17 milhões de martas abatidas para conter o COVID 19!
Ou, a procura da causa primeira!
“A crise ambiental não é apenas a geradora das alterações climáticas e dos perigos da poluição, ela é também a primeira das causas do emergir na comunidade humana do SARS Covid 19!”
Vison ou marta é a designação
comum a várias espécies de mamíferos mustelídeos, que se assemelham às
doninhas. Os casacos de pele de marta/ vison, representam um dos maiores
símbolos de luxo no vestir dos mais ricos entre os ricos.
As martas são criadas em quintas de produção intensiva,
um pouco por toda a Europa, para serem esfoladas e a sua pele processada
industrialmente; o bárbaro procedimento não mereceu até agora significativos
protestos e denúncias da comunicação e redes sociais, apesar do esforço dos
defensores dos direitos dos animais!
Mas eis que o Governo da Dinamarca ordenou o abate de todos os
visons em mais de 1.100 criadouros do país_ cerca de 17 milhões – após ter sido
verificada uma mutação do novo coronavírus nesses animais, que infetou 12
pessoas, anunciou quarta-feira (04/11) a primeira-ministra dinamarquesa, Mette
Frederiksen. A líder do governo dinamarquês afirmou ainda que o caso tem potencial
para ameaçar a eficácia de uma futura vacina contra a covid-19, que é provocada
pelo coronavírus SARS-Cov-2.
A Dinamarca não é o primeiro país
a tomar essa medida drástica. A Holanda e a Espanha na província de Aragão
também já abateram milhares de visons por preocupações semelhantes. Em agosto,
a Holanda, depois de sacrificar dezenas de milhares de animais, resolveu banir
por completo a sua criação para a indústria de peles, após o registo de vários
focos de infecção em criadouros.
À época, a Organização Mundial da
Saúde (OMS) já afirmara que essas contaminações poderiam ser os "primeiros
casos conhecidos de transmissão" do novo coronavírus de animais para seres
humanos, notícia que não teve destaque na comunicação e nas redes sociais.
Esta descoberta não resolve ainda
o problema de saber qual o animal que na China foi infetado e transmitiu a
pandemia aos seres humanos, mas vem contribuir para desmontar a notícia falsa de
que os COVID nascem em laboratório.
E eis-nos chegados a uma ideia
simples mas fundamental, que está longe da consciência coletiva dos cidadãos do
mundo: a proliferação dos vírus constituiu uma das consequências da crise
ambiental!
A crise ambiental não é apenas a
geradora das alterações climáticas e dos perigos da poluição, ela é também a
primeira das causas do emergir na comunidade humana do SARS Covid 19!
Os novos vírus epidémicos têm
origem na vida animal selvagem, infetam os animais e depois, estes novos
hospedeiros, passam-nos aos seres humanos. O seu aparecimento, em todo o mundo,
em número crescente e com maior frequência, constitui um dos resultados mais trágicos da crise
ambiental e da quebra do equilíbrio dinâmico dos ecossistemas naturais,
sobretudo através da perda de habitats e biodiversidade.
A crise ambiental, com a
crescente perda de habitats selvagens que protegiam as comunidades humanas da
chegada desses vírus, está na sua origem. Este COVID 19 é um bat, hospedado nos
morcegos, agora também nas martas, e um
SARS, que infeta o sistema respiratório de outros animais e dos seres humanos,
mas, no passado, vírus deste tipo extinguiam-se na rede densa dos habitats
selvagens, das cadeias alimentares e de hospedeiros, que sofriam as suas
infeções mortais, mas o extinguiam com a sua própria morte. Hoje, reduzidas
essas cadeias, invadidos os habitats naturais e destruídos inúmeros ecossistemas
com gigantescas perdas da biodiversidade selvagem, os seus vírus seculares ou
milenares vivem e multiplicam as suas estirpes muito próximo dos animais com
que as comunidades humanas convivem.
Essa ideia, que situa a causa primeira
do COVID 19 na crise ambiental, permite-nos reconhecer a amplitude histórica do
problema e a sua geografia mundial, relacionados com outras graves pandemias,
cuja origem e trágicas consequências, foram ignorados ou abafados:
O desenvolvimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), do seu trabalho de investigação, prevenção e alerta, foi a resposta que essa mesma humanidade encontrou, para se defender da nova ameaça, que permanecia na memória coletiva desde a mal denominada Gripe Espanhola de 1918/1920, responsável por 50 milhões de mortos no mundo (60 a 100 mil em Portugal).
O aparecimento de um vírus
violento e de grande morbidade, voltou a acontecer em 1968, com a Gripe de Hong
Kong, na altura uma colónia inglesa, onde teve origem o vírus Influenza A
subtipo H3N2, uma das gripes com origem nas aves, que causou mais de um milhão
de mortes à escala global.
Os vírus podem emergir em
qualquer país, sem aviso prévio e proliferam quando encontram condições
favoráveis: tal sucedeu mais recentemente em África, com o Ébola (1976), no
México e nos EUA em 2009, com o H1N1, em
2012 na Arábia Saudita e depois nos
países do Médio Oriente, agora na China.
A perda da biodiversidade global,
acompanhada pela aproximação dos vírus à comunidade humana, desde sempre e
sobretudo na nossa época, vem provocando surtos de infeção por novos vírus. Foi
assim com o VIH - vírus da imunodeficiência humana, causador da sida, detetado
em 1981 nos EUA, tornando-se antão a principal causa de morte de cidadãos
americanos adultos entre os 25 aos 44
anos, que já ceifou 32 milhões de pessoas em todos os países. Mas, progressivamente,
a partir de 1995, novos fármacos foram evitando as mortes e transformando a
sida numa doença crónica.
Enfim, se os vírus são parte
integrante da crise ambiental, o seu combate está muito para além das vacinas e
medicamentos específicos, ele exige a transição ecológica da economia e a
construção de um novo modelo de desenvolvimento global a que chamamos a ecocivilização.
Este nova ecocivilização terá de
ser construída em crítica aos dogmas da democracia liberal e do socialismo
científico, onde a crise ambiental lavrou, por diferentes caminhos.
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