Desescalar é, em troca do cessar-fogo imediato e das conversações que conduzam ao fim da guerra, e a mútuas cedências para uma paz justa, suspender as sanções e a militarização. A crise sobre a instalação dos mísseis, entre a URSS e os EUA, que colocou o mundo à beira da guerra nuclear, resolveu-se com a sua retirada de Cuba e da Turquia e Itália.
Desescalar é assumir a desilusão e censura à NATO de Zelensky
"Fomos deixados sozinhos para defender o nosso Estado", mas
responder-lhe que a adesão à NATO é guerra e
a defesa da Ucrânia se pode e deve fazer, se necessário no domínio
militar, através das Nações Unidas.
Para a Europa, do Atlântico aos
Urais, desescalar é construir uma
aliança autónoma e dissuasora com as
forças democráticas e da paz, que resistem na Rússia e nos EUA,
reconhecendo-lhes o direto à escolha do seu regime político.
É nesta base política, da defesa
do direito da nação ucraniana a existir como país independente, sob a forma de
uma Républica multinacional, unitária, federalista ou associativa, soberana nas
decisões do povo para escolher o seu regime constitucional, neutral e integrada nas Nações Unidas, que é
possível uma ampla aliança internacional com os povos da Rússia, pôr fim de
imediato à guerra e obrigar Putin a recuar, afastando os riscos do caos
económico e a ameaça da guerra total.
A natureza política do partido de Putin: chauvinista, anticomunista e imperialista
O panorama político da Rússia é vasto e complexo, representado pelos 14
partidos que concorreram às eleições de novembro de 2021. O partido do governo,
Rússia Unida, manteve a liderança nas eleições parlamentares (Duma) com 49,82%,
mas pela primeira vez perdeu a maioria dos votos, o Partido Comunista da Federação Russa (PCRF)
com cerca de 20%. e 96 deputados, tonou-se a principal força da oposição. Votaram
50% dos eleitores.
Neste novo contexto, a estratégia
político-militar que conduziu à invasão da Ucrânia, por iniciativa do partido
de Putin, foi determinada não apenas pelo confronto com a estratégia dos EUA de
fazer avançar a NATO até às fronteiras da Rússia, mas também pelo crescimento
desta oposição interna, sobretudo do PCFR. O seu discurso, instrumento de um novo poder capitalista
oligárquico que repartiu as empresas estatais, assumiu com a invasão um acentuado cariz anticomunista e
imperialista: condenando a criação da URSS, que permitiu fundar a República
Popular da Ucrânia e a integração do Donbass no seu território, obra dos
comunistas em detrimento da Rússia imperial, segundo Putin.
O que terá precipitado a invasão em
maior escala? Citemos primeiro o major-general Carlos Branco: “Dirigentes e
analistas políticos russos – incluindo reformistas liberais – têm vindo ao
longo dos anos a avisar, que tornar a Ucrânia ou a Geórgia clientes
securitários dos EUA ou membros da NATO seria cruzar uma linha vermelha, que
resultaria um perigo de guerra…advertências ecoadas por Kennan, Kissinger...”
O partido de Putin, avaliou a capacidade militar e a resiliência
económica e financeira da Rússia, como capaz de enfrentar as sanções económicas
e qualquer ameaça militar, e avançou para pôr fim pela força à expansão da NATO
para leste, como já o fizera, numa escala menor, na crise da Geórgia.
Transformou, ao mesmo tempo, esta invasão numa arma contra o PCFR e a oposição,
com o objetivo de os comprometer e dividir.
O parlamento russo (DUMA) apoiou por unanimidade o reconhecimento e
defesa das Repúblicas independentes, mas foi ignorado na decisão de invadir a
Ucrânia. Como o Senado é controlado pelo
Partido de Putin, e detém o poder
constitucional de autorizar as forças armadas a intervir no estrangeiro, o
presidente reuniu-o à porta fechada e obteve o seu apoio.
Mas a invasão resultou num
paradoxo político: serviu a doutrina intervencionista dos governos americanos,
proporcionando-lhe uma vitória estratégica. Os seus teóricos (Mackinder, Kennan,
Spykman, Brzezinski): para manter a hegemonia dos EUA preconizam desde há mais
de um século a necessidade de controlar a Eurásia e impedir a Alemanha e a Rússia de
contruírem um espaço comum de desenvolvimento económico, que lhes
permitiria construir também o seu poder militar autónomo.
A escalada
armamentista e das sanções conduz à crise global e à guerra total
Na origem recente do conflito há
dois problemas políticos de natureza geoestratégica, que envolvem os EUA e a
Rússia e dois povos em sofrimento, que Putin explorou a ser favor para aumentar
a sua base social de apoio. Para a perder, estes dois problemas têm de ser
resolvidos definitivamente pela negociação:
Primeiro- A iniciativa (2008) dos
EUA de integrar a Ucrânia da NATO, como pivô geopolítico ( a estratégia
intervencionista referida) para isolar a Rússia e reduzi-la ao estatuto de país
menor.
Segundo_ A questão do Donbass_
habitada historicamente por 8 milhões de russos, integrada na Ucrânia com a fundação URSS, no início dos anos 20 do século passado, que, ao não aceitar o governo imposto
pelo golpe militar de 2014, sofreu uma ofensiva militar conduzida pelos
batalhões Azov, de tendência neonazi, um dos instrumentos desse golpe, depois integrados
na Guarda Nacional ucraniana.
A Crimeia, após referendo, regressou
à Rússia, mas as autoproclamadas Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk, continuaram a viver em
estado de guerra, reduzidas a metade do território e, na outra metade, a sua
população viu proibido o ensino do russo nas escolas, também banido dos
serviços públicos. As minorias romena e
polaca sofreram a mesma provação. A ofensiva e o cerco dos batalhões Azov que
continuou, provocaram mais de 5 mil mortos e 10.000 feridos, milhões de deslocados
e refugiados, sem apoio nem solidariedade internacional, cidades e aldeias
bombardadas, e a sua economia, que era a base industrial da Ucrânia, devastada.
“…o presidente foi derrubado em
2014 através de um golpe de estado orquestrado por Washington, perpetrado por
grupos paramilitares neonazistas, colocando no poder grupos nacionalistas
ucranianos anti russos”, reconhece o Major General Carlos Branco, um oficial de
topo que serviu na NATO e acompanhou os mais recentes conflitos. A União
Europeia reconheceu o novo poder golpista.
O partido político de Putin, justificava
então a sua política hostil ao governo pró-EUA, com base nestes factos
históricos e usou-a para recuperar a sua influência política. na Rússia
Os acordos de Minsk (2014/2015) suspenderam
temporariamente a guerra contra os russos da Ucrânia. O atual presidente, apoiado nos seus
princípios, venceu as eleições com base num programa de pacificação e
unificação da nação ucraniana_ “Vocês conhecem as nossas principais
prioridades: acabar com a guerra, trazer de volta os prisioneiros e derrotar a
corrupção”, proclamou, e o seu partido obteve 44% dos votos nas legislativas de
2019. No entanto, mais de 50% da população ucraniana já não votou.
O governo não realizou esse
programa. E a opção de adesão à NATO prevaleceu.
O Partido de Putin provocou a
escalada atual. A UE respondeu lançando
a economia no mar ignoto e abismal de
sanções nunca experimentadas, sem lhes
associar uma solução política.
Bombardear indiscriminadamente a
povo russo com sanções e em todos os domínios do intercâmbio internacional, é
confundir o partido de Putin com a maioria do povo russo, que já saiu à rua
contra a guerra. Putin agradece, aos falcões políticos, que oferecem/vendem ao
povo da Ucrânia as armas mais letais e a
vaga promessa de entrada na NATO, mas, ao pedido de adesão à UE, respondem com o
cinismo dos burocratas: ”Não está na agenda!? Então, abram-na, que, obviamente,
o processo tardará.
Mas, sobretudo, deviam ter ouvido
os investigadores militares, que estudam a guerra, para ganhar a paz.
