Os
bombardeamentos da central nuclear de Zaporizhzhya
As imagens que passaram
nas televisões internacionais mostram-nos os sinais de bombardeamentos que
atingiram instalações da central, mas não os reatores que estão fortemente
protegidos. É o que significa o eufemismo "violada a integridade da
central".
Não é credível que os
russos se bombardeassem a si próprios, e é certo que o governo ucraniano não
controla as unidades que foram criadas pelos seus oligarcas e integradas na
Guarda Nacional e no Ministério do Interior, de que o regimento Azov é apenas
uma amostra, as quais, no início da invasão, representavam cerca de 1/3 da
força armada ucraniana.
Não será demais lembrar
que os habitantes do Donbass são maioritariamente russos de origem, de língua e
cultura e foi contra eles que o regime saído do golpe de estado de 2014
promoveu a guerra civil, 2014-2021. Essa classificação aplica-se aos 11.000
trabalhadores da central.
Do que já se disse e a
seguir se dirá, decorre que os bombardeamentos que continuam sobre a cidade de
Energodar, onde se localiza a central, e que atingem as estruturas desta
instalação nuclear, não são obviamente russos. A população da cidade é ucraniana
russa e entregou à missão da O N U um abaixo-assinado com 20.000 subscritores
reclamando a criação de uma zona de segurança, notícia omitida a Ocidente.
Coagida? O Ministério da Defesa russo identificou os regimentos de artilharia
ucranianos responsáveis e a sua localização. O governo ucraniano responde
exigindo que a central regresse ao seu controle.
Estamos a viver um
momento em que a irracionalidade dos líderes ucranianos e das potências que os
afastam da negociação e empurram para a procura da vitória militar e da
falência do estado russo, atinge o paroxismo. "Zelensky
dissolveu a delegação ucraniana no Grupo de Contato" (O Fórum,
internacional, que promoveu as negociações de paz com a Rússia). O decreto de
quinta-feira aboliu seis decretos presidenciais de 2020-2021 sobre o trabalho
da delegação ucraniana no Grupo de Contato e a composição da delegação”. KIEV,
2 de setembro. /TASS/
O compromisso de
desescalada, que foi possível para exportar o grão ucraniano e os fertilizantes
russos, pode aqui materializar-se na continuidade do fornecimento de energia ao
lado ucraniano e, simultaneamente, ao Donbass ucraniano russo, sob a égide das
Nações Unidas. A Rússia já aceitou a presença permanente dos especialistas da
Agência Nuclear Internacional.
Os extremistas que ganham
cada vez mais peso político junto da presidência ucraniana e que já propuseram
a intervenção direta da NATO através da sua aviação militar, a expulsão do estado
russo de todas as instâncias internacionais, e o fecho das fronteiras europeias
aos cidadãos russos, o gasto das reservas financeiras russas congeladas nos
bancos ocidentais e até à classificação (por quem?) do estado russo como
terrorista, jogam agora a carta do diabo nuclear.
Algumas dessas propostas
trazem assinatura, como seja a Comissão Internacional para as Sanções contra a
Rússia, liderada por um embaixador dos EUA, ou a dos líderes dos partidos
autoritários e chauvinistas que emergiram nos países Bálticos e na Polónia.
Outras são há muito conhecidas, e têm origem na extrema-direita oligárquica e
político militar, que construiu um poder paralelo na Ucrânia.
Embora os reatores
estejam bem protegidos, mesmo contra os projéteis de artilharia, este jogo de
cartas com o diabo, pode conduzir a um novo inferno nuclear.
A
face escondida da guerra
“Em Donetsk, o jornalista
Bruno Amaral de Carvalho foi testemunha de horas seguidas de bombardeamentos na
tarde de sábado. O ataque ucraniano contra a maior cidade do Donbass fez pelo
menos 7 mortos e 24 feridos. (CNN, Portugal, 19 junho)
"Eu sei o que é
andar debaixo das bombas". “Em Petrovsky, os civis morrem e os hospitais
estão debaixo de fogo”. (CNN, Portugal, 3 setembro)
Devemos a este jornalista
e à sua estação, a abertura de uma janela para o outro lado da guerra: uma
guerra total onde escolas, hospitais, cidades e aldeias…de ucranianos russos
são bombardeados, vitimando gente de todas as idades e condições que ali vivem
e permanecem, tal como acontecia durante a anterior fase da guerra civil,
iniciada com o golpe de estado de 2014. Tal como a Amnistia Internacional já
testemunhara e os generais (insultados como putinistas) explicaram, no quadro
da guerra fratricida que foi imposta aos dois povos pelo confronto estratégico
das potências imperialistas.
