O governo, a quem as autoridades israelitas mentiram e humilharam, ao ponto de levar o seu ministro ao papel de porta-voz do acolhimento respeitoso e humanitário que lhes estaria reservado em porto seguro, pune com uma coima os cidadãos sequestrados em mar internacional e levados à força para o cárcere do agressor, legitimando a pirataria de estado?
Os proclamados defensores de "Portugal First" não vêm que esta atitude de Israel apouca sobretudo o estado português, constitui um acto de indiferença e desrespeito para com o seu representante político?
E que esta bizarra fatura
equivale ao momento final em que, de joelhos em terra, a espinha se curva até à
lama?
Estranho mundo de
informação
Mais de mil pessoas compareceram no aeroporto e a notícia da
RTP diz que foram dezenas, outras estações concorrentes contaram centenas e o
milhar.
O título _ Flotilha. Ativistas portugueses denunciam falta
de ação dos Governos na chegada a Lisboa, não refere que a falta de ação dos
governos é a sua falta de atos contra o genocídio dos palestinianos.
Nos canais de sinal aberto, iludiam-se dezenas de jovens com
promessas de uma carreira a imitar os sucessos discográficos, noutro,
casamentos de conveniência para espetáculo e ainda noutro, num grupo de jovens
em prisão domiciliária voluntária cumpriam um programa de infantilização...
A Aljazeera passava o boneco da chegada a Lisboa dos
portugueses sequestrados pela marinha de Israel em águas internacionais e
contava a multidão pelos milhares, mas logo se mudava para Madrid, onde os
companheiros de prisão denunciavam sevícias e maus-tratos.
Comentadores especializados discutiam em off as
consequências eleitorais da participação da líder bloquista, sem reparar que
havia outros três cidadãos que embarcaram na flotilha.
Foi ela que nos deu a notícia que durante algumas horas os
pescadores palestinianos puderam pescar, toda a marinha israelita ainda
perseguia o pequeno barco que chegou às águas da Palestina.
Foi então que o futebol ocupou também os canais do cabo e eu
percebi, tal como a personagem de Saramago ( a mulher do médico), que uma
pesada cortina de cegueira cobria agora o olhar de mais de 10 milhões de
portugueses.
Uma maré suja de insultos, por detrás de perfis verdadeiros
e falsos, inundou o Facebook, a alma comum esfolada de qualquer sentimento de
compaixão. Como se não contassem para nada, 74.000 mortos, 170.000 feridos,
entre os quais 40.000 amputados, dois terços mulheres e crianças. E a morte não
levasse consigo milhares de filhos de Israel, e mais de 6000 feridos, metade
amputados, em nome da guerra pelo estado único judeu de Israel, inscrito na sua
constituição antes da palavra democracia.
A que Deus rezam os meus concidadãos e os líderes de Israel, dos EUA, da Alemanha, da Itália, do Reino Unido?
E lembrei-me do Alexandre (O'NEILL), da minha juventude,
que profetizava num dos seus poemas com endereço:
.. todos (quase todos)
havemos de chegar, a ratos,
sim, a ratos!
ratos...cegos, digo eu, que reclamo apenas o destino dessa
mulher de ficção (Ensaio Sobre a Cegueira).
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