O espectro da crise global e da guerra total paira agora sobre o mundo:
“O Banco Central da Rússia, subiu de 10,5 para 20 %, as taxas de juro…. A taxa de câmbio do dólar disparou para 140 rublos por um dólar, o euro - para 130 rublos por euro… A Bolsa de Moscovo suspendeu temporariamente a sua atividade… Sob o novo decreto, os exportadores russos são obrigados a realizar 80% das receitas em divisas… Os residentes estão proibidos de realizar operações de câmbio para fornecer moeda estrangeira a não residentes… milhares de mercenários estrangeiros de empresas militares privadas já chegaram à Ucrânia… Cotação do trigo (Milling Wheat) para entrega em março estava a subir 17,3% para os 334,75 euros por tonelada métrica, segundo dados da Euronext… Preço do gás natural sobe 26% e petróleo agrava valorização…Depois de uma subida de 4%, o Brent, a referência para a Europa, subia 5% para 102,90 dólares por barril, o que corresponde a um máximo desde 2012. Já o crude WTI, que é referência para os Estados Unidos, subia para 5%, negociando nos 96,20 dólares…As bolsas europeias continuam a negociar em queda, com as maiores desvalorizações a acontecer na praça de Paris (-2,86%), mas também na alemã (-2,20%), ou na de Londres (-1,1%)…A bolsa de Lisboa apresenta a menor queda europeia, a cair 0,17%, depois de ter iniciado a sessão a perde 1,7%.... Nos Estados Unidos, o índice bolsista Dow Jones caía 1,29%, o índice eletrónico Nasdaq perdia 0,59%, e o S&P 500 deslizava 0,98%... A Alemanha, enviou mísseis antitanque e terra-ar. A União Europeia, comprometeu-se a enviar equipamentos letais no valor de 450 milhões de euros. Até o pequeno Luxemburgo está a enviar jipes, tendas e mísseis antitanque NLAW...Putin colocou as forças nucleares em alerta máximo…
...Google, Facebook, Instagram...juntam-se ao boicote e proibição da informação oficial russa, decretada pelo Conselho da União Europeia....Diante das ameaças de desistências e da crescente animosidade na Vila dos Atletas, os organizadores (Comité Olímpico) dos Jogos Paralímpicos de Inverno na quinta-feira reverteram o curso e expulsaram os atletas da Rússia e da Bielorrússia...
Palavras de Luto
As críticas do presidente
ucraniano à recente cimeira da NATO, que recusou o seu apelo de intervenção
militar da aliança no espaço aéreo da Ucrânia, criando uma zona de exclusão da
aviação russa, são extremamente duras e traduzem o reconhecimento de que o
governo ucraniano foi conduzido a esta situação poe aliados poderosos
(NATO/EUA), que não mediram corretamente
o perigo de conflito com a Rússia.
A NATO não é uma organização
democrática, nem colegial entre pares ou sequer de defesa. Antes, mas sobretudo
após a queda da URSS, transformou-se no braço armado e numa capa das
intervenções militares dos EUA. O seu Secretário-Geral, que é uma figura
decorativa, sem poderes reais, respondeu
ao presidente ucraniano que ajudar a Ucrânia a proteger o seu espaço aéreo
exigiria que as forças da NATO atacassem aviões russos, o que poderia
resultar numa “guerra global na Europa,
envolvendo muitos outros países”. “Nós não fazemos parte deste conflito”, disse
ele. “Temos a responsabilidade, como aliados da NATO, de impedir que esta
guerra se escale além da Ucrânia, porque isso seria ainda mais perigoso, mais
devastador e causaria ainda mais sofrimento humano”. Pela sua voz, falou o
governo dos EUA
A resposta do presidente
ucraniano retoma, mas vai politicamente mais longe, a proclamação de desilusão
e censura à NATO, do dia da invasão:
"Fomos deixados sozinhos para defender o nosso Estado", "Quem está pronto para lutar ao nosso
lado? Não vejo ninguém. Quem está disposto a dar à Ucrânia uma garantia de
adesão à NATO? Todos têm medo". Agora o presidente ucraniano
coresponsabiliza a NATO pela morte trágica dos seus soldados e civis: “…hoje
(05/03) houve uma cimeira da NATO, uma cimeira fraca, uma cimeira confusa…”.
Acrescentando que “...todas as pessoas que morrerem deste dia em diante também
morrerão por sua causa, por sua fraqueza, por sua falta de unidade”.
Em paralelo, é o próprio
presidente dos EUA que anuncia, em seguida, que está a negociar com a Polónia e
a Roménia a cedência dos seus jatos à Ucrânia, arriscando de novo estender o conflito a mais nações, como já o
fizera antes ao pressionar os países da União Europeia para fornecer/vender
mais armas ofensivas à Ucrânia, o que servirá apenas para que mais ucranianos e russos
se façam matar. O resultado é de duvidoso valor moral e militar.
A NATO, os EUA, podiam desescalar
o conflito com uma simples declaração política: anunciar que aceitam resolver
através da negociação o diferendo sobre a sua expansão a leste!
A sua posição política atual equivale a
uma condenação à morte para milhares de seres humanos: “Lutem e morram
sozinhos, com as armas que vos vendemos/entregamos”.
Inclino-me respeitosamente, de
luto, perante o sacrifício supremo do
povo ucraniano, ao resistir ao invasor. Inclino-me perante a morte dos jovens soldados
russos, mobilizados para defender o Donbass, mas atirados traiçoeiramente para
uma guerra fratricida.
Tirem vocês, os meus concidadãos
de Portugal e do mundo, que leram estas fracas palavras, as consequências
políticas.
Um vento de loucura coletiva, empurra o espectro da crise global e da guerra total para o coração do Homem!
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