão (inconsequentemente, como o foi o último governo do PSD/CDS, ao
subir os impostos sobre a classe média, os pensionistas e o povo trabalhador em geral) a exigir dos governos constitucionais que
prestem todos estes serviços, depois de privados de impostos progressivos, de
empresas nacionais lucrativas, e dos instrumentos
de soberania económica (a moeda nacional) e a autonomia na elaboração do
Orçamento de Estado.…
A crise
económica e financeira que continua a lavrar, confrontará as alvoradas que
cantam “liberal”, com a dureza e impiedade da descapitalização e semicolonização
do estado democrático, das empresas
nacionais e das famílias.
PSD e IL, se não enfrentarem as verdadeiras causas do bloqueio do desenvolvimento nacional e do crescimento sustentável da sua economia, viverão a disputar o mesmo círculo fechado de espaço político, reduzido pelo Chega, que abocanhará todo o que o PSD lhe continuar a oferecer. Neste dimensão política essencial, o IL demonstrou ter estudado melhor a estratégia dos partidos de direita europeia face ao emergir de novos partidos de extrema-direita.
6. Com o passar do tempo e o defraudar das expetativas dos partidos de centro direita quento á precaridade da aliança parlamentar de esquerda, os opositores desta aliança_ que incluem as administrações dos grupos empresariais que controlam a imprensa e TV, e um grande número de jornalistas e comentadores instalados pelo ”bloco central” nas redações e espaços nobres de comunicação, começaram a defender a ideia que BE e PCP estavam condenados a perder votos nas eleições como resultado do descontentamento dos seus eleitorados perante a aliança com o governo do PS.
7. Apesar de este balanço não se sustentar em
qualquer estudo de opinião ou inquérito dos partidos em causa, nem sequer na
evidência dos factos e resultados_ como veremos face a algumas das eleições e à
evolução do PAN e do Livre, essa ideia cresceu no interior das suas direções e ganhou progressivamente adeptos entre os
militantes.
Comparemos as eleições de 2015 e 2019 para a Assembleia da República: O BE manteve os 19 deputados e o corpo fundamental de votos e o PAN, não obstante o seu alinhamento com a maioria de esquerda, duplicou a votação.
A candidatura presidencial do BE e as candidaturas deste partido nas autárquicas, sem qualquer tipo de alianças, tal como a primeira votação contra o orçamento e sobretudo a última, que precipitou a antecipação de eleições, foram obviamente opções táticas de demarcação face ao PS, constituindo aos olhos da sua base eleitoral uma trajetória oposta à da primeira legislatura.
Paradoxalmente os resultados eleitorais negativos têm sido interpretados pelas várias tendências que hoje se confrontam neste partido, como se a demarcação política do PS não tivesse existido ou passado para esses eleitores.. Em vez de prosseguir a linha de de alianças que permitiram minorar a política austeritária, constituíram um sinal claro de que, à esquerda, cada partido e obviamente o BE, já procurava outro caminho logo nas presidenciais, deixando o campo livre para a vitória triunfal do atual presidente e para a projeção nacional do líder da extrema direita. O voto popular na candidata oriunda do PS, mas sem o seu apoio, traduzia, ao contrário das estratégias definidas pelas direções dos partidos de esquerda_ candidato próprio e ausência de candidato no caso do PS, a permanência de um forte desejo de unidade nas suas bases e eleitores, contra os perigos e a nova ameaça proveniente do campo político da direita.
