Esta definição, será correta e justa, à luz das Ciências Políticas e das Ciências Militares?
Para entendermos a natureza política
desta nova guerra, a pergunta chave parece ser a de questionar o objetivo do
Hamas ao desencadear os ataques de 7 de setembro?! Mas a resposta exige que se
faça primeiro outra pergunta, qual é a posição do governo israelita face à questão
da Palestina, antes do ataque do Hamas, na invasão e face ao pós guerra: é o da
expulsão dos palestinianos para o Egito e para a Jordânia, recorrendo à guerra
económica e à guerra militar, de baixa ou alta necessidade. E assim impor o
estado único e religioso judeu, que está inscrito na Constituição de Israel e a
ideologia sionista prega há mais de um século. Vejamos os factos históricos
mais recentes.
A falácia do “direito à defesa”. Que nação corre risco existencial?
A expansão dos colonatos, com a
expulsão dos agricultores e pastores palestinianos das suas terras e aldeias,
elevou o número de colonos que era de 110.000 , quando o acordo para a criação
de dois estados foi reconhecido (1903, Acordos de Oslo), para mais de 700.000.
No final de 2022 o governo aprovou a construção de mais colonatos que iriam
separar a Cisjordânia em duas partes, criando duas Gazas.
A ruína da pequena economia
palestiniana iria acentuar-se, pois o apartheid israelita inclui a construção
de muros e cercas e a proibição de usar as vias de comunicação reservadas aos
israelitas, afastando-os dos mercados de proximidade. As riquezas minerais, as
jazidas de petróleo e gás, não podem ser exploradas pelos palestinianos e estão
reservadas para as multinacionais que nas últimas décadas se instalaram em
Israel, aproveitando o êxodo dos judeus do Sillicon Valey americano e da Rússia
pós soviética. Multinacionais tecnológicas, da lapidação de diamantes de
sangue, das indústrias de guerra…que usufruem de facilidades de exportação de
lucros e capital, incentivos e impostos favoráveis, e canibalizam as start
up mais promissoras. Entre outras: Microsoft, Google e Apple, IBM; Intel,
Microsoft, Facebook, Appel, HP,
Cisco, Marvell, EMC2, Broadcom, Amazon e Yahoo…
Ao anunciar a invasão de Gaza, com o
objetivo propagandístico de salvar os reféns e destruir o Hamas, o governo de
Israel procurou aproveitar a influência dos EUA sobre os governos do Egito e
Jordânia para levar a cabo a limpeza étnica de Gaza, insistindo na deslocação
em massa da sua população para o Sinai egípcio e para a Jordânia. Os dois
governos recusaram e a invasão começou com a ameaça de tratar como terroristas
os palestinianos que não fugissem para o Sul. Mais de 1,7 milhões de pessoas
abandonaram as suas casas, mas os ataques tornaram-se brutais, em todo o
território e não pouparam lares, hospitais e escolas.
A ofensiva israelita estendeu se à
Cisjordânia, os colonos armados pelo governo continuaram a queimar lojas e
explorações agrícolas dos palestinianos. E a confinar a população de Gaza num
território cada vez mais reduzido, complemente privados dos bens e serviços
essenciais.
A questão é, pois, de saber se o
governo dos EUA cumpre na prática as posições políticas que proclama, a solução
política de dois estados. E se a Comissão Europeia as apoia realmente.
Se assim for, a operação militar de
Israel não passará de um novo instrumento de genocídio, sem uma saída política.
E a sua vitória sangrenta, mas efêmera, arrastará consigo o governo atual e
provocará uma tal destabilização política, que o modelo económico de Israel
será posto em causa e o confronto interno entre as forças democráticas e a extrema-direita
colonialista e fascizante assumirá um caráter existencial.
Podemos agora classificar a natureza
da ofensiva do Hamas. Recorrendo ao combate militar_ não se pode escamotear o
ataque bem sucedido a seis bases militares e às esquadras da polícia e guardas
dos kibutzs, combinada com ações terroristas contra civis, essa incursão armada
e os atos de terror, em nenhum momento pôs em causa ou ameaçou a existência de
Israel.
