7.2.22

10 ideias para a reflexão sobre o significado político e social das eleições para a Assembleia da República de 2022

 


…Não compreender onde está o perigo principal, é hoje o risco maior dos partidos de esquerda em Portugal, mas também dos partidos da direita democrática. A maioria de esquerda expressa em votos, continuou a prevalecer, ao contrário das contas erradas que a própria TV pública propaga, mas perdeu metade da vantagem sobre os votos na direita; depois de dois anos de governação do PS, essa maioria baixou para cerca de 600.000 eleitores votantes. Saliente-se que foram os novos partidos da direita radical e da extrema-direita a colher os benefícios, em votos e deputados. E que esse processo pode acelerar rapidamente…

... Numa situação internacional em que assistimos, nos EUA, à destruição interna da sua democracia liberal e ao intensificar, pelos governos republicano e democrático, de uma política global de confronto e boicote económico, de condicionamento da  economia da UE e  de interferência direta na vida política das suas nações soberanas; de intervenção militar onde os interesses americanos não prevalecem…

... Porque é que os partidos democráticos de Portugal e a União Europeia,  liberal e conservadora, mas também social-democrata, os seus governos, alinham com essas políticas que empurram o mundo para a guerra económica e para o risco de conflitos militares generalizados, sem tomar qualquer iniciativa de crítica às ações políticas erradas…?

1.   A maioria social e política de esquerda, que emergiu em 2015,  foi o fruto da falência dos bancos, do abuso das Parcerias Público Privadas_ PPP, do desbaratar das privatizações, da corrupção dos líderes e da brutalidade da Troika… que mudaram a consciência popular. Para a maioria do povo português ficou claro que a responsabilidade dessa política desastrosa recaía no PSD e CDS e na ala direita (liberal) do PS, que culminou na governação de Sócrates e de Passos Coelho/Portas.

2.  A maioria de centro-esquerda da atual direção do PS, demarcou-se dessa política a nível nacional e também no quadro da União Europeia, há muito governada por uma coligação de centro-direita, ultraliberal .na economia. O governo do PS proclamou então a retoma da tradição social-democrata, com o estado social como bandeira política e, no início da pandemia, subscreveu a declaração   conjunta de 9 partidos e governos  (uma frente eclética, predominantemente constituída por liberais, mas também por filiados na  Internacional socialista, e até conservadores autoritários e eurocéticos), declaração que propunha introduzir algumas reformas democráticas na União Europeia_ da mutualização da divida à coordenação do combate às novas pandemias extensiva ao domínio global da saúde. Um grupo eclético  que nasceu do efeito desastroso da política de austeridade e revela o seu falhanço.

Aquela declaração, foi assinada por LSophie Wilmès, primeira-ministra da Bélgica; Emmanuel Macron, presidente da República Francesa; Kyriakos Mitsotakis, primeiro ministro de Grecia; Leo Varadkar, primeiro ministro de Irlanda e federalista; Giuseppe Conte, primeiro ministro de Italia; Xavier Bettel, primeiro ministro de Luxemburgo; António Costa, primeiro ministro de Portugal; Janez Janša, primeiro ministro de Eslovenia, y Pedro Sánchez, presidente do Governo de España, que foi o seu primeiro subscritor.

3.     Esse foi o caminho escolhido pelo primeiro governo de António Costa e a sua experiência de alianças à esquerda, adotada como exemplo pela Internacional Socialista, e depois replicada em Espanha, como agora na Alemanha.

Esquecida ficou a nova via do Siryza: abrir o debate sobre o Federalismo Democrático, em alternativa ao atual Federalismo Financeiro e Burocrático, e que  lhe custou ser afastado do poder,  em consequência da intervenção agressiva da Troika na Grécia, que desrespeitou completamente a sua soberania, infligiu á nação grega as maiores privações até conseguir virar contra o governo uma nova maioria.

