A participação das Forças Armadas no combate ao
Covid-19
Conteúdo
A célula de crise, cujo objetivo
é recolher dados relativos à saúde dos militares e dar resposta às solicitações
da Proteção Civil, está a funcionar desde o início de março.
Ao CCOM chegam os pedidos de
apoio das Forças Armadas, enviados através da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção
Civil (ANEPC). Um oficial de ligação está colocado em cada um dos CODIS_ Comandante
Distrital de Operações de Socorro, para estabelecer a coordenação local das operações, a partir da disponibilização
dos meios mais adequados pelo CCOM, que provêm dos três ramos das Forças
Armadas_ FA.
No CCOM e na sala de operações as
regras são tão severas como num caso de conflito e o esforço exigido não é
menor. Os militares de serviço pernoitam no local e, tal como os que estão em
casa, cumprem as regras da quarentena.
No primeiro mês, realizaram
centenas de operações: ergueram as
tendas para a triagem nos hospitais, e nas prisões; acolheram nos hospitais
militares idosos retirados de lares com focos infeciosos e trataram os que
vinham doentes; asseguraram a logística de transporte de material médico no
continente e nas ilhas, toneladas de material médico foram transportados entre
Lisboa, Funchal e Ponta Delgada; reforçaram a produção, no seu laboratório, de
material de combate à pandemia e consolidaram as reservas estratégicas em
recursos de saúde (para 90 dias); montaram
camas e hospitais de reserva, em todo o país, mais de cinco mil camas cedidas
pelos três ramos, outras duas mil nos centros de acolhimento criados em várias
unidades militares.…
Avançaram então para novos postos de combate, na linha da
frente, surgiram nas ruas de Lisboa apoiando a distribuição aos sem abrigo de milhares
de refeições diárias, desinfetaram lares por todo o país ,,, e equiparam os
hospitais de campanha na Cidade Universitária em Lisboa e no pavilhão Rosa Mota
no Porto….
Seguindo as diretrizes do
Presidente da República, do Governo e do
Estado-Maior-General das Forças Armadas, planearam um maior envolvimento dos
militares no combate ao covid-19, que podia alargar-se à colaboração direta com
as forças polícias, .à presença nas cercas sanitárias, à fiscalização e ao
controlo de fronteiras, que, afinal, não foram necessárias.
No início de abril, o jornal DN e
outros órgãos de comunicação social, faziam o balanço do apoio das Forças
Armadas no combate à pandemia:
LARES DE IDOSOS
- O Hospital das Forças Armadas
(HFAR), Polo do Porto, acolheu 57 idosos de 3 lares (Vila Real, Famalicão e
Albergaria a Velha).
- Foi realizada a desinfeção de
dois lares pelo Exército (Resende e Vila Real) e um pela Marinha.
Disponibilidade para:
- Transporte das equipas que vão
recolher amostras para análises.
- Formação aos funcionários dos
lares na área das desinfeções.
APOIO NA REALIZAÇÃO DE DESINFEÇÕES
- Em curso a criação de 60
equipas do Exército para efetuar desinfeções. A Marinha dispõe de 20 equipas
prontas.
- Desinfeção do Centro de Saúde
de Melgaço e da Unidade de Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia
de Torre de Moncorvo. pelo Exército.
APOIO MÉDICO A DOENTES DO SNS
- O HFAR, Polo do Porto, está a
realizar sessões de hemodiálise a 16 doentes do Hospital de Braga.
- O HFAR, Polo do Porto, acolheu
seis idosos (covid-19 positivos) do Hospital Pedro Hispano de Matosinhos.
- O Hospital do Espírito Santo
(HESE) e o Centro Militar de Saúde estão a colaborar no combate à Covid-19, já
que o Centro Militar de Saúde disponibilizou 15 camas ao Hospital de Évora, que
para aí já transferiu doentes não infectados com o novo coronavírus, para
libertar espaço na unidade hospitalar.
