Se queres a paz, prepara a paz! Escreveu ( o Major) Mário Tomé, “capitão” de abril, que à guerra foi.
Mas é outro o grito que varre o
ocidente e o leste: Si vis pacem, para bellum! Assim proclamam
os impérios, desde há mais de dois mil anos.
Os estrategas militares, procuram
então desescalar a guerra,
circunscrevê-la, mas os lideres
políticos atuais, dos dois campos, ignoram as lições da história. Com uma
diferença: a calote polar e um oceano separam os EUA dos mísseis balísticos
russos. As armas nucleares americanas, estacionadas na Alemanha e na Itália, em nome da NATO, mas
sob controle do Pentágono, estão bem mais próximas da Rússia e ao seu alcance.
No meio, estão os outros países europeus, membros da NATO, mas ainda assim, a
maioria indefesos.
O discurso de Putin no Senado, para obter a sua
autorização constitucional para usar o exército russo fora das fronteiras, foi
feito em nome da defesa das Repúblicas Populares do Donbass contra a reescalada
iminente da guerra civil na Ucrânia e a sua militarização pela NATO, que depois
do golpe de estado de 2014 e até 2021 causou 14.000 mortos e mais de 30.000
feridos, segundo a ONU, 2/3 dos quais ucranianos de nacionalidade russa, que
viram as suas províncias ocupadas em mais de metade do território pelo exército
e a guarda nacional ucranianos (onde
pontificam regimentos neonazis autónomos) e a sua língua proibida em rodo o
país. Por esta causa, milhares de voluntários russos atravessaram a fronteira
durante a guerra civil, juntando-se às milícias do Donbass, que não tinham nem
aviação, nem armas pesadas. Foi sobretudo por essa razão, que obedeceram à
ordem de comando da invasão e continuarão a morrer pelo Donbass e pelos 8
milhões de russos que ali vivem há séculos.
Mas desde o primeiro dia, a
invasão assumiu um carater imperialista e anticomunista, o discurso político de Putin dirigiu-se
igualmente contra a herança política da URSS e do PCUS, acusando-os de amputar
o império czarista do território do Donbass e de entregar à Ucrânia algumas das
principais regiões industriais da Rússia. Nesta ambição imperialista/czarista,
reside a sua maior fraqueza política. A
ocupação da Ucrânia, não está, pois, ao seu alcance, não tem o apoio dos povos
da Rússia, os únicos que possuem o poder de o derrotar.
Do outro lado, nos EUA, a doutrina
militar americana considera que pode levar a guerra convencional até ao
extremo, como acontece ainda agora no Iémen e antes no Afeganistão, Iraque,
Síria, Líbia, sem que o adversário estratégico responda com a escalada nuclear,
fazendo a guerra através de interpostas nações, somando maiores lucros para o
seu complexo militar-industrial, e alargando o mercado para os gigantes
financeiros e económicos estadunidenses, em detrimento dos seus outros
concorrentes, a União Europeia e a China, que se tornaram os principais
parceiros comerciais entre si.
A União Europeia, na mesma linha
de escalada, segundo a posição da líder da sua Comissão, afirma que, com o
rearmamento da Ucrânia e mais violentas sanções, levarão o estado russo à
falência, desprezando a resposta militar da Rússia...o governo do UK corrobora
esta tese, legitimando a escalada da
guerra ao território russo, tal como o governo polaco, que oferece a sua terra
como nova base avançada dos mísseis da NATO, a Suécia e a Finlândia que parecem
querer trocar o escudo da neutralidade pela bandeira da NATO ...e a extrema-direita
internacional, agora acantonada na Ucrânia em nome da defesa da
democracia, armada com as armas
ofensivas mais avançadas, que estará por
detrás dos primeiros atentados e ataques fronteiriços contra a população
russa...
Mas a estratégia de defesa nacional
da Rússia, que o partido de Putin impôs, através da sua maioria absoluta na
DUMA e no Senado, agora apoiada na maioria dos deputados da oposição, incluindo
os que pertencem ao partido filiado na
Internacional Socialista e pelo menos, numa parte do Partido Comunista da
Federação Russa_ o seu maior opositor, prevê uma resposta global e nuclear se o
estado russo for colocado à beira do colapso e da destruição!
Os EUA, ignoraram durante 15 anos
os avisos dos seus próprios estrategas e lideres do período da guerra fria e
quebraram o compromisso de não fazer avançar a NATO para as fronteiras da
Rússia! Os líderes europeus têm apenas dias ou semanas para desescalar a guerra
económica e militar, ou para enfrentar as consequências da recessão, escalada
da guerra e do confronto nuclear, que
virão!
O Secretário-Geral das Nações
Unidas, que tem desempenhado um papel fundamental na contenção das guerras e no
apoio às suas vítimas, praticamente ignorado no país que é o nosso e o seu _ da
América Latina ao Afeganistão, do Iémen ao corno de África, afirmou que a sua
intervenção tardia neste conflito, se deve ao facto de a ONU não ter sido
convidada pelos beligerantes e os seus aliados para mediar os acordos de Minsk,
que sustiveram a guerra civil em 2024-2015, nem para mediar o atual conflito.
Perante a dimensão da tragédia em
escalada que hoje a guerra da Ucrânia representa, deveria ainda assim tentar
assumir a liderança política do processo negocial, sob a base da revelação à
comunidade internacional das propostas de acordo que Rússia e Ucrânia trocaram
entre si, e conduziram em 2 de abril ao anúncio, pela Turquia, de um acordo de
paz e do próximo encontro dos dois presidentes, logo gorado sob o impacto da
notícia do massacre de Bucha, denunciado pela Ucrânia, negado pela Rússia.
Ainda agora, as duas partes
desmentem-se a cada encontro negocial, com a Ucrânia a negar a existência de
propostas de entendimento e paz da parte da Rússia e esta, a acusar a Ucrânia de estar apenas a
ganhar tempo até receber as novas armas da NATO, que segundo Zelensky e Biden,
lhes darão a vitória.
Na atual situação de confronto
generalizado da NATO e da UE com a Rússia, de um mundo dividido quanto à
imposição de sanções, em que a maioria dos países não seguiu a União Europeia e
os EUA, e se assiste já hoje ao furar desse bloqueio por um número crescente de
multinacionais sediadas a ocidente, enquanto aqueles ameaçam sancioná-los
também, a intervenção das ONU, restrita ao plano humanitário, é insuficiente.
Esta é a oportunidade histórica
de os países do mundo inteiro fazerem das Nações Unidas o único árbitro da paz
e da guerra.
Lisboa, 28.04.2022
António dos Santos Queirós
Sem comentários:
Enviar um comentário