4.     A aliança política que viabilizou na Assembleia da República os governos do PS e os seus orçamentos, resultou de uma visão política amadurecida pela direção do PCP, que foi o seu primeiro proponente e visava reverter a política ultraliberal da Troika, convergindo com outra visão política igualmente ponderada, da (maioria) direção do PS  de António Costa, face à crise dos partidos socialistas a leste e a ocidente da Europa.

O BE, mudou então a sua tática política, que antes conduzira à divergência que criou o Livre e associou-se à frente parlamentar da esquerda.

5.  Ainda hoje os ideólogos da direita, que de forma precipitada e errónea, classificaram como “geringonça”, coisa improvisada, pronta a desconjuntar-se, uma aliança que perdurou por seis anos, fazem pagar aos seus partidos um elevado preço político por esse erro descomunal, que os poderá afastar do poder muitos e longos anos…ou não, se a crise económica e social se agravar na Europa e nos atingir mais profundamente.

PSD e CDS ( este a rivalizar com o  estilo radical e extremista do Chega), ao defenderem a continuidade da política austeritária e neoliberal, em versão mitigada, para Portugal e para a União Europeia, mesmo que adoçada com promessas de migalhas social-democratas num futuro incerto e condicional, continuaram  afastados do sentimento maioritário da nação.

Mas os sinais de enfraquecimento dessa tendência maioritária de votos à esquerda, já estão presentes nestas eleições.  Se considerarmos a votação global nos partidos de direita, por comparação com os partidos de esquerda: mantém-se a maioria de votos à esquerda, contudo, a vantagem da ordem de 1 milhão, caiu para perto da metade, cerca de 600.000, em dois anos, traduzidos na recuperação de 18 lugares de deputados, mas em favor da direita radical e da extrema direita. 

A eleição do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, mas sobretudo a perda da Câmara de Lisboa, não foram lidas como sinais de alerta pela direção do PS. e a vitória do PSD na Câmara de Lisboa criou uma falsa euforia neste partido, já que só a dispersão dos votos na esquerda o permitiu.

Analisemos ganhos e perdas em pormenor, ainda sem os votos recolhidos no estrangeiro, que correspondem s 4 deputados:

O PS ganhou mais 380.000 votos e 11 deputados. O Livre mais 13.315 votos e conservou o deputado.

O BE perdeu 252.224 votos, um pouco mais de metade e 14 dos 19 deputados. Também o PAN perdeu um pouco mais de metade dos votos, 84.600 e 3 dos 4 deputados. O PCP/PEV, resistiu melhor, mas também perdeu um terço dos votos, 84.608 e 6 dos 12 deputados. Isto é, parece que estamos em presença de uma transferência de votos em favor do PS, no campo da esquerda partidária. PS e Livre somam mais 393.313 votos e as perdas do BE, PAN e PCP/PEV somam 421.432 votos. Tal resultado parece significar que ainda não existe no eleitorado um movimento de fundo em favor do campo político da direita, que terá crescido sobretudo com antigos abstencionistas.

O PSD  teve mais 77.941 votos, mas, ainda assim,  perdeu 6 deputados. O CDS perdeu 129.876 votos e todos os deputados, 5.

O Chega ganha mais 319.111 votos e 11 deputados. O IL sobe 202.869 votos e ganha mais 7 deputados.

Contas feitas, a direita sobe 392.104 votos. Recordamos, que faltam os resultados da votação dos círculos da Europa e de Fora da Europa. A conclusão política a tirar é que  a política do PSD formalmente ao centro-direita, conservou e fez crescer ligeiramente o seu eleitorado e a radicalização do CDS, que vem da antiga liderança,  após a derrota das eleições de 2015, já não tem espaço político, depois do aparecimento do Chega e da IL. Restaria ao CDS a democracia-cristã, mas não cortou este partido com as figuras políticas e as proclamações desta corrente que parece estar a desaparecer na UE? A direção política de Rui Rio não errou na direção estratégica da sua campanha eleitoral, mas falhou na sua demarcação política perante o Chega e a IL, aceitando para um futuro governo o apoio parlamentar do primeiro, e o acordo político encapotado que tal pressupõe _, tácito, informal, ou secreto e o apoio parlamentar e integração no governo do segundo.

O crescimento da Iniciativa Liberal, entre os eleitores da classe média, quadros e profissionais liberais, deve-se sobretudo à sua propaganda mistificadora, que apresenta o neoliberalismo como uma novidade redentora (Onde estavam os seus líderes, durante o exercício político dos governos neoliberais do arruinado “arco do poder”, senão nesses partidos?_ Prometem que todos poderão escolher o melhor hospital e a melhor escola, distribuindo individualmente os recursos do estado democrático alocados à Saúde e à Educação Pública ( suspenderam do seu programa  a medida de cada estudante do ensino superior pagar as propinas do seu curso, recorrendo ao crédito bancário quando a família não as poder pagar, mas continuam a defender o princípio); querem  privatizar parcialmente a  Segurança Social lançando na roleta da bolsa uma parte das contribuições dos trabalhadores; garantem que o crescimento económico, por si só, será o novo maná, servido pelos mais aptos discípulos do todo poderoso e omnipotente mercado; classificam o regime político de Portugal como socialista ( consequentemente, PCP e BE são politicamente cegos e de extrema esquerda por quererem ainda mais estado); apesar de, na realidade, pouco mais restar para privatizar do que a Segurança Social, a Escola Pública, o que ainda resiste de Serviço Nacional de Saúde e a TAP… privatizar ainda, quando o capitalismo português colapsou em favor do capital sem pátria!

No entanto, os partidos da direita e da extrema-direita, continuarão (inconsequentemente, como o foi o último governo do PSD/CDS, ao subir os impostos sobre a classe média, os pensionistas  e o povo trabalhador em geral)  a exigir dos governos constitucionais que prestem todos estes serviços, depois de privados de impostos progressivos, de empresas nacionais lucrativas, e dos  instrumentos de soberania económica (a moeda nacional) e a autonomia na elaboração do Orçamento de Estado.…

A crise económica e financeira que continua a lavrar, confrontará as alvoradas que cantam “liberal”, com a dureza e impiedade da descapitalização e semicolonização do estado democrático,  das empresas nacionais e das famílias.

PSD e IL, se não enfrentarem as verdadeiras causas do bloqueio do desenvolvimento nacional e do crescimento sustentável da sua economia, viverão a disputar o mesmo círculo fechado  de espaço político, reduzido pelo Chega, que abocanhará todo o que o PSD lhe continuar a oferecer. Neste dimensão política essencial, o IL demonstrou ter estudado melhor a estratégia dos partidos de direita europeia face ao emergir de novos partidos de extrema-direita.

6.    Com o passar do tempo e o defraudar das expetativas dos partidos de centro direita quento á precaridade da aliança parlamentar de esquerda, os opositores desta aliança_ que incluem as administrações dos grupos empresariais que controlam a imprensa e TV, e um grande número de jornalistas e comentadores instalados pelo ”bloco central” nas redações e espaços nobres de comunicação, começaram a defender a ideia que BE e PCP estavam condenados a perder votos nas eleições  como resultado do descontentamento dos seus eleitorados perante a aliança com o governo do PS.

7.   Apesar de este balanço não se sustentar em qualquer estudo de opinião ou inquérito dos partidos em causa, nem sequer na evidência dos factos e resultados_ como veremos face a algumas das eleições e à evolução do PAN e do Livre, essa ideia cresceu no interior das suas direções  e ganhou progressivamente adeptos entre os militantes.

Comparemos as eleições de 2015 e 2019 para a Assembleia da República: O  BE manteve os 19 deputados e o corpo fundamental de votos e o PAN, não obstante o seu alinhamento com a maioria de esquerda, duplicou a votação.