Ao contrário, o governo de Israel acelerou
a estratégia de aniquilamento da nação palestiniana. Pode massacrar, levar até
ao holocausto a limpeza étnica, mas
nunca alcançará tal objetivo.
A falácia dos “escudos humanos”
Os que falam do uso dos palestinianos
como escudos humanos pelo Hama,s estão completamente enganados: os mortos são
as mães, os filhos e as irmãs dos combatentes, dos militantes políticos e dos
simpatizantes eleitores do estado que o Hamas organizou, conquistou em eleições
e monopolizou em Gaza. Um estado precário, mas, autónomo em relação aos
governos de Israel, que transformaram a Cisjordânia num território colonizado e
retiraram ao governo da Fatah a sua autoridade.
Que evidências temos do uso desses
escudos humanos? Foram levados para as trincheiras? Os lança foguetes e drones
são instalados nos terraços dos seus bairros, sobre os tetos que guardam as
suas mães e avós, os seus bebés?
Essa panfernália de guerra ou um
centro de comando com as suas torres e antenas de comunicação, cabem mesmo nas
traseiras de uma máquina de TAC ou no esconderijo de uma cave hospitalar_
hospitais e centros de saúde abastecidos e tutelados por 170 países dadores?
…essas máquinas de guerra saem dos túneis para os pátios das escolas onde
estudam os seus filhos, netos e sobrinhos, todas controladas pela ONU?
Expliquem, por uma vez, como fazem das suas famílias , vizinhos e amigos,
escudos humanos!
Entrevistem uma dessas vítimas, que
leva uma criança amortalhada num pano branco e sangrento, uma dessas mulheres
que viu o seu bebé desfalecer na incubadora apagada…aproveitem esse momento de
desespero para recolher a denúncia do crime hediondo de usar o seu semelhante
como escudo de guerra!
Ou aproveitem o alívio e segurança
dos que finalmente puderam alcançar a
proteção do Egito! O resultado?
Não
há uma palavra de censura contra o Hamas, apenas o grito de desespero e
a censura da última oração perante os pátios atravancados de ruínas e
cadáveres, que a Aljazereea e as TVs orientais trazem para a comunidade
internacional, o ferrete dos seus agressores (e aliados) gravado para sempre na
memória coletiva_ Holocausto dos palestinianos, o nome e idade das 9000
crianças e das 14000 famílias enlutadas, escrito em todas as línguas do mundo.
Acredito que não haja hoje um
palestiniano em Gaza ou na Cisjordânia que não tenha simpatia pela resistência
do Hamas.
Invoco o seu Deus único, para que as
forças democráticas triunfem em Israel e nos EUA.
O presidente
dos EUA, Joe Biden defendeu publicamente que a solução de dois Estados é mais necessária do que nunca
Falando numa
conferência de imprensa conjunta no lado egípcio da fronteira de Rafah com
Gaza, na sexta-feira, Sánchez, primeiro-ministro de Espanha, disse que chegou a hora de a comunidade
internacional e a União Europeia reconhecerem de uma vez por todas um Estado
palestino. Ele disse que seria melhor se a UE fizesse isso em conjunto, “mas se
este não for o caso… a Espanha tomará as suas próprias decisões”.
A vitória, mesmo que temporária, dos
colonialistas e fascistas em Israel e o abandono, na prática , do governo
americano e da Comissão Europeia, do princípio dos dois estados, conduzirá ao
avanço das forças fascizantes e militaristas na Europa e nos EUA, e fará
escalar os conflitos no Médio Oriente.
De joelhos, perante a
arrogância e impiedade do governo de Israel.
Mulher e duas crianças
portuguesas morreram num bombardeamento em Gaza
Este crime mereceu do governo da
República não mais do que um lamento público do seu ministro dos negócios
estrangeiros , seguido pelo Presidente da República, e uma comunicação ao
embaixador de Israel do “desgosto” do ministro.
O embaixador de Israel não pediu
desculpa nem respondeu ao Presidente.
No dia seguinte ao protesto do pai
sobrevivente, pela inação das autoridades nacionais, um novo bombardeamento de
Rafah, que atingiu também os refugiados estrangeiros a aguardar repatriamento. Enquanto, num outro
bombardeamento, perdia os avós paternos.
