Ajuda militar ou negócio?
A resposta a esta pergunta foi-me
dada pelo Conselho da União Europeia (UE), que aprovou dia 23 de março, ao
abrigo do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, o financiamento de mil
milhões de euros às “capacidades e resiliência das forças armadas ucranianas”.
(é notável o nome escolhido para o mecanismo)
Quais são as condições deste negócio de financiamento e o valor dos juros? É um segredo aferrolhado nas chancelarias. Portanto, se bem entendi, a UE age como agente comercial das indústrias de armamento europeias.
Essas empresas das Indústrias
Militares europeias, são as mesmas que continuaram a vender armas à Rússia, depois
do início da guerra civil e do embargo de 2014: a França vendeu 152 milhões de
euros de equipamento militar à Rússia, a
Alemanha exportou 121,8 milhões de euros, a Itália vendeu 22 milhões de
euros, a Bulgária, Áustria…num total de 10 países da UE e de 346 milhões de euros!
Comparando o volume de negócios,
346 milhões em cinco anos de paz e 1.000 milhões em apenas algumas semanas de
guerra, ficamos a saber a que ídolo se dirigem as preces dos seus acionistas e
que discurso político serve os seus interesses: escalar, em nome da ajuda,
multiplicar negócios e lucros, em nome da defesa da Ucrânia!
“A assistência europeia, com
duração prevista de 12 meses, visa financiar o fornecimento de equipamento e de
materiais como proteção pessoal, kits de primeiros socorros e combustível e
ainda equipamento e plataformas militares, concebidos para fornecer força letal
para fins defensivos.”
“Sim, houve acordo dos ministros
dos Negócios Estrangeiros para o reforço do apoio em equipamento militar à
Ucrânia através do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz”, confirmou o ex-ministro
Augusto Santos Silva aos jornalistas no final do Conselho.
A líder da Comissão Europeia,
Ursula von der Leyen, e o Presidente norte-americano, Joe Biden, em declaração
conjunta (24 de março), afirmaram que os EUA estão dispostos a fornecer 900
milhões de euros, em assistência humanitária e a UE 550 milhões de euros".
O Parlamento Europeu deu (6 de
março) luz verde ao desembolso imediato de mais de 3,4 mil milhões de euros
para os Estados-membros da União Europeia (UE) que acolhem refugiados em fuga
da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Comparem os números e reflitam
comigo nas suas evidências políticas. À ajuda aos países de acolhimento dos
refugiados, uma medida de solidariedade indispensável e inquestionável, não
corresponde uma ajuda proporcional humanitária para a Ucrânia. E, afinal, a
denominada ajuda militar, representa um endividamento da martirizada Ucrânia
aos seus financiadores da UE em dobro do valor da ajuda humanitária ( quem são
as entidades que vão receber as prestações e juros, que estão por detrás da
sigla UE?)
Pelo menos 14 nações já enviaram
equipamentos militares diretamente para a Ucrânia. A Alemanha, Suécia e
Finlândia, Reino Unido, Austrália, Dinamarca, Estônia, Eslovénia, entre outros. O preço a pagar é desconhecido.
E os EUA?
A democracia
americana, refém do complexo militar-industrial
O seu presidente autorizou novo
apoio militar de € 200 milhões para a Ucrânia
A decisão eleva o total do apoio
dos EUA fornecido desde o golpe militar na Ucrânia de 2014 até janeiro de 2021 para
€1.200 milhões. crescendo com a guerra até
€ 2.931 milhões, acrescidos recentemente de mais 310 milhões.
O armamento que está a ser enviado
resulta de transferências diretas do Departamento de Defesa dos Estados
Unidos para o exército ucraniano, incluindo
sistemas de defesa antiaérea e sistemas antitanque. drones, sistemas de
comunicação e de satélites. Tal significa que este armamento foi previamente
comprado pelo governo americano ao complexo militar industrial do seu país.
Neste período de guerra, o valor do armamento soma 2.130 € milhões, contraposto
aos 900 milhões prometidos em ajuda humanitária.
