17.9.23

O voto piedoso do Presidente da República de Portugal, num mar de sangue


Contraofensiva. Carros de Combate Leopard e blindados americanos destruídos.
Petrovsky é um dos bairros de Donetsk mais próximos da linha da frente. Não há um único dia em que não haja um bombardeamento ucraniano sobre esta zona da cidade.Crónica de BRUNO AMARAL DE CARVALHO13/SET./22 -

"... a maneira como a América 'administra' a Eurásia é crítica. A potência que dominar a 'Eurásia' controlaria duas das três regiões mais avançadas e economicamente produtivas do mundo. Um simples olhar no mapa também sugere que o controle sobre a 'Eurásia' implicará automaticamente a subordinação de África, tornando o Hemisfério Ocidental e a Oceânia geopoliticamente periféricos em relação ao continente central do mundo. Cerca de 75 por cento da população mundial vive na “Eurásia”, e a maior parte da riqueza física do mundo também está lá, tanto nas suas empresas como debaixo de seu solo. A 'Eurásia' é responsável por cerca de três quartos dos recursos energéticos conhecidos do mundo." (Zbigniew Brzezinski, “O grande tabuleiro de xadrez: a hegemonia americana e os seus imperativos geoestratégicos”, 1997)

…/…Uma Ucrânia em guerra prolongada, com a maior parte dos seus partidos ilegalizados, sem independência nos tribunais nem pluralismo na comunicação social, fica nas mãos de uma nova elite de senhores da guerra de tendências chauvinistas e de extrema-direita e perde a autonomia de governo, em favor dos estados que impuseram a hegemonia ocidental. Enquanto favorece, na Federação Russa, a ascensão do militarismo e do revisionismo imperial, que proclama a guerra total pela sobrevivência da nação russa, hoje dispersa e ameaçada nos países da ex URSS.

…/…Também na Rússia existem forças extremistas, que não visam uma solução política para a guerra e que representam uma tendência política com crescente influência, dentro e fora do partido de Putin.

.../...O número de militares ucranianos que perderam a vida, citado (15.03.2023, X) pelo antigo assessor do governo dos EUA Douglas Macgregor atinge um tal valor catastrófico, que, se for rigoroso, e divulgado, levantará uma onda de comoção mundial exigindo o cessar-fogo imediato: 400.000 mortos!"

A próxima adesão à União Europeia é uma mentira, que o voto piedoso do Presidente da República de Portugal não denunciou.

A exigência da NATO, apoiada pelos burocratas da UE, de vitória militar, como condição para a adesão, é uma barbaridade que nega as ciências militares, como a escalada das sanções viola as leis do mercado e o direito internacional.

O grupo de trabalho REPO (Elites, Procuradores e Oligarcas Russos), criado para procurar e congelar ativos relacionados com a Rússia, estima o valor global dos ativos soberanos russos, bloqueados pelo Ocidente, “…em 280 mil milhões de dólares, a maioria dos quais detidos na União Europeia”, afirmou o Departamento do Tesouro dos EUA.

Mas, mesmo com as sanções, o número de milionários (em dólares) na Rússia aumentou de 351.000 para 408.000 no ano passado, segundo o relatório do banco suíço UBS. A discriminação e sofrimento do povo russo, ao contrário do que pensavam os estrategos da NATO e os burocratas da Comissão Europeia, aumentou a popularidade do presidente para quase 80% dos cidadãos, quando em novembro de 2021, nas eleições gerais, o seu partido, pela primeira vez, repetindo embora a maioria parlamentar, recebeu menos de metade dos votos expressos_ 49%, com uma abstenção de 50%, o que significa que formou governo sob uma base de apoio de cerca de 26% da população, e foi com este apoio, que reiniciou a guerra na Ucrânia..

A escalada de sanções e o prolongamento da guerra tem reforçado o partido no poder. Nas recentes eleições parciais, em 20 assembleias legislativas, o partido Rússia Unida do presidente Putin aumentou significativamente a sua votação. Não obstante, o Partido Comunista da Federação Russa repetiu a vitória em duas regiões e manteve o segundo lugar em todos os círculos.