O ataque ao Donbass pelo
governo pós golpe e pelos batalhões de extrema-direita, que ocuparam metade do
seu território e, a guerra em curso, também provocaram uma vaga de refugiados
de ucranianos russos, estimada em 3 milhões e meio.
O caminho da paz é o da
negociação e da reconciliação. Tudo o resto é crime de guerra, lançada pelas
oligarquias que reinam na Rússia, na Ucrânia e nos EUA e na EU.
Ukraine: civilian casualty update 22 August 2022
Office of the High Commissioner for Human Rights 22
August 2022
Este relatório recente
das Nações Unidas regista as vítimas civis dos dois lados, incluindo os
ucranianos russos.
https://www.ohchr.org/en/news/2022/08/ukraine-civilian-casualty-update-22-august-2022
O governo ucraniano
confirma não os cerca de 6, mas sim de 7 mil civis mortos no seu campo. Um
número trágico.
Recordo que, no período
crítico da batalha por Mariupol, o mesmo governo denunciava a existência de
20.000 baixas civis só na cidade, enterradas em valas comuns, indicando os
cemitérios e outros lugares, referenciados através de imagens satélite. Na
altura, o jornal jornalista Bruno Carvalho, que acompanha a guerra do lado
russo e ucraniano russo, levou a reportagem até esses locais, entrevistou coveiros
e diretores e mostrou as centenas de sepulturas individuais ainda frescas e
outras abertas, onde jazem, lado a lado, soldados ucranianos e russos, civis e
militares, do regimento Azov e das milícias da república de Donetz…num total
aproximado de mil almas.
Devemos a verdade da
guerra a esses mortos, que podiam viver ainda, porque esta é uma guerra por
procuração, os acordos de Minsk permitiam evitá-la, se cumpridos e as
negociações de paz no seu reinício estabeleceram logo aí uma base de acordo e
foram infamemente liquidadas.
A
intervenção cívica do Major General Carlos Branco e os seus detratores
O livro a Peregrinação,
de Fernão Mendes Pinto, foi publicado trinta anos depois da sua morte, em 1644,
certamente depois de “trabalhado” pelo cronista-mor do reino, de modo a ser
aceite pelo Santo Ofício, porque nele passa, como num espelho, a crítica aos
senhores da sociedade europeia do seu tempo.
Nele, Fernão Mendes Pinto
deixou escrito uma premonitória denúncia dos “murmuradores a gente praguenta”,
que se oporiam à sua difusão e por isso a dirigiu aos interlocutores de
espíritos altos e entendimentos largos e grandes, os que têm verdadeira
curiosidade científica, avisando-os que se via coibido a não contar tudo o que
desejaria.
Três séculos depois, os
intelectuais da Geração de 70, ao convocarem as Conferências Democráticas
(1871), conhecidas como do Casino, proclamaram:
“Não pode viver e
desenvolver-se um povo, isolado das grandes preocupações intelectuais do seu
tempo…” e como sua finalidade “…abrir uma tribuna, onde tenham voz as ideias e
os trabalhos que caracterizam este momento do século, preocupando-nos com a
transformação social, moral e política dos povos…procurar adquirir a
consciência dos factos que nos rodeiam, na Europa…” Carlos Reis, As
Conferências do Casino, págs. 91 e 92.
As Conferências finais
foram proibidas. Entretanto, Antero, em nome dessa geração que assumiu o
epíteto de “Vencidos da Viva”, escrevia:
”...Há em todos nós, por
mais modernos que queiramos ser, há lá oculto, dissimulado, mas não
inteiramente morto, um beato, um fanático ou um jesuíta.” Antero de Quental,
Prosas Sociopolíticas, pág. 283.
O 28 de maio de 1926, e a
longa ditadura fascista, que conduziu ao obscurantismo, ao atraso económico e
ao isolamento internacional, à emigração em massa e à tragédia da guerra
colonial, tornaram realidade a profecia de Antero, por mais 48 anos.
Nesse período, o
dramaturgo e poeta Bertolt Brecht, escreveu o seu próprio epitáfio, em verso:
Epitáfio Para M.
