8.10.25

Devolvam-me a bandeira

 

Palacete do 1º Ministro

Doravante, os cidadãos portugueses pagarão ao governo pelo seu direito de proteção e resgate, ao preço e arbítrio do Ministro dos Negócios Estrangeiros em serviço?

O governo, a quem as autoridades israelitas mentiram e humilharam, ao ponto de levar o seu ministro ao papel de porta-voz do acolhimento respeitoso e humanitário que lhes estaria reservado em porto seguro, pune com uma coima os cidadãos sequestrados em mar internacional e levados à força para o cárcere do agressor, legitimando a pirataria de estado? 

 Os proclamados defensores de "Portugal First" não vêm que esta atitude de Israel apouca sobretudo o estado português,  constitui um acto  de indiferença e desrespeito para com o seu representante político?

 E que esta bizarra fatura equivale ao momento final em que, de joelhos em terra, a espinha se curva até à lama?

Estranho mundo de informação

Mais de mil pessoas compareceram no aeroporto e a notícia da RTP diz que foram dezenas, outras estações concorrentes contaram centenas e o milhar.

O título _ Flotilha. Ativistas portugueses denunciam falta de ação dos Governos na chegada a Lisboa, não refere que a falta de ação dos governos é a sua falta de atos contra o genocídio dos palestinianos.

Nos canais de sinal aberto, iludiam-se dezenas de jovens com promessas de uma carreira a imitar os sucessos discográficos, noutro, casamentos de conveniência para espetáculo e ainda noutro, num grupo de jovens em prisão domiciliária voluntária cumpriam um programa de infantilização...

A Aljazeera passava o boneco da chegada a Lisboa dos portugueses sequestrados pela marinha de Israel em águas internacionais e contava a multidão pelos milhares, mas logo se mudava para Madrid, onde os companheiros de prisão denunciavam sevícias e maus-tratos.

Comentadores especializados discutiam em off as consequências eleitorais da participação da líder bloquista, sem reparar que havia outros três cidadãos que embarcaram na flotilha.

Foi ela que nos deu a notícia que durante algumas horas os pescadores palestinianos puderam pescar, toda a marinha israelita ainda perseguia o pequeno barco que chegou às águas da Palestina.

Foi então que o futebol ocupou também os canais do cabo e eu percebi, tal como a personagem de Saramago ( a mulher do médico), que uma pesada cortina de cegueira cobria agora o olhar de mais de 10 milhões de portugueses.

Uma maré suja de insultos, por detrás de perfis verdadeiros e falsos, inundou o Facebook, a alma comum esfolada de qualquer sentimento de compaixão. Como se não contassem para nada, 74.000 mortos, 170.000 feridos, entre os quais 40.000 amputados, dois terços mulheres e crianças. E a morte não levasse consigo milhares de filhos de Israel, e mais de 6000 feridos, metade amputados, em nome da guerra pelo estado único judeu de Israel, inscrito na sua constituição antes da palavra democracia.

A que Deus rezam os meus concidadãos e os líderes de Israel, dos EUA, da Alemanha,  da Itália, do Reino Unido?

E lembrei-me do Alexandre (O'NEILL), da minha juventude, que profetizava num dos seus poemas com endereço:

.. todos (quase todos)

havemos de chegar, a ratos,

sim, a ratos!

ratos...cegos, digo eu, que reclamo apenas o destino dessa mulher de ficção (Ensaio Sobre a Cegueira).

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