Só o povo russo pode depor o governo atual

Os estrategas da NATO, que julgavam poder virar o povo russo contra o governo pela violência das perdas e das sanções indiscriminadas_ que os primeiros artigos da Declaração Universal de Direitos do Homem condenam, não conhecem a sua cultura, nem o que representa para a nação russa distribuída pelos países da antiga URSS, o destino trágico dos seus irmãos do Donbass, em nome dos quais as duas câmaras apoiaram o avanço das forças armadas russas sobre a Ucrânia. A razão por que estão dispostos a lutar não são as mesmas dos seus governantes. Há cinco anos, o partido no poder não conseguiu obter senão maiorias simples. Em contraste, como relata o Kommersant , este ano o partido obteve dois terços dos votos, em todas as regiões onde os eleitores escolheram legisladores locais. Desconhece-se a percentagem de abstenções.

Mas a ocidente não se trabalha para transformar a massa popular num agente político decisivo, basta que vote, num dos partidos do arco do poder.

Enganaram-se duplamente os analistas da NATO que classificavam como propaganda o desenvolvimento das armas de nova geração pelo estado da Federação Russa. Tentaram iludir de novo a opinião dos seus cidadãos com as notícias sobre as fraquezas militares da Federação Russa, fabricadas sobretudo pelos serviços de informação inglesas. A militarização reforçada da Federação Russa, é outra consequência do prolongamento da guerra. 

Os burocratas da UE, que profetizavam o colapso a curto prazo da economia russa, optaram então pela fuga para a frente, empurrados pela sede de lucro dos fabricantes americanos e europeus de armamento, servidos pelos comentadores televisivos ignorantes das coisas da guerra…secundados pelos políticos e militares ocidentais partidários da ordem hegemónica do império dos EUA e do seu braço armado_ a NATO, que já não prevalece na realidade duma nova Era multipolar.

Nunca apresentaram uma solução política para parar ou pôr fim à guerra!

E desprezaram o destino de oito milhões de ucranianos russos, cidadãos do Donbass e da Crimeia, donde tem origem o maior contingente de refugiados ucranianos, segundo a ONU, acolhidos pela Federação Russa (n atualmente mais de 5 milhões _cerca de metade vítimas da guerra civil 2014/2021 e os restantes da guerra atual. E esconderam os seus mortos e feridos, mais de 9000 civis mortos só na República de Donetz, desde o início da guerra civil, às mãos dos seus compatriotas ucranianos, incluindo 228 crianças…números que a ONU confirma e a comunicação social encobre, mostrando apenas uma das faces da guerra.

Tal como desprezaram a sorte das outras minorias nacionais, que viram a sua língua e cultura proibidas e dos ucranianos que apoiavam os 12 partidos de centro-esquerda ilegalizados pelo regime atual, sob a acusação de pró-russos!

Recordemos o balanço trágico da guerra civil, que sucedeu ao golpe de estado: de 2014: As Nações Unidas publicaram em 14.06.2016 um relatório onde se pode ler: “Pelo menos 2 mil civis foram mortos e mais de 90% das fatalidades foram causadas por bombardeios indiscriminados em áreas residenciais, nos dois lados. Mas ninguém foi condenado até o momento…” “Também foram relatadas execuções de soldados ucranianos ou de elementos de grupos armados. O governo teria investigado e julgado alguns autores de execuções sumárias, mas as investigações foram muito lentas ou prolongadas de propósito, para que os acusados tivessem a chance de escapar da justiça”. O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Al Hussein, declarou então que a prestação de contas é essencial para o alcance da paz na Ucrânia, sobretudo na região leste do país.

