11.4.22

Em nome da paz e da solidariedade, prosperam os negócios da guerra

 

Jornal de Wall Street. Forças ucranianas retomam aeroporto de Donetsk, matando dezenas. Jatos, helicópteros e para-quedistas usados para recuperar o controle. Publicado: 27 de maio de 2014 (Título original )

Ajuda militar ou negócio?

A resposta a esta pergunta foi-me dada pelo Conselho da União Europeia (UE), que aprovou dia 23 de março, ao abrigo do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, o financiamento de mil milhões de euros às “capacidades e resiliência das forças armadas ucranianas”. (é notável o nome escolhido para o mecanismo)

Quais são as condições deste negócio de financiamento e o valor dos juros? É um segredo aferrolhado nas chancelarias. Portanto, se bem entendi, a UE age como agente comercial das indústrias de armamento europeias.

Essas empresas das Indústrias Militares europeias, são as mesmas que continuaram a vender armas à Rússia, depois do início da guerra civil e do embargo de 2014: a França vendeu 152 milhões de euros de equipamento militar à Rússia, a  Alemanha exportou 121,8 milhões de euros, a Itália vendeu 22 milhões de euros, a Bulgária, Áustria…num total de 10 países da UE e de 346 milhões de euros!

Comparando o volume de negócios, 346 milhões em cinco anos de paz e 1.000 milhões em apenas algumas semanas de guerra, ficamos a saber a que ídolo se dirigem as preces dos seus acionistas e que discurso político serve os seus interesses: escalar, em nome da ajuda, multiplicar negócios e lucros, em nome da defesa da Ucrânia!

“A assistência europeia, com duração prevista de 12 meses, visa financiar o fornecimento de equipamento e de materiais como proteção pessoal, kits de primeiros socorros e combustível e ainda equipamento e plataformas militares, concebidos para fornecer força letal para fins defensivos.”

“Sim, houve acordo dos ministros dos Negócios Estrangeiros para o reforço do apoio em equipamento militar à Ucrânia através do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz”, confirmou o ex-ministro Augusto Santos Silva aos jornalistas no final do Conselho.

A líder da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o Presidente norte-americano, Joe Biden, em declaração conjunta (24 de março), afirmaram que os EUA estão dispostos a fornecer 900 milhões de euros, em assistência humanitária e a UE 550 milhões de euros".

O Parlamento Europeu deu (6 de março) luz verde ao desembolso imediato de mais de 3,4 mil milhões de euros para os Estados-membros da União Europeia (UE) que acolhem refugiados em fuga da invasão da Ucrânia pela Rússia.

Comparem os números e reflitam comigo nas suas evidências políticas. À ajuda aos países de acolhimento dos refugiados, uma medida de solidariedade indispensável e inquestionável, não corresponde uma ajuda proporcional humanitária para a Ucrânia. E, afinal, a denominada ajuda militar, representa um endividamento da martirizada Ucrânia aos seus financiadores da UE em dobro do valor da ajuda humanitária ( quem são as entidades que vão receber as prestações e juros, que estão por detrás da sigla UE?) 

Pelo menos 14 nações já enviaram equipamentos militares diretamente para a Ucrânia. A Alemanha, Suécia e Finlândia, Reino Unido, Austrália, Dinamarca, Estônia, Eslovénia,  entre outros. O preço a pagar é desconhecido.

E os EUA?

A democracia americana, refém do complexo militar-industrial

O seu presidente autorizou novo apoio militar de € 200 milhões para a Ucrânia

A decisão eleva o total do apoio dos EUA fornecido desde o golpe militar na Ucrânia de 2014 até janeiro de 2021 para €1.200 milhões. crescendo  com a guerra até € 2.931 milhões, acrescidos recentemente de mais 310 milhões.

O armamento que está a ser enviado resulta de transferências diretas do Departamento de Defesa dos Estados Unidos  para o exército ucraniano, incluindo sistemas de defesa antiaérea e sistemas antitanque. drones, sistemas de comunicação e de satélites. Tal significa que este armamento foi previamente comprado pelo governo americano ao complexo militar industrial do seu país. Neste período de guerra, o valor do armamento soma 2.130 € milhões, contraposto aos 900 milhões prometidos em ajuda humanitária.