Dos tubarões fugi eu
Os tigres matei-os eu
Devorado fui eu
Pelos percevejos.
(Bertold Brecht, in
poemas. Trad.: Arnaldo Saraiva)
No caso da intervenção pública
do Major General Carlos Branco, tal como dos seus dois irmãos de armas, não
creio que a história, como tragédia, se repita, mas como farsa, sim. Nem
acredito que tal epitáfio se lhes venha a aplicar.
Só que, aquele espectro
continua a pairar sobre nós e a Europa, atravessa os oceanos e vagueia pelo
mundo. É certo que a mentira tem asas e a verdade pernas. Mas o caminho faz-se
a andar…
Nota
adicional, sobra a Agência TASS
A Agência TASS não faz
parte da lista de órgãos de comunicação social que a UE censurou e proibiu. No
entanto, o Facebook acompanha a publicação das suas notícias de um AVISO que
visa desencorajar a sua leitura.
Faz o mesmo em relação
com a publicação de notícias oriundas dos órgãos de comunicação da China,
introduzindo a frase "controlados pelo estado chinês".
Assim vai a liberdade e o
pluralismo da informação, proclamados a Oeste, não é verdade, Oh Julian
Assange? Para quem a nossa(?) comunicação social não tem uma palavra de
solidariedade, contra a sua extradição para os EUA, onde foi acusado de alta
traição: por ter revelado os crimes de guerra cometidos no Afeganistão pelas forças invasoras da NATO, sobretudo dos EUA e da Austrália.
ONE
CHINA, President Biden!
Dou-lhes conhecimento da
Manifestação em defesa do princípio ONE China, realizada a 23 de agosto junto
da embaixada dos EUA em Lisboa e do teor da carta dirigida ao presidente
americano, através da embaixadora. O seu
significado político está muito para além dos cerca de 300 manifestantes, da
comunidade chinesa e representantes das organizações que cooperam com a China,
que protestaram junto da embaixada americana e denunciaram a sua política
belicista.
Exma. Sra
Embaixadora dos EUA em
Portugal.
Randi Charno Levine
Excelência
A Liga dos Chineses em Portugal,
associação sem fins lucrativos, reconhecida pelo Auto Comissariado da Migração,
requereu, nos termos da lei, a autorização para o exercício do direito de
manifestação no dia 22 de agosto, das 16 às 18 horas, junto da Embaixada do
EUA, no quadro político de defesa e exigência cívica de cumprimento da
Resolução das Nações Unidas nº 2758, de 1971, que reconhece a unidade da China
num só país, “One China” _ Uma Única
China.
O princípio de Uma Única
China é o núcleo essencial dos três comunicados conjuntos China-EUA e a
premissa e fundamento para o estabelecimento e desenvolvimento das relações
diplomáticas entre a China e os EUA. Em 1979, os Estados Unidos assumiram um
claro compromisso no Comunicado Conjunto sobre o Estabelecimento das Relações
Diplomáticas China-EUA de que, “os Estados Unidos da América reconhecem que o
Governo da República Popular da China é o único governo legítimo da China.
Neste contexto, o povo dos EUA manterá as relações culturais, comerciais e
outras relações não oficiais com o povo de Taiwan”.
Os subscritores e
apoiantes desta manifestação querem exprimir livre e pacificamente o seu
protesto pela visita da Srª Nancy Pelosi, na qualidade de presidente da Câmara
dos Representantes dos Estados Unidos, seguida pela viagem duma delegação de
cinco membros do Congressos americano, à província chinesa de Taiwan, a que a
diplomacia chinesa se opôs legitimamente, porque à luz daquela resolução da ONU
e dos acordos estabelecidos com os EUA, representam uma violação da soberania
da China.
Estas visitas provocam
insegurança e conflito no estreito de Taiwan e na região, e afrontam o consenso
mundial estabelecido pelas Nações Unidas de não ingerência nos assuntos
internos dos países e do reconhecimento da unidade da nação chinesa, o que, no caso
de Taiwan, significa respeitar o caminho soberano da República Popular da China
de promover a reunificação pacífica com Taiwan através da política de “Um país,
dois sistemas”, já aplicada com sucesso no regresso à mãe pátria de Hong Kong e
Macau.
