21.8.21

Escrevo. pelas vítimas da guerra no Afeganistão e contra a omissão e mistificação da sua História

…As vítimas da omissão e mistificação da História jazem nos campos de batalha do Afeganistão, lado a lado, mortos que deviam estar vivos. Pereceram em vão? Sim, se não aprendermos do seu sacrifício supremo a complexa natureza da guerra moderna…

Frank Gardner, jornalista da BBC, contabilizava no seu artigo a 23 de maio de 2021, duas décadas de intervenção militar dos EUA e da NATO no Afeganistão: Mais de 2.300 militares americanos mortos e mais de 20 mil  feridos. Entre os mortos, 450 britânicos assim como centenas de soldados de 32 outras nacionalidades. Mas foram os afegãos que sofreram o maior impacto. Houve mais de 60 mil mortes nas forças armadas e de segurança e mais do dobro de mortes civis.

Mais de 775.00 tropas americanas combateram no Afeganistão.

As perdas dos Taliban não contaram para este balanço trágico. Mas  um estudo da Universidade Brown estima a morte de mais de 51.000 combatentes. Um outro relatório, intitulado “Body Count”, elaborado por “Physicians for Social Responsibility, Physicians for Global Survival” e pela organização denominada Médicos Internacionais para a Prevenção da Guerra Nuclear, laureada com o Nobel da Paz,  concluiu que entre 106.000 a 170.000 civis foram mortos como resultado de 20 anos de combates no Afeganistão.

O mesmo jornalista justificava a invasão e a ocupação, com os argumentos difundidos pela propaganda dos governos americanos: a guerra foi a resposta legítima aos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 ”… planeados e dirigidos pela Al-Qaeda do Afeganistão”. O artigo reproduzia o discurso oficial sobre os resultados da guerra: os EUA tiraram os Talibã do poder e expulsaram a Al-Qaeda temporariamente do país. E terminava com o anúncio da retirada total das tropas, prevista simbolicamente para 11 de setembro de 2021, deixando ao governo e às forças armadas afegãs, treinadas e armadas pelos EUA e pela NATO, a tarefa de enfrentar os combatentes Talibãs.

Citemos o presidente Biden, no seu recente discurso de resposta ao avanço pacífico dos Talibans sobre Cabul, perante o vazio de segurança criado pela deserção em massa do exército e da polícia afegãos. 

Ao longo dos 20 anos de guerra do nosso país no Afeganistão, os Estados Unidos enviaram os seus melhores jovens, investiram quase US $ 1 triliões de dólares, treinaram mais de 300.000 soldados e policias afegãos, equiparam-nos com equipamento militar de última geração e mantiveram a sua Força Aérea, como parte da guerra mais longa da história dos Estados Unidos.

Uma força militar desta dimensão superava em cinco vezes o número de combatentes Talibãs. O seu rápido desmoronamento torna imperativo compreender a natureza política desta guerra. Mas desde agora se adianta que o proclamado investimento bilionário foi gasto sobretudo em despesas militares e de segurança e não no desenvolvimento económico e social do Afeganistão.

Recentemente (em fevereiro de 2020), o governo do presidente Trump acordara com os representantes dos Talibãs a saída das tropas americanas e da NATO, excluindo do processo negocial o governo que os EUA entronizaram no Afeganistão.

O paradoxo da Al-Qaeda: a criatura virou-se contra o seu criador

A origem, natureza política  e a  evolução da Al-Qaeda e do movimento Talibã são distintas e nunca deveriam ter sido confundidas.

Os Talibãs são afegãos, que no Afeganistão têm as suas raízes culturais e familiares, pais e avós, irmãos e irmãs. As mulheres afegãs são suas mães, avós, irmãs…filhas, netas…Deixaram os campos e pastagens, as aldeias, os campos de refugiados, para combater os invasores, como o fizeram os seus antepassados. .Aqui enterraram  mais de 150.000 dos seus camaradas de armas,  ao longo de quatro décadas de combates contra o poderio militar das duas superpotências e um número muito superior de civis, com quem tinham laços de família ou vizinhança. Não são guerreiros do Islão, aventureiros e mercenários como os militantes da Al-Qaeda ou do ISIS. Esta á a sua pátria e a sua terra. O seu mundo não é o do ocidente, nasceram num país semifeudal e, em guerra civil; onde,  para a maioria, a única escola aberta era a Madrassa corânica…

A Al-Qaeda nasceu para defender a causa palestina, mas logo foi apoiada pelos EUA para se transformar numa poderosa organização anti socialista, empenhada no derrube do regime da República Democrática do Afeganistão.

Em 1997, numa entrevista com Peter Arnett, Osama bin Laden cita a intervenção militar e a proliferação de bases estado-unidenses no Médio Oriente (como é o caso do seu país de nascimento, a Arábia Saudita), mas sobretudo o apoio à política israelita de ocupação e opressão da Palestina, como as principais razões para as ações terroristas  da sua organização.

Em comunicados formais, Osama Bin Laden preferia então usar o termo "Frente Internacional pela Jihad contra os Judeus e Cruzados" como nome para o grupo, em vez do nome Al-Qaeda.

A sua organização como grupo terrorista fez parte da resposta americana ao surgimento da República Democrática do Afeganistão, nascida do golpe militar  que derrubou o primeiro governo (autocrático) constituído após a queda da monarquia afegã. A RDAf propunha realizar no seu país uma revolução democrática e socialista assente em três linhas programáticas principais: a fundação do estado laico, que reconhecia às mulheres um estatuto de igualdade de direitos, a reforma agrária em favor dos camponeses, contra os senhores da guerra latifundiários e  usurários, ainda dominantes numa economia semifeudal, o desenvolvimento económico e social do país a partir da exploração dos seus riquíssimas recursos naturais.

De acordo com o então Secretário de Estado dos EUA, Zbigniew Brzezinski, o apoio da CIA aos insurgentes no Afeganistão foi aprovado em julho de 1979, seis meses antes da intervenção da URSS. Brzezinski afirmou mesmo que a ajuda aos insurgentes, iniciada sob a administração de Jimmy Carter, tinha a intenção de provocar a intervenção soviética. (Consultar Vincent Javert, 'Interview with Brzezinski', (Le Nouvel Observateur, Paris, 15–21 Janeiro de 1998, p. 76.). Seria depois significativamente impulsionada sob a administração de Ronald Reagan, que estava empenhado em reverter a influência da URSS no Terceiro Mundo.

A Revolução de Saur  foi um golpe palaciano, sem participação popular, sobretudo da imensa massa de camponeses afegãos, organizado pelo Partido Democrático Popular do Afeganistão (PDPA), em 27 de abril de 1978  (Saur é o segundo mês do calendário persa), que dispunha de uma grande influência entre os intelectuais e os jovens oficiais, e se apresentava como força política aberta à diversidade dos ideais democráticos,  inspirado pela doutrina do socialismo científico. Foi o seu governo quem primeiro decretou a emancipação das mulheres do Afeganistão, através do acesso á educação e do reconhecimento do princípio da igualdade perante a lei, país economicamente subdesenvolvido, nalgumas áreas semifeudal, com uma população predominantemente rural iletrada e privada dos serviços socais do estado moderno, prisoneira de usos e costumes ancestrais consagrados pela religião, que, na ótica dos novos governantes, deveria ser separada do estado, a República Democrática do Afeganistão.

O novo regime ganhou base de apoio nos centros urbanos, mas foi dilacerado por conflitos internos violentos, que culminaram na intervenção militar da URSS, país que na época tinha assumido o seu estatuto de superpotência segundo a doutrina de Brejnev de ”soberania limitada do campo socialista”. Os Acordos de Genebra de 15 de abril de 1988, subscritos pelo Afeganistão e o Paquistão, terminaram com a presença das tropas da URSS, que atravessou o período 1979-1989, prometeram a não-ingerência, e garantiram o regresso voluntário de refugiados afegãos (4-6 milhões). 

O regime fora perdendo apoio popular e a guerra consumiu os seus recursos e condicionou a realização do seu programa de desenvolvimento económico e social: 20.000 soldados afegãos e cerca de 90.000 mujahideen terão perdido a vida nesse período, sendo as baixas civis estimadas na ordem das centenas de milhar. A RDAf resistiria mais 3 anos após a retirada do exército da URSS. 

A partir de 1992 a guerra civil generalizou-se entre as diferentes fações que tinham combatido a RDAf, fragmentando o estado e acirrando o conflito étnico, até à entrada violenta em Cabul dos Talibãs em 1996, liderados na época por uma visão política ultraconservadora dos princípios islâmicos. O que restava do núcleo mais progressista da sociedade afegã, comunistas e democratas de todas as tendências, sucumbia assim, sacrificado pela guerra sem quartel entre as duas superpotências e os seus aliados regionais. A liquidação da elite democrática de toda uma geração, abriria o caminho à ascensão das elites religiosas afegãs tradicionais e, em última instância, aos Talibãs, deixando apenas no Norte, como  seus opositores, as milícias dos senhores da guerra.

Durante os mais de 9 anos de guerra, a URSS enviou um total de 620.000 soldados para o Afeganistão. Segundo dados oficiais, pelo menos 15.400 soldados foram mortos e 50.000 feridos. Entre os povos  da URSS desenvolveu-se um profundo sentimento contra a guerra, dirigentes do PCUS e o governo receberam  incontáveis apelos e cartas pedindo o seu fim, escritas pelas mães, esposas e irmãs dos soldados. O custo da guerra elevou-se a mais de US$ 30 biliões, depauperando a economia da URSS já debilitada pela corrida armamentista. O próprio Congresso dos Povos da URSS, em 1989, considerou a incursão no Afeganistão uma "aventura desastrosa".

O atual governo dos EUA e a maioria dos representantes dos dois partidos americanos que monopolizam o poder, parecem estar longe de aceitar a lição histórica de que É impossível trazer a democracia pela guerra. (Malalai Joya, ex- membro do Parlamento afegão, e autora de "Raising My Voice”) e continuam a esconder do seu povo e do mundo, a razão fundamental da continuidade da sua intervenção militar no Afeganistão para além da saída da Al-Qaeda e da morte do seu fundador: a cobiça das imensas reservas minerais do Afeganistão, sobretudo das “terras raras”, sem as quais não é possível prosseguir a 4ª revolução industrial.

Os Estados Unidos e a URSS também assinaram em 1988 uma declaração sobre a garantia internacional de não intervenção. A ação terrorista de 11 de Setembro de 2001 forneceu aos americanos o pretexto político para quebrar o compromisso e invadir e ocupar o Afeganistão. Essa é a parte da história que falta analisar.

Um movimento político difuso e divido em várias tendência e grupos, maioritariamente conservador, começou a organizar-se para se opor ao regime da RDAf, apoiando-se nas populações rurais e nas suas crenças e costumes religiosos, para organizar ações de guerrilha, logo apoiadas pelos governos do Paquistão e dos EUA. Osama bin Laden, membro de uma abastada e proeminente família árabe-saudita, liderou então um grupo plurinacional, que se organizou como uma grande agência de levantamento de fundos e recrutamento para a causa antissocialista afegã. Esse grupo recrutou combatentes islâmicos para o conflito, distribuiu dinheiro e forneceu logística e recursos à guerrilha e aos refugiados afegãos. A sua base no Afeganistão, que lhe daria o nome,  foi o primeiro local de refúgio do líder da Al-Qaeda Osama bin Laden, após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2009. O grupo evoluíra então para a oposição violenta à política anti Palestina de Israel, que os EUA promoviam e estava contra a instalação de mais bases militares americanas no Médio Oriente e África, destinadas a controlar as suas reservas de petróleo e gás e outros recursos estratégicos, que a Guerra do Golfo lhes proporcionou. Os elementos congregados na sua fundação já eram suspeitos de outros atentados e devem ser politicamente associados à vaga de milhares de combatentes em nome do Islão, que as intervenções militares e políticas dos EUA e de alguns países seus aliados nos países árabes_ do Iraque ao Egipto e à Síria, fizerem irromper e multiplicar  nos últimos decénios.  

Em 2 de maio de 2011, por ordem direta do presidente Obama, as forças especiais dos Estados Unidos realizaram uma operação na cidade paquistanesa de Abbottabad que culminou com a  execução de Osama bin Laden . A presença da Al-Qaeda no Afeganistão tornara-se residual e a guerrilha Talibã evoluiu para um movimento político-militar, com um programa de “libertação nacional” e de instauração de um regime de inspiração religiosa islâmica, interclassista, que associava a expulsão das forças militares estrangeiras ao objetivo da paz e da reconstrução económica e moral da sociedade, considerando o governo  negociado entre os senhores da guerra e os EUA como um mero agente dos interesses imperialistas da NATO, que pretendiam através dele manter sob a sua mira as imensas e preciosas riquezas minerais do Afeganistão.

Nos Estados Unidos, a guerra foi batizada pela propaganda como "Operação Liberdade Duradoura", pois prometia instaurar a democracia liberal para os afegãos. E a  invasão militar foi justificada,  segundo a "Doutrina Bush", porque não havia distinção entre a Al-Qaeda e as nações que a abrigavam (sic)!

Na atualidade, no seu discurso já citado de 16.08.2021, Biden afirmou que o objetivo dos Estados Unidos em relação ao Afeganistão era capturar os responsáveis pelos ataques de 11 de setembro de 2001, que enlutaram a nação americana e o mundo, procurando  assegurar que a Al-Qaeda não atacaria de novo a nação americana, considerando que a “guerra civil” deve ser resolvida pelos afegãos (sic), O presidente afirmou também que os Estados Unidos deram “todas as opções” ao exército afegão para combater os talibãs e defendeu, contraditoriamente,  que as forças norte-americanas não devem morrer numa guerra onde “as forças afegãs não têm vontade de lutar”. O objetivo de instaurar “a democracia”, desapareceu assim do balanço, mas ficou claro que os EUA julgavam ter deixado para trás um exército da afegãos capaz de defender os seus interesses.

Uns meses antes, na receção do último contingente português destacado para aquele país, em maio,  o Ministro da Defesa justificava o esforço de 4.500 soldados portugueses ( sem referir  a morte de dois militares), enquanto  “…20 anos de contributo nacional para a estabilidade e segurança de um país que é remoto, mas que pertence ao mesmo planeta e cujas dinâmicas afetam as nossas dinâmicas na Europa". Prolixo, revelou: "Ao fim de 20 anos, coletivamente, na NATO, chegámos ao momento de poder dizer que as forças [da aliança atlântica] devem agora sair do país, havendo condições para termos alguma segurança quanto ao Afeganistão nunca mais ser utilizado como uma base para o terrorismo internacional como aconteceu no final do século passado e início deste século", referiu o ministro. De acordo com o comunicado divulgado então, a saída das forças militares internacionais não era sinónimo de um ponto final no envolvimento da NATO no Afenanistõ. O ministro confirmou que estava a ser estudada a hipótese de uma nova missão no país, que ainda não estava desenhada (sic).

O cruzamento destes fatos e discursos, evidencia contradições, que nos revelam uma outra realidade diferente.

A evolução política do movimento Talibã

A abertura em 2013 de uma representação política  dos Talibã, em  Doha, capital do Qatar e país neutro, assinala a fase final da transformação do grupo guerrilheiro num movimento político-militar. É o ato político que torna visível o processo negocial já encetado em segredo com os EUA, depois que este país iniciou em 2011 o programa de retirada das forças da NATO e a sua substituição por um exército profissional, superiormente armado e equipado, ao serviço do governo pró-americano  e guardião dos seus interesses.

Para a estratégia dos Talibã ficava aberta a solução política da guerra, convictos que estavam da vitória final sobre tal governo.

Os seus porta-vozes, falando em nome do Emirato Islâmico do Afeganistão, colocaram na mesa de negociações, como condição fundamental para o fim das hostilidades e a negociação da paz com o governo, a retirada efetiva e programada de todas as tropas estrangeiras.  A contrapartida americana impunha negociações diretas para a partilha do poder com o governo que haviam criado, na convicção da sua superioridade militar sobre os combatentes talibãs.

Os seus representantes políticos, difundiam perante a comunidade internacional o projeto de um Emirato congregando “todos os irmãos muçulmanos” do Afeganistão como a chave da paz duradora, a abertura económica e social e o desenvolvimento de relações amistosas com todos os vizinhos e a comunidade internacional, com base na aceitação do princípio da coexistência pacífica entre diferentes regimes políticos. Tal significa dar continuidade ao comércio com a Índia e o Paquistão, que nesta ordem de grandeza representam 80% das exportações afegãs, mas também, no que respeita às importações, com o Irão_14,56%, a China_13.92. o Paquistão_12,87%, os EUA_9,15% . A China, apesar do estado de guerra, incluíra o Afeganistão no seu projeto da Rota da Seda, tornando-se o terceiro mercado das exportações afegãs. A abertura e a pacificação prometida pelo novo governo Talibã, significa igualmente criar condições para a plena realização dos grandes projetos industriais negociados não apenas com a China_ como a mina de cobre Ainak, envolvendo o investimento de US $ 2,8 biliões, capaz de gerar empregos para 20 mil afegãos e uma receita anual de cerca de US $ 400 milhões para o governo afegão. Mas também com a AFISCO, um consórcio indiano/canadiano que deveria investir US $ 14,6 biliões no desenvolvimento da mina de ferro Hajigak. Desenvolver os planos de ordenamento urbanístico das maiores cidades, como Cabul e Herat, lançados em parceria com o Japão e a França, liderados pela iniciativa privada. A exploração do gás e petróleo, que tradicionalmente têm na Rússia e na China os principais mercados…e, obviamente, a continuidade do apoio do Banco Mundial.

Vale a pena reproduzir aqui, um extrato do artigo de opinião  que Sirajuddin Haqqani, identificado como  o vice-líder dos Talibãs, publicou no jornal New York Times em 20 de fevereiro de 2020, intitulado O que nós, os Talibãs, queremos

Estou confiante de que, libertados da dominação e interferência estrangeira, juntos encontraremos uma maneira de construir um sistema islâmico em que todos os afegãos tenham direitos iguais, onde os direitos das mulheres são garantidos pelo Islão - do direito à educação ao direito a trabalhar – e estão protegidos, e onde o mérito é a base para oportunidades iguais.

Também estamos cientes das preocupações sobre o potencial do Afeganistão ser usado por grupos desestabilizadores para ameaçar a segurança regional e mundial. Mas essas preocupações estão inflacionadas: relatórios sobre grupos estrangeiros no Afeganistão são exageros politicamente motivados pelos jogadores belicistas de todos os lados da guerra.

Não é do interesse de nenhum afegão permitir que tais grupos sequestrem o nosso país e o transformem num campo de batalha.

Pelo seu lado, os EUA e a NATO tinham tomado consciência do elevado custo em vidas humanas e capitais pago pela ocupação da terra afegã, da impossibilidade de obter uma vitória militar definitiva sobre a guerrilha e do agravamento da crise económica e social do país, que a partir da invasão passou a reger-se pelo modelo ultraliberal do mercado, sob a direção do Banco Mundial, que representava a conferência dos investidores internacionais.

A queda do governo pró EUA: A falência do modelo económico liberal

O relatório de março de 2011 do “Congressional Research Service” concluiu, após o anúncio de escalada no Afeganistão em 2009, que os gastos do Departamento de Defesa para o Afeganistão aumentaram em 50 %, passando de $4.4 bilhões para $6.7 bilhões por mês. Durante esse tempo, as tropas aumentaram de 44.000 para 84.000, e era esperado que atingissem 102.000,  o custo total no ano fiscal de 2011 estimava-se em $468 biliões. A estimativa para o custo de implantação de um soldado dos Estados Unidos no Afeganistão era então de mais de US$1 milhão por ano!

Até 2021, um estudo feito pela Universidade Brown calculou o custo total da Guerra no Afeganistão para os Estados Unidos num valor em torno de US$ 2,261 triliões de dólares. O complexo militar-industrial que controla o Departamento de Defesa, tinha ido longe demais. Os seus lucros com a guerra, que se mantêm em segredo, abalavam o orçamento do próprio estado americano!

Os resultados da  “economia de mercado livre”, proclamada após o derrube do governo Talibã, caraterizava-se vinte anos depois,  segundo a última  análise do Banco Mundial, pelo seguinte quadro geral:

…/…

A economia do Afeganistão é moldada pela fragilidade e dependência da ajuda. O setor privado é extremamente restrito, com empregos concentrados na agricultura de baixa produtividade (44% da força de trabalho total labora na agricultura e 60% das famílias obtêm alguma renda da agricultura). Os gastos com segurança (segurança nacional e polícia) são altos, cerca de 28 por cento do PIB em 2019, em comparação com a média de países de baixos rendimentos de cerca de três por cento do PIB, representando a despesa pública um total de cerca de 57 por cento do PIB.

A economia ilícita é responsável por uma parcela significativa da produção, das exportações e do emprego, e inclui a produção de ópio, contrabando e mineração ilegal.

…desacelerou o progresso econômico e social, com a economia crescendo apenas 2,5% ao ano entre 2015-2020 e os ganhos em relação aos indicadores de desenvolvimento desacelerando ou - em alguns casos - revertendo. Os fluxos de ajuda diminuíram de cerca de 100 por cento do PIB em 2009 para 42,9 por cento do PIB em 2020

O Banco Mundial comprometeu mais de 5,3 mil milhões de dólares em projetos de desenvolvimento. O Fundo Fiduciário de Reconstrução do Afeganistão, administrado pelo Banco, angariou mais de 12,9 mil milhões de dólares.

No mesmo Relatório pode observar-se, a partir da invasão, um crescimento significativo da escolarização, só comparável o período da RDAf, mas igualmente um aumento brutal da pobreza na última década, que atinge atualmente mais de metade da população, quase duplicando, acompanhada pela redução do PIB per capita no mesmo sentido, em conformidade com a evolução geral do país, caraterizada pelo progresso desigual nas cidades e o abandono do mundo rural. O abastecimento de água e saneamento, não chegaram à maioria da população. Mas talvez o seu pior indicador seja a segunda maior taxa de mortalidade infantil do mundo!.A economia afegã continuou a assentar nas monoculturas  e criação de rebanhos, apesar de dispor apenas de 12% de terra cultivável e de metade dessa área em uso; a área das florestas naturais, em crescente devastação, cobria menos de 3% do território. O setor de serviços crescera com a chegada de grandes contingentes militares, mas foi entretanto bloqueado pelo abandono progressivo do contingente da NATO.

No entanto, o Afeganistão possui  uma imensa riqueza de recursos naturais inexplorados, incluindo depósitos de gás, petróleo, carvão, mármore, ouro, cobre, cromita, talco, barites, enxofre, chumbo, zinco, minério de ferro, sal, pedras preciosas e semipreciosas. e muitos elementos de “terras raras”. Um memorando do Pentágono afirmava que o Afeganistão poderia tornar-se a “Arábia Saudita do lítio”. Uma outra estimativa do US Geological Survey, de setembro de 2011, mostrou que os carbonatitos de Khanashin, na província de Helmand, no país, têm uma estimativa de 1 milhão de toneladas métricas de elementos de terras raras. As propriedades químicas e físicas das terras raras são utilizadas numa grande variedade de aplicações tecnológicas, que vão desde a constituição de catalisadores à produção de materiais luminescentes e de magnetos. Os metais de terras raras estão incorporados em aplicações como os supercondutores e os laser. Estima-se que 97% das terras-raras estejam localizadas na Ásia, especialmente na China, que detém 2/3 das reservas globais e 87% do total comercializado no mundo.

A queda do governo pró EUA. A causa política fundamental:

 É impossível trazer a democracia pela guerra

Os soldados americanos destacados no Afeganistão, quando questionados sobre a sua missão, respondiam com duas ideias chave: estavam a fazer o trabalho para que são pagos; e a defender os interesses do seu país. Duvido que estas tropas e as dos  aliados da NATO, tivessem consciência de quem realmente beneficiava com a guerra, mas, sobretudo, que na sua preparação militar, tenham sido instruídos sobre a história e a cultura dos povos que constituíram a nação afegã, e a natureza política desta guerra.  Quando tal não acontece, um exército em armas em terra estrangeira, comporta-se como uma força opressora, não consegue distinguir os combatentes dos civis e diaboliza o inimigo  Os seus comandantes, mesmo colocando-lhes nas mãos as armas de última geração, deixam-nos politicamente indefesos e induzem-nos a agir sem regras nem moral, e a aceitar como justificada toda a barbárie dos “danos colaterais”. No cimo dessa cadeia de comando, no topo da responsabilidade e acima dos chefes militares, está a presidência e o governo dos seus país de origem.

A atitude do governo americano de acordar com os Talibãs em 2020 a saída definitiva das suas tropas e da NATO, sem a presença do governo do Afeganistão no processo negocial, significou tratá-lo como um fantoche político.

O último sinal do  menosprezo pelos comandos americanos dos seus aliados afegãos, residiu no modo como abandonaram  a gigantesca base aérea de Bragan, situada nos arredores de Cabul. Esta base ganhou fama por albergar não apenas o maior centro de prisioneiros políticos, mas sobretudo pela prática sistemática da tortura (reconhecida pelo governo Obama). As tropas americanas saíram sem aviso,  numa operação noturna realizada secretamente no princípio de junho, certamente para diminuir o risco de uma ataque talibã. A base ficou abandonada e foi parcialmente pilhada antes das forças armadas afegãs a recuperarem, ainda assim sem acesso imediato aos códigos que a tornariam operacional,

Mas o mais trágico sinal da prevalência desta orientação política, seria a prática sistemática do blooding pelas tropas da NATO:

Em julho de 2010, o site Wikileaks (Fugas de Informação) divulgou 92 mil documentos secretos do exército dos Estados Unidos, reportando a morte de milhares de civis no Afeganistão, por militares norte-americanos. O vazamento teve enorme repercussão mundial. A. Wikileaks passou as informações para o The New York Times, The Guardian e Der Spiegel, e depois publicou-os na Internet. Os relatórios abrangem o período de janeiro de 2004 a dezembro de 2009. O porta-voz da Wikileaks, Julian Assange, tornou-se então um alvo a abater…pelo estado americano e resiste hoje, às mãos da justiça do Reino Unido, contra o pedido de extradição para aquele país…. O mais alto responsável militar australiano, o general Angus Campbell, descreveu a prática de ‘blooding’ como “vergonhosa e horrível” Após a “matança ilegal de civis e prisioneiros”, os responsáveis simulavam um cenário de combate para justificar a ação criminosa… A Aliança do Norte (sofisma que esconde a realidade dos “senhores da guerra” locais), aliada dos Estados Unidos, foi igualmente acusada de crimes cometidos desde 2001, contra os prisioneiros talibãs e da Al-Qaeda… Desde o massacre de Dasht-i-Leili, em dezembro de 2001, que provocou a morte de cerca de três mil prisioneiros talibãs, assassinados sumariamente,  a lista dos bombardeamentos, prisões e execuções sumárias não tem fim…Mesmo que só na parte final da guerra tais crimes tenham sido  reconhecidos pelas  autoridades, governo e aliados internacionais, e apenas 10% da população tenha acesso à energia elétrica que é o suporte da comunicação moderna, estas notícias passaram de boca em boca até às aldeias mais remotas do país e percorreram todo o mundo muçulmano: raras, fugazes e tardias, mal se viram e ouviram na comunicação social do Afeganistão e do ocidente.

No campo oposto, sobretudo na fase de enfraquecimento da sua capacidade militar, dezenas de milhar de sangrentos atentados bombistas dos Talibãs atingiram  militares opositores e civis.

A guerra total e os seus horrores lavraram no Afeganistão o mais largo e duradouro campo de morte contemporâneo.

A rendição e deserção em massa das forças armadas e de segurança do Afeganistão, a sua decisão de não combater, não foram politica e moralmente compreendidas pelo todo-poderoso presidente democrata dos EUA, que esteve a um passo de as insultar por cobardia, para além de as acusar de  ingratidão.