Com as duas figuras maiores da nossa
diplomacia de joelhos perante a arrogância e impiedade do governo de Israel,
que boicotou a Webb Summit, sem uma palavra de resistência à intromissão nos
assuntos nacionais, peço a suas Excelências que rezem pela remissão do pecado
da omissão e cuidem do anjo ferido, assumindo junto da família, se ainda a
tiver , ou tomando por Portugal a responsabilidade, a sua saúde e educação.
E pergunto-me, porque estes crimes
pesaram na nossa comunicação social e no
discurso dos seus doutos comentadores, pouco mais que o tempo dessa “pena” que
decai para o esquecimento.
A guerra moderna, cortou o ténue fio que
separava as convenções humanitárias do terror
A guerra moderna, com o uso massivo
de uma panóplia cada vez mais vasta e poderosa de mísseis e drones, bombas
guiadas e munições, sob a propaganda de “ataques
cirúrgicos e de precisão” esconde o cálculo sinistro dum vasto e crescente
espectro de destruição e morte, de militares e vivis.
O governo de Israel reviu em baixa o
número de mortos em 7 de outubro. Duas centenas seriam afinal de Palestinianos
combatentes do Hamas.
Estes dados revelam melhor as
características do confronto, hoje reduzidas pela comunicação social aos
massacres confirmados em dois kibutzes.
O Hamas atacou e conquistou seis bases
militares e esquadras de polícia, mas noutros kibutz encontraram resistência ou foram mesmo
repelidos. Todos os kibutzes, que resultam da colonização ilegal de Israel e da
expulsão dos agricultores e pastores palestinianos das suas terras, possuem
guardas armados. Nos números iniciais de baixas militares, soldados e polícias,
o governo indicava mais de duzentos mortos. Agora contabiliza cerca de
quatrocentos.
Com esta incerteza contabilística, o
governo de Israel consegue dois objetivos de propaganda: inflacionar o número
de baixas civis, que seriam afinal cerca de 800 e minimizar as perdas em
combate, já duplicadas pela ofensiva, metade daquele valor se somarmos polícias
e soldados, e que têm um efeito negativo na sua opinião pública. A que haverá
que somar os 60 reféns israelitas vitimados pelos bombardeamentos cegos de
Israel, que atingem indiscriminadamente e intencionalmente todos os refúgios,
bairros, escolas da ONU e hospitais internacionais.
Há ainda outro valor duvidoso, que se
manteve durante quase três semanas: apesar de duplicar o número de mortos
militares, a soma de falecidos civis e militares mantinha-se fixa nos 1400. Provavelmente,
ainda iremos assistir a outras revisões, já que o esquema parece passar
despercebido.
Mas o significado político dos factos
permanece: a capacidade militar do Hamas não é uma ameaça existencial de
Israel. As estratégias políticas e militares dos governos de Israel não lhe
garantem a segurança: o apartheid, o terror que ciclicamente inflige, o cerco e
boicote, a proliferação de colonatos, os mitos da inexpugnável cúpula de ferro
e da infalibilidade dos serviços secretos, a divisão do campo palestiniano, a
cumplicidade dos governos ocidentais e o silêncio da comunicação social…não
conseguem aniquilar a resistência palestiniana.
E, pior que tudo, viram-se contra a
própria nação israelita: internamente, desenvolveram um processo de fascinação
e internacionalmente conduzem o estado de Israel ao isolamento e à
responsabilidade histórica de autores do holocausto... palestiniano!
O governo fascizante de Israel
conduziu o exército à desonra. Um exército vitorioso (?) sobre uma pilha de
cadáveres palestinianos, de velhos, mulheres e crianças, 16.000 mártires, dos
quais 8000 anjos inocentes, a bandeira cravada na montanha fumegaste e
sangrenta de hospitais, escolas e lares, é um exército sem honra!