A 9 de março, o governos dos EUA anunciou  que o pacote de ajudas militares e humanitárias aos países do leste europeu se elevava a  €12.800 milhões. Entretanto, no que foi um revés para o Presidente Biden e democratas, a Câmara dos Representantes retirou os €14.600 milhões do pacote para o combate ao Covid-19. Os deputados do Partido Republicano e os deputados eleitos pelo Partido Democrático que votam ao seu lado, trocaram o investimento na saúde pública pelo apoio às indústrias da guerra!

O presidente americano prepara-se para fazer aprovar pelo Senado um novo financiamento que eleva os valores envolvidos a 33.000 milhões.

Não são reveladas as contrapartidas exigidas à Ucrânia. Mas o discurso oficial dos EUA proclama agora as derrotas e perdas colossais da Rússia e a possibilidade da Ucrânia vencer a guerra!? Mas, o que será a vitória?

Do negócio da guerra, ao negócio da reconstrução

São americanas as cinco maiores empresas da indústria de guerra: Lockheed Martin, Raytheon, General Dynamics, Boeing, Northrop Grumman. Durante a guerra no Afeganistão receberam contratos do governo no valor de 2,02 biliões de dólares. Constituem lobbies tão poderosos que chegam a absorver 1/3 do orçamento do Pentágono. Graças à sua influência o orçamento militar dos EUA supera várias vezes os orçamentos militares de qualquer outro país e, nos últimos cinco anos, as vendas de armamento ao estrangeiro cresceram 14%, enquanto globalmente baixavam 4,6%.. Desde que a tensão aumentou na Ucrânia, no final de 2021, a Lockheed Martin aumentou os seus preços de venda de material militar 28,83%, tal como a Raytheon, 17,95%, a Northrop Grumman, 27,88 %...

Consequentemente, os Estados Unidos ofereceram até €916 milhões em garantias de empréstimos à Ucrânia, para ajudar o país a enfrentar a ameaça de guerra com a Rússia - anunciara o secretário de Estado americano, Antony Blinken,  em 14 de fevereiro.

O Banco Mundial aprovou em 8 de março, já em plena guerra,  um pacote de 535 milhões em empréstimos, nomeado Financiamento de Recuperação da Emergência Econômica na Ucrânia (Free Ukraine, em inglês).

Em paralelo, foi criado um fundo fiduciário que continuará a receber doações em nome da Ucrânia, constituído com um valor inicial 123 milhões, provenientes da Grã-Bretanha, Dinamarca, Letônia, Lituânia e Islândia.

Em comunicado, a instituição afirmou que o pacote inclui um suplemento de empréstimo de €321 milhões para reforçar o empréstimo anterior do Banco Mundial, acrescidos, entretanto, com  €127 milhões, através de garantias da Holanda e da Suécia.

O Japão também está a fornecer financiamento paralelo no valor de  €123 milhões.

"O Banco Mundial está ao lado do povo da Ucrânia e da região. Este é o primeiro de muitos passos que estamos tomando para ajudar a lidar com os impactos humanos e econômicos de longo alcance desta crise”, afirmou no comunicado o presidente da instituição, David Malpass. Só não disse, o preço dos juros!

Mas todos estes valores são cada vez mais irrisórios, à medida que a guerra se prolonga.

Eis como se prepara já o negócio da reconstrução da devastada Ucrânia, para quem as doações se contam pela centena e os empréstimos com juros, por milhões. Se pensarmos na tragédia recente de outra invasão, a do Iraque, a diferença parece estar em que as empresas e instituições beneficiárias, não pertencem ao país invasor que fez a guerra, mas aos países que afirmam ajudar a Ucrânia vendendo, primeiro armas à Rússia e depois, com maior lucro, à martirizada Ucrânia, já em guerra.

O negócio prosperará, quando mais longa a guerra for e a nossa comum cegueira politica!

Reflexão sobre a paz e a barbárie de Bucha

As delegações russa e ucraniana tinham realizado outra ronda de negociações em Istambul em 29 de março.

O chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, disse, após a reunião, que Kiev apresentou propostas por escrito para um acordo entre as partes.

Medinsky afirmou que Moscovo consideraria as propostas ucranianas e apresentaria a sua proposta em conformidade, enquanto as tropas russas reduziriam as suas atividades nas áreas de Kiev e Chernigov. E cumpriu.

Além disso, segundo ele, a Rússia sugeriu que uma reunião entre os presidentes Vladimir Putin da Rússia e Vladimir Zelensky da Ucrânia seja realizada simultaneamente com a assinatura de um tratado de paz pelos chanceleres dos dois países.

Leram bem. Um tratado de paz estava a ser  redigido. Mas ignoramos tudo isto, porque os canais de comunicação social russa, de fácil acesso, nos estão vedados. Ou melhor: o jornal português DN exibia a 2 de abril o seguinte título: “Ucrânia diz que Moscovo concordou com as propostas ucranianas. Reunião entre Putin e Zelensky pode acontecer na Turquia” Mas a propaganda apagou-as num ápice. Essas declarações vieram a público de imediato na Turquia e correram a informação mundial que não se transformou em mera propaganda. Imediatamente foram submersas pela notícia de Bucha.

A descoberta da verdade e o dever de questionar a propaganda política

Estes factos, são consentâneos com a acusação de que um exército, altamente disciplinado, e de comando único, deixou para trás uma pilha monstruosa de cadáveres martirizados, sem cuidado de os fazer desaparecer ou enterrar, deixando-os expostos, exibindo as marcas das piores sevícias e torturas?

E, neste contexto político, a suspensão da Rússia da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, por maioria e numa votação que dividiu este órgão, a condenação unilateral dos massacres, sem uma investigação independente que abranja os dois lados da contenda, tal como a escalada de sanções já anunciadas pela UE e  os EUA, são, um contributo para o apaziguamento ou vão alimentar os falcões, os negócios abutre e os extremistas, a quem a guerra serve!?

Logo depois desta penalização, faz sentido que a Rússia continue a bombardear alvos civis, como a estação de Donetsk, usando ainda por cima um modelo de mísseis de fabrico ucraniano? O estado maior e o núcleo principal do regimento Azov, que está refugiado dentro do perímetro civil de Mariupol e assiste agora à saída em massa dos últimos refugiados, não terá nenhuma responsabilidade nesta agressão, face à ofensiva final do exército russo para recuperar as fonteiras históricas das províncias do Donbass (que eram as que vigoravam antes do golpe de estado de 2014)?

Do golpe militar (2014), à ofensiva dos golpistas contra o Donbass e à guerra civil

Da guerra civil, de alta e baixa intensidade (2014-2021), à invasão russa e à escalada de sanções

Regressar ao espírito de Chernobyl

As manifestações contra o golpe de estado em várias cidades do leste e do sul da Ucrânia, incluíram não penas Donetsk e Luhansk, mas também Kharkiv e Odessa, mas nestas últimas foram rapidamente reprimidas. A guerra civil, envolveu então o governo golpista e os governos seguintes, entre 2014 e 2021, colocando em confronto os ucranianos apoiantes desses governos e os ucranianos russos das Províncias de Luhansk e Donetsk.  ( O partido do presidente atual  venceu as eleições em 2019, com 44% dos votos, mas mais de 51% dos eleitores não votou, como não votaram obviamente os ucranianos russos do Donbass parcialmente ocupado e sitiado pelo exército ucraniano e os ucranianos russos da Crimeia, e Sebastopol, que, entretanto, se reintegraram na Rússia. O governo de Zelensky governa pois com o apoio político de 25% dos Ucranianos, a mesma percentagem do governo de Putin nas eleições de novembro de 2021).

As Nações Unidas publicaram em 14.06.2016 um relatório onde se pode ler: “Pelo menos 2 mil civis foram mortos e mais de 90% das fatalidades foram causadas por bombardeios indiscriminados em áreas residenciais, nos dois lados. Mas ninguém foi condenado até o momento…” “Também foram relatadas execuções de soldados ucranianos ou de elementos de grupos armados. O governo teria investigado e julgado alguns autores de execuções sumárias, mas as investigações foram muito lentas ou prolongadas de propósito, para que os acusados tivessem a chance de escapar da justiça”. O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos,  Zeid Al Hussein, declarou então que a prestação de contas é essencial para o alcance da paz na Ucrânia, inclusive na região leste do país.

De acordo com a missão de monitoramento da ONU, entre abril de 2014 e o final de 2018, de 12.800 a 13.000 pessoas foram mortas em Donbass.

Segundo a Comissão de Direitos Humanos da ONU, 3.300 mortos eram civis, 4.000 mortos eram militares das Forças Armadas da Ucrânia e 5.500 mortos eram militares das Forças de Defesa das Repúblicas Populares do Donbass. Cerca de 27 ou 30 mil pessoas ficaram feridas.

No ano do relatório, em 2018,  de acordo com estas estatísticas, 55 civis foram mortos e 224 ficaram feridos em Donbass: uma guerra de baixa intensidade prosseguia sem tréguas.

A ONU não incluiu aqui nenhuma estatística de baixas do exército russo, pois este não interveio diretamente no conflito. Alguns milhares de voluntários e armamento defensivo foram fornecidos por este país às milícias de Donbass, mas na altura, a superioridade militar estava do lado do exército ucraniano_ aviação, marinha, sistemas de mísseis, pelo que os russos ucranianos perderam metade do seu território e a capital administrativa instalada em Mariupol e viram as suas cidades arrasadas, numa situação equivalente à atual.

Sobre as tragédias desta guerra fratricida e brutal, pouco ou nada percecionámos na comunicação social ocidental, ao contrário do oriente, onde a sua dimensão e impacto na população, criou as condições políticas para o  reconhecimento pela Rússia das Repúblicas de  Luhansk e Donetsk e a  invasão da Ucrânia, em simultâneo, em nome da defesa das Repúblicas russas do Donbass.

Segundo os representantes da Procuradoria da República Popular de Donetsk, as suas baixas foram de 4.729 pessoas mortas, incluindo 81 crianças. Em 2018, ainda se contabilizavam mais 162 pessoas mortas (das quais 18 civis, incluindo 5 crianças).“Além 310 pessoas feridas, das quais 108 civis, incluindo duas crianças, feridos”. Faltava apurar o número de prisioneiros e desaparecidos.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) continuaria a atualizar o número de mortos e feridos: “… o número total de vítimas relacionadas com o conflito na Ucrânia... em 40.000-43.000" ,de 14 de abril de 2014 a 31 de janeiro de 2019, dizia então o seu comunicado, incluindo "12.800-13.000 mortos".

Neste mundo onde se diz que a comunicação social transformou a nossa comunidade humana numa aldeia global, a monopolização de agências, rádios, televisões e jornais, redes sociais, permite que uma guerra como foi a guerra civil na Ucrânia entre 2014 e 2021 ou como aquela que devasta o Iémen,  indefeso face à intervenção do moderno exército da Arábia Saudita, armado pela industria militar do ocidente, e das forças armadas dos EUA e dos Emiratos Árabes Unidos, passem despercebidas. O Centro Regional de Informação das Nações Unidas (UNRIC) para a Europa denuncia em vão, a sua voz fica pelos rodapés e desaparece no caos da propaganda: “Iémen, a maior crise humanitária do mundo”. Cerca de 20 milhões de pessoas no Iémen precisam de apoio humanitário. Mais de 16 milhões sofrem de insegurança alimentar e 5 milhões está em risco de morrer à fome, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). As crianças iemenitas crescem em condições delicadas e sofrem com a escassez alimentar, assim como com o fraco acesso à educação que condiciona o seu futuro. 360 mil crianças com menos de 5 anos sofrem de malnutrição aguda e 30 mil morrem por falta de acesso a cuidados de saúde.”

Comparemos as perdas humanas da guerra civil  com as desta  guerra de invasão da Ucrânia, não para as apoucar, mas para compreender a dimensão trágia daquela outra guerra, cuja dimensão nos foi sonegada, por todos os que hoje sobem à ribalta para proclamar solidariedade e direitos humanos: Pelo menos 1.480 civis ucranianos morreram desde o começo da invasão russa, segundo os últimos dados do escritório do Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU, que contabiliza também 2.195 feridos (06.04.2022). Entre os mortos há 22 raparigas e 40 rapazes, assim como 61 crianças. Entre os feridos, 43 raparigas e 40 rapazes, e há outras 100 crianças feridas. Considerando que estes números deveriam estar abaixo da realidade.

Mas perguntam, os que que partilham o sofrimento das vítimas da guerra (e só temos um lado da realidade nas televisões, ou nenhum), se não fornecermos armas e escalarmos sanções, quem e como se pode alcançar a paz?

Podem os EUA e a NATO, declarando que aceitam a neutralidade da Ucrânia e pode a  Rússia, aceitando que vai confinar as suas tropas nas fronteiras históricas do Donbass.

Podem as Nações Unidas, como um bloco, elaborando uma resolução que  garanta a defesa da Ucrânia, pela força armada se necessário.

Podem, como condição do cessar-fogo, os governos eleitos da Ucrânia e da Rússia, ao abrigo de todas as interferências externas, restabelecendo no interior dos seus países os direitos democráticos fundamentais (recordemos que Zelensky manteve a proibição do Partido Comunista da Ucrânia e ilegalizou recentemente, acusando-os de pró-russos, 14 partidos da oposição de esquerda  e o governo de Putin proibiu as manifestações contra a guerra)  

Negociando, já sem a força das armas,  todas as questões que fraturaram a integridade do país, entre ucranianos, ucranianos russos, ucranianos polacos, ucranianos romenos, ucranianos gregos…que se viram proibidos de usar a sua língua mãe, depois do golpe militar e que os conduziram à guerra civil em 2014/2015. Negociando sobretudo o modelo de relação entre as Repúblicas do Donbass e as restantes províncias ucranianas_ federativo, de associação, de cooperação, extensível à Crimeia?

Pode a União Europeia, desescalando as sanções e cortando o passo aos lóbis da Indústria Militar, dos combustíveis fósseis e do nuclear, reorientando o investimento para conter a inflação, a falência das empresas, o desemprego crescente, as pandemias, a crise ambiental…e oferecendo à Ucrânia apoio financeiro e não empréstimos, investimentos na reconstrução e não em armamento e a entrada na União Europeia, já! Já, contra os Putin, os Biden, os Borrel…

Não nos invoquem as regras e regulamentos da UE, quando, para aplicar a política de austeridade sem base em nenhum dos tratados, impuseram tutelas neocoloniais, da Troika  e do governo sombra dos ministros das finanças, violaram grosseiramente a soberania dos países dependentes dos empréstimos leoninos_ a autonomia do orçamento nacional é o pilar essencial do estado democrático moderno e da soberania e, desde a Venezuela ao Iraque, à Síria, à Líbia e agora à Rússia, violando o direito internacional, os tratados comerciais e desportivos, tomaram conta de largas parcelas do tesouro de outros países, confiados à banca internacional, confiscando ouro, obras de arte, e até o contraditório das notícias,  descriminando russos paraolímpicos, cientistas, encerrando canais de TV e jornais (desrespeitando assim vários artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem)….para repartir entre as vossas oligarquias o botim de guerra, vocês, que são quem faz as regras na União, com um parlamento que não vos escrutina nem vos teme!

Passem por cima da burocracia que criaram e onde reinam e ofereçam à Ucrânia um tratado decente para recuperar a sua  economia devastada e não um acordo negreiro, que o desgraçado presidente derrubado a golpe de estado teve de rejeitar e constituiu o pretexto para a subversão do seu mandato…e para a guerra civil, que agora ameaça a estabilidade e a paz do mundo.

Se não seguirdes esse caminho, a recessão que já ameaçava a Alemanha antes da pandemia e a recessão que o seu banco central prevê para os EUA em 2023, arrastarão o mundo, com a força destrutiva das vagas cruzadas, para a crise global e o empobrecimento _ inflação, carestia, escassez de matérias-primas e mercadorias, declínio do turismo, falta de pão e cerais nos países do Norte de África e do Médio Oriente, carência de fertilizantes nas Américas, que se abaterá  sobretudo sobre os povos e nações mais pobres e abalará as democracias.

A corrida louca dos cavaleiros do apocalipse recomeçou e agora não apenas para além das barreiras oceânicas, até ao próprio espaço sideral,  nenhum país ficará a salvo do seu Armagedão:

A União Europeia já definira, antes da guerra (3 de fevereiro) que certos projetos de gás natural e energia nuclear poderão ser considerados” verdes” , alegando-se então que  assim se garantiria uma transição sem sobressaltos de cortes de energia para uma economia de baixo carbono. A guerra juntou-lhe um novo argumento, pôr fim à dependência do gás russo, enquanto se  abre o mercado europeu ao gás extraído nos EUA pelo processo de fracking, uma técnica altamente poluente e que multiplicará os seus custos.

“ Os países podem ficar tão consumidos pela lacuna imediata no fornecimento de combustível fóssil que negligenciem ou rebaixem as políticas para cortar o uso de combustível fóssil , alerta o Secretário-geral das Nações Unidas. "Isso é loucura."

Somente no ano passado, as emissões globais de CO2 relacionadas com a energia cresceram 6% “para os níveis mais altos da história”, disse Guterres, enquanto as emissões de carvão aumentaram “para recordes”. 

Com o planeta a aquecer até 1,2 graus e onde os desastres climáticos forçaram 30 milhões a fugir de suas casas, Guterres alertou: “ Estamos sonâmbulos para a catástrofe climática”. 

Em declaração conjunta (5.abril.2022), os governos dos Estados Unidos, Austrália e Reino Unido anunciaram a assinatura de um protocolo de cooperação no desenvolvimento de armamentos hipersônicos e tecnologia cibernética.  O tratado segue-se à constituição de uma nova aliança no Pacífico, que não inclui o RU mas integra o Japão, a aliança Aukus, lançada em setembro de 2021, que alega que pretende “combater a influência da China na região” e inclui o desenvolvimento de armas e equipamentos nucleares, já prometidos à Austrália, mas que a Constituição Japonesa proíbe, tal como não permite a participação do seu país em pactos militares ofensivos.

O embaixador chinês na ONU, Zhang Jun, alertou para uma escalada de tensão despropositada com o Ocidente, comparando a situação com a guerra na Ucrânia. “Qualquer um que não queira ver repetir-se a crise ucraniana, deve abster-se de fazer coisas que possam levar outras partes do mundo a uma crise como esta“....

O comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, disse que um aumento para 2% do PIB nos Estados-membros das despesas com a defesa se pode traduzir em mais 65 mil milhões de euros anualmente para este setor. A Finlândia, segue pelo mesmo caminho,  vai aumentar o orçamento do setor da defesa em 40% até 2026, na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, anunciou o ministro da tutela, numa altura em que o país considera aderir à NATO, tal como a Suécia…Mas não foi a sua neutralidade que lhe garantiu a integridade e a paz, mesmo nas piores crises da Guerra Fria!

E onde ficam as promessas de vacinar os países em desenvolvimento e dotar o COVAX dos recursos que tardavam (apenas 10% da população dos países pobres estava vacinada, dizia o coordenador do COVAX, Durão Barroso)? E as promessas de investir em África, mais e melhor que a China, resultado da última cimeira?

Enfim, porque convocamos o espírito de Chernobyl: O desastre de Chernobyl foi um acidente nuclear que ocorreu em 26 de abril de 1986 com a explosão do reator nº 4 da Central Nuclear de Chernobyl, Ucrânia. O sarcófago protetor só seria concluído em dezembro de 1986. O material radioativo contaminou não apenas aquele país, mas também a Rússia e a Bielorrússia, atingiu o Norte e o Sul da Europa, provocou a curto e médio prazo milhares de mortos por cancro e outras doenças que passaram para as novas gerações… mas a tragédia teria sido incomensurável, para a Ucrânia, a Europa e o mundo, se os 530.000 “liquidadores”, provenientes de toda a URSS, não tivessem exposto as suas vidas e sacrificado a sua saúde para conter o desastre, como “irmãos dos ucranianos”.

 

Fontes:

https://www.poder360.com.br/internacional/australia-eua-e-reino-unido-vao-compartilhar-armas-hipersonicas/

https://www.dn.pt/internacional/eua-vai-doar-mais-2715-milhoes-de-euros-em-ajuda-militar-a-ucrania-14736510.html

https://www.dn.pt/internacional/eua-vai-doar-mais-2715-milhoes-de-euros-em-ajuda-militar-a-ucrania-14736510.html

https://tass.com/politics/1434131?fbclid=IwAR2bVcw2rBY0mypvjcTgPIaLJFFjs2akN8eYjPeywzRNRvbLIpNxo6tlSBs&utm_source=facebook.com&utm_medium=referral&utm_campaign=facebook.com&utm_referrer=facebook.com

https://sicnoticias.pt/mundo/conflito-russia-ucrania/turquia-diz-que-russia-e-ucrania-estao-perto-de-um-acordo/

https://russiaeu.ru/en/news/russian-defence-ministry-statement-situation-bucha-kiev-region?fbclid=IwAR3WMO2shNLJqZvTsejciykCCWdkc3mD-a4jghw96-8QrRGEReqYB15SKkk

https://eng.ombudsman-dnr.ru/dpr-comment-on-un-statistics-on-victims-in-donbass/

https://unric.org/pt/iemen-a-maior-crise-humanitaria-do-mundo/

https://www.efe.com/efe/portugal/mundo/onu-guerra-na-ucrania-ja-causou-pelo-menos-1-480-baixas-civis/50000444-4778106

https://www.rudaw.net/english/world/16032022

 


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