11.6.20

O pilar Invisível


A participação das Forças Armadas no combate ao Covid-19


Conteúdo
 No Centro de Comando das Operações Militares (CCOM), dois oficiais superiores planeiam e organizam a resposta à pandemia do COVID 19, em Portugal. Ainda nenhum caso foi confirmado, mas os militares sabem que o inimigo se aproxima e virá.

A célula de crise, cujo objetivo é recolher dados relativos à saúde dos militares e dar resposta às solicitações da Proteção Civil, está a funcionar desde o início de março.
Ao CCOM chegam os pedidos de apoio das Forças Armadas, enviados através da  Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC). Um oficial de ligação está colocado em cada um dos CODIS_ Comandante Distrital de Operações de Socorro, para estabelecer a coordenação local  das operações, a partir da disponibilização dos meios mais adequados pelo CCOM, que provêm dos três ramos das Forças Armadas_ FA.
No CCOM e na sala de operações as regras são tão severas como num caso de conflito e o esforço exigido não é menor. Os militares de serviço pernoitam no local e, tal como os que estão em casa, cumprem as regras da quarentena.
No primeiro mês, realizaram centenas de operações:  ergueram as tendas para a triagem nos hospitais, e nas prisões; acolheram nos hospitais militares idosos retirados de lares com focos infeciosos e trataram os que vinham doentes; asseguraram a logística de transporte de material médico no continente e nas ilhas, toneladas de material médico foram transportados entre Lisboa, Funchal e Ponta Delgada; reforçaram a produção, no seu laboratório, de material de combate à pandemia e consolidaram as reservas estratégicas em recursos de saúde (para 90 dias);  montaram camas e hospitais de reserva, em todo o país, mais de cinco mil camas cedidas pelos três ramos, outras duas mil nos centros de acolhimento criados em várias unidades militares.…
Avançaram então  para novos postos de combate, na linha da frente, surgiram nas ruas de Lisboa apoiando a distribuição aos sem abrigo de milhares de refeições diárias, desinfetaram lares por todo o país ,,, e equiparam os hospitais de campanha na Cidade Universitária em Lisboa e no pavilhão Rosa Mota no Porto….

Seguindo as diretrizes do Presidente da República, do Governo e  do Estado-Maior-General das Forças Armadas, planearam um maior envolvimento dos militares no combate ao covid-19, que podia alargar-se à colaboração direta com as forças polícias, .à presença nas cercas sanitárias, à fiscalização e ao controlo de fronteiras, que, afinal, não foram necessárias.
No início de abril, o jornal DN e outros órgãos de comunicação social, faziam o balanço do apoio das Forças Armadas no combate à pandemia:
LARES DE IDOSOS
- O Hospital das Forças Armadas (HFAR), Polo do Porto, acolheu 57 idosos de 3 lares (Vila Real, Famalicão e Albergaria a Velha).
- Foi realizada a desinfeção de dois lares pelo Exército (Resende e Vila Real) e um pela Marinha.
Disponibilidade para:
- Transporte das equipas que vão recolher amostras para análises.
- Formação aos funcionários dos lares na área das desinfeções.
APOIO NA REALIZAÇÃO DE DESINFEÇÕES
- Em curso a criação de 60 equipas do Exército para efetuar desinfeções. A Marinha dispõe de 20 equipas prontas.
- Desinfeção do Centro de Saúde de Melgaço e da Unidade de Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia de Torre de Moncorvo. pelo Exército.
APOIO MÉDICO A DOENTES DO SNS
- O HFAR, Polo do Porto, está a realizar sessões de hemodiálise a 16 doentes do Hospital de Braga.
- O HFAR, Polo do Porto, acolheu seis idosos (covid-19 positivos) do Hospital Pedro Hispano de Matosinhos.
- O Hospital do Espírito Santo (HESE) e o Centro Militar de Saúde estão a colaborar no combate à Covid-19, já que o Centro Militar de Saúde disponibilizou 15 camas ao Hospital de Évora, que para aí já transferiu doentes não infectados com o novo coronavírus, para libertar espaço na unidade hospitalar.
DISPONIBILIZAÇÃO DO HFAR E DAS LINHAS DE APOIO DAS FORÇAS ARMADAS
- Os serviços de triagem e internamento do HFAR foram disponibilizados para os funcionários do Ministério da Defesa Nacional, do Serviço de Informações da República, da Polícia Judiciária e inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
AUMENTO DA CAPACIDADE DE RESPOSTA DO HFAR, POLO DE LISBOA
- Montagem de agrupamento sanitário nas instalações do campus de Saúde Militar, com 32 camas.
- Implementação de sistema de colheitas rápidas para testes ao covid-19, em regime de ambulatório no campus de Saúde Militar.
DISPONIBILIZAÇÃO DE CENTROS DE ACOLHIMENTO AO SNS
- Centros de acolhimento localizados em 11 unidades militares no continente e ilhas.
- 1241 camas já disponíveis para cuidados de saúde não diferenciados, número que pode ser aumentado até ao máximo de 2300 camas.
IDENTIFICAÇÃO DE VOLUNTÁRIOS DA FAMÍLIA MILITAR PARA APOIO AO SNS E FORÇAS ARMADAS
- Mais de 7800 voluntários inscritos com diferentes valências, para apoiar o SNS e as FA.
- Foram contactados 428 voluntários da área da saúde, apoio hospitalar e gestão, dos quais 120 já estão prontos ou a desempenhar funções.
- No HFAR, Polo Porto, 21 enfermeiros prontos a desempenhar funções; seis elementos de apoio hospitalar já a dar apoio nos serviços da lavandaria, de segurança e da alimentação.
- No HFAR, Polo Lisboa, 63 profissionais da área da saúde (médicos, farmacêuticos, enfermeiros, auxiliares de ação médica) prontos a desempenhar funções; dois estão a dar apoio, na organização dos voluntários.
- No Instituto de Ação Social das Forças Armadas (IASFA), dez voluntários da área da saúde, prontos a desempenhar funções.
- No gabinete do CEMGFA, três voluntários (dois da área de gestão de recursos humanos e um da área de gestão de catástrofes) prontos a desempenhar funções.
- No Hospital Militar de Belém, reabilitado em tempo recorde, pelo Ministério da Saúde, 15 enfermeiros, prontos a desempenhar funções.
DISPONIBILIZAÇÃO DE CAPACIDADE LABORATORIAL AO SNS
Unidade Militar Laboratorial de Defesa Biológica e Química do Exército:
- Realização de testes ao covid-19 (50 por dia) às Forças Armadas e forças de segurança.
Laboratório Militar do Exército:
- Aumentada a produção diária de gel desinfetante (2700 litros/dia).
- Apoio no armazenamento, gestão e distribuição da reserva estratégica dos medicamentos e dispositivos médicos do SNS.
APOIO AOS SEM-ABRIGO
Distribuição diária de 1200 refeições (almoço e jantar) aos sem-abrigo de Lisboa pela Marinha e pelo Exército.
- Distribuição de 5000 máscaras aos sem-abrigo de Lisboa.
- Apoio no equipamento dos centros de acolhimento de sem-abrigo no Funchal e em Tavira (camas, colchões, cobertores, lençóis, fronhas, mesas e cadeiras).
MONTAGEM DE HOSPITAIS DE CAMPANHA E POSTOS MÉDICOS (TENDAS/CAMAS)
Disponibilizadas mais de 70 tendas e cerca de 5000 camas, e outros materiais, no continente e arquipélagos, para:
- Montagem de postos médicos avançados em unidades hospitalares, nos estabelecimentos prisionais de Custóias e de Ponta Delgada, e no hospital prisional de Caxias em apoio à Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais.
- Equipar hospitais de campanha, na Cidade Universitária de Lisboa e no Pavilhão Rosa Mota do Porto, assim como centros de acolhimento de vários municípios.
APOIO EM TRANSPORTES E LOGÍSTICA AO SNS
- Ativado o Centro Logístico Conjunto que garante a distribuição e o armazenamento de material que chega do estrangeiro e das doações realizadas ao SNS. Este centro coordenou até ao momento 22 ações, tendo sido transportadas dez toneladas de carga e percorridos cerca de três mil quilómetros.
- Transporte de 15 toneladas de EPI pelo Exército, entre o aeroporto de Lisboa e o Laboratório Militar (Reserva Estratégica de Medicamentos do Ministério da Saúde).
TRANSPORTE AÉREO DE MATERIAL E PESSOAL
- A Força Aérea efetuou o transporte de oito toneladas de material médico e de proteção individual entre o continente e os arquipélagos, para várias entidades.
- A Força Aérea realizou o repatriamento de 23 cidadãos, de França e da Roménia.
Registemos aqui, o nomee  as funções dos dois oficiais superiores, referidos no início, como preito de reconhecimento a todo o corpo militar, e evidenciemos o número de 7.800 voluntários_ militares na reserva, familiares, que responderam ao apelo de voluntariado no combate ao COVID.19, lançado pelas chefias militares: o vice-almirante Henrique Melo Gouveia, adjunto para o Planeamento e Coordenação no EMGFA, e o general Marco Serronha, chefe de Estado-Maior do Centro de Comando das Operações Militares (CCOM).
O ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, revelava então que existiam 58 militares infectados com Covid-19 nas Forças Armadas Portuguesas, dois deles «nas forças nacionais destacadas no Afeganistão», mas «todos com prognóstico muito favorável», adiantando que, «à data de hoje», encontram-se indisponíveis «cerca de 119 militares» das Forças Armadas Portuguesas, por se encontrarem “em isolamento”, devido à pandemia da covid-19. «Mas é um número que tem vindo a decrescer. Já estivemos próximos dos 300, agora [são] 119», frisou.
No auge da pandemia do COVID-19, as FA começaram a preparar a sua intervenção no combate aos incêndios florestais, o apoio à Proteção Civil, com mais militares mobilizados para  a vigilância e com a utilização da nossa tecnologia, como os drones, já que, continua a tardar a entrega às FA das responsabilidades e dos meios para o combate aéreo aos incêndios, os mais dispendiosos e sob maior suspeição “nos negócios do fogo”!