As multinacionais entram na guerra
Multimilionários organizaram-se para
promover uma campanha na comunicação social e nas redes sociais de
diabolização do Hamas e branquear a
imagem do governo de Israel: o foco nos reféns israelitas, nos atos de terror
do Hamas, no direito à defesa de Israel, no uso pelo Hamas de escudos humanos…Hamas, organização terrorista, é o leitmotiv da campanha: Mas no auge dos atentados terroristas na Europa, a imprensa internacional noticiava: "
Partidos políticos entraram em ação e acrescentam-lhe o antissemitismo, com o
mesmo propósito. A França, dos partidos do arco do poder, parece estar à cabeça desta estratégia política.
A CNN e outras estações britânicas e
americanas multiplicam as reportagens e notícias sobre os ataques de 7 de
outubro.
A grave situação da democracia
liberal em Israel é apagada da memória recente: um primeiro-ministro que não representa a
maioria do povo de Israel e usa a guerra como tábua de salvação para o seu
governo, acusado de corrupção pela justiça israelita, recebe o apoio sem reservas da maioria dos governantes
ocidentais
A Constituição de Israel permite, com
a declaração de guerra, que o poder do estado se concentre nas mãos do
presidente e do ministro da defesa.
Todos os anos o governo manda
prender, sem mandato judicial, cerca de mil crianças, com menos de 12 anos. A
detenção pode prolongar-se por meses, até ao reconhecimento do apoio de um
advogado. Duzentas dessas crianças permanecem meses e mesmo anos poderem presas, sem culpa formada, junto com milhares
de mulheres, jovens e anciãos. Na
Cisjordânia, desde o início da guerra, o exército e a polícia de Israel fizeram
mais 3.100 reféns, superando os 10.000 os palestinianos presos políticos do governo
de Israel. Os seus próprios cidadãos estão proibidos de manifestar qualquer
forma de oposição à guerra.
Em direto pela Aljazeera, a TV
oficial do Catar, pudemos testemunhar a primeira consequência da liquidação do
sistema hospitalar, enquanto o Hospital Pediátrico era bombardeado diretamente:
recém nascidos e doentes críticos sucumbiram, quando as máquinas de suporte de
vida se desligaram, por falta de energia e combustível, vimo-los, amortalhados
com o lençol branco dos mártires.
Pudesse o Deus dos judeus suster o
braço assassino dos seus falsos adoradores e dos que os municiam, mas Jeová já
foi crucificado outra vez nas ruínas fumegastes de Gaza e 60 dos seus filhos,
cativos, jazem irmanados na morte com 6000 crianças e 14.000 mil outros
palestinianos, mais os que apodrecem insepultos sobre os escombros dos lares,
escolas, mesquitas e hospitais, nas
valetas e estradas, em todos os quadrantes desse campo santo.(8.000)
A Indústria de guerra dos EUA fornece
ao governo de Israel 80% das suas importações de armamento, a da Alemanha 20%.
O presidente francês foi a Telavive, reclamar a sua quota de mercado: Não eram
franceses os Mirage que massacraram os exércitos árabes e não pagou Israel a
peso de oiro e diamantes ensanguentados, o urânio enriquecido e a tecnologia
com que produziu secretamente o seu arsenal nuclear, aos EUA; ao Reino Unido…e
de novo à França? Segundo o Instituto de Estocolmo, 90 bombas atómicas, que
nenhum tratado ou agência, controlam!
A presidente da Comissão Europeia
prometeu aumentar no futuro a ajuda a Gaza ( a quem a vai entregar?), mas o que
hoje necessitam os palestinianos para sobreviver _ cessar-fogo, combustível,
água, suprimentos médicos, comida, permanentemente…não faz parte da sua oferta
e a devolução aos palestinianos da sua terra e da sua liberdade, também
não.
Como
classificar ainda este governo, de democrático e de democratas e defensores da Declaração Universal dos
Direitos do Homem, os que o abastecem de armas e munições, cobrem a sua
imagem sinistra com o cinzento das falácias televisivas, e capitulam, neste
prenúncio de guerra mundial, deitando ao chão até as armas de paz da diplomacia: do isolamento diplomático e a aprovação efetiva das resoluções de cessar fogo, do
reconhecimento e criação imediata de
dois estados, sob a égide das Nações Unidas e do princípio da indivisibilidade
da segurança, das duas nações martirizadas.
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