De acordo com a missão de monitoramento da ONU, entre abril de 2014 e o final de 2018, de 12.800 a 13.000 pessoas foram mortas em Donbass. Segundo a Comissão de Direitos Humanos da ONU, 3.300 mortos eram civis, 4.000 mortos eram militares das Forças Armadas da Ucrânia e 5.500 mortos eram militares das Forças de Defesa das Repúblicas Populares do Donbass. Cerca de 27 ou 30 mil pessoas ficaram feridas. No ano do relatório, em 2018, de acordo com estas estatísticas, 55 civis foram mortos e 224 ficaram feridos em Donbass: uma guerra de baixa intensidade prosseguia sem tréguas. O Alto  das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) continuaria a atualizar o número de mortos e feridos: “… o número total de vítimas relacionadas com o conflito na Ucrânia... em 40.000-43.000, de 14 de abril de 2014 a 31 de janeiro de 2019, dizia então o seu comunicado, incluindo 12.800-13.000 mortos".

Vitórias… de Pirro, com um balanço trágico

Kiev perdeu mais de 71.000 soldados na atual contraofensiva, afirma o estado-maior russo. Mas, perante a violência dos combates, quantos milhares de mortos e feridos, militares da Federação Russa e milicianos das Repúblicas do Donbass? Oleg Soskin, assessor do ex-presidente ucraniano Leonid Kuchma, considerou a situação na linha de contato muito difícil para as Forças Armadas Ucranianas e afirmou no YouTube que “O que há de errado com a posição das autoridades é que estamos no século 21, não se pode mentir, pois nada se pode esconder…o enorme peso da tragédia destas perdas horríveis simplesmente recairá sobre elas. Certamente, isso significará a ruína tanto do Servo do Povo (o partido pró-presidencial), e, claro, de Zelensky.” Ao mesmo tempo, o general reformado Sergey Krivonos, antigo vice-secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, censurou Zelensky por dar falsas esperanças em torno das ações das forças armadas do país.

Recorramos ao contraditório: Enquanto a comunicação social a Ocidente anuncia a conquista de Robotino como uma vitória estratégica, a imprensa russa reclama o sucesso da estratégia de atrição das suas forças e nega-a: As forças de Kiev perderam 1.000 homens desde julho em repetidos ataques a uma única aldeia – Robotino, declaram as autoridades militares da Federação Russa. A violência dos combates reduziu esta localidade a cinzas. Já não resta nada para conquistar ou reconquistar. A aldeia desapareceu e o mapa assinala a terra de ninguém. Sim, vitórias de Pirro, como no caso da danificada da ponte da Crimeia, reaberta ao tráfego motorizado em 15 de setembro

O ministro da Defesa ucraniano Alexey Rezniko, entretanto demitido, admitiu em entrevista à CNN que a contraofensiva estava atrasada, explicando isso pela falta de munições e sistemas de defesa aérea. O porta-voz da Força Aérea Ucraniana, Yury Ignat, apontou a supremacia da guerra eletrônica da Rússia como uma das causas da contraofensiva estagnada de Kiev.

Estes números trágicos são mais do que propaganda. Revelam o preço insuportável de quem ataca sem possuir superioridade em armas e homens. Mais de 150.000 soldados ucranianos foram mortos ou feridos desde fevereiro de 2022, informou o The New York Times, citando estimativas de autoridades e analistas ocidentais. Dadas as perdas sofridas pelas forças armadas do país, o recrutamento de tropas está cada vez mais difícil, disse o jornal. Entretanto o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, decidiu demitir todos os chefes regionais de recrutamento face a relatos de esquemas corruptos de evasão de recrutamento. As autoridades polacas começaram a extraditar para a Ucrânia homens em idade de recrutamento que deixaram ilegalmente o país desde 24 de fevereiro de 2022, informou o diário polaco Rzeczpospolita . O jornal estima em 80.000 o número de refratários. A Irlanda segue-lhe os passos.

No início da guerra houve um fluxo de abandono da Rússia, de centenas de milhar de cidadãos. a que as autoridades não se opuseram, sobretudo para a Geórgia. As autoridades russas falam do regresso da maioria, sem a quantificar

Tanto num caso como no outro, recordemos que a objeção de consciência é um direito que deriva do conteúdo da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

O serviço de imprensa do Comité de Investigação Russo afirmou em Maio que mais de 2.000 mercenários de 71 países, incluindo 234 cidadãos norte-americanos, lutavam contra as forças russas na Ucrânia.

Do lado russo, além do grupo Wagner, mercenários sérvios; e o governo cubano anunciou o desmantelamento de uma rede de recrutamento. Em contraste, cerca de 280 mil indivíduos foram alistados por contrato com as Forças Armadas Russas a partir de 1º de janeiro de 2023, disse o vice-chefe do Conselho de Segurança Russo, Dmitry Medvedev.

Enfim, afirma ainda o ministério da defesa russo que as suas as Forças Armadas destruíram 467 aviões de guerra ucranianos, 248 helicópteros de combate, 6.540 veículos aéreos não tripulados, 436 sistemas de mísseis terra-ar, 11.742 tanques e outros veículos blindados de combate, 1.149 lançadores múltiplos de foguetes, 6.306 canhões de artilharia de campanha e morteiros. e 12.840 veículos militares especiais desde o início da operação militar especial na Ucrânia,

Neste contexto, a administração Biden pensa que a contraofensiva da Ucrânia irá parar dentro de cerca de 6 a 7 semanas, noticiou o Economist, citando-a como fonte. Segundo o artigo desta revista, “há divergências internas sobre quanto progresso pode ser feito nesse período”. Sublinhando que "o exército da Ucrânia, tendo utilizado a maior parte das suas reservas antes de romper a segunda linha [das defesas da Rússia], e sofrendo pesadas baixas ao tentar rompê-la, é pouco provável que chegue longe."

Os políticos que mandam avançar este exército, que vê esgotarem-se as suas reservas humanas, mesmo com o recrutamento crescente de mercenários estrangeiros, sabem que estão a provocar um massacre _ a defesa, do outro lado, paga um preço de sangue que é sempre inferior! Tragicamente, a evolução da guerra continua a validar as Ciências Militares, que os líderes políticos sonegam à consciência coletiva.

A dimensão de tragédia e o horror da guerra existem e levam à consciência política, sobretudo quando o sofrimento dos feridos e o luto atingem a sociedade, os homens e mulheres que são a carne para canhão. É por isso que os promotores da guerra escondem esses números e esta questão é crucial no debate político da atualidade. Já foi assim, para o declínio da guerra dos americanos na Indochina, dos russos e americanos no Afeganistão, dos americanos no Iraque...e na nossa guerra colonial.
O número de militares ucranianos que perderam a vida, citado (15.03.2023, X) pelo antigo assessor do governo dos EUA Douglas Macgregor atinge um tal valor catastrófico, que, se for rigoroso, e divulgado, levantará uma onda de comoção mundial exigindo o cessar-fogo imediato: 400.000 mortos!

A integridade e soberania da Ucrânia, e os seus inimigos

Enviar centenas de milhar de soldados para batalhas perdidas não é um ato de coragem política, sobretudo quando o contentor se dispõe a negociar desde o início da guerra, sem condições prévias.

Fazer a guerra por interposta pessoa, com os ucranianos, ucranianos russos e russos, como carne para canhão, não é um ato de solidariedade política, mas um crime contra a humanidade.

A integridade e soberania da Ucrânia não se perdem somente no campo de batalha, as condições impostas pela entrega de armas, empréstimos e dádivas, vêm transferindo a riqueza deste país (desde 2014) para o capital estrangeiro e retiraram ao seu povo (multinacional) qualquer poder de decisão política.

Apesar de deter a maioria do Senado e da Duma, o Partido do Presidente Putin não recebeu destes órgãos nem a missão de anexar a Ucrânia nem o direito de declarar a guerra total, até ao recurso a armas nucleares, muito menos de estender a guerra a outros países.

O conceito militar e estratégico de "operação especial" não é um eufemismo de propaganda, é uma barreira política e constitucional aos piores falcões russos, que espreitam a sua hora!

Uma Ucrânia credora de milhares de milhões de empréstimos e obscuras ajudas militares, está condenada a ver privatizada toda a sua economia pelo capital estrangeiro, como já o foi recentemente a indústria da guerra e uma parte do negócio dos cereais e da terra, cuja percentagem desconhecemos, como condição dos empréstimos do FMI desde antes da invasão, tal como durante o seu curso atual.