A 9 de março, o governos dos EUA
anunciou que o pacote de ajudas
militares e humanitárias aos países do leste europeu se elevava a €12.800 milhões. Entretanto, no que foi um
revés para o Presidente Biden e democratas, a Câmara dos Representantes retirou
os €14.600 milhões do pacote para o combate ao Covid-19. Os deputados do
Partido Republicano e os deputados eleitos pelo Partido Democrático que votam
ao seu lado, trocaram o investimento na saúde pública pelo apoio às indústrias
da guerra!
O presidente americano prepara-se para fazer aprovar pelo Senado um novo financiamento que eleva os valores envolvidos a 33.000 milhões.
Não são reveladas as
contrapartidas exigidas à Ucrânia. Mas o discurso oficial dos EUA proclama agora
as derrotas e perdas colossais da Rússia e a possibilidade da Ucrânia vencer a
guerra!? Mas, o que será a vitória?
Do negócio da
guerra, ao negócio da reconstrução
São americanas as cinco maiores
empresas da indústria de guerra: Lockheed Martin, Raytheon, General Dynamics,
Boeing, Northrop Grumman. Durante a guerra no Afeganistão receberam contratos
do governo no valor de 2,02 biliões de dólares. Constituem lobbies tão
poderosos que chegam a absorver 1/3 do orçamento do Pentágono. Graças à sua
influência o orçamento militar dos EUA supera várias vezes os orçamentos
militares de qualquer outro país e, nos últimos cinco anos, as vendas de armamento
ao estrangeiro cresceram 14%, enquanto globalmente baixavam 4,6%.. Desde que a
tensão aumentou na Ucrânia, no final de 2021, a Lockheed Martin aumentou os
seus preços de venda de material militar 28,83%, tal como a Raytheon, 17,95%, a
Northrop Grumman, 27,88 %...
Consequentemente, os Estados
Unidos ofereceram até €916 milhões em garantias de empréstimos à Ucrânia, para
ajudar o país a enfrentar a ameaça de guerra com a Rússia - anunciara o
secretário de Estado americano, Antony Blinken,
em 14 de fevereiro.
O Banco Mundial aprovou em 8 de março,
já em plena guerra, um pacote de 535
milhões em empréstimos, nomeado Financiamento de Recuperação da Emergência
Econômica na Ucrânia (Free Ukraine, em inglês).
Em paralelo, foi criado um fundo
fiduciário que continuará a receber doações em nome da Ucrânia, constituído com
um valor inicial 123 milhões, provenientes da Grã-Bretanha, Dinamarca, Letônia,
Lituânia e Islândia.
Em comunicado, a instituição
afirmou que o pacote inclui um suplemento de empréstimo de €321 milhões para
reforçar o empréstimo anterior do Banco Mundial, acrescidos, entretanto, com €127 milhões, através de garantias da Holanda
e da Suécia.
O Japão também está a fornecer
financiamento paralelo no valor de €123
milhões.
"O Banco Mundial está ao
lado do povo da Ucrânia e da região. Este é o primeiro de muitos passos que
estamos tomando para ajudar a lidar com os impactos humanos e econômicos de
longo alcance desta crise”, afirmou no comunicado o presidente da instituição, David
Malpass. Só não disse, o preço dos juros!
Mas todos estes valores são cada
vez mais irrisórios, à medida que a guerra se prolonga.
Eis como se prepara já o negócio
da reconstrução da devastada Ucrânia, para quem as doações se contam pela
centena e os empréstimos com juros, por milhões. Se pensarmos na tragédia
recente de outra invasão, a do Iraque, a diferença parece estar em que as
empresas e instituições beneficiárias, não pertencem ao país invasor que fez a
guerra, mas aos países que afirmam ajudar a Ucrânia vendendo, primeiro armas à Rússia
e depois, com maior lucro, à martirizada Ucrânia, já em guerra.
O negócio prosperará, quando mais
longa a guerra for e a nossa comum cegueira politica!
Reflexão sobre a paz
e a barbárie de Bucha
As delegações russa e ucraniana tinham
realizado outra ronda de negociações em Istambul em 29 de março.
O chefe da delegação russa,
Vladimir Medinsky, disse, após a reunião, que Kiev apresentou propostas por
escrito para um acordo entre as partes.
Medinsky afirmou que Moscovo
consideraria as propostas ucranianas e apresentaria a sua proposta em conformidade,
enquanto as tropas russas reduziriam as suas atividades nas áreas de Kiev e
Chernigov. E cumpriu.
Além disso, segundo ele, a Rússia
sugeriu que uma reunião entre os presidentes Vladimir Putin da Rússia e
Vladimir Zelensky da Ucrânia seja realizada simultaneamente com a assinatura de
um tratado de paz pelos chanceleres dos dois países.
Leram bem. Um tratado de paz
estava a ser redigido. Mas ignoramos
tudo isto, porque os canais de comunicação social russa, de fácil acesso, nos
estão vedados. Ou melhor: o jornal português DN exibia a 2 de abril o seguinte
título: “Ucrânia diz que Moscovo concordou com as propostas ucranianas. Reunião
entre Putin e Zelensky pode acontecer na Turquia” Mas a propaganda apagou-as
num ápice. Essas declarações vieram a público de imediato na Turquia e correram
a informação mundial que não se transformou em mera propaganda. Imediatamente
foram submersas pela notícia de Bucha.
A descoberta da
verdade e o dever de questionar a propaganda política
Estes factos, são consentâneos
com a acusação de que um exército, altamente disciplinado, e de comando único,
deixou para trás uma pilha monstruosa de cadáveres martirizados, sem cuidado de
os fazer desaparecer ou enterrar, deixando-os expostos, exibindo as marcas das piores
sevícias e torturas?
E, neste contexto político, a
suspensão da Rússia da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, por
maioria e numa votação que dividiu este órgão, a condenação unilateral dos
massacres, sem uma investigação independente que abranja os dois lados da
contenda, tal como a escalada de sanções já anunciadas pela UE e os EUA, são, um contributo para o
apaziguamento ou vão alimentar os falcões, os negócios abutre e os extremistas,
a quem a guerra serve!?
Logo depois desta penalização,
faz sentido que a Rússia continue a bombardear alvos civis, como a estação de
Donetsk, usando ainda por cima um modelo de mísseis de fabrico ucraniano? O
estado maior e o núcleo principal do regimento Azov, que está refugiado dentro
do perímetro civil de Mariupol e assiste agora à saída em massa dos últimos
refugiados, não terá nenhuma responsabilidade nesta agressão, face à
ofensiva final do exército russo para recuperar as fonteiras históricas das
províncias do Donbass (que eram as que vigoravam antes do golpe de estado de
2014)?
Do golpe militar
(2014), à ofensiva dos golpistas contra o Donbass e à guerra civil
Da guerra civil,
de alta e baixa intensidade (2014-2021), à invasão russa e à escalada de sanções
Regressar ao
espírito de Chernobyl
As manifestações contra o golpe
de estado em várias cidades do leste e do sul da Ucrânia, incluíram não penas
Donetsk e Luhansk, mas também Kharkiv e Odessa, mas nestas últimas foram
rapidamente reprimidas. A guerra civil, envolveu então o governo golpista e os
governos seguintes, entre 2014 e 2021, colocando em confronto os ucranianos apoiantes
desses governos e os ucranianos russos das Províncias de Luhansk e Donetsk. ( O partido do presidente atual venceu as eleições em 2019, com 44% dos votos,
mas mais de 51% dos eleitores não votou, como não votaram obviamente os ucranianos
russos do Donbass parcialmente ocupado e sitiado pelo exército ucraniano e os
ucranianos russos da Crimeia, e Sebastopol, que, entretanto, se reintegraram na
Rússia. O governo de Zelensky governa pois com o apoio político de 25% dos
Ucranianos, a mesma percentagem do governo de Putin nas eleições de novembro de
2021).
As Nações Unidas publicaram em 14.06.2016
um relatório onde se pode ler: “Pelo menos 2 mil civis foram mortos e mais de
90% das fatalidades foram causadas por bombardeios indiscriminados em áreas
residenciais, nos dois lados. Mas ninguém foi condenado até o momento…” “Também
foram relatadas execuções de soldados ucranianos ou de elementos de grupos
armados. O governo teria investigado e julgado alguns autores de execuções
sumárias, mas as investigações foram muito lentas ou prolongadas de propósito,
para que os acusados tivessem a chance de escapar da justiça”. O alto-comissário
da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Al
Hussein, declarou então que a prestação de contas é essencial para o alcance da
paz na Ucrânia, inclusive na região leste do país.
De acordo com a missão de monitoramento
da ONU, entre abril de 2014 e o final de 2018, de 12.800 a 13.000 pessoas foram
mortas em Donbass.
Segundo a Comissão de Direitos Humanos
da ONU, 3.300 mortos eram civis, 4.000 mortos eram militares das Forças Armadas
da Ucrânia e 5.500 mortos eram militares das Forças de Defesa das Repúblicas
Populares do Donbass. Cerca de 27 ou 30 mil pessoas ficaram feridas.
No ano do relatório, em 2018, de acordo com estas estatísticas, 55 civis
foram mortos e 224 ficaram feridos em Donbass: uma guerra de baixa intensidade
prosseguia sem tréguas.
A ONU não incluiu aqui nenhuma estatística
de baixas do exército russo, pois este não interveio diretamente no conflito.
Alguns milhares de voluntários e armamento defensivo foram fornecidos por este
país às milícias de Donbass, mas na altura, a superioridade militar estava do
lado do exército ucraniano_ aviação, marinha, sistemas de mísseis, pelo que os
russos ucranianos perderam metade do seu território e a capital administrativa
instalada em Mariupol e viram as suas cidades arrasadas, numa situação equivalente
à atual.
Sobre as tragédias desta guerra fratricida
e brutal, pouco ou nada percecionámos na comunicação social ocidental, ao contrário
do oriente, onde a sua dimensão e impacto na população, criou as condições
políticas para o reconhecimento pela
Rússia das Repúblicas de Luhansk e Donetsk e a invasão da Ucrânia, em simultâneo,
em nome da defesa das Repúblicas russas do Donbass.
Segundo os representantes da Procuradoria
da República Popular de Donetsk, as suas baixas foram de 4.729 pessoas mortas,
incluindo 81 crianças. Em 2018, ainda se contabilizavam mais 162 pessoas mortas
(das quais 18 civis, incluindo 5 crianças).“Além 310 pessoas feridas, das quais
108 civis, incluindo duas crianças, feridos”. Faltava apurar o número de prisioneiros
e desaparecidos.
O Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) continuaria a atualizar o número de
mortos e feridos: “… o número total de vítimas relacionadas com o conflito na
Ucrânia... em 40.000-43.000" ,de 14 de abril de 2014 a 31 de janeiro de
2019, dizia então o seu comunicado, incluindo "12.800-13.000 mortos".
Neste mundo onde se diz que a
comunicação social transformou a nossa comunidade humana numa aldeia global, a monopolização
de agências, rádios, televisões e jornais, redes sociais, permite que uma guerra
como foi a guerra civil na Ucrânia entre 2014 e 2021 ou como aquela que devasta
o Iémen, indefeso face à intervenção do
moderno exército da Arábia Saudita, armado pela industria militar do ocidente, e
das forças armadas dos EUA e dos Emiratos Árabes Unidos, passem despercebidas. O
Centro Regional de Informação das Nações Unidas (UNRIC) para a Europa denuncia
em vão, a sua voz fica pelos rodapés e desaparece no caos da propaganda: “Iémen,
a maior crise humanitária do mundo”. Cerca de 20 milhões de pessoas no Iémen
precisam de apoio humanitário. Mais de 16 milhões sofrem de insegurança
alimentar e 5 milhões está em risco de morrer à fome, de acordo com o
Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários
(OCHA). As crianças iemenitas crescem em condições delicadas e sofrem com a
escassez alimentar, assim como com o fraco acesso à educação que condiciona o
seu futuro. 360 mil crianças com menos de 5 anos sofrem de malnutrição aguda e
30 mil morrem por falta de acesso a cuidados de saúde.”
Comparemos as perdas humanas da
guerra civil com as desta guerra de invasão da Ucrânia, não para as
apoucar, mas para compreender a dimensão trágia daquela outra guerra, cuja
dimensão nos foi sonegada, por todos os que hoje sobem à ribalta para proclamar
solidariedade e direitos humanos: Pelo menos 1.480 civis ucranianos morreram desde
o começo da invasão russa, segundo os últimos dados do escritório do Alto
Comissariado dos Direitos Humanos da ONU, que contabiliza também 2.195 feridos
(06.04.2022). Entre os mortos há 22 raparigas e 40 rapazes, assim como 61
crianças. Entre os feridos, 43 raparigas e 40 rapazes, e há outras 100 crianças
feridas. Considerando que estes números deveriam estar abaixo da realidade.