A candidatura presidencial do BE  e as candidaturas deste partido nas autárquicas, sem qualquer tipo de alianças, tal como a primeira votação contra o orçamento e sobretudo a última, que precipitou a antecipação de eleições,  foram obviamente opções táticas de demarcação face ao PS, constituindo aos olhos da sua base eleitoral uma trajetória oposta à da primeira legislatura. 

Paradoxalmente os resultados eleitorais negativos têm sido interpretados pelas várias tendências que hoje se confrontam neste partido, como se a demarcação política do PS não tivesse existido ou passado para esses eleitores.. Em vez de  prosseguir a linha de de alianças que permitiram minorar a política austeritária, constituíram um sinal claro de que, à esquerda, cada partido e obviamente o BE,  já  procurava outro caminho logo nas presidenciais, deixando o campo livre para a vitória triunfal do atual presidente e  para a projeção  nacional do líder da extrema direita. O voto popular na candidata oriunda do PS, mas sem o seu apoio, traduzia, ao contrário das estratégias definidas pelas direções dos partidos de esquerda_ candidato próprio e ausência de candidato no caso do PS, a permanência de um forte desejo de unidade nas suas bases e eleitores, contra os perigos e a nova ameaça proveniente do campo político da direita. 

A existência de um esforço comum para encontrar um candidato presidencial, teria permitido fortalecer os laços de confiança entre as bases e os eleitores desses partidos,  e projetá-los na constituição de alianças autárquicas, sobretudo onde as hipóteses de vitória da direita eram reais; em benefício sobretudo dos partidos, como o BE e o PCP, que têm uma fraca organização de base ou a vêm perdendo. Os opositores do projeto de um governo da República à esquerda, que integraram os governos do PS, aceitando a aliança inicial apenas como uma mera manobra tática para chegar ao poder, tinham ganho maior influência  e foram igualmente responsáveis pela perda de algumas das autarquias com relevância nacional, onde o eleitorado da esquerda é claramente maioritário: Lisboa, é o seu melhor exemplo. Recordo que, na mesma altura em que o BE obtinha na sua candidatura presidencial 3,98% dos votos, as sondagens feitas nesse período para as futuras legislativas ainda atribuíam ao BE votações na ordem dos 8%. ( Ver o meu artigo, Leitura crítica das Moções à Convenção do BE/2021)

Em 2022, o Livre, mesmo numa conjuntura de concentração de votos no PS e logo após se ter coligado com este partido nas autárquicas de Lisboa, viu premiada a sua identificação com os sentimentos populares de unidade, com a subida de votos e a eleição do seu deputado. 
Enfim, há causas complexas e não uma única para as variações eleitorais dos partidos de esquerda. O crescimento eleitoral do PAN nas legislativas  de 2019 acompanhou o seu trajeto de apoio crítico ao governo do PS.  O resultado negativo que agora se lhe seguiu, não resulta da suposta colagem ao PS, mas de outras causas externas e internas: teve influência uma contra campanha hostil e difamante e, provavelmente, a focalização da sua propaganda eleitoral num tema secundário e controverso, a proibição das touradas. A explicação tardia de que a posição PAN não despreza o imperativo da manter o habitat do touro e a sai paisagem cultural, praticamente já não teve eco na comunicação social. Paradoxalmente, os grandes proprietários e produtores de carne, e outros produtos agrícolas industrializados, têm na produção integrada e biológica, a única vantagem competitiva face ao mercado internacional, como já o publicitam as associação e produtores transmontanos e açorianos. A confederação hegemónica no setor agrícola, ao colocar o PAN como o inimigo político a abater, parece não entender aquele facto e, ao fechar os olhos á questão ambiental, caminha como Pirro para a sua própria ruína. Temas como a defesa dos direitos dos animais domésticos, as causas dos incêndios e a ausência de medidas de reconstrução da dinâmica de reequilíbrio ambiental paisagístico, a real ameaça da exploração mineira do lítio, o imperativo da regionalização ou os riscos associados à industrialização agrícola do Alentejo, ficaram na sombra da sua campanha.