Uma Ucrânia em guerra prolongada, com a maior parte dos seus partidos ilegalizados, sem independência nos tribunais nem pluralismo na comunicação social, fica nas mãos de uma nova elite de senhores da guerra de tendências chauvinistas e de extrema-direita e perde a autonomia de governo, em favor dos estados que impuseram a hegemonia ocidental. Enquanto favorece, na Federação Russa, a ascensão do militarismo e do revisionismo imperial, que proclama a guerra total pela sobrevivência da nação russa, hoje dispersa e ameaçada nos países da ex URSS.

Da guerra civil ao conflito existencial de duas pátrias

A ausência de uma análise da situação política interna da Federação Russa, leva a que não se compreenda a realidade deste país. Também na Rússia existem forças extremistas, que não visam uma solução política para a guerra e que representam uma tendência política com crescente influência, dentro e fora do partido de Putin

Essas forças políticas, que preconizam a guerra total contra o regime ucraniano, e estão representadas no golpe militar do grupo Wagner, falharam por ora no seu objetivo de colocar à frente das FA novos líderes, mas continuam intactas.

O vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa é o seu porta-voz e os analistas políticos a ocidente, por ignorância ou má-fé, desprezam o seu discurso.

Contudo ele fala livremente, e não se coíbe de divergir da linha política do governo, que preconiza o início de negociações e o cessar-fogo à coreana e invoca a não aplicação dos acordos de Minsk como fundamento da invasão. O prolongamento da guerra e a escalada de apoio militar empurrou o governo russo para o abandono desses acordos e criou condições no parlamento _ DUMA, para congregar toda a oposição em torno da anexação do Donbass e das províncias de Kherson e Zaphorísia.

A estratégia dessa tendência não é um bluff do grupo dominante de Putin, mas a voz de outra corrente política que ainda não controla o governo, mas que lhe vai impondo a sua visão política: guerra total, guerra pela sobrevivência da nação russa, se necessário até ao holocausto nuclear. Recordemos que a Ucrânia é uma nação multinacional e os ucranianos russos são nativos das quatro Repúblicas anexadas, a quem os acordos de Minsk prometiam autonomia, em troca da paz e da unidade da Ucrânia.

Atente-se no último discurso de Medvedev: “Pode levar anos e até décadas, que assim seja. Não temos outra escolha: ou destruiremos o regime político hostil ou o Ocidente coletivo acabará por separar a Rússia. E neste caso, ele morrerá connosco”, Ainda Medvedev.“ Para nós, esta é uma tragédia de nosso próprio povo. Este é um conflito existencial. Esta é uma guerra de autopreservação. Ou eles ou nós".

O partido de Putin, Rússia Unida, é um partido defensor do regime capitalista e do seu modelo de democracia liberal, que restringe o acesso ao governo ao chamado arco do poder, limitado a dois ou três partidos, que a Constituição pós-soviética consagrou e tal como a Ocidente, no Médio Oriente, e por todos os continentes, novos milionários vêm concentrando em si próprios o capital, tornando -se nos oligarcas do século XXI. Com a atual Constituição, a privatização e a economia neoliberal tomou conta da antiga URSS, mais de 1.600 multinacionais do ocidente instalaram os seus negócios na Rússia, associados aos novos capitalistas deste país e apoiados pelos seus governos e ali se mantiveram durante o período da guerra civil, de 2014-2021, controlando 70% da indústria e 90% do comércio do país, exportando anualmente lucros de quase 90.000 milhões de USD  e expatriando os capitais do próprio estado para os bancos gigantes a ocidente. Segundo o governo russo, apenas 106 abandonaram de facto o país. Paradoxalmente, os países da União Europeia líderes das indústrias militares, venderam durante a guerra civil referida 346 milhões em armamento, França e Alemanha à cabeça, com o argumento de cumprir os contratos! A França vendeu 152 milhões de euros de equipamento militar à Rússia, a Alemanha exportou 121,8 milhões de euros, a Itália vendeu 22 milhões de euros, a Bulgária, Áustria…num total de 10 países da UE!

