21.11.20

Mal vai Rui Rio, e o PSD


A liderança política de Rui Rio, que se demarcou da política de “ir mais longe que a Troika “do seu antecessor, conteve a queda eleitoral do PSD.

No leste europeu e mesmo no centro da Europa, os partidos socialistas e social democratas, conservadores e liberais. que foram os instrumentos dessa política austeritária, entraram rapidamente em colapso. Oriundos destes partidos em decomposição, proliferaram novos grupos e partidos de extrema direita, com discursos antiglobalização uns, outros retomando a propaganda primária do anti socialismo e do anti comunismo.

Em países como a Alemanha e a França, os partidos conservadores da direita democrática recusaram qualquer aliança com os partidos de extrema-direita e o seu crescimento foi sustido.

Na vizinha Espanha, para controlar o governo das regiões autónomas da Andaluzia ou de Madrid, o PP e os Ciudadanos ( a versão neoliberal do primeiro), procuraram o apoio do VOX e este partido cresceu nas eleições legislativas, à custa do enfraquecimento da direita democrática. Mas nas últimas eleições legislativas, o conjunto dos três partidos de direita perdeu 900.000 votos e o PSOE 1.200.000. O Podemos aliado à Esquerda Unida (comunistas e outros socialistas), conservou a sua votação, agora repartida com uma sua dissidência e pode constituir uma maioria  parlamentar de governo com o PSOE, que antes a recusara.

Olhando para a União Europeia, podemos reconhecer no Syriza grego, a primeira forma orgânica de uma nova aliança entre socialistas, comunistas dissidentes e outros democratas, enquanto alternativa á política neoliberal de socialistas, social-democratas e democratas cristãos_ que deixaram de o ser na prática e ao processo de deriva autoritária das democracias liberais. A derrota temporária do Syriza deve-se sobretudo á violência das medidas austeritárias que lhe foram impostas pela Troika, a que sempre resistiu e que se abateram sobre o povo grego.

Tal caminho foi retomado em Portugal pela aliança entre a direção política do PS  de António Costa, do PCP e do BE. Uma aliança política em torno de um programa mínimo e, nesta base, sólida e não com a precaridade de uma geringonça, fato político que os analistas da direita democrática continuam a não compreender, confundindo, como o fez Pulido Valente e depois Portas, os seus desejos com a realidade e agora, Rio.

Rui Rio abriu a arca de todos os demónios ao estabelecer um pacto político com um partido que tem como objetivo a subversão da constituição democrática nascida da revolução dos cravos. E o grupo dirigente que lidera, parece não entender onde está o perigo para os regimes democráticos e a sobrevivência do seu próprio partido. As comparações entre a extrema direita portuguesa, uma realidade transeuropeia nascida do falhanço das políticas neoliberais da globalização, com a extrema esquerda portuguesa; que já não existe, representam verdadeiras falácias. PCP e BE são partidos constitucionalistas, no seu ideal programático e na prática política. A extrema esquerda portuguesa há muito que se consumiu na extinção do PRP/BR; as proclamações radicais que surgem hoje nos espaços virtuais da NET e em atos isolados de vandalismo, não têm, por ora, expressão social e política.

O ataque ao Congresso do PCP, iniciado por Rui Rio, demonstra que a aliança com o Chega não foi um ato falhado. A direita democrática portuguesa já não compreende a realidade nacional  e internacional. A comparação entre o ato político fugaz de um Congresso e o funcionamento regular da economia é do domínio da demagogia primária usada pelo Chega. Ainda mais depois de o PCP ter demonstrado como se pode salvaguardar a vida política e cultural em tempos de pandemia, com a forma exemplar como organizou a Festa do Avante, tal como o fez a Igreja católica em Fátima e o fizeram os organizadores das Feiras do Livro.

Enganam-se os políticos de todos os quadrantes quando atribuem à aliança do PS, BE e PCP a causa do enfraquecimento eleitoral dos seus partidos.

São demagógicas as críticas ao orçamento para 2021 que lhe atribuem uma natureza política socialista e esquerdista: estamos em presença de medidas mínimas para tentar salvar uma economia capitalista dependente, uma massa enorme de empresas pequenas e médias descapitalizadas, mas as principais criadoras do emprego, os serviços de saúde, educação e sobrevivência social, que nos separam da miséria generalizada e da decomposição social…

Estão ainda mais errados, os que sonham com a maioria absoluta do PS ou a chegada rápida do PSD ao poder, e aqueles outros que não vêm a dimensão da crise económica internacional que já lavrava antes da pandemia e os confrontos violentes que transporta no seu bojo.

A nossa comunicação social, devorada pela procura do drama, da pequena grande tragédia, por uma interminável feira de vaidades que opina, adivinha, agoira, condena, e que não tem cor política nem ideológica, coloca-nos á beira da desorientação política e da desordem social.

É que já não basta dar solidez á frente única da esquerda, é preciso criar uma frente ampla democrática, e tal imperativo exige um programa comum negociado com todos os partidos democráticos, e com a participação das forças sociais, no dealbar de um mundo que será, já era, o de todos os perigos: crise económica, crise ambiental, guerra de baixa intensidade que chega ao coração da Europa.

Uma Frente amplia democrática, que se estenda à União Europeia.

Ou tornar-se-á realidade a visão premonitória de Saramago, aviso extremoso ao futuro, que deixou escrito no romance Ensaio sobre a Cegueira: “Penso que cegámos, penso que estamos cegos. Cegos que vêm, Cegos que, vendo, não vêm.”



2 comentários:

Unknown disse...

Se achas que o aumento do salário mínimo, ajuda as pequenas empresas ou as de mão-de-obra intensiva, estás redondamente enganado, neste caso particularmente o aumento só poderia ser com a diminuição da TSU, voltando ao valor que ela tinha em 1976 (5,5%)

AdSQ disse...

Não acho, é preciso compensações. Essa proposta é uma delas. Acho sim que é preciso ampliar o mercado interno e isso faz-se com dois instrumentos principais: aliviar a pobreza, muitos trabalhadores com salário, são pobres e aumentando os salários.
As duas maiores economias do mundo, a Chinesa e a dos EUA, baseiam o crescimento do seu PIB no crescimento do mercado interno e não das exportações. No caso português e nesta conjuntura, a orientação complementar á anterior deveria ser diversificar as exportações, pois a crise de superprodução já existia antes da pandemia e tinha(tem) o seu epicentro na Alemanha e na União Europeia.