A longa marcha das FA pela sua democratização, dignidade e missão estratégica

Esta crise, deve-nos fazer refletir sobre a situação das FA, marcada ela também pela política de austeridade imposta pela Troika, que levaram na altura as organizações de oficiais, sargentos e praças, a descer à rua.
Recordo aqui, o que escrevi e publiquei:
“A estratégia seguida pelo (s) governo (s), face aos direitos democráticos dos cidadãos das forças armadas, é semelhante ao que usou para quebrar a espinha às denominadas e vilipendiadas “corporações profissionais”: depois de professores, juízes, médicos, enfermeiros, funcionários públicos em geral, deu início a uma campanha de violência psicológica na comunicação social: começaram os debates sobre a utilidade das forças armadas sem estado de guerra, as comparações “objetivas” entre o número de militares e oficiais e os padrões europeus _como se não tivesse havido uma guerra colonial de 13 anos em três frentes de combate; a ´”denúncia dos privilégios” atribuídos aos seus sistemas de saúde e reforma; os cortes cirúrgicos e brutais das pensões de viuvez; os cortes cegos, que atingiram todos os trabalhadores e agentes públicos; o aproveitamento dos casos de suspeição e má gestão do interesse do estado, como no caso da compra dos submarinos, para os associar a supostos orçamentos de defesa acima das possibilidades…e, sem consulta aos militares e sem que a opinião pública se apercebesse, a elaboração de uma nova Lei de Defesa Nacional, que passou por cima do relatório elaborado pela própria comissão de peritos que o governo nomeou para o efeito, em oposição às suas conclusões e orientação geral, que conexionava a defesa e a segurança nacionais com a plena restauração da soberania e com o progresso social do país.”
E transcrevo o que então defendi e defendo hoje, com mais convicção:

Os direitos democráticos das FA e o imperativo ético da nação portuguesa face às suas FA

“A democracia nada tem a temer dos militares quando estes usam as armas da democracia, como a manifestação pública ou o discurso político. A democracia moderna reconhece aos cidadãos militares os seus direitos políticos associativos. O mesmo se aplica às forças militarizadas. A exigência de neutralidade partidária das forças armadas e militarizadas é outra coisa.
A afirmação de que as forças armadas se manifestam no campo de batalha, mesmo que suportada com a força moral de quem já combateu, num mundo dominado pelas guerras de conquista e pela disseminação das tecnologias militares do holocausto nuclear ou químico, em que os militares são igualmente vítimas, é, no mínimo, redutora da condição militar contemporânea.
No caso português a missão estratégica das forças armadas, no quadro do nosso estado democrático e constitucional, deve orientar-se para evitar a guerra e proteger a soberania nacional, que é sobretudo território marítimo (1.800.000 Km2 para 92.000 Km2 de território continental), para a Defesa Civil, para enfrentar as catástrofes humanitárias e contribuir para as tarefas de pacificação dos conflitos internacionais, estendendo esta cultura política às forças policiais e a todo o aparelho repressivo do estado.”

A Ética e a condição militar

“A condição militar, numas Forças Armadas cada vez mais instruídas, cultas e integradas socialmente, levanta também um problema ético fundamental. A legítima defesa da vida, quando ameaçada de morte, conduz o ser humano ao mais terrível dos dilemas e, como ele, as nações democráticas: não desarmar a democracia significa substituir o exército de caserna e mercenário por um corpo de profissionais e voluntários politizado, interclassista, preferencialmente assente no serviço militar universal apenas limitado pelo respeito devido aos objetores de consciência e outros pacifistas ( a extinção do denominado “serviço militar obrigatório” é, na minha modesta opinião, um passo atrás na democratização das forças armadas e um erro crasso da esquerda); forças armadas onde prevaleçam igualmente os Direitos Humanos e as liberdades e direitos fundamentais da democracia.
Partidariamente neutrais e orientadas estrategicamente para evitar a guerra e proteger a soberania nacional, para a Defesa Civil ( onde se insere não apenas o enfrentar das catástrofes humanitárias, mas também o combate aos incêndios, apoio às forças de segurança no combate ao crime organizado e o combate contra o terrorismo) e para as tarefas de pacificação e resgate dos conflitos internacionais, estendendo esta cultura às forças policiais e a todo o aparelho repressivo do estado, como se disse no início desta crónica e aqui se sublinha.
 Cada avanço na democratização das forças armadas e policiais, na sua consciência política democrática e ambiental, tal como o reforço do direito internacional e a democratização do aparelho judicial à escala do país, resultarão num ganho estratégico contra a ameaça de corrupção e poder arbitrário das oligarquias, a guerra civil fratricida e o holocausto atómico ou bioquímico da Humanidade.”
“Ao que associo, e falo como paisano, o imperativo ético de redefinir a missão do dispositivo de defesa (e a sua eventual redução), com base num grande debate nacional que não exclua os militares e garanta a dignidade da sua condição e os direitos de cidadania das suas famílias, porque a democracia tem uma dívida de sacrifício, de sangue e de luto, para com as gerações de militares que tiveram de fazer a guerra colonial.”

O caso de Tancos e o slogan do desprestígio das FA

O roubo de material militar de um dos paióis de Tancos, a maior parte obsoleto e inoperacional, constitui um exemplo da falta de cultura político-militar da maioria dos nossos profissionais da política e da comunicação social, e, atrevo-me a dizê-lo, dos magistrados envolvidos.
Competia á comunicação social, informar a opinião pública do contexto económico e político, em que o cumprimento das missões das FA e, em particular, as medidas de segurança, foram severamente limitadas pelos cortes orçamentais dos sucessivos governos, quanto a efetivos e equipamentos.
Os responsáveis políticos, deviam interrogar-se se estávamos em presença de uma ação, com ligação ao roubo das Glock da PSP no Porto, que sinalizasse o emergir em Portugal de uma organização criminosa de nível superior, capaz de afrontar o estado democrático, como está a acontecer em todos os países onde as crises cíclicas da economia liberal agudiza os conflitos sociais ou de um fenómeno de outra natureza. Mas o debate político resvalou para a chicana e para a disputa eleitoral.
A magistratura, ao relacionar o roubo do material com a ETA como destinatária, ignorou que esta organização política e militar, incluindo todas as suas tendências, abandonou qualquer atividade violenta e desmantelou as suas estruturas orgânicas, muito antes do incidente de Tancos.
Seguiu-se uma vertigem política de ataques e suspeições, promovidos pela oposição de direita e centro direita, em nome da descoberta de toda a verdade_ e aqui se juntou o coro da esquerda, que não respeitou nem o ministro da defesa, nem o Primeiro Ministro, nem o Presidente da República, envolvendo a PJ e a PJM, com uma mensagem comum: o roubo de Tancos constituiu uma gravíssimo caso de desprestígio das FA, a nível nacional e internacional (?). Agravado depois pela ação de recuperação do material, que a PJM conduziu, alegadamente á margem da lei e dos regulamentos.
Discordo que se trate de um caso gravíssimo da responsabilidade da instituição militar, é um caso circunscrito da responsabilidade direta do comando de Tancos, mas este tem atenuantes: O contexto do desinvestimento do estado democrático em efetivos e equipamentos.
E reafirmo, que o debate exacerbado nos fóruns políticos e da comunicação social, para além do oportunismo político que revelou, demonstra que os fazedores da opinião política não têm cultura político-militar para o nosso tempo, em que a natureza da guerra mudou.
Vou mais longe: Na altura em que ainda não se conhecia o perfil do grupo de criminosos, a atuação da PJM, dado o risco latente dos danos sociais que o  material militar roubado representava,  com o recurso a medidas de exceção para a recuperar com base num acordo político, pode ser política e moralmente legítimo, mesmo que não o seja no plano estritamente legal. Sim, num contexto de guerra ou de risco de ameaça de conflitos violentes, fazem-se acordos com os inimigos, fê-lo recentemente o governo dos EUA, do conservador Trump, com os seus inimigos jurados da última década, os Taliban do Afeganistão.
Os militares da GNR que mediaram o processo, agiram motivados pelo objetivo de recuperar as armas, tal como a PJ militar. A PJ civil, que revelou a encenação, cumpriu o seu dever. Os tribunais vão julgar o processo, como é imperativo de um estado democrático, agora com o grupo criminoso devidamente caraterizado como uma quadrilha caseira. Estes factos objetivos, não constituem um fator de desprestígio para a entidade nacional,  FA.
O incidente deve ser reconduzido à sua dimensão criminal. Para que a cultura político-militar seja difundida por toda a sociedade e se torne um bem comum. E a imagem das FA limpa de qualquer infâmia política.

Um estranho país, num mundo em que a verdadeira natureza política dos seus regimes se desvela cruamente

Estranho país o nosso, onde a nova direita política e o mais resiliente partido da democracia portuguesa, vivem o mesmo drama ideológico: o PCP, não consegue ultrapassar os mitos ideológicos que o impediram de ver a degeneração do socialismo na URSS e o nascimento de novos modos de socialismo; a direita, que sobrevive entre os escombros do neoliberalismo, mas está cega pela visão da aliança de esquerda como uma geringonça_ que nunca o foi, antes  uma sólida aliança, formal ou de facto, e que não compreende que esta aliança que resulta da consciência generalizada na sociedade portuguesa da falência dos mitos do liberalismo: As gorduras do estado, associadas ao estado social; a infalibilidade do mercado; a superioridade das grandes empresas multinacionais e do reino da globalização financeira; o nosso futuro comum, decidido pelos burocratas sem coração de passagem por Bruxelas, o fim da história, às mãos da democracia liberal…e, agora, a União Europeia e os estados mais poderosos, comportando-se como estado falhados face à primeira das pandemias modernas, que foi revelado ao mundo pela Organização  Mundial de Saúde e pela Republica Popular da China em todas as suas reais dimensões.

As pandemias esquecidas  e desvalorizadas. E a construção de um futuro comum para a humanidade. O papel das FA em Espanha e Itália

O desenvolvimento da  Organização Mundial da Saúde (OMS), do seu trabalho de investigação, prevenção e alerta, foi a resposta que a humanidade encontrou, para se defender  da nova ameaça, que permanecia na memória coletiva desde a mal denominada Gripe Espanhola de 2018, 20 a 50 milhões de mortos no mundo (60 a 100 mil em Portugal).
A crise ambiental, com a crescente perda da biodiversidade, que protegia as comunidades humanas da chegada desse vírus, está na sua origem. Este corona é um bat, hospedado nos morcegos e um SARS, que infeta o sistema respiratório de outros animais e dos seres humanos, mas, no passado, estes vírus extinguiam-se na rede densa das cadeias alimentares e de hospedeiros, que sofriam as suas infeções mortais, mas o extinguiam com a sua própria morte. Hoje, reduzidas essas cadeias, por gigantescas perdas da biodiversidade selvagem, vivem e multiplicam as suas estirpes muito próximo dos animais com que as comunidades humanas convivem.

O aparecimento de um vírus violento e de grande morbidade, voltou a acontecer em 1968, com a Gripe de Hong Kong, na altura uma colónia inglesa, onde teve origem o vírus Influenza A subtipo H3N2, uma das gripes com origem nas aves, que causou mais de um milhão de mortes à escala mundial ( Devemos pedir contas à Grã-Bretanha imperial, e para apurar as suas responsabilidades, usar os nossos tribunais para levar ao banco dos réus sua majestade a rainha e os seus governantes e reclamar uma indeminização, acrescida de juros, como clamaram, já não apenas os Trump e Bolsonaros, mas o governo australiano, ministros britânicos, e outros, como os porta vozes dos executivos de Merkel e Makron?).

Podem emergir em qualquer país, sem aviso prévio e proliferam quando encontram condições favoráveis: tal sucedeu mais recentemente em África, com o Ébola (1976), no México e nos EUA em 2009, com o H1N1,  em 2012 na  Arábia Saudita e depois nos países do Médio Oriente, agora na China, na pior altura possível, o período que antecede as celebrações do novo ano lunar, chinês, que movimentam pelo país e no estrangeiro, mil milhões de cidadãos.
A perda da biodiversidade global, acompanhada pela aproximação dos vírus à comunidade humana, desde sempre e sobretudo na nossa época, vem provocando surtos de infeção por novos vírus. Foi assim que o VIH - vírus da imunodeficiência humana, causador da sida. Foi detetado em 1981 nos EUA, tornando-se antão a principal causa de morte de cidadãos americanos adultos  entre os 25 aos 44 anos, que já matou 32 milhões de pessoas em todos os países. (Deveríamos chamar-lhe, SIDA dos EUA, como propõe o discurso político de Tump e Bolsonaro?) Mas, progressivamente, a partir de 1995, novos fármacos foram evitando as mortes e transformando a sida numa doença crónica.
Mesmo fora do quadro das pandemias violentas, a OMS, já estimava que as epidemias anuais de gripe comum costumam atingir de 5% a 15% da população e provocam entre 250 mil e 500 mil mortes anuais, principalmente entre idosos.
Na última grande pandemia - a chamada Gripe A, em 2009 e 2010, o vírus começou nas aves, transmitiu-se aos suínos, onde se misturou com outro e fez nasceu um H1N1 com capacidade transmissão de pessoa para pessoa. O seu epicentro, passou do México aos EUA e espalhou-se pelo mundo, chegou a Portugal a 29 de abril de 2009 (primeiro caso diagnosticado) e viria a atingir 200 mil portugueses - 124 morreram. Mas à escala do mundo, a perda de vidas humanas atingiu as 600 mil pessoas.
Em 2003, foi a vez da China, com uma nova doença respiratória denominada SARS, causada por um coronavírus parente do atual SARS-CoV-2. E, agora, com o Coronvirus de 2019. (Ver a carta aberta da cientista Maria de Sousa, na véspera do seu falecimento por COVID-19).
Apesar da dimensão catastrófica destas tragédias, a nossa memória vivida não recorda nem grandes paragonas na comunicação social, nem economias fechadas, nem confinamentos…então, porquê, agora tudo foi diferente e, progressivamente, todos os países se virão confrontados com a dimensão real da tragédia e a necessidade de alterar profundamente as rotinas sociais e pessoais?
Porque a China, assumiu perante o mundo, a responsabilidade de proteger a vida dos seus cidadãos e da humanidade, ao custo de gigantescas perdas económicas e do esforço nacional do seu povo, sob orientação do governo e da Organização Mundial de Saúde
Estes são os factos que é possível documentar e provar, no meio de uma maré suja de notícias falsas e campanhas de contra informação, que visam proteger as oligarquias que ainda governam a maior do mundo e das nações, e possuem o poder de  virar a realidade às avessas.
O caso da Região Administrativa Especial de Macau, pode considerar-se exemplar, como foi o de Wuhan: Para proteger a saúde e a vida dos seus cidadãos, e bloquear a propagação do COVID 19, o Governo da Região Administrativa Especial de Macau, como em toda a China, não hesitou em reduzir a atividade económica, sabendo que tal decisão política significaria uma tremenda perda de rendimentos para as empresas públicas e privadas, e para a própria administração, mas salvaria milhares e milhares de vidas humanas.