E supremo paradoxo, durante esse período de guerra civil, a Rússia foi o terceiro cliente das indústrias de guerra ucranianas, controladas pelo governo e já em processo de privatização. De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz, sediado em Estocolmo, entre 2017 e 2021 a Ucrânia ocupava o 14º lugar na lista dos maiores exportadores de armamento. Os seus clientes principais foram a China e a Tailândia, e, por estranho que pareça e tem sido obliterado, a Rússia manteve-se em terceiro lugar como seu cliente, apesar da guerra civil que, depois do golpe de estado de 2014, continuou a opor o Donbass, apoiado pela Rússia, aos dois governos ucranianos dos presidentes Poroshenko e Zelensky nesse mesmo período, 2014 a 2021.

Neste quadro, a Ucrânia destacou-se também, por a sua economia pós-soviética ter caído nas garras de sete oligarcas que se apropriaram de setores inteiros.

A oposição ao partido de Putin, atribuída falsamente a um oligarca que nunca passou de um líder fracassado de extrema-direita, tem sido liderada pelo partido comunista da federação russa, renovado, que alcançou 20% dos votos nas legislativas de novembro de 2021. A Amnistia Internacional já o classificou como tal, mas reabilitou-o para o combate ideológico contra o governo russo. A oposição aos governos de oligarcas da Ucrânia, incluindo o que foi derrubado pelo golpe de estado de 2014, chefiado também por um oligarca, mas neutralista, foi liderada pelo Partido Comunista da Ucrânia, que chegou a ter 123 deputados entre os 450 da Duma e foi ilegalizado definitivamente pelo regime nascido desse golpe, em 2017.

A Assembleia da República de Portugal votou por maioria contra essa ilegalização naquele ano, votação que não contou com o apoio do CDS e do PSD.

Estes factos, constantemente sonegados, explicam porque o chamado Ocidente precisa de fabricar falsos opositores, que de democratas nada têm.

O governo de Zelenski aproveitou a guerra para ilegalizar todos os 11 partidos de centro-esquerda que restavam, sob a alegação de serem pró Putin. O parlamento ficou refém da extrema-direita.

No fio da navalha…

A vulgarização e omissão das centenas de milhar de baixas deste conflito, desde o golpe de estado e guerra civil, até à invasão, é um crime pró-guerra que atinge políticos e militares, comentadores e jornalistas…que a promovem e alimentam. Mas não sangram nem perdem a vida.

Um exército ucraniano sem recursos próprios e exaurido em sangue e material, fica exposto às ambições e aventuras militaristas dos oligarcas, que criaram os seus próprios regimentos e impuseram a sua integração na Guarda Nacional e das elites que governam a Nova Europa do Leste, autoritária e revisionista.

Agora a Rússia, antes os EUA, reposicionam as suas armas de destruição massiva, tendo como horizonte o holocausto nuclear. Um novo colosso dos mares, o novo porta-aviões de 13 mil milhões de euros da classe Ford, foi enviado para o mediterrânio. Outro, o último submarino atómico desenvolvido pela Rússia, deslocou-se para a sua base no Oceano Pacífico. Finlândia e Bielorrússia, sem acesso autónomo aos mísseis intercontinentais, parecem não entender que não passam de novos alvos na mira destes mensageiros da morte.

Esta é uma das guerras de tipo novo, de confronto geostratégico por interposta pessoa (ucranianos de todas as etnias como carne para canhão), mas sem fronteiras, muito perto de escalar para um confronto direto com os países da Nova Europa (capitaneados pela Polónia ) e os falcões da NATO, estejam eles nos EUA, no Reino Unido, na Holanda, na Dinamarca, na Alemanha…cada vez mais diretamente envolvidos na entrega e reparação de armamento, na logística da guerra (de que base aéreas partirão os F-16?), na organização e expansão de centros de treino dos militares ucranianos, na assessoria de informação, vigilância, planeamento e execução de operações de ataque ao território russo… com os burocratas de Bruxelas e os líderes da NATO empurrando os seus peões e as nações onde dominam, para o fio da navalha…do alastramento da guerra a outros países…e para o holocausto nuclear!

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