DISPONIBILIZAÇÃO DO HFAR E DAS
LINHAS DE APOIO DAS FORÇAS ARMADAS
- Os serviços de triagem e
internamento do HFAR foram disponibilizados para os funcionários do Ministério
da Defesa Nacional, do Serviço de Informações da República, da Polícia
Judiciária e inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
AUMENTO DA CAPACIDADE DE RESPOSTA
DO HFAR, POLO DE LISBOA
- Montagem de agrupamento
sanitário nas instalações do campus de Saúde Militar, com 32 camas.
- Implementação de sistema de
colheitas rápidas para testes ao covid-19, em regime de ambulatório no campus
de Saúde Militar.
DISPONIBILIZAÇÃO DE CENTROS DE
ACOLHIMENTO AO SNS
- Centros de acolhimento
localizados em 11 unidades militares no continente e ilhas.
- 1241 camas já disponíveis para
cuidados de saúde não diferenciados, número que pode ser aumentado até ao
máximo de 2300 camas.
IDENTIFICAÇÃO DE VOLUNTÁRIOS DA
FAMÍLIA MILITAR PARA APOIO AO SNS E FORÇAS ARMADAS
- Mais de 7800 voluntários
inscritos com diferentes valências, para apoiar o SNS e as FA.
- Foram contactados 428
voluntários da área da saúde, apoio hospitalar e gestão, dos quais 120 já estão
prontos ou a desempenhar funções.
- No HFAR, Polo Porto, 21
enfermeiros prontos a desempenhar funções; seis elementos de apoio hospitalar
já a dar apoio nos serviços da lavandaria, de segurança e da alimentação.
- No HFAR, Polo Lisboa, 63
profissionais da área da saúde (médicos, farmacêuticos, enfermeiros, auxiliares
de ação médica) prontos a desempenhar funções; dois estão a dar apoio, na
organização dos voluntários.
- No Instituto de Ação Social das
Forças Armadas (IASFA), dez voluntários da área da saúde, prontos a desempenhar
funções.
- No gabinete do CEMGFA, três voluntários
(dois da área de gestão de recursos humanos e um da área de gestão de
catástrofes) prontos a desempenhar funções.
- No Hospital Militar de Belém, reabilitado
em tempo recorde, pelo Ministério da Saúde, 15 enfermeiros, prontos a
desempenhar funções.
DISPONIBILIZAÇÃO DE CAPACIDADE
LABORATORIAL AO SNS
Unidade Militar Laboratorial de
Defesa Biológica e Química do Exército:
- Realização de testes ao
covid-19 (50 por dia) às Forças Armadas e forças de segurança.
Laboratório Militar do Exército:
- Aumentada a produção diária de
gel desinfetante (2700 litros/dia).
- Apoio no armazenamento, gestão
e distribuição da reserva estratégica dos medicamentos e dispositivos médicos
do SNS.
APOIO AOS SEM-ABRIGO
Distribuição diária de 1200
refeições (almoço e jantar) aos sem-abrigo de Lisboa pela Marinha e pelo
Exército.
- Distribuição de 5000 máscaras
aos sem-abrigo de Lisboa.
- Apoio no equipamento dos
centros de acolhimento de sem-abrigo no Funchal e em Tavira (camas, colchões,
cobertores, lençóis, fronhas, mesas e cadeiras).
MONTAGEM DE HOSPITAIS DE CAMPANHA
E POSTOS MÉDICOS (TENDAS/CAMAS)
Disponibilizadas mais de 70
tendas e cerca de 5000 camas, e outros materiais, no continente e arquipélagos,
para:
- Montagem de postos médicos
avançados em unidades hospitalares, nos estabelecimentos prisionais de Custóias
e de Ponta Delgada, e no hospital prisional de Caxias em apoio à Direção-Geral
de Reinserção e Serviços Prisionais.
- Equipar hospitais de campanha,
na Cidade Universitária de Lisboa e no Pavilhão Rosa Mota do Porto, assim como
centros de acolhimento de vários municípios.
APOIO EM TRANSPORTES E LOGÍSTICA
AO SNS
- Ativado o Centro Logístico
Conjunto que garante a distribuição e o armazenamento de material que chega do
estrangeiro e das doações realizadas ao SNS. Este centro coordenou até ao momento
22 ações, tendo sido transportadas dez toneladas de carga e percorridos cerca
de três mil quilómetros.
