7.11.20

17 milhões de martas abatidas para conter o COVID 19!

Ou, a procura da causa primeira!

“A crise ambiental não é apenas a geradora das alterações climáticas e dos perigos da poluição, ela é também a primeira das causas do emergir na comunidade humana do SARS Covid 19!”

Vison ou marta é a designação comum a várias espécies de mamíferos mustelídeos, que se assemelham às doninhas. Os casacos de pele de marta/ vison, representam um dos maiores símbolos de luxo no vestir dos mais ricos entre os ricos.

As martas são criadas em quintas de produção intensiva, um pouco por toda a Europa, para serem esfoladas e a sua pele processada industrialmente; o bárbaro procedimento não mereceu até agora significativos protestos e denúncias da comunicação e redes sociais, apesar do esforço dos defensores dos direitos dos animais!

Mas eis que o Governo  da Dinamarca ordenou o abate de todos os visons em mais de 1.100 criadouros do país_ cerca de 17 milhões – após ter sido verificada uma mutação do novo coronavírus nesses animais, que infetou 12 pessoas, anunciou quarta-feira (04/11) a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen. A líder do governo dinamarquês afirmou ainda que o caso tem potencial para ameaçar a eficácia de uma futura vacina contra a covid-19, que é provocada pelo coronavírus SARS-Cov-2.

A Dinamarca não é o primeiro país a tomar essa medida drástica. A Holanda e a Espanha na província de Aragão também já abateram milhares de visons por preocupações semelhantes. Em agosto, a Holanda, depois de sacrificar dezenas de milhares de animais, resolveu banir por completo a sua criação para a indústria de peles, após o registo de vários focos de infecção em criadouros.

À época, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já afirmara que essas contaminações poderiam ser os "primeiros casos conhecidos de transmissão" do novo coronavírus de animais para seres humanos, notícia que não teve destaque na comunicação e nas redes sociais.

Esta descoberta não resolve ainda o problema de saber qual o animal que na China foi infetado e transmitiu a pandemia aos seres humanos, mas vem contribuir para desmontar a notícia falsa de que os COVID nascem em laboratório.

E eis-nos chegados a uma ideia simples mas fundamental, que está longe da consciência coletiva dos cidadãos do mundo: a proliferação dos vírus constituiu uma das consequências da crise ambiental!

A crise ambiental não é apenas a geradora das alterações climáticas e dos perigos da poluição, ela é também a primeira das causas do emergir na comunidade humana do SARS Covid 19!

Os novos vírus epidémicos têm origem na vida animal selvagem, infetam os animais e depois, estes novos hospedeiros, passam-nos aos seres humanos. O seu aparecimento, em todo o mundo, em número crescente e com maior frequência, constitui  um dos resultados mais trágicos da crise ambiental e da quebra do equilíbrio dinâmico dos ecossistemas naturais, sobretudo através da perda de habitats e  biodiversidade.

A crise ambiental, com a crescente perda de habitats selvagens que protegiam as comunidades humanas da chegada desses vírus, está na sua origem. Este COVID 19 é um bat, hospedado nos morcegos, agora também nas martas,  e um SARS, que infeta o sistema respiratório de outros animais e dos seres humanos, mas, no passado, vírus deste tipo extinguiam-se na rede densa dos habitats selvagens, das cadeias alimentares e de hospedeiros, que sofriam as suas infeções mortais, mas o extinguiam com a sua própria morte. Hoje, reduzidas essas cadeias, invadidos os habitats naturais e destruídos inúmeros ecossistemas com gigantescas perdas da biodiversidade selvagem, os seus vírus seculares ou milenares vivem e multiplicam as suas estirpes muito próximo dos animais com que as comunidades humanas convivem.

Essa ideia, que situa a causa primeira do COVID 19 na crise ambiental, permite-nos reconhecer a amplitude histórica do problema e a sua geografia mundial, relacionados com outras graves pandemias, cuja origem e trágicas consequências, foram ignorados ou abafados:

O desenvolvimento da  Organização Mundial da Saúde (OMS), do seu trabalho de investigação, prevenção e alerta, foi a resposta que essa mesma humanidade encontrou, para se defender  da nova ameaça, que permanecia na memória coletiva desde a mal denominada Gripe Espanhola de 1918/1920, responsável por 50 milhões de mortos no mundo (60 a 100 mil em Portugal).

O aparecimento de um vírus violento e de grande morbidade, voltou a acontecer em 1968, com a Gripe de Hong Kong, na altura uma colónia inglesa, onde teve origem o vírus Influenza A subtipo H3N2, uma das gripes com origem nas aves, que causou mais de um milhão de mortes à escala global.

Os vírus podem emergir em qualquer país, sem aviso prévio e proliferam quando encontram condições favoráveis: tal sucedeu mais recentemente em África, com o Ébola (1976), no México e nos EUA em 2009, com o H1N1,  em 2012 na  Arábia Saudita e depois nos países do Médio Oriente, agora na China.

A perda da biodiversidade global, acompanhada pela aproximação dos vírus à comunidade humana, desde sempre e sobretudo na nossa época, vem provocando surtos de infeção por novos vírus. Foi assim com o VIH - vírus da imunodeficiência humana, causador da sida, detetado em 1981 nos EUA, tornando-se antão a principal causa de morte de cidadãos americanos adultos  entre os 25 aos 44 anos, que já ceifou 32 milhões de pessoas em todos os países. Mas, progressivamente, a partir de 1995, novos fármacos foram evitando as mortes e transformando a sida numa doença crónica.

Enfim, se os vírus são parte integrante da crise ambiental, o seu combate está muito para além das vacinas e medicamentos específicos, ele exige a transição ecológica da economia e a construção de um novo modelo de desenvolvimento global a que chamamos a ecocivilização.

Este nova ecocivilização terá de ser construída em crítica aos dogmas da democracia liberal e do socialismo científico, onde a crise ambiental lavrou, por diferentes caminhos.

 

 

 

Sem comentários: