11.5.22

Se queres a paz, prepara a paz! Com a guerra nuclear no horizonte

Nota prévia: Este artigo esteve duas semanas confinado na Redação do jornal Público, a quem foi solicitada a sua publicação. Desta vez, a resposta negativa foi formulada nos seguintes termos: "Agradecemos o texto mas não temos interesse editorial na sua publicação." Então, a quem possa interessar, segue o texto, com dois anexos atualizadores.

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1 "Bombeiros, mineiros, operários e cientistas...700.000 ucranianos, russos, bielorussos...vindos de todas as nações da URSS,  para enfrentar a tragédia de Chernobyl, a vida  em risco para salvar os seus povos e a humanidade (1986)"
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2 Stalinegrado/Volvogrado, onde os soldados ucranianos e russos, de todas as nações soviéticas, deram as suas vidas em combate para derrotar o nazifascismo e virar o curso da II Guerra (1943)."

Se queres a paz, prepara a paz! Escreveu ( o Major) Mário Tomé, “capitão” de abril, que à guerra foi.

Mas é outro o grito que varre o ocidente e o leste: Si vis pacem, para bellum! Assim proclamam os impérios, desde há mais de dois mil anos.

Quanto a concorrência entre os governos das potências imperialistas se transforma em guerra económica, com sanções e boicotes, violação do direito internacional sem limites, esquecida de vez a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o confronto militar inicia-se, a nível local, e pode escalar para regional e mundial. Assim aconteceu com a I e II guerra mundiais, ainda sem armas nucleares e na história recente da Europa, no desmembramento da Jugoslávia, no separatismo da Geórgia...

Os estrategas militares, procuram então desescalar a guerra,  circunscrevê-la,  mas os lideres políticos atuais, dos dois campos, ignoram as lições da história. Com uma diferença: a calote polar e um oceano separam os EUA dos mísseis balísticos russos. As armas nucleares americanas, estacionadas  na Alemanha e na Itália, em nome da NATO, mas sob controle do Pentágono, estão bem mais próximas da Rússia e ao seu alcance. No meio, estão os outros países europeus, membros da NATO, mas ainda assim, a maioria indefesos.

O discurso  de Putin no Senado, para obter a sua autorização constitucional para usar o exército russo fora das fronteiras, foi feito em nome da defesa das Repúblicas Populares do Donbass contra a reescalada iminente da guerra civil na Ucrânia e a sua militarização pela NATO, que depois do golpe de estado de 2014 e até 2021 causou 14.000 mortos e mais de 30.000 feridos, segundo a ONU, 2/3 dos quais ucranianos de nacionalidade russa, que viram as suas províncias ocupadas em mais de metade do território pelo exército e  a guarda nacional ucranianos (onde pontificam regimentos neonazis autónomos) e a sua língua proibida em rodo o país. Por esta causa, milhares de voluntários russos atravessaram a fronteira durante a guerra civil, juntando-se às milícias do Donbass, que não tinham nem aviação, nem armas pesadas. Foi sobretudo por essa razão, que obedeceram à ordem de comando da invasão e continuarão a morrer pelo Donbass e pelos 8 milhões de russos que ali vivem há séculos.

Mas desde o primeiro dia, a invasão assumiu um carater imperialista e anticomunista,  o discurso político de Putin dirigiu-se igualmente contra a herança política da URSS e do PCUS, acusando-os de amputar o império czarista do território do Donbass e de entregar à Ucrânia algumas das principais regiões industriais da Rússia. Nesta ambição imperialista/czarista, reside a  sua maior fraqueza política. A ocupação da Ucrânia, não está, pois, ao seu alcance, não tem o apoio dos povos da Rússia, os únicos que possuem o poder de o derrotar.

Do outro lado, nos EUA, a doutrina militar americana considera que pode levar a guerra convencional até ao extremo, como acontece ainda agora no Iémen e antes no Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia, sem que o adversário estratégico responda com a escalada nuclear, fazendo a guerra através de interpostas nações, somando maiores lucros para o seu complexo militar-industrial, e alargando o mercado para os gigantes financeiros e económicos estadunidenses, em detrimento dos seus outros concorrentes, a União Europeia e a China, que se tornaram os principais parceiros comerciais entre si.

A União Europeia, na mesma linha de escalada, segundo a posição da líder da sua Comissão, afirma que, com o rearmamento da Ucrânia e mais violentas sanções, levarão o estado russo à falência, desprezando a resposta militar da Rússia...o governo do UK corrobora esta tese, legitimando  a escalada da guerra ao território russo, tal como o governo polaco, que oferece a sua terra como nova base avançada dos mísseis da NATO, a Suécia e a Finlândia que parecem querer trocar o escudo da neutralidade pela bandeira da NATO ...e a extrema-direita internacional, agora acantonada na Ucrânia em nome da defesa da democracia,  armada com as armas ofensivas mais avançadas,  que estará por detrás dos primeiros atentados e ataques fronteiriços contra a população russa...

Mas a estratégia de defesa nacional da Rússia, que o partido de Putin impôs, através da sua maioria absoluta na DUMA e no Senado, agora apoiada na maioria dos deputados da oposição, incluindo os que  pertencem ao partido filiado na Internacional Socialista e pelo menos, numa parte do Partido Comunista da Federação Russa_ o seu maior opositor, prevê uma resposta global e nuclear se o estado russo for colocado à beira do colapso e da destruição!