8.    A causa principal da perda de base eleitoral do PCP, residiu na política da Troika/Governo do PSD/CDS na área do trabalho, prosseguida pelo governo do PS, a qual, com as destruição dos mecanismos democráticos de contrato coletivo de trabalho e extensão das portarias, quebrou a espinha aos sindicatos. Associada à ausência, na propaganda do PCP, de uma referência positiva internacional, que demonstre a validade do ideal socialista no mundo atual, capaz de atrair em grande, militantes e a simpatia popular. Acompanhada pelo desaparecimento progressivo da sua base social entre os assalariados rurais, nas cinturas industriais e nas elites intelectuais, sobretudo no mundo rural. Ampliada pelas campanhas negativas e discriminatórias, na maioria da comunicação social e nas redes sociais. Continuando por resolver, internamente, a resposta às causas da degeneração da URSS e  da queda das primeiras experiências históricas do socialismo.

9.   A causa principal da perda da base eleitoral do BE resulta da redução da sua atividade ao domínio parlamentar, da ausência de uma visão estratégica sobre o regime socialista que afirma prosseguir e de mudanças táticas pragmáticas e contraditórias na sua prática política, que parecem estar longe dos sentimentos e do estado de consciência popular, nomeadamente ao dar um contributo decisivo para a queda de dois governos do PS, em conjunturas diferentes, mas cruciais para o destino do país, quando era claro que a essa queda se seguiria a ascensão da direita e, era irrealista o seu próprio fortalecimento eleitoral.  Na primeira, conduzindo à conquista da maioria parlamentar e do governo (2011) pelo centro-direita partidário do austeritarismo da Troika  e na segunda, com o abrir de portas para que a direita liberal e a extrema-direita antecipassem em dois anos e garantissem de imediato a colocação na Assembleia da República de um elevado número de deputados, o que significa mais força política e recursos financeiros, e perdas severas da sua própria força parlamentar.

O  O BE, nestes dois momentos históricos em que alinhou o seu voto com a direita face ao orçamento, tinha á sua disposição o voto pela abstenção, que lhe permitia não só demarcar-se, como continuar a sua crítica e combate pelos direitos democráticos e reivindicações populares que proclamou defender. A abstenção, depois da demarcação política, era a única conduta política coerente com uma aliança para a legislatura, que foi a posição inicial do BE.

Continua por explicar, à luz dos seus programas e objetivos políticos, tanto do lado do BE como do PCP, porque convergem estas duas forças políticas em ações tão decisivas como a recusa de um orçamento que conduz à queda do governo do PS _ ficando na companhia dos partidos de centro-direita, de direita e extrema-direita, e não são capazes de ao menos conversar e de se entender nas candidaturas à Assembleia da República, autárquicas e à Presidência da República.

Estabelecer formalmente o objetivo de ser a “3ª força política” eleitoral  é uma bravata que a extrema-direita e depois a direita proclamaram, e que, copiada pelo BE, só evidencia o absurdo deste prática de costas viradas entre partidos de esquerda com significativos  conteúdos programáticos comuns.

10. A origem dos quadros e novos deputados da Partido Liberal e do Chega, saídos do CDS e do PSD, e porventura os seus verdadeiros líderes, obriga estes partidos a reavaliar o carater e a natureza política da sua vida partidária, mas sobretudo, coloca lhes, tal como aos restantes partidos democráticos e ao governo de maioria absoluta, o imperativo de identificar as camadas e grupos sociais que têm vindo a perder com a governação de Portugal, mas também e sobretudo, com a determinação pela União Europeia de centro-direita da política nacional e a dar atenção à resolução dos problemas de que são vítimas. O orçamento do estado é o principal instrumento político de afirmação da soberania nacional e tem vindo a ser condicionado pela burocracia instalada na Comissão Europeia, que impõe uma tendência neoliberal às suas medidas.

O PSD, segui o caminho do PP em Espanha e não o da CDU alemã, ou da França Republicana,  ao chegar ao governo regional dos Açores, na dependência do apoio parlamentar da extrema-direita. Perdeu no governo dos Açores a possibilidade de governar Portugal com a conquista do centro político eleitoral e abriu para si próprio e para o PSD a arca de todos os demónios.

O CDS perdeu tudo o que restava do seu capital político no governo da Troika e quando quis socorrer-se de  herança passada, que já não era a sua, escolheu despertar os fantasmas que alimentam o partido que o está a devorar.

O perigo principal para as democracias liberais europeias e a política de frente ampla. A nova base social da extrema-direita em Portugal

Não entender onde está o perigo principal, é hoje o risco maior dos partidos de esquerda em Portugal, mas também dos partidos da direita democrática. O Chega cresceu com eleitores de todos estes partidos.

E os sinais de enfraquecimento da tendência maioritária de votos à esquerda, já estão presentes nestas eleições, com a redução para metade (600.000) da diferença de votos entre os dois campos. Um aviso para a direção do PS, mas que os seus dirigentes parecem não entender.

A corrupção, a troca de favores, o nepotismo, cresceram envolvendo altos e pequenos dirigentes dos partidos do fragmentado “arco do poder”, incluindo o PS, dando à extrema-direita uma arma de propaganda de massas contra a democracia liberal.

A extrema-direita tem agora uma estratégia operacional em Portugal, que passa pela subversão da Constituição, a instauração do presidencialismo, seguido pelo golpe constitucional contra as liberdades e direitos fundamentais, já inscrita no seu programa: a instauração,  passo a passo,  de uma nova ordem autoritária_ a ditadura “dos homens honrados”, com o poder judicial sob tutela do poder político, manietado  e transformado em instrumento de repressão contra as minorias e os direitos civis; a privatização sem limites de todos os setores e os serviços públicos reduzidos ao esqueleto; a liquidação da legislação trabalhista mínima; a restrição das atividades sindicais e associativas  nas áreas de ação do estado, nomeadamente nas forças armadas e policias ( onde hoje colhem apoios significativos),  serviços de saúde e educação; a restauração, através de leis revogatórias e outras leis coercivas, dos costumes conservadores e a revogação da legislação que protege as minorias, os emigrantes e defende a igualdade perante a lei das mulheres…no plano internacional, a saída da ONU e a construção de uma aliança internacional que se alargue até aos Republicanos dos EUA (da tendência Trump, em cuja vitória acreditaram e da qual dependem, em apoio político e financeiro).

Tal não é inevitável, mas a crise económica e social em desenvolvimento favorece o seu crescimento, graças ao espaço que ganhou na comunicação e nas redes sociais, a financiamentos poderosos e à estratégia de eutanásia política do próprio PSD. 

Alimentam as fileiras da extrema-direita os pequenos empresários, do comércio e serviços, da indústria e da agricultura, a quem nunca chegaram os fundos comunitários, arruinados pela concorrência desleal, e os altos juros bancários, que tudo penhoram e expropriam e a perseguição das Finanças e da Segurança Social através de milhões de processos executivos, implacáveis para com os pequenos, ao serviço dos grandes credores bancários, que são os principais beneficiários dessas execuções fiscais.

Alimentam as fileiras da extrema-direita os jovens desclassificados e desempregados, sem subsídios, alienados pelo desporto e que escolhem a via da marginalidade

Os trabalhadores independentes, que têm de esmolar trabalho e pagar antecipadamente a sua segurança social.

Os quadros técnicos excluídos do mundo dos negócios partidários e que conhecem por dentro os podres do regime.

Os polícias e guardas, mal pagos, privados dos direitos básicos do ser humano, casa, família, condições de trabalho…

Os saudosos do antigo regime, de todas as classes, que foram descendo na escala social e regressaram ao seu mundo rural e aos subúrbios das cidades, onde as carências e abandono não param de crescer.