- Transporte de 15 toneladas de
EPI pelo Exército, entre o aeroporto de Lisboa e o Laboratório Militar (Reserva
Estratégica de Medicamentos do Ministério da Saúde).
TRANSPORTE AÉREO DE MATERIAL E
PESSOAL
- A Força Aérea efetuou o
transporte de oito toneladas de material médico e de proteção individual entre
o continente e os arquipélagos, para várias entidades.
- A Força Aérea realizou o
repatriamento de 23 cidadãos, de França e da Roménia.
Registemos aqui, o nomee as funções dos dois oficiais superiores,
referidos no início, como preito de reconhecimento a todo o corpo militar, e
evidenciemos o número de 7.800 voluntários_ militares na reserva, familiares,
que responderam ao apelo de voluntariado no combate ao COVID.19, lançado pelas
chefias militares: o vice-almirante Henrique Melo Gouveia, adjunto para o
Planeamento e Coordenação no EMGFA, e o general Marco Serronha, chefe de
Estado-Maior do Centro de Comando das Operações Militares (CCOM).
O ministro da Defesa Nacional,
João Gomes Cravinho, revelava então que existiam 58 militares infectados com
Covid-19 nas Forças Armadas Portuguesas, dois deles «nas forças nacionais
destacadas no Afeganistão», mas «todos com prognóstico muito favorável», adiantando
que, «à data de hoje», encontram-se indisponíveis «cerca de 119 militares» das
Forças Armadas Portuguesas, por se encontrarem “em isolamento”, devido à
pandemia da covid-19. «Mas é um número que tem vindo a decrescer. Já estivemos
próximos dos 300, agora [são] 119», frisou.
No auge da pandemia do COVID-19,
as FA começaram a preparar a sua intervenção no combate aos incêndios
florestais, o apoio à Proteção Civil, com mais militares mobilizados para a vigilância e com a utilização da nossa
tecnologia, como os drones, já que, continua a tardar a entrega às FA das
responsabilidades e dos meios para o combate aéreo aos incêndios, os mais
dispendiosos e sob maior suspeição “nos negócios do fogo”!
A longa marcha das FA pela sua democratização,
dignidade e missão estratégica
Esta crise, deve-nos fazer
refletir sobre a situação das FA, marcada ela também pela política de austeridade
imposta pela Troika, que levaram na altura as organizações de oficiais,
sargentos e praças, a descer à rua.
Recordo aqui, o que escrevi e
publiquei:
“A estratégia seguida pelo (s)
governo (s), face aos direitos democráticos dos cidadãos das forças armadas, é
semelhante ao que usou para quebrar a espinha às denominadas e vilipendiadas
“corporações profissionais”: depois de professores, juízes, médicos,
enfermeiros, funcionários públicos em geral, deu início a uma campanha de
violência psicológica na comunicação social: começaram os debates sobre a
utilidade das forças armadas sem estado de guerra, as comparações “objetivas”
entre o número de militares e oficiais e os padrões europeus _como se não
tivesse havido uma guerra colonial de 13 anos em três frentes de combate; a
´”denúncia dos privilégios” atribuídos aos seus sistemas de saúde e reforma; os
cortes cirúrgicos e brutais das pensões de viuvez; os cortes cegos, que
atingiram todos os trabalhadores e agentes públicos; o aproveitamento dos casos
de suspeição e má gestão do interesse do estado, como no caso da compra dos submarinos,
para os associar a supostos orçamentos de defesa acima das possibilidades…e,
sem consulta aos militares e sem que a opinião pública se apercebesse, a
elaboração de uma nova Lei de Defesa Nacional, que passou por cima do relatório
elaborado pela própria comissão de peritos que o governo nomeou para o efeito,
em oposição às suas conclusões e orientação geral, que conexionava a defesa e a
segurança nacionais com a plena restauração da soberania e com o progresso
social do país.”