Os EUA, ignoraram durante 15 anos os avisos dos seus próprios estrategas e lideres do período da guerra fria e quebraram o compromisso de não fazer avançar a NATO para as fronteiras da Rússia! Os líderes europeus têm apenas dias ou semanas para desescalar a guerra económica e militar, ou para enfrentar as consequências da recessão, escalada da guerra e do confronto  nuclear, que virão!

O Secretário-Geral das Nações Unidas, que tem desempenhado um papel fundamental na contenção das guerras e no apoio às suas vítimas, praticamente ignorado no país que é o nosso e o seu _ da América Latina ao Afeganistão, do Iémen ao corno de África, afirmou que a sua intervenção tardia neste conflito, se deve ao facto de a ONU não ter sido convidada pelos beligerantes e os seus aliados para mediar os acordos de Minsk, que sustiveram a guerra civil em 2024-2015, nem para mediar o atual conflito.

Perante a dimensão da tragédia em escalada que hoje a guerra da Ucrânia representa, deveria ainda assim tentar assumir a liderança política do processo negocial, sob a base da revelação à comunidade internacional das propostas de acordo que Rússia e Ucrânia trocaram entre si, e conduziram em 2 de abril ao anúncio, pela Turquia, de um acordo de paz e do próximo encontro dos dois presidentes, logo gorado sob o impacto da notícia do massacre de Bucha, denunciado pela Ucrânia, negado pela Rússia.

Ainda agora, as duas partes desmentem-se a cada encontro negocial, com a Ucrânia a negar a existência de propostas de entendimento e paz da parte da Rússia  e esta, a acusar a Ucrânia de estar apenas a ganhar tempo até receber as novas armas da NATO, que segundo Zelensky e Biden, lhes darão a vitória.

Na atual situação de confronto generalizado da NATO e da UE com a Rússia, de um mundo dividido quanto à imposição de sanções, em que a maioria dos países não seguiu a União Europeia e os EUA, e se assiste já hoje ao furar desse bloqueio por um número crescente de multinacionais sediadas a ocidente, enquanto aqueles ameaçam sancioná-los também, a intervenção das ONU, restrita ao plano humanitário, é insuficiente.

Esta é a oportunidade histórica de os países do mundo inteiro fazerem das Nações Unidas o único árbitro da paz e da guerra.

Lisboa, 28.04.2022

António dos Santos Queirós

Adesão da Ucrânia à União Europeia: da tragédia, à farsa

Não foram preciso senão dias para que a promessa solene de entrada da Ucrânia para a União Europeia, fosse atirada para a escalada de dezenas de anos de espera ou substituída pela constituição de uma espécie de II divisão nacional, reservada para os países de leste (e do sul) mais empobrecidos, segundo o discurso do presidente Macron (ver o protesto do presidente Lituano, no post abaixo), uma ideia política que já o "socialista" e presidente francês François Holland enunciara, noutro contexto.
É caso para lembrar que o golpe de estado de 2014, que derrubou o presidente eleito da Ucrânia e deu início à guerra civil, foi preparado através de manifestações e protestos de rua contra a recusa desse presidente em assinar um pré-acordo de adesão, que considerava lesivo dos interesses nacionais!
As benesses da UE como isco, a adesão à NATO como um passaporte para a liberdade e segurança, as portas da UE fechadas na cara da nação ucraniana por muitos anos, a guerra civil e a invasão fratricidas, como a única realidade, o rearmamento e a escalada de sanções prometendo amanhãs vitoriosos sobre os escombros de um país e a ruína de outro, inundados de sangue e de luto, deixando o mundo mais perto da recessão e da guerra globais. E a ninguém prestam contas! Nada nem ninguém lhes pede contas, além do presidente lituano, cuja voz não merece destaque, senão numa agência de informação árabe?






O Grupo de Trabalho Internacional sobre Sanções Russa

Se pensava que a estratégia de escalada era o resultado do pensamento político dos atuais lideres europeus, desengane-se. O Grupo de Trabalho Internacional sobre Sanções Russas, o chamado Grupo McFaul-Yermak, elaborou o plano de ação e as medidas de escalada contra a Rússia. Se julgava que a comunicação social desenvolvia autonomamente o seu trabalho de investigação, contraditório e informação, fica a saber que o plano de ação já foi apresentado aos jornalistas, separadamente aos embaixadores do G7 e a uma conferência de 200 jornalistas e especialistas em Stanford Square.
O trabalho do grupo é coordenado pelo chefe do Gabinete do Presidente Ucraniano Andriy Yermak e pelo diplomata americano Michael McFaul. e nesta entrevista, anuncia ao mundo quais são os novos passos na escalada que a União Europeia deverá seguir.. sanções secundárias, o reconhecimento da Rússia como patrocinadora do terrorismo e um pacote completo de bloqueio de sanções ao setor bancário.
Não encontrei uma única proposta para promover um cessar fogo geral, nem qualquer proposta de solução política para a guerra e para uma paz justa e duradoura.
No texto se afirma: "A liderança de Michael McFaul na formação e moderação da parte internacional do grupo de especialistas é algo incrível: uma master class em psicologia, diplomacia e profundo conhecimento do material." McFaul foi o embaixador dos EUA na Rússia, entre 2012 e 2014, sob a presidência de Obama. E quem orienta agora este líder? Pergunto-me e pergunto-vos?

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