A existência de um esforço comum para encontrar um candidato presidencial, teria permitido fortalecer os laços de confiança entre as bases e os eleitores desses partidos, e projetá-los na constituição de alianças autárquicas, sobretudo onde as hipóteses de vitória da direita eram reais; em benefício sobretudo dos partidos, como o BE e o PCP, que têm uma fraca organização de base ou a vêm perdendo. Os opositores do projeto de um governo da República à esquerda, que integraram os governos do PS, aceitando a aliança inicial apenas como uma mera manobra tática para chegar ao poder, tinham ganho maior influência e foram igualmente responsáveis pela perda de algumas das autarquias com relevância nacional, onde o eleitorado da esquerda é claramente maioritário: Lisboa, é o seu melhor exemplo. Recordo que, na mesma altura em que o BE obtinha na sua candidatura presidencial 3,98% dos votos, as sondagens feitas nesse período para as futuras legislativas ainda atribuíam ao BE votações na ordem dos 8%. ( Ver o meu artigo, Leitura crítica das Moções à Convenção do BE/2021)
8. A causa principal da perda de base eleitoral do PCP, residiu na política da Troika/Governo do PSD/CDS na área do trabalho, prosseguida pelo governo do PS, a qual, com as destruição dos mecanismos democráticos de contrato coletivo de trabalho e extensão das portarias, quebrou a espinha aos sindicatos. Associada à ausência, na propaganda do PCP, de uma referência positiva internacional, que demonstre a validade do ideal socialista no mundo atual, capaz de atrair em grande, militantes e a simpatia popular. Acompanhada pelo desaparecimento progressivo da sua base social entre os assalariados rurais, nas cinturas industriais e nas elites intelectuais, sobretudo no mundo rural. Ampliada pelas campanhas negativas e discriminatórias, na maioria da comunicação social e nas redes sociais. Continuando por resolver, internamente, a resposta às causas da degeneração da URSS e da queda das primeiras experiências históricas do socialismo.
9. A causa principal da perda da base eleitoral do BE resulta da redução da sua atividade ao domínio parlamentar, da ausência de uma visão estratégica sobre o regime socialista que afirma prosseguir e de mudanças táticas pragmáticas e contraditórias na sua prática política, que parecem estar longe dos sentimentos e do estado de consciência popular, nomeadamente ao dar um contributo decisivo para a queda de dois governos do PS, em conjunturas diferentes, mas cruciais para o destino do país, quando era claro que a essa queda se seguiria a ascensão da direita e, era irrealista o seu próprio fortalecimento eleitoral. Na primeira, conduzindo à conquista da maioria parlamentar e do governo (2011) pelo centro-direita partidário do austeritarismo da Troika e na segunda, com o abrir de portas para que a direita liberal e a extrema-direita antecipassem em dois anos e garantissem de imediato a colocação na Assembleia da República de um elevado número de deputados, o que significa mais força política e recursos financeiros, e perdas severas da sua própria força parlamentar.
O O BE, nestes dois momentos históricos em que alinhou o seu voto com a direita face ao orçamento, tinha á sua disposição o voto pela abstenção, que lhe permitia não só demarcar-se, como continuar a sua crítica e combate pelos direitos democráticos e reivindicações populares que proclamou defender. A abstenção, depois da demarcação política, era a única conduta política coerente com uma aliança para a legislatura, que foi a posição inicial do BE.
Continua por explicar, à luz dos seus programas e objetivos políticos, tanto do lado do BE como do PCP, porque convergem estas duas forças políticas em ações tão decisivas como a recusa de um orçamento que conduz à queda do governo do PS _ ficando na companhia dos partidos de centro-direita, de direita e extrema-direita, e não são capazes de ao menos conversar e de se entender nas candidaturas à Assembleia da República, autárquicas e à Presidência da República.
Estabelecer formalmente o objetivo de ser a “3ª força política” eleitoral é uma bravata que a extrema-direita e depois a direita proclamaram, e que, copiada pelo BE, só evidencia o absurdo deste prática de costas viradas entre partidos de esquerda com significativos conteúdos programáticos comuns.
10. A origem dos quadros e novos deputados da
Partido Liberal e do Chega, saídos do CDS e do PSD, e porventura os seus
verdadeiros líderes, obriga estes partidos a reavaliar o carater e a natureza
política da sua vida partidária, mas sobretudo, coloca lhes, tal como aos restantes
partidos democráticos e ao governo de maioria absoluta, o imperativo de
identificar as camadas e grupos sociais que têm vindo a perder com a governação
de Portugal, mas também e sobretudo, com a determinação pela União Europeia de
centro-direita da política nacional e a dar atenção à resolução dos problemas de
que são vítimas. O orçamento do estado é o principal instrumento político
de afirmação da soberania nacional e tem vindo a ser condicionado pela
burocracia instalada na Comissão Europeia, que impõe uma tendência neoliberal às
suas medidas.