E transcrevo o que então defendi
e defendo hoje, com mais convicção:
Os direitos democráticos das FA e o imperativo
ético da nação portuguesa face às suas FA
“A democracia nada tem a temer
dos militares quando estes usam as armas da democracia, como a manifestação pública
ou o discurso político. A democracia moderna reconhece aos cidadãos militares
os seus direitos políticos associativos. O mesmo se aplica às forças
militarizadas. A exigência de neutralidade partidária das forças armadas e
militarizadas é outra coisa.
A afirmação de que as forças
armadas se manifestam no campo de batalha, mesmo que suportada com a força
moral de quem já combateu, num mundo dominado pelas guerras de conquista e pela
disseminação das tecnologias militares do holocausto nuclear ou químico, em que
os militares são igualmente vítimas, é, no mínimo, redutora da condição militar
contemporânea.
No caso português a missão
estratégica das forças armadas, no quadro do nosso estado democrático e
constitucional, deve orientar-se para evitar a guerra e proteger a soberania
nacional, que é sobretudo território marítimo (1.800.000 Km2 para 92.000 Km2 de
território continental), para a Defesa Civil, para enfrentar as catástrofes
humanitárias e contribuir para as tarefas de pacificação dos conflitos internacionais,
estendendo esta cultura política às forças policiais e a todo o aparelho
repressivo do estado.”
A Ética e a condição militar
“A condição militar, numas Forças
Armadas cada vez mais instruídas, cultas e integradas socialmente, levanta
também um problema ético fundamental. A legítima defesa da vida, quando
ameaçada de morte, conduz o ser humano ao mais terrível dos dilemas e, como
ele, as nações democráticas: não desarmar a democracia significa substituir o
exército de caserna e mercenário por um corpo de profissionais e voluntários
politizado, interclassista, preferencialmente assente no serviço militar
universal apenas limitado pelo respeito devido aos objetores de consciência e
outros pacifistas ( a extinção do denominado “serviço militar obrigatório” é,
na minha modesta opinião, um passo atrás na democratização das forças armadas e
um erro crasso da esquerda); forças armadas onde prevaleçam igualmente os
Direitos Humanos e as liberdades e direitos fundamentais da democracia.
Partidariamente neutrais e
orientadas estrategicamente para evitar a guerra e proteger a soberania
nacional, para a Defesa Civil ( onde se insere não apenas o enfrentar das
catástrofes humanitárias, mas também o combate aos incêndios, apoio às forças
de segurança no combate ao crime organizado e o combate contra o terrorismo) e
para as tarefas de pacificação e resgate dos conflitos internacionais,
estendendo esta cultura às forças policiais e a todo o aparelho repressivo do
estado, como se disse no início desta crónica e aqui se sublinha.
Cada avanço na democratização das forças
armadas e policiais, na sua consciência política democrática e ambiental, tal
como o reforço do direito internacional e a democratização do aparelho judicial
à escala do país, resultarão num ganho estratégico contra a ameaça de corrupção
e poder arbitrário das oligarquias, a guerra civil fratricida e o holocausto
atómico ou bioquímico da Humanidade.”
“Ao que associo, e falo como
paisano, o imperativo ético de redefinir a missão do dispositivo de defesa (e a
sua eventual redução), com base num grande debate nacional que não exclua os
militares e garanta a dignidade da sua condição e os direitos de cidadania das
suas famílias, porque a democracia tem uma dívida de sacrifício, de sangue e de
luto, para com as gerações de militares que tiveram de fazer a guerra colonial.”
O caso de Tancos e o slogan do desprestígio das
FA
O roubo de material militar de um
dos paióis de Tancos, a maior parte obsoleto e inoperacional, constitui um
exemplo da falta de cultura político-militar da maioria dos nossos
profissionais da política e da comunicação social, e, atrevo-me a dizê-lo, dos
magistrados envolvidos.
Competia á comunicação social,
informar a opinião pública do contexto económico e político, em que o
cumprimento das missões das FA e, em particular, as medidas de segurança, foram
severamente limitadas pelos cortes orçamentais dos sucessivos governos, quanto
a efetivos e equipamentos.
Os responsáveis políticos, deviam
interrogar-se se estávamos em presença de uma ação, com ligação ao roubo das Glock da PSP no Porto, que
sinalizasse o emergir em Portugal de uma organização criminosa de nível
superior, capaz de afrontar o estado democrático, como está a acontecer em
todos os países onde as crises cíclicas da economia liberal agudiza os
conflitos sociais ou de um fenómeno de outra natureza. Mas o debate político
resvalou para a chicana e para a disputa eleitoral.
A magistratura, ao relacionar o
roubo do material com a ETA como destinatária, ignorou que esta organização política
e militar, incluindo todas as suas tendências, abandonou qualquer atividade
violenta e desmantelou as suas estruturas orgânicas, muito antes do incidente
de Tancos.
Seguiu-se uma vertigem política
de ataques e suspeições, promovidos pela oposição de direita e centro direita,
em nome da descoberta de toda a verdade_ e aqui se juntou o coro da esquerda,
que não respeitou nem o ministro da defesa, nem o Primeiro Ministro, nem o
Presidente da República, envolvendo a PJ e a PJM, com uma mensagem comum: o
roubo de Tancos constituiu uma gravíssimo caso de desprestígio das FA, a nível
nacional e internacional (?). Agravado depois pela ação de recuperação do
material, que a PJM conduziu, alegadamente á margem da lei e dos regulamentos.
Discordo que se trate de um caso
gravíssimo da responsabilidade da instituição militar, é um caso circunscrito
da responsabilidade direta do comando de Tancos, mas este tem atenuantes: O
contexto do desinvestimento do estado democrático em efetivos e equipamentos.
E reafirmo, que o debate
exacerbado nos fóruns políticos e da comunicação social, para além do
oportunismo político que revelou, demonstra que os fazedores da opinião
política não têm cultura político-militar para o nosso tempo, em que a natureza
da guerra mudou.
Vou mais longe: Na altura em que
ainda não se conhecia o perfil do grupo de criminosos, a atuação da PJM, dado o
risco latente dos danos sociais que o
material militar roubado representava, com o recurso a medidas de exceção para a
recuperar com base num acordo político, pode ser política e moralmente legítimo,
mesmo que não o seja no plano estritamente legal. Sim, num contexto de guerra
ou de risco de ameaça de conflitos violentes, fazem-se acordos com os inimigos,
fê-lo recentemente o governo dos EUA, do conservador Trump, com os seus
inimigos jurados da última década, os Taliban do Afeganistão.
Os militares da GNR que mediaram
o processo, agiram motivados pelo objetivo de recuperar as armas, tal como a PJ
militar. A PJ civil, que revelou a encenação, cumpriu o seu dever. Os tribunais
vão julgar o processo, como é imperativo de um estado democrático, agora com o
grupo criminoso devidamente caraterizado como uma quadrilha caseira. Estes
factos objetivos, não constituem um fator de desprestígio para a entidade nacional, FA.
O incidente deve ser reconduzido
à sua dimensão criminal. Para que a cultura político-militar seja difundida por
toda a sociedade e se torne um bem comum. E a imagem das FA limpa de qualquer
infâmia política.
Um estranho país, num mundo em que a verdadeira
natureza política dos seus regimes se desvela cruamente
Estranho país o nosso, onde a
nova direita política e o mais resiliente partido da democracia portuguesa,
vivem o mesmo drama ideológico: o PCP, não consegue ultrapassar os mitos
ideológicos que o impediram de ver a degeneração do socialismo na URSS e o
nascimento de novos modos de socialismo; a direita, que sobrevive entre os
escombros do neoliberalismo, mas está cega pela visão da aliança de esquerda
como uma geringonça_ que nunca o foi, antes
uma sólida aliança, formal ou de facto, e que não compreende que esta
aliança que resulta da consciência generalizada na sociedade portuguesa da falência
dos mitos do liberalismo: As gorduras do estado, associadas ao estado social; a
infalibilidade do mercado; a superioridade das grandes empresas multinacionais
e do reino da globalização financeira; o nosso futuro comum, decidido pelos
burocratas sem coração de passagem por Bruxelas, o fim da história, às mãos da
democracia liberal…e, agora, a União Europeia e os estados mais poderosos,
comportando-se como estado falhados face à primeira das pandemias modernas, que
foi revelado ao mundo pela Organização
Mundial de Saúde e pela Republica Popular da China em todas as suas reais
dimensões.