Quando os Talibãs irromperam em Cabul, para garantir a ordem e a segurança, poderiam ter cercado, capturado ou massacrado o que restava das tropas americanas e da Nato e os seus cidadãos e colaboradores. Não o fizeram deliberadamente. Antes foram elas que garantiram ao aeroporto de Cabul as condições logísticas de evacuação, que não tinham sido previstas nem criadas pelos  lideres (formais) da NATO, que se destacam pela sua retórica belicista.

E, ao mesmo tempo, os Talibãs, prometeram a amnistia geral.

Uma tal conduta de contenção,  disciplina e humanitarismo, só mereceu palavras de desconfiança dos grandes meios de comunicação social a ocidente, esquecidos como estão dos acontecimentos sangrentos que marcaram a chegada a Cabul dos EUA e dos seus aliados,  NATO  e  senhores da guerra, em 2001. Maior olvido e omissão mereceram os combatentes e militantes da República Democrática do Afeganistão, que foram praticamente exterminados quando da tomada do poder pelos insurgentes Talibã de primeira geração em 1996, sujeitos ao abandono da URSS, já em decomposição e vítimas das armas ultramodernas fornecidas pelo governo americano, através da Al-Qaeda e de Bin Laden!

Os Direitos Humanos e o uso da comunicação e das redes sociais para os mutilar e mistificar

As oligarquias que controlam a comunicação social e as  redes sociais, desde o início da Guerra Fria que  prosseguem uma campanha para apagar da memória dos povos e nações o conteúdo do Preambulo e dos 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem_ DUDH., elaborada e aprovada em 1947 pelas Nações Unidas, com os contributos decisivos dos representantes do Canadá e da China, substituindo-os por uma noção vaga de democracia, que associam à democracia liberal e às suas liberdades formais.

E têm-no conseguido. Mesmo na academia, nas suas mais democráticas universidades e sobretudo entre as pessoas comuns, contam-se pelos dedos os que conhecem ou leram o documento fundador dos Direitos Humanos contemporâneos.

Por liberdades formais quero significar, por exemplo, que nas democracias liberais se diz que a imprensa é livre e plural, mas omite-se que são os acionistas das suas empresas_ cada vez mais concentradas num punhado de grandes grupos internacionais que produzem e difundem os mesmos conteúdos,  quem escolhe e controla as administrações e redações, conforme os seus interesses económicos e políticos. Nós, cidadãos, não temos nenhum poder real sobre a natureza do seu discurso de propaganda comercial, política e ideológica.

O imperativo da paz, a rejeição do colonialismo, e do hegemonismo, do racismo e da discriminação sexual ou cultural,  atravessam a Declaração Universal dos Direitos do Homem, desde o preâmbulo e os primeiros artigos, até ao conjunto dos artigos finais. Essa é a razão porque os seus relatores não podiam ser os representantes dos governos americano, inglês, ou francês…Humphrey, representava o Canadá e o discurso mais progressivo dos países a ocidente e Chang, a China, os países asiáticos, as novas nações que quebravam o jugo colonial e imperial. Eleanor Roosevelt presidiu à comissão da ONU e aderiu com entusiasmo ao seu conteúdo, permitindo aos EUA beneficiar dessa imagem, para mera propaganda.  A URSS era vista na altura como a república multinacional que, com o sacrifício de 26 milhões de soviéticos (compare-se com as 340.000 baixas americanas), mais contribuíra para uma nova ordem internacional, liberta da ameaça fascista e militarista, onde cada nação teria o direito a escolher o seu regime político, da democracia liberal ao socialismo, do federalismo à autonomia e independência.

O artigo 20º da DHDH não prescreve a democracia liberal, ao contrário, defende o direito de cada nação escolher o seu modelo de democracia, que não resume às liberdades formais. Os direitos trabalhistas e sociais_ emprego, saúde, habitação, segurança social… em nome do princípio ético de salvaguarda da dignidade humana, são elevados ao estatuto superior de direitos humanos fundamentais e consignados nos artigos intermédios da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Uma razão acrescida para  a propaganda dos regimes neoliberais os mutilar e mistificar, que se acentuou com a primeira fase do processo da globalização, conduzida pelo capital financeiro dominante nos países ricos ocidentais e asiáticos. Ao ponto de criarem organizações paralelas à Comissão dos Direitos Humanos da ONU. A mais conhecida e mais bem disfarçada, usa o nome de Human Rights Watch _HRW, mas nasceu como. Helsinki Watch.

A HRW foi fundada em pela guerra fria como entidade independente, sob o pretexto de supervisionar, em nome da sociedade civil, os Acordos de Helsínquia, que reconheceram a geografia política nascida da II Guerra Mundial.  A Helsinki Watch pode assim instalar a sua sede no coração da URSS, em Moscovo. Foi criada pelos serviços de inteligência do governo  dos EUA e  no seu currículo público vangloria-se de ter usado o tema dos Direitos Humanos para desgastar a imagem do socialismo e enfraquecer os regimes dos países de leste e a URSS. A velha raposa da contrainformação travestiu-se depois em HRW.

Mudou de nome, mas não de missão: a HRW defende causas como os direitos das minorias e das mulheres, e critica os aspetos mais negativos das políticas das democracias liberais e de outros regimes face aos direitos humanos, procurando com esta estratégia ganhar credibilidade. Mas, no essencial, está alinhada com  a política governamental dos EUA e, atualmente, sob o controle do Partido Democrático, que a financia através da Fundação Ford.

É neste contexto que estendeu os seus tentáculos a todas as regiões do mundo, envolvendo personalidades e público que a seguem de boa-fé. A sua duplicidade permite-lhe encabeçar todas as campanhas ideológicas alinhadas com as estratégias de defesa e segurança nacional dos EUA e, ao mesmo tempo, criticar aspetos conjunturais da ação dos seus governos, um jogo duplo que às vezes se vira contra os seu mentores.

É o que podemos constatar, no que concerne à mutilação e mistificação dos Direitos Humanos,  quando citamos as palavras do seu diretor executivo Kenneth Roth, no âmbito da apresentação do Relatório relativo a 2020:

Nos EUA… Tradicionalmente, estes (Os direitos humanos) são vistos como apenas direitos civis e políticos, como liberdade de expressão, direito a um julgamento justo, direito a não ser torturado. Mas acabam aí. (sic)  Ficam por aí. Nos EUA e na maioria dos países da democracia liberal!

…O Governo de Donald Trump… fomentou o ódio contra as minorias raciais e religiosas…. O apoio à liberdade religiosa no exterior foi minado pela política islamofóbica interna…

Nas últimas décadas, a chegada de cada novo residente da Casa Branca trouxe grandes oscilações na política de direitos humanos dos Estados Unidos. A “ guerra global contra o terrorismo ” de George W. Bush, com a sua tortura sistemática e detenções sem acusações em Guantánamo, foi  o seu ponto mais baixo anterior. Barack Obama rejeitou partes importantes dela, embora tenha mantido e até expandido elementos como ataques ilegais de drones, vigilância intrusiva e venda de armas para autocratas…”

Mas é o controle dos grandes maios de comunicação social e das novas redes sociais, que, em última instância, forma e deforma a opinião pública.

Os Direitos Humanos vão ser invocados de novo, como arma estratégica de propaganda, no caso do Afeganistão. Tanto mais que, como se evidencia nesta já longa análise, o corpo político do movimento Talibã é composto por velhas e novas interpretações das leis e dos princípios islâmicos, potencialmente em conflito e que deverão resultar em .práticas contraditórias.

Vejamos um caso exemplar: Em 2000, os Talibã, tinham imposto a proibição da produção de ópio, o que levou à sua redução drástica em 90%.

Logo após a invasão do 2001, ela aumentou consideravelmente  e em 2005, o Afeganistão tinha recuperado a sua posição de maior produtor,  detendo 90% da produção mundial, dados que todas as fontes internacionais confirmam. As estimativas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime mostravam que 52% do PIB do Afeganistão, sob o governo atual,  era gerado pelo comércio da droga (“CIA - The World Factbook”). Cerca de 3,3 milhões de camponeses afegãos estavam envolvidos na produção de ópio. No entanto, a informação que prevalece na comunicação social escamoteia estes factos e incide sobre os rendimentos obtidos pelos Talibã com tal comércio.

"O Afeganistão não voltará a ser um país de cultivo de ópio", A produção será praticamente "reduzida a zero" de novo. Afirmou o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, agora,(17.08.2021) , mas a notícia não passa nos telejornais.

Estas vozes, dos outros povos que não pensam como nós e possuem os seus próprios valores morais, continuam silenciadas e a consciência política dos cidadãos do mundo obliterada pela vaga de notícias que exploram o primeiro sinal negativo da ação do nosso (?) “inimigo”, minam o esforço de pacificação e fortalecem, no interior do movimento Talibã, os seus setores mais reacionários.

Uma tal estratégia de propaganda foi a adotada  pela mesma superpotência derrotada no Irão, para justificar o boicote económico, impiedosamente mantido mesmo durante a pandemia e atos repetidos de terrorismo de estado, assumidos pelo próprio governo dos EUA. É um caminho de continuação da guerra, por outros meios, que não conduz a nenhuma solução política. O povo do Irão, como o povo do Afeganistão, já mostraram ter em si mesmo o talento e a força para escolher o seu próprio caminho para o progresso, se liberto de ingerências externas.

As vítimas da omissão e mistificação da História jazem nos campos de batalha do Afeganistão, lado a lado, mortos que deviam estar vivos. Pereceram em vão? Sim, se não aprendermos do seu sacrifício supremo a complexa natureza da guerra moderna e a sua origem na economia política, que não existe outra economia e na globalização do capital sem pátria.

 

 



 

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