O PSD, segui o
caminho do PP em Espanha e não o da CDU alemã, ou da França Republicana, ao chegar ao governo regional dos Açores, na dependência do apoio parlamentar da extrema-direita. Perdeu no governo dos Açores a
possibilidade de governar Portugal com a conquista do centro político eleitoral
e abriu para si próprio e para o PSD a arca de todos os demónios.
O CDS perdeu tudo o que restava do seu capital político no governo da Troika e quando quis socorrer-se de herança passada, que já não era a sua, escolheu despertar os fantasmas que alimentam o partido que o está a devorar.
O perigo principal para as democracias liberais europeias e a política
de frente ampla. A nova base social da extrema-direita em Portugal
Não entender
onde está o perigo principal, é hoje o risco maior dos partidos de esquerda em
Portugal, mas também dos partidos da direita democrática. O Chega cresceu com eleitores de todos estes partidos.
E os sinais de enfraquecimento
da tendência maioritária de votos à esquerda, já estão presentes nestas
eleições, com a redução para metade (600.000) da diferença de votos entre os
dois campos. Um aviso para a direção do PS, mas que os seus dirigentes parecem
não entender.
A corrupção, a
troca de favores, o nepotismo, cresceram envolvendo altos e pequenos dirigentes
dos partidos do fragmentado “arco do poder”, incluindo o PS, dando à
extrema-direita uma arma de propaganda de massas contra a democracia liberal.
A
extrema-direita tem agora uma estratégia operacional em Portugal, que passa
pela subversão da Constituição, a instauração do presidencialismo, seguido pelo
golpe constitucional contra as liberdades e direitos fundamentais, já inscrita
no seu programa: a instauração, passo a
passo, de uma nova ordem autoritária_ a
ditadura “dos homens honrados”, com o poder judicial sob tutela do poder
político, manietado e transformado em
instrumento de repressão contra as minorias e os direitos civis; a privatização
sem limites de todos os setores e os serviços públicos reduzidos ao esqueleto;
a liquidação da legislação trabalhista mínima; a restrição das atividades
sindicais e associativas nas áreas de
ação do estado, nomeadamente nas forças armadas e policias ( onde hoje colhem
apoios significativos), serviços de
saúde e educação; a restauração, através de leis revogatórias e outras leis
coercivas, dos costumes conservadores e a revogação da legislação que protege
as minorias, os emigrantes e defende a igualdade perante a lei das mulheres…no
plano internacional, a saída da ONU e a construção de uma aliança internacional
que se alargue até aos Republicanos dos EUA (da tendência Trump, em cuja
vitória acreditaram e da qual dependem, em apoio político e financeiro).
Tal não é
inevitável, mas a crise económica e social em desenvolvimento favorece o seu
crescimento, graças ao espaço que ganhou na comunicação e nas redes sociais, a
financiamentos poderosos e à estratégia de eutanásia política do próprio
PSD.
Alimentam as
fileiras da extrema-direita os pequenos empresários, do comércio e serviços, da
indústria e da agricultura, a quem nunca chegaram os fundos comunitários,
arruinados pela concorrência desleal, e os altos juros bancários, que tudo
penhoram e expropriam e a perseguição das Finanças e da Segurança Social
através de milhões de processos executivos, implacáveis para com os pequenos,
ao serviço dos grandes credores bancários, que são os principais beneficiários
dessas execuções fiscais.
Alimentam as
fileiras da extrema-direita os jovens desclassificados e desempregados, sem
subsídios, alienados pelo desporto e que escolhem a via da marginalidade
Os
trabalhadores independentes, que têm de esmolar trabalho e pagar
antecipadamente a sua segurança social.
Os quadros
técnicos excluídos do mundo dos negócios partidários e que conhecem por dentro
os podres do regime.
Os polícias e
guardas, mal pagos, privados dos direitos básicos do ser humano, casa, família,
condições de trabalho…
Os saudosos do
antigo regime, de todas as classes, que foram descendo na escala social e
regressaram ao seu mundo rural e aos subúrbios das cidades, onde as carências e
abandono não param de crescer.
Alguns dos que
prosperaram no estrangeiro e ali se tornaram simpatizantes e valetes da
extrema-direita, que minou o partido republicano dos EUA e as democracias
liberais de todos os continentes, e vinha estendendo os seus tentáculos pelo
Leste e o Centro da Europa.
Em todos estes
grupos socias há gente a resgatar e outros que respondem com violência aos que
se atravessam nas suas ambições.
Os resultados
das eleições dos Açores e nas Presidenciais, parecem mostrar-nos que o
eleitorado vítima do desemprego e da pobreza_ proletários ou empregados da
classe média, que reconhecia no PCP a sua representação política, a que se
somam hoje os pequenos e médios empresários e agricultores em risco de ruína,
se move para a extrema-direita.
O discurso da
extrema-direita contra a corrupção esconde e protege a aliança entre os 17
maiores bancos ocidentais e os ainda mais poderosos Fundos Financeiros
(abutres), que estendeu os seus tentáculos ao controle das instituições
financeiras internacionais, capturou os estados governados por conservadores,
liberais, social-democratas, democratas cristãos, hoje siglas
vazias e através deles desregulou o mercado, resiste a enfrentar a crise
ambiental, que é a causa primeira das novas pandemias, e encontrou na dívida
soberana e nos fundos abutres instalados em paraísos fiscais as suas fontes principais de lucro, corrupção
e fuga aos impostos.
Na definição de
uma estratégia política, o mais difícil é estabelecer a direção do golpe
principal: Mas sim, não sairemos da crise sem a renegociação da dívida soberana,
como o FMI e o Banco Mundial reconheceram no início da pandemia, (questão que só a China levou à prática, ao debate do G-20 e daí passou ao G-7), que
conduza à sua redução e dos seus juros, em paralelo com a renegociação da
dívida das empresas (e simultânea capitalização), três vezes superior à do
estado democrático e a contenção e alívio da pobreza das famílias, que
constituem os três suportes que podem erguer uma frente ampla em Portugal,
democrática e defensora da soberania nacional.
Para abrir esse processo negocial, é necessário articulá-la com os outros países da Europa, qualquer que seja a cor política do seu governo, como sonhou e levou á prática política o Syriza e o seu líder, e por isso foi perseguido pela aliança liberal e conservadora, e criticado pelos radicais de esquerda, que nunca serão capazes de mobilizar a grande massa dos seus povos, pois não sabem ou não querem saber da questão chave que é construir a sua união através da aprendizagem política, menosprezam o estudo da situação política em função das necessidades e da consciência popular, como condição para agir corretamente em cada conjuntura. elevando essa consciência política e conduzindo-a para a ação.
Deixo aos
meus concidadãos, a inquietação das perguntas a que não soube responder (ou
temo fazê-lo, por intuir verdades inconvenientes):
a)
Não compreender onde está o perigo principal, é hoje o risco maior dos partidos de esquerda em Portugal, mas também dos partidos da direita democrática. A maioria de esquerda expressa em votos, perdeu metade da vantagem sobre os votos na direita e baixou para cerca de 600.00 eleitores votantes, nos últimos dois anos. E saliente-se de novo, que foram os novos partidos da direita radical e da extrema-direita a colher os benefícios, em votos e deputados
Esse processo
pode acelerar rapidamente: Com o fim das moratórias bancárias em Portugal_ das
empresas e famílias, a subida da inflação que engole os salários e baixa o
poder de compra no mercado interno, a sobrevalorização das casas na concessão
de crédito à habitação e a multiplicação dos juros em todas as áreas da
economia e das finanças_ da dívida soberana, à dívida empresarial e das
famílias, com o crescimento dos fenómenos extremos que resultam da crise
ambiental, que já chegou sob a forma de incêndios rurais devastadores, a pandemia
do COVID19, a seca…
Continua por
explicar, à luz dos seus programas e objetivos políticos, tanto do lado do BE
como do PCP, porque não são capazes de, ao menos conversar, e de se entender nas
candidaturas à Assembleia da República, autárquicas e à Presidência da
República?
b)
Numa situação
internacional em que assistimos, nos EUA, à destruição interna da sua
democracia liberal e ao intensificar, pelos governos republicano e democrático,
de uma política global de confronto e boicote económico, de condicionamento da economia da UE e de interferência direta na vida política das
suas nações soberanas; de intervenção militar onde os interesses americanos não
prevalecem.
Porque é que os
partidos democráticos de Portugal e a União Europeia liberal e conservadora, os
seus governos, alinham com essas políticas que empurram o mundo para a guerra económica
e para o risco de conflitos militares generalizados, sem tomar qualquer
iniciativa de crítica às ações políticas erradas ( os impiedosos boicotes
económicos e sanções, da Venezuela ao Irão, acompanhados pela quebra dos
compromissos e tratados internacionais; a subalternização das Nações Unidas,
com a cimeira internacional que marginalizou até os países árabes aliados dos
EUA, por não adotarem o seu modelo de regime; a nova Guerra Fria contra a Rússia; e, em
paralelo contra China, com base em acusações e sanções desmentidas por toda a
comunidade internacional que está fora do círculo da NATO e que teve o seu
último episódio na tentativa falhada de boicote diplomático dos Jogos Olímpicos
de Pequim)?
E, pela
positiva, porque está congelado o debate acerca das reformas democráticas na UE,
sem medo de chamar os bois pelos cornos: Federalismo Monetário e Burocrático,
versus Federalismo Democrático, pode-se omitir a palavra, mas com moeda única,
será sempre Federalismo?
Em prol da construção
de uma política europeia democrática, pacífica e autónoma, que permita perspetivar um futuro comum e partilhado.
Ajudando assim as forças democráticas que no interior dos EUA parecem caminhar para a impotência ( 2 deputados democratas, alinham agora com os republicanos, revertendo a maioria formal do Senado) e a derrota, ainda antes das próximas eleições gerais para a Presidência, o Senado e a Câmara dos Representantes, enquanto, no período atual, em desespero e desorientação, julgam recuperar a economia e uma maioria eleitoral, com as mesmas armas da extrema-direita Trumpista?
c)
Continuam por clarificar as estratégias de poder dos três maiores partidos de esquerda:
A aliança política promovida pelo PS tinha apenas um valor tático conjuntural e destinava-se a recuperar a hegemonia que as maiorias absolutas proporcionam? A resposta a esta pergunta não passa pela fulanização da política e o estéril debate dos culpados, mas pelo programa político e o posicionamento dos partido face à questão do governo, reservado para o PS ou partilhado, agora que dispõe de maioria absoluta na Assembleia?
A aliança política proposta pelo PCP tinha apenas como objetivo conter a política de austeridade e não era parte de uma estratégia de frente ampla para acumular forças e conduzir à formação do governo democrático e patriótico, que já proclamou? A saída da UE continua a ser o caminho preconizado pelo PCP para a resolução dos problemas nacionais?
A mesma questão se coloca ao BE: A aliança política que integrou tinha apenas como objetivo conter a política de austeridade e não era parte de uma estratégia de frente ampla para acumular forças e conduzir à constituição (e participação) de um governo progressista, mais além da social-democracia. Passa pela saída da UE?
O PAN e o Livre, terão capacidade de lançar o debate sobre o desenvolvimento sustentável do país e da União Europeia, e projetar para a sua atividade os objetivos do Federalismo Democrático e da Regionalização de Portugal?
À luz de dois grandes problemas nacionais _ a descapitalização do estado democrático, banca e empresas, e famílias e a sujeição ao Federalismo Monetário e Burocrático da UE, as disputas de liderança no seio do PSD e do CDS, tal como no IL continuarão a ser irrelevantes, se o que estiver em causa for ainda e sempre a luta pelo aparelho de poder interno e do estado liberal de Portugal, conservando o rumo político que conduz a Europa e o nosso país para nova crise económica e financeira, mais graves episódios da crise ambiental, e para a guerra de baixa e alta intensidade, mas nos priva de um Futuro Comum para a Humanidade
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