28.1.21

Negócios infames, das multinacionais farmacêuticas


Subida vertiginosa das ações, subsídios dos governos  e da União Europeia para a investigação, generosos contratos, proclamações humanitárias e…na hora da verdade, incumprimento dos contratos, voracidade de mais e mais lucros, favorecimento dos países ricos (Reino Unido), sobre exploração dos pobres.

E, o já esquecido contributo da descodificação do genoma do Covid19 pela China, logo no princípio de janeiro e a disponibilização desta e de toda a informação científica,  livre e gratuitamente relacionada, colocada à disposição da Organização Mundial de Saúde e de todos os agentes da saúde, o que encurtou em anos o processo de investigação de medicamentos e das vacinas. (Consultar a base de dados chinesa China National Center for Bioinformation. 2019 Novel Coronavirus Resource 2019nCoVR)

Os acionistas da AstraZeneca já lucraram, só na bolsa de valores de Nova York, 12,5 mil milhões de dólares (10,3 mil milhões de €)! (Fonte:Economatica)

A ponta do icebergue: A AstraZeneca

A África do Sul terá de comprar as doses da vacina Covid-19 da Oxford-AstraZeneca a um preço quase 2,5 vezes maior do que a maioria dos países europeus, disse o ministério da saúde do país. (Ver Jornal Guardian, de 22 de janeiro)

O país mais atingido pelo vírus no continente africano  encomendou 1,5 milhão de vacinas do Serum Institute of India (SII), uma das empresas autorizadas pela multinacional anglo sueca a produzir a vacina, com entrega prevista para janeiro e fevereiro.

O porta voz do governo sul-africano  disse à Agência France Press_ AFP que essas doses custariam US $ 5,25 (€ 4,32) cada - quase duas vezes e meia o valor pago pelos países da União Europeia.

O vice-diretor geral de saúde da África do Sul, Anban Pillay, informou:

“A explicação que recebemos para justificar por que outros países de rendimentos mais altos têm preços mais baixos é que eles subsidiaram a investigação, daí o desconto no preço”, disse Pillay.

Mas a AstraZeneca France tinha afirmado à AFP em novembro que as suas vacinas seriam limitadas a € 2,50 (cerca de US $ 3) por dose “para fornecer vacinas à maioria da população, com o acesso mais justo possível”.

Os membros da União Europeia pagarão US $ 2,16 (€ 1,78) pelas fotos da AstraZeneca, de acordo com informações publicadas por um ministro belga no Twitter.

A mesma empresa também deve fornecer 100 milhões de doses da vacina para a União Africana por US $ 3 cada, informou a Reuters.

O incumprimento do contrato com a União Europeia

Quantos europeus, infetados e mortos, vai custar o incumprimento?

A AstraZeneca prevê entregar 31 milhões de doses à UE até final de março, mas de acordo com fonte comunitária, o contrato apontava para "os três digitos" (algo mais perto dos 100 milhões de doses a serem entregues até ao final do primeiro trimestre). No total e ao longo do ano, o contrato prevê a compra de 300 milhões de doses, com possibilidade de aquisição de mais 100 milhões adicionais.

Numa entrevista com vários meios de comunicação social europeus, citados pela Bloomberg, o CEO da farmacêutica britânica afirmou que no contrato com a União Europeia a Astrazeneca comprometeu-se com os "melhores esforços" para entregar as vacinas, mas sem especificar quantidades.

Pascal Soriot diz que a União Europeia não pode reclamar receber a vacina da AstraZeneca ao mesmo tempo que o Reino Unido uma vez que só efetuou as encomendas três meses depois dos britânicos.  

A Comissão Europeia respondeu à AstraZeneca: “A lógica de que é servido quem chega primeiro pode funcionar no talho mas não nos contratos” Stella Kyriakides,  Comissária da Saúde afirma ainda que a “ AstraZeneca recebeu um adiantamento para desenvolver e produzir "um bem que na altura não existia e que ainda hoje não está autorizado…para assegurar que a empresa construía uma capacidade de produção, de forma a estar pronta entregar um certo número de doses no dia em que fosse autorizada".

Perante o argumento da empresa de que o problema está nas falhas da cadeia de distribuição da unidade belga, o executivo comunitário nega que o contrato permitia á multinacional reservar para o Reino Unido a produção das duas fábricas situadas em Inglaterra e diz que já pediu autorização à farmacêutica para divulgar os documentos.

"As empresas farmacêuticas e produtores de vacinas têm responsabilidades morais, sociais e contratuais que têm de respeitar", afirma Kyriakides, lembrando o elevado número de pessoas que continua a morrer todos os dias vítima de Covid19.

Segundo fonte comunitária, a alegação de que o problema está na rede de distribuição na unidade belga,  não esclarecereu a Comissão, mantendo-se  as suspeitas de que possam estar a ser desviadas doses para outros mercados.(Agência Reuters, citada pelo Expresso de 27 de janeiro)

Os lucros bolsistas

O retorno das ações de empresas farmacêuticas na Bolsa de Nova York, nos Estados Unidos, disparou desde o início da pandemia, sobretudo a partir do avanço das pesquisas por vacinas. O levantamento da empresa de informações financeiras Economatica considera oito ações na Bolsa de Nova York, de empresas de quatro países: EUA, Alemanha, França e Reino Unido. As chinesas Sinovac e Sinopharm ficaram de fora porque são negociadas em Bolsas asiáticas....

Os ganhos bolsistas, no prazo de um ano,  chegam aos mil quinhentos e vinte por cento! Mas o valor monetário que eles representam, ainda é mais impressionante, ultrapassando várias vezes o montante da denominada “bazuca” de financiamento comunitário previsto para Portugal.

A Novavax, que subiu 1.558%, passou a valer US$ 8,1 mil milhões; a Moderna, com a subida de 585%, vale agora US$ 49,4 mil milhões; a BioNTech subiu 223%, o que representa US$ 24,3 mil milhões; a Regeneron Pharmaceuticals vale mais 32,4%, US$ 56,9 mil milhões ; a Johnson&Johnson 11,5%, US$ 428 mil milhões; a AstraZeneca 6,7%, US$ 133 mil milhões; a Pfizer subiu 5,9%, US$ 204 mil milhões; e a Sanofi 3%, US$ 126 mil milhões.
Os acionistas da AstraZeneca lucraram, só na bolsa de valores, cerca de 12,5 mil milhões de dólares!

Em contraste com os especuladores, a função social dos empreendedores: inovação, cultura de risco e serviço público. A não inclusão da China

A Comissão já anunciara que atribuiu quase 166 milhões de euros, através do Conselho Europeu de Aceleração (EIC) A 36 empresas destinadas a combater a pandemia coronavírus. Além disso, foram concedidos mais de 148 milhões de euros a outras 36 empresas que contribuem para o plano de recuperação da Europa, elevando para 314 milhões de euros o investimento total do Horizonte 2020, o programa de investigação e inovação da UE.

Em março de 2020, um número recorde de quase 4000 start-ups e pequenas e médias empresas (PME) apresentaram candidaturas ao plano piloto do Acelerador EIC, das quais mais de 1400 propostas de inovações relevantes para o surto de coronavírus. Foi por isso que foram recentemente atribuídos mais 150 milhões de euros a esta ronda de financiamento, elevando o total combinado para mais de 314 milhões de euros. As start-ups e as PME selecionadas para apoio provêm de 16 países, incluindo 12 Estados-Membros da UE, o Reino Unido e 3 países associados.

A opção de não incluir as empresas chinesas na estratégia contratual da EU, ditada por razões ideológicas e políticas, já que neste momento a China é a nação que melhor conhece a pandemia,  e foi a indústria e a solidariedade deste país que valeu à Europa e ao mundo no período de maior egoísmo nacional e de carência de recursos médicos, ou mesmo a avaliação de outras vacinas, como a Sputnik da Rússia e a Soberana de Cuba, deixou a  União Europeia à mercê da voracidade, prepotência e  amoralidade de multinacionais como a AstraZeneca.

A República Popular da China demonstrou que não se serve da sua capacidade de controlar a pandemia e de produção dos recursos para a conter e combater, para impor contrapartidas política e ideológicas, não discrimina regimes políticos e governos, retaliando em prejuízo dos seus povos. Respondeu ao apelo do governador de estado brasileiro de S. Paulo e acordou com ele a transferência dos conhecimentos científicos e tecnológicos para a produção da sua vacina a CoronaVac. em solo brasileiro,  apesar dos ataques do governo de Bolsonaro.

A China tem 6 vacinas em processamento, envolvendo empresas públicas e privadas. As vacinas chinesas já chegaram a países tão diferentes como os Emiratos Árabes Unidos, a Venezuela, o Bahrein, o Egito, Marrocos, Indonésia, Hungria, Turquia, Singapura, Palestina, Filipinas e Malásia... um total de pelo menos 24 nações, sendo que em vários desses países, foram entregues como ajuda _tal é o caso dos três últimos desta lista,.

"CoronaVac usa um método mais tradicional [de vacina] que é utilizado com sucesso em muitas vacinas conhecidas como a raiva", disse o professor associado Luo Dahai da Universidade Tecnológica de Nanyang à BBC. Uma das principais vantagens do Sinovac é que pode ser armazenada a 2 a 8 graus Celsius, como a vacina Oxford. A vacina da Moderna deve ser armazenada a -20C e a vacina da Pfizer a -70C. Não foram concebidas, obviamente, para os países pobres ou menos desenvolvidos, que não possuem uma rede nacional de frio a este nível. O seu preço vai no mesmo sentido: respetivamente, 33 € e 20 €, por unidade.

A China apoia o projeto COVAX, a aliança mundial das vacinas, orientado para fornecer aos países com menos recursos a vacina, com apoio financeiro e científico, O COVAX é um dos três pilares do Acelerador de Ferramentas COVID-19 (ACT), lançado em abril  de 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pela Comissão Europeia e pela França em resposta a esta pandemia. Reunindo governos, organizações globais de saúde, fabricantes, cientistas, setor privado, sociedade civil e filantropia, com o objetivo de proporcionar acesso inovador e equitativo aos diagnósticos, tratamentos e vacinas COVID-19. O foco principal do Gavi COVAX AMC é garantir que os 92 países de baixa  e média renda, que não podem pagar integralmente as vacinas COVID-19, tenham acesso igual às vacinas e, ao mesmo tempo.

Pergunto-me, em nome da ética política e da moral social, invocando para o caso os princípios da Declaração Universal dos Direito do Homem: O governo conservador do Reino Unido, que parece ser o principal beneficiário do incumprimento, não tem nada a dizer?  E a Universidade de Oxford, a parceira da multinacional?

https://bigd.big.ac.cn/ncov/?lang=en

https://covid-19.chinadaily.com.cn/

Adenda: A Rússia propõe-se fornecer 100 milhões de doses à UE

https://eco.sapo.pt/2021/01/29/russia-oferece-100-milhoes-de-doses-da-sua-vacina-contra-a-covid-19-a-uniao-europeia/

 

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