Alguns dos que prosperaram no estrangeiro e ali se tornaram simpatizantes e valetes da extrema-direita, que minou o partido republicano dos EUA e as democracias liberais de todos os continentes, e vinha estendendo os seus tentáculos pelo Leste e o Centro da Europa.

Em todos estes grupos socias há gente a resgatar e outros que respondem com violência aos que se atravessam nas suas ambições.

Os resultados das eleições dos Açores e nas Presidenciais, parecem mostrar-nos que o eleitorado vítima do desemprego e da pobreza_ proletários ou empregados da classe média, que reconhecia no PCP a sua representação política, a que se somam hoje os pequenos e médios empresários e agricultores em risco de ruína, se move para a extrema-direita.

O discurso da extrema-direita contra a corrupção esconde e protege a aliança entre os 17 maiores bancos ocidentais e os ainda mais poderosos Fundos Financeiros (abutres), que estendeu os seus tentáculos ao controle das instituições financeiras internacionais, capturou os estados governados por conservadores, liberais, social-democratas, democratas cristãos, hoje siglas vazias e através deles desregulou o mercado, resiste a enfrentar a crise ambiental, que é a causa primeira das novas pandemias, e encontrou na dívida soberana e nos fundos abutres instalados em paraísos fiscais  as suas fontes principais de lucro, corrupção e fuga aos impostos.

Na definição de uma estratégia política, o mais difícil é estabelecer a direção do golpe principal: Mas sim, não sairemos da crise sem a renegociação da dívida soberana, como o FMI e o Banco Mundial reconheceram no início da pandemia,  (questão que só a China levou à prática,  ao debate do G-20 e daí passou ao G-7), que conduza à sua redução e dos seus juros, em paralelo com a renegociação da dívida das empresas (e simultânea capitalização), três vezes superior à do estado democrático e a contenção e alívio da pobreza das famílias, que constituem os três suportes que podem erguer uma frente ampla em Portugal, democrática e defensora da soberania nacional.

Para abrir esse processo negocial, é necessário articulá-la com os outros países da Europa, qualquer que seja a cor política do seu governo, como sonhou e levou á prática política o Syriza e o seu líder, e por isso foi perseguido pela aliança liberal e conservadora, e criticado pelos radicais de esquerda, que nunca serão capazes de mobilizar a grande massa dos seus povos, pois não sabem ou não querem saber da questão chave que é construir a sua união através da  aprendizagem política, menosprezam o estudo da situação política em função das necessidades  e da consciência popular, como condição para agir corretamente em cada conjuntura. elevando essa consciência política e conduzindo-a para a ação.

Deixo aos meus concidadãos, a inquietação das perguntas a que não soube responder (ou temo fazê-lo, por intuir verdades inconvenientes):

a)

Não compreender onde está o perigo principal, é hoje o risco maior dos partidos de esquerda em Portugal, mas também dos partidos da direita democrática. A maioria de esquerda expressa em votos, perdeu metade da vantagem sobre os votos na direita e baixou para cerca de 600.00 eleitores votantes, nos últimos dois anos. E saliente-se de novo, que foram os novos partidos da direita radical e da extrema-direita a colher os benefícios, em votos e deputados

Esse processo pode acelerar rapidamente: Com o fim das moratórias bancárias em Portugal_ das empresas e famílias, a subida da inflação que engole os salários e baixa o poder de compra no mercado interno, a sobrevalorização das casas na concessão de crédito à habitação e a multiplicação dos juros em todas as áreas da economia e das finanças_ da dívida soberana, à dívida empresarial e das famílias, com o crescimento dos fenómenos extremos que resultam da crise ambiental, que já chegou sob a forma de incêndios rurais devastadores, a pandemia do COVID19, a seca…

Continua por explicar, à luz dos seus programas e objetivos políticos, tanto do lado do BE como do PCP, porque não são capazes de, ao menos conversar, e de se entender nas candidaturas à Assembleia da República, autárquicas e à Presidência da República?

 b)

Numa situação internacional em que assistimos, nos EUA, à destruição interna da sua democracia liberal e ao intensificar, pelos governos republicano e democrático, de uma política global de confronto e boicote económico, de condicionamento da  economia da UE e  de interferência direta na vida política das suas nações soberanas; de intervenção militar onde os interesses americanos não prevalecem.

Porque é que os partidos democráticos de Portugal e a União Europeia liberal e conservadora, os seus governos, alinham com essas políticas que empurram o mundo para a guerra económica e para o risco de conflitos militares generalizados, sem tomar qualquer iniciativa de crítica às ações políticas erradas ( os impiedosos boicotes económicos e sanções, da Venezuela ao Irão, acompanhados pela quebra dos compromissos e tratados internacionais; a subalternização das Nações Unidas, com a cimeira internacional que marginalizou até os países árabes aliados dos EUA, por não adotarem o seu modelo de regime;  a nova Guerra Fria contra a Rússia; e, em paralelo contra China, com base em acusações e sanções desmentidas por toda a comunidade internacional que está fora do círculo da NATO e que teve o seu último episódio na tentativa falhada de boicote diplomático dos Jogos Olímpicos de Pequim)?

E, pela positiva, porque está congelado o debate acerca das reformas democráticas na UE, sem medo de chamar os bois pelos cornos: Federalismo Monetário e Burocrático, versus Federalismo Democrático, pode-se omitir a palavra, mas com moeda única, será sempre Federalismo?

Em prol da construção de uma política europeia democrática, pacífica e autónoma,  que permita perspetivar um futuro comum e partilhado.

Ajudando assim  as forças democráticas que no interior dos EUA parecem caminhar para a impotência ( 2 deputados democratas, alinham agora com os republicanos, revertendo a maioria formal do Senado) e a derrota, ainda antes das próximas eleições gerais para a Presidência, o Senado e a Câmara dos Representantes, enquanto, no período atual,  em desespero e desorientação, julgam recuperar a economia e uma maioria eleitoral, com as mesmas armas da extrema-direita Trumpista?

c)

Continuam por clarificar  as estratégias  de poder dos três maiores partidos de esquerda:

A aliança política promovida pelo PS tinha apenas um valor tático conjuntural e destinava-se a recuperar a hegemonia que as maiorias absolutas proporcionam? A resposta a esta pergunta não passa pela fulanização da  política e o estéril debate dos culpados, mas pelo programa político e o posicionamento dos partido face à questão do governo, reservado para o PS ou partilhado, agora que dispõe de maioria absoluta na Assembleia?

A aliança política proposta pelo PCP tinha apenas como objetivo conter a política de austeridade e não era parte de uma estratégia de frente ampla para acumular forças e conduzir à formação do governo democrático e patriótico, que já proclamou? A saída da UE continua a ser o caminho preconizado pelo PCP para a resolução dos problemas nacionais?

A mesma questão se coloca ao BE: A aliança política que integrou tinha apenas como objetivo conter a política de austeridade e não era parte de uma estratégia de frente ampla para acumular forças e conduzir à constituição (e participação) de um governo progressista, mais além da social-democracia. Passa pela saída da UE?

O PAN e o Livre, terão capacidade de lançar o debate sobre o desenvolvimento sustentável do país e da União Europeia, e projetar para a sua atividade os objetivos do Federalismo Democrático  e da Regionalização de Portugal?

À luz de dois grandes problemas nacionais _ a descapitalização do estado democrático, banca e empresas, e famílias e a sujeição ao Federalismo Monetário e Burocrático da UE, as disputas de liderança no seio do PSD e do CDS, tal como no IL continuarão a ser irrelevantes, se o que estiver em causa for ainda e sempre a luta pelo aparelho de poder interno e do estado liberal de Portugal, conservando o rumo político  que conduz a Europa e o nosso país para nova crise económica e financeira, mais graves episódios da crise ambiental, e para a guerra de baixa e alta intensidade, mas nos priva  de um Futuro Comum para a Humanidade

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