Mas perguntam, os que que
partilham o sofrimento das vítimas da guerra (e só temos um lado da realidade
nas televisões, ou nenhum), se não fornecermos armas e escalarmos sanções, quem
e como se pode alcançar a paz?
Podem os EUA e a NATO, declarando
que aceitam a neutralidade da Ucrânia e pode a Rússia, aceitando que vai confinar as suas
tropas nas fronteiras históricas do Donbass.
Podem as Nações Unidas, como um
bloco, elaborando uma resolução que
garanta a defesa da Ucrânia, pela força armada se necessário.
Podem, como condição do
cessar-fogo, os governos eleitos da Ucrânia e da Rússia, ao abrigo de todas as
interferências externas, restabelecendo no interior dos seus países os direitos
democráticos fundamentais (recordemos que Zelensky manteve a proibição do
Partido Comunista da Ucrânia e ilegalizou recentemente, acusando-os de
pró-russos, 14 partidos da oposição de esquerda
e o governo de Putin proibiu as manifestações contra a guerra)
Negociando, já sem a força das
armas, todas as questões que fraturaram
a integridade do país, entre ucranianos, ucranianos russos, ucranianos polacos,
ucranianos romenos, ucranianos gregos…que se viram proibidos de usar a sua
língua mãe, depois do golpe militar e que os conduziram à guerra civil em 2014/2015.
Negociando sobretudo o modelo de relação entre as Repúblicas do Donbass e as
restantes províncias ucranianas_ federativo, de associação, de cooperação,
extensível à Crimeia?
Pode a União Europeia, desescalando
as sanções e cortando o passo aos lóbis da Indústria Militar, dos combustíveis
fósseis e do nuclear, reorientando o investimento para conter a inflação, a
falência das empresas, o desemprego crescente, as pandemias, a crise ambiental…e
oferecendo à Ucrânia apoio financeiro e não empréstimos, investimentos na
reconstrução e não em armamento e a entrada na União Europeia, já! Já, contra
os Putin, os Biden, os Borrel…
Não nos invoquem as regras e
regulamentos da UE, quando, para aplicar a política de austeridade sem base em
nenhum dos tratados, impuseram tutelas neocoloniais, da Troika e do governo sombra dos ministros das
finanças, violaram grosseiramente a soberania dos países dependentes dos
empréstimos leoninos_ a autonomia do orçamento nacional é o pilar essencial do
estado democrático moderno e da soberania e, desde a Venezuela ao Iraque, à
Síria, à Líbia e agora à Rússia, violando o direito internacional, os tratados
comerciais e desportivos, tomaram conta de largas parcelas do tesouro de outros
países, confiados à banca internacional, confiscando ouro, obras de arte, e até
o contraditório das notícias, descriminando
russos paraolímpicos, cientistas, encerrando canais de TV e jornais (desrespeitando
assim vários artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem)….para repartir
entre as vossas oligarquias o botim de guerra, vocês, que são quem faz as
regras na União, com um parlamento que não vos escrutina nem vos teme!
Passem por cima da burocracia que
criaram e onde reinam e ofereçam à Ucrânia um tratado decente para recuperar a
sua economia devastada e não um acordo
negreiro, que o desgraçado presidente derrubado a golpe de estado teve de
rejeitar e constituiu o pretexto para a subversão do seu mandato…e para a
guerra civil, que agora ameaça a estabilidade e a paz do mundo.
Se não seguirdes esse caminho, a
recessão que já ameaçava a Alemanha antes da pandemia e a recessão que o seu
banco central prevê para os EUA em 2023, arrastarão o mundo, com a força
destrutiva das vagas cruzadas, para a crise global e o empobrecimento _
inflação, carestia, escassez de matérias-primas e mercadorias, declínio do
turismo, falta de pão e cerais nos países do Norte de África e do Médio
Oriente, carência de fertilizantes nas Américas, que se abaterá sobretudo sobre os povos e nações mais pobres
e abalará as democracias.
A corrida louca dos cavaleiros do
apocalipse recomeçou e agora não apenas para além das barreiras oceânicas, até
ao próprio espaço sideral, nenhum país
ficará a salvo do seu Armagedão:
A União Europeia já definira,
antes da guerra (3 de fevereiro) que certos projetos de gás natural e energia
nuclear poderão ser considerados” verdes” , alegando-se então que assim se garantiria uma transição sem
sobressaltos de cortes de energia para uma economia de baixo carbono. A guerra
juntou-lhe um novo argumento, pôr fim à dependência do gás russo, enquanto
se abre o mercado europeu ao gás
extraído nos EUA pelo processo de fracking, uma técnica altamente poluente e
que multiplicará os seus custos.
“ Os países podem ficar tão
consumidos pela lacuna imediata no fornecimento de combustível fóssil que
negligenciem ou rebaixem as políticas para cortar o uso de combustível fóssil ,
alerta o Secretário-geral das Nações Unidas. "Isso é loucura."
Somente no ano passado, as
emissões globais de CO2 relacionadas com a energia cresceram 6% “para os níveis
mais altos da história”, disse Guterres, enquanto as emissões de carvão
aumentaram “para recordes”.
Com o planeta a aquecer até 1,2
graus e onde os desastres climáticos forçaram 30 milhões a fugir de suas casas,
Guterres alertou: “ Estamos sonâmbulos para a catástrofe climática”.
Em declaração conjunta
(5.abril.2022), os governos dos Estados Unidos, Austrália e Reino Unido
anunciaram a assinatura de um protocolo de cooperação no desenvolvimento de
armamentos hipersônicos e tecnologia cibernética. O tratado segue-se à constituição de uma nova
aliança no Pacífico, que não inclui o RU mas integra o Japão, a aliança Aukus,
lançada em setembro de 2021, que alega que pretende “combater a influência da
China na região” e inclui o desenvolvimento de armas e equipamentos nucleares,
já prometidos à Austrália, mas que a Constituição Japonesa proíbe, tal como não
permite a participação do seu país em pactos militares ofensivos.
O embaixador chinês na ONU, Zhang
Jun, alertou para uma escalada de tensão despropositada com o Ocidente,
comparando a situação com a guerra na Ucrânia. “Qualquer um que não queira ver
repetir-se a crise ucraniana, deve abster-se de fazer coisas que possam levar
outras partes do mundo a uma crise como esta“....
O comissário europeu do Mercado
Interno, Thierry Breton, disse que um aumento para 2% do PIB nos
Estados-membros das despesas com a defesa se pode traduzir em mais 65 mil
milhões de euros anualmente para este setor. A Finlândia, segue pelo mesmo
caminho, vai aumentar o orçamento do
setor da defesa em 40% até 2026, na sequência da invasão da Ucrânia pela
Rússia, anunciou o ministro da tutela, numa altura em que o país considera
aderir à NATO, tal como a Suécia…Mas não foi a sua neutralidade que lhe garantiu a integridade e a paz, mesmo nas piores crises da Guerra Fria!
E onde ficam as promessas de
vacinar os países em desenvolvimento e dotar o COVAX dos recursos que tardavam
(apenas 10% da população dos países pobres estava vacinada, dizia o coordenador
do COVAX, Durão Barroso)? E as promessas de investir em África, mais e melhor
que a China, resultado da última cimeira?
Enfim, porque convocamos o
espírito de Chernobyl: O desastre de Chernobyl foi um acidente nuclear que
ocorreu em 26 de abril de 1986 com a explosão do reator nº 4 da Central Nuclear
de Chernobyl, Ucrânia. O sarcófago protetor só seria concluído em dezembro de
1986. O material radioativo contaminou não apenas aquele país, mas também a
Rússia e a Bielorrússia, atingiu o Norte e o Sul da Europa, provocou a curto e
médio prazo milhares de mortos por cancro e outras doenças que passaram para as
novas gerações… mas a tragédia teria sido incomensurável, para a Ucrânia, a
Europa e o mundo, se os 530.000 “liquidadores”, provenientes de toda a URSS,
não tivessem exposto as suas vidas e sacrificado a sua saúde para conter o
desastre, como “irmãos dos ucranianos”.
Fontes:
https://eng.ombudsman-dnr.ru/dpr-comment-on-un-statistics-on-victims-in-donbass/
https://unric.org/pt/iemen-a-maior-crise-humanitaria-do-mundo/
https://www.rudaw.net/english/world/16032022
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