No primeiro trimestre de 2020, o seu PIB caiu para 48,7%. Mas todos os 45 casos diagnosticados foram importados e as autoridades indicaram não ter existido contágio na comunidade. Todos recuperaram!
Sigamos o desenrolar da crise do COVID-19
Não só a investigação do novo vírus não foi abafada, como, desde dezembro de 2019 mobilizou todos os recursos da China, The Wuhan Center for Disease Control and Prevention (CDC), the Chinese Academy of Medical Sciences (CAMS),  The National Health Commission (NHC)   em colaboração com os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos EUA e a Organização Mundial de Saúde (OMS/WHO),
Desde 3 de janeiro, a China tem vindo a informar regularmente a Organização Mundial de Saúde (OMS/WHO),  e os países e regiões suscetíveis de serem primeiro afetados,  Hong Kong, Macau, Taiwan, sobre o surto de uma nova pneumonia, estabelecendo nessa data os primeiros contactos com os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos EUA, o seu parceiro estratégico em anteriores surtos epidémicos.
De tal modo, que no dia 7 de janeiro ele foi identificado na China como um novo corona e no dia seguinte os CDC dos EUA puderam receber e partilhar  toda a informação científica, que a 9 de janeiro foi plenamente comunicada à OMS e , na mesma data, divulgada em grande escala, não apenas entre a população de Wuhan como de toda a China, pelas autoridades!
Ainda 9 de janeiro, a OMS/WHO publicou  no seu site um comunicado sobre um conjunto de casos de pneumonia em Wuhan, dizendo que a identificação preliminar de um novo coronavírus num tão curto espaço de tempo constituía uma conquista notável: “…preliminary identification of a novel coronavirus in a short period of time is a notable achievement. data”. Uma realização científica sem precedentes.
O conhecimento destes factos e da sua cronologia é crucial, sobretudo para compreender a evolução da pandemia e o surgimento da cadeia de notícias falsas, que tentam virar do avesso a história recente do COVID-19.
Uma nota final: A expansão da pandemia na europa, podia ter sido limitada, se logo no seu início a União Europeia tivesse mobilizado os seus recursos para ajudar a Itália e a Espanha na sua contenção. Mas nada foi feito. E ela evoluiu para uma dimensão trágica, disseminando-se por todo o continente.
Só seria contida, naqueles dois países, pela intervenção de três fatores fundamentais: a chegada de material médico, sobretudo material de proteção e ventiladores a Espanha e a Itália, provenientes da China, doados ou disponibilizados para um mercado fechado a ocidente pelos egoísmos e urgências nacionais; a reconstrução dos recursos do serviço nacional de saúde, privatizados e desmantelados pelo austeritarismo, sobretudo em Madrid e na  Lombardia,  graças á intervenção das forças armadas destes dois países, que beneficiaram igualmente, tal como a generalidade das nações, do apoio das equipas de médicos e enfermeiros oriundos da China ( mais de 200 países)  e de Cuba ( 34 equipas em 26 países).
O ponto de viragem no combate à pandemia em Espanha e Itália, coincide com a convergência agregada desses três fatores: ação das FA, solidariedade internacional e SNS reconstruído.

1 comentário:

acmc52 disse...

Brilhante análise à actual situação, com visão clara e real, na evolução das FA e em paralelo com a sua acção, sanitaria e logistica, num TO, que desde há muito, não coincidia no territorio nacional.
Este artigo deveria ser lido por políticos, com responsabilidades legislativas, para que se reflita, e, se tratem as FA, com responsabilidades, naturais especiais, tornando-as adaptadas às Missões do Séc. XXI, muito à frente das Ameaças da Guerra Convencional, preparadas, para preparar os cidadãos, para a defesa Nuclear, Biológica e Quimica, tendo como posdivel exemplo, a crise que vivemos, da pandemia de Covid19.
Parabéns, amigo Antonio Manuel.