Excelência
Como diplomata defensora
das artes, promotora da diplomacia cultural e filantropa, líder no
desenvolvimento de relações com os stakeholders internacionais, reconhecerá que
a Resolução das Nações Unidas “One China” e o comunicado conjunto EUA_China que
a reforça, desempenharam um papel fundamental na transição democrática de
Taiwan, depois de 50 anos de colonialismo japonês e mais 42 anos de uma
ditadura militar apoiada pelas forças da Guerra Fria, que privaram o povo
chinês de Taiwan dos seus direitos democráticos e nacionais. E, em paralelo, o
seu contributo para a criação de condições de cooperação pacífica e progresso
comum regional, na Ásia-Pacífico.
Mas a diplomacia dos EUA,
em especial face à região chinesa de Taiwan, está de novo a apoiar essas forças
separatistas, antidemocráticas e antinacionais, que temporariamente se
esconderam sob o novo regime de democracia liberal, beneficiando da política
belicista e da duplicidade dos últimos governos dos EUA, pois os seus atos já
não correspondem às palavras e compromissos internacionais. O próprio
Secretário de Estado Henry Kissinger, afirmou ao Wall Street Jornal (13 de
agosto), "Estamos à beira da guerra com a Rússia e a China, face a crises
que nós próprios em parte criámos, sem nenhuma perspetiva de como vão acabar ou
a que devem conduzir".
A Associação de Nações do
Sudeste Asiático há muito que abandonou a política da guerra fria, sob o
impulso da China e os seus tratados, asseguram a liberdade e segurança de
navegação e sobrevoo, a resolução pacífica dos conflitos, a cooperação
científica, ambiental e económica, recentemente ampliada com o Comprehensive
Economic Partnership (RCEP). Mas o governo americano promove a militarização de
Taiwan, exporta tecnologia nuclear para a Austrália, encoraja o Japão a rever a
sua Constituição pacifista, tenta intimidar a China com a projeção de armas
ofensivas para o Mar do Sul da China e cercá-la com uma barreira de bases
militares.
Em alternativa, o
Presidente Xi Jinping, reforçando o princípio de que a China não busca o
hegemonismo, propôs na Conferência Anual do Fórum de Boao para a Ásia, The Global Security Initiative for Peace and
the Principle of Indivisible Security, como o caminho comum para resolver os
atuais conflitos e ameaças de confronto militar. O novo “princípio da segurança
indivisível" está em consonância com os fundamentos da Declaração
Universal dos Direitos do Homem: rejeita a política de construir a própria
segurança em detrimento da segurança de outros, recusa o conceito estratégico
oposto que levou à criação da NATO e do Pacto de Varsóvia, e à escalada da
Guerra Fria. Este princípio está em consonância com os princípios da ONU,
protege a soberania e a integridade de todos os países, defende a não
interferência nos seus assuntos internos e respeita os diferentes regimes
políticos e sociais escolhidos pela história dos seus povos. A política de “Um
país, dois sistemas”, garante, simultaneamente, a continuidade da economia e do
regime de democracia liberal de Taiwan, e a unificação pacífica de toda a nação
chinesa.
A China escolhe a via
pacífica para reconquistar a sua integridade nacional, mas o povo chinês
enfrentará qualquer ameaça que afronte esse caminho. Por esta via lhe
solicitamos e agradecemos, que seja a portadora desta mensagem, junto do
governo dos EUA e da sua grande nação.
22 de agosto de 2022
Com os meus respeitosos
cumprimentos
Y Ping Chow (Presidente
da Liga dos Chineses em Portugal)
1 comentário:
Obrigado caro Professor,
Os seus textos são bastante elucidativos e representam bem uma realidade que nos querem ocultar! Gosto das referências que faz e, em relação a Brecht, de facto estamos rodeados de percevejos; para esta praga, temos que utilizar todo o tipo de inseticidas, o que se torna uma tarefa difícil. Os líderes europeus parecem-me ser de uma cegueira atroz, e com isto estão a arrastar os cidadãos europeus para o precipício. Infelizmente, a maior parte das pessoas são completamente influenciáveis e o espirito critico não lhes assiste.
Felizmente começa a haver vozes, como a sua desde o inicio, que estão a por em causa este seguidismo imbecil que apenas favorece os mesmos grupos de sempre.
Esperemos então que comecem a surgir as soluções que, de facto, sempre existiram ainda muito antes deste conflito atingir estas proporções.
Continue com o entusiasmo que bem o caracteriza, com um forte abraço, Pedro Sales
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