A liderança política de Rui Rio, que
se demarcou da política de “ir mais longe que a Troika “do seu antecessor, conteve
a queda eleitoral do PSD.
No leste europeu e mesmo no
centro da Europa, os partidos socialistas e social democratas, conservadores e liberais. que foram os instrumentos
dessa política austeritária, entraram rapidamente em colapso. Oriundos destes
partidos em decomposição, proliferaram novos grupos e partidos de extrema direita,
com discursos antiglobalização uns, outros retomando a propaganda primária do
anti socialismo e do anti comunismo.
Em países como a Alemanha e a
França, os partidos conservadores da direita democrática recusaram qualquer
aliança com os partidos de extrema-direita e o seu crescimento foi sustido.
Na vizinha Espanha, para
controlar o governo das regiões autónomas da Andaluzia ou de Madrid, o PP e os
Ciudadanos ( a versão neoliberal do primeiro), procuraram o apoio do VOX e este
partido cresceu nas eleições legislativas, à custa do enfraquecimento da
direita democrática. Mas nas últimas eleições legislativas, o conjunto dos três
partidos de direita perdeu 900.000 votos e o PSOE 1.200.000. O Podemos aliado à
Esquerda Unida (comunistas e outros socialistas), conservou a sua votação,
agora repartida com uma sua dissidência e pode constituir uma maioria parlamentar de governo com o PSOE, que antes a
recusara.
Olhando para a União Europeia,
podemos reconhecer no Syriza grego, a primeira forma orgânica de uma nova
aliança entre socialistas, comunistas dissidentes e outros democratas, enquanto
alternativa á política neoliberal de socialistas, social-democratas e
democratas cristãos_ que deixaram de o ser na prática e ao processo de deriva
autoritária das democracias liberais. A derrota temporária do Syriza deve-se
sobretudo á violência das medidas austeritárias que lhe foram impostas pela Troika,
a que sempre resistiu e que se abateram sobre o povo grego.
Tal caminho foi retomado em
Portugal pela aliança entre a direção política do PS de António Costa, do PCP e do BE. Uma aliança
política em torno de um programa mínimo e, nesta base, sólida e não com a precaridade de uma geringonça, fato político que os analistas da
direita democrática continuam a não compreender, confundindo, como o fez Pulido
Valente e depois Portas, os seus desejos com a realidade e agora, Rio.
Rui Rio abriu a arca de todos os
demónios ao estabelecer um pacto político com um partido que tem como objetivo
a subversão da constituição democrática nascida da revolução dos cravos. E o
grupo dirigente que lidera, parece não entender onde está o perigo para os
regimes democráticos e a sobrevivência do seu próprio partido. As comparações
entre a extrema direita portuguesa, uma realidade transeuropeia nascida do
falhanço das políticas neoliberais da globalização, com a extrema esquerda
portuguesa; que já não existe, representam verdadeiras falácias. PCP e BE são
partidos constitucionalistas, no seu ideal programático e na prática política.
A extrema esquerda portuguesa há muito que se consumiu na extinção do PRP/BR; as
proclamações radicais que surgem hoje nos espaços virtuais da NET e em atos
isolados de vandalismo, não têm, por ora, expressão social e política.
O ataque ao Congresso do PCP,
iniciado por Rui Rio, demonstra que a aliança com o Chega não foi um ato falhado.
A direita democrática portuguesa já não compreende a realidade nacional e internacional. A comparação entre o ato político
fugaz de um Congresso e o funcionamento regular da economia é do domínio da
demagogia primária usada pelo Chega. Ainda mais depois de o PCP ter demonstrado
como se pode salvaguardar a vida política e cultural em tempos de pandemia, com
a forma exemplar como organizou a Festa do Avante, tal como o fez a Igreja
católica em Fátima e o fizeram os organizadores das Feiras do Livro.
Enganam-se os políticos de todos
os quadrantes quando atribuem à aliança do PS, BE e PCP a causa do enfraquecimento
eleitoral dos seus partidos.
São demagógicas as críticas ao
orçamento para 2021 que lhe atribuem uma natureza política socialista e
esquerdista: estamos em presença de medidas mínimas para tentar salvar uma
economia capitalista dependente, uma massa enorme de empresas pequenas e médias
descapitalizadas, mas as principais criadoras do emprego, os serviços de saúde,
educação e sobrevivência social, que nos separam da miséria generalizada e da
decomposição social…
Estão ainda mais errados, os que
sonham com a maioria absoluta do PS ou a chegada rápida do PSD ao poder, e
aqueles outros que não vêm a dimensão da crise económica internacional que já
lavrava antes da pandemia e os confrontos violentes que transporta no seu
bojo.
A nossa comunicação social, devorada
pela procura do drama, da pequena grande tragédia, por uma interminável feira
de vaidades que opina, adivinha, agoira, condena, e que não tem cor política
nem ideológica, coloca-nos á beira da desorientação política e da desordem
social.
É que já não basta dar solidez á
frente única da esquerda, é preciso criar uma frente ampla democrática, e tal
imperativo exige um programa comum negociado com todos os partidos democráticos,
e com a participação das forças sociais, no dealbar de um mundo que será, já
era, o de todos os perigos: crise económica, crise ambiental, guerra de baixa
intensidade que chega ao coração da Europa.
Uma Frente amplia democrática,
que se estenda à União Europeia.
Ou tornar-se-á realidade a visão
premonitória de Saramago, aviso extremoso ao futuro, que deixou escrito no romance
Ensaio sobre a Cegueira: “Penso que cegámos, penso que estamos cegos. Cegos que
vêm, Cegos que, vendo, não vêm.”
2 comentários:
Se achas que o aumento do salário mínimo, ajuda as pequenas empresas ou as de mão-de-obra intensiva, estás redondamente enganado, neste caso particularmente o aumento só poderia ser com a diminuição da TSU, voltando ao valor que ela tinha em 1976 (5,5%)
Não acho, é preciso compensações. Essa proposta é uma delas. Acho sim que é preciso ampliar o mercado interno e isso faz-se com dois instrumentos principais: aliviar a pobreza, muitos trabalhadores com salário, são pobres e aumentando os salários.
As duas maiores economias do mundo, a Chinesa e a dos EUA, baseiam o crescimento do seu PIB no crescimento do mercado interno e não das exportações. No caso português e nesta conjuntura, a orientação complementar á anterior deveria ser diversificar as exportações, pois a crise de superprodução já existia antes da pandemia e tinha(tem) o seu epicentro na Alemanha e na União Europeia.
Enviar um comentário