As pandemias esquecidas e desvalorizadas. E a construção de um futuro
comum para a humanidade. O papel das FA em Espanha e Itália
O desenvolvimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), do seu
trabalho de investigação, prevenção e alerta, foi a resposta que a humanidade
encontrou, para se defender da nova
ameaça, que permanecia na memória coletiva desde a mal denominada Gripe
Espanhola de 2018, 20 a 50 milhões de mortos no mundo (60 a 100 mil em
Portugal).
A crise ambiental, com a crescente perda da biodiversidade, que protegia as comunidades humanas da chegada desse vírus, está na sua origem. Este corona é um bat, hospedado nos morcegos e um SARS, que infeta o sistema respiratório de outros animais e dos seres humanos, mas, no passado, estes vírus extinguiam-se na rede densa das cadeias alimentares e de hospedeiros, que sofriam as suas infeções mortais, mas o extinguiam com a sua própria morte. Hoje, reduzidas essas cadeias, por gigantescas perdas da biodiversidade selvagem, vivem e multiplicam as suas estirpes muito próximo dos animais com que as comunidades humanas convivem.
O aparecimento de um vírus
violento e de grande morbidade, voltou a acontecer em 1968, com a Gripe de Hong
Kong, na altura uma colónia inglesa, onde teve origem o vírus Influenza A
subtipo H3N2, uma das gripes com origem nas aves, que causou mais de um milhão
de mortes à escala mundial ( Devemos pedir contas à Grã-Bretanha imperial, e
para apurar as suas responsabilidades, usar os nossos tribunais para levar ao
banco dos réus sua majestade a rainha e os seus governantes e reclamar uma
indeminização, acrescida de juros, como clamaram, já não apenas os Trump e
Bolsonaros, mas o governo australiano, ministros britânicos, e outros, como os
porta vozes dos executivos de Merkel e Makron?).
Podem emergir em qualquer país,
sem aviso prévio e proliferam quando encontram condições favoráveis: tal
sucedeu mais recentemente em África, com o Ébola (1976), no México e nos EUA em
2009, com o H1N1, em 2012 na Arábia Saudita e depois nos países do Médio
Oriente, agora na China, na pior altura possível, o período que antecede as
celebrações do novo ano lunar, chinês, que movimentam pelo país e no
estrangeiro, mil milhões de cidadãos.
A perda da biodiversidade global,
acompanhada pela aproximação dos vírus à comunidade humana, desde sempre e
sobretudo na nossa época, vem provocando surtos de infeção por novos vírus. Foi
assim que o VIH - vírus da imunodeficiência humana, causador da sida. Foi
detetado em 1981 nos EUA, tornando-se antão a principal causa de morte de
cidadãos americanos adultos entre os 25
aos 44 anos, que já matou 32 milhões de pessoas em todos os países. (Deveríamos
chamar-lhe, SIDA dos EUA, como propõe o discurso político de Tump e Bolsonaro?)
Mas, progressivamente, a partir de 1995, novos fármacos foram evitando as
mortes e transformando a sida numa doença crónica.
Mesmo fora do quadro das
pandemias violentas, a OMS, já estimava que as epidemias anuais de gripe comum
costumam atingir de 5% a 15% da população e provocam entre 250 mil e 500 mil
mortes anuais, principalmente entre idosos.
Na última grande pandemia - a
chamada Gripe A, em 2009 e 2010, o vírus começou nas aves, transmitiu-se aos
suínos, onde se misturou com outro e fez nasceu um H1N1 com capacidade
transmissão de pessoa para pessoa. O seu epicentro, passou do México aos EUA e
espalhou-se pelo mundo, chegou a Portugal a 29 de abril de 2009 (primeiro caso
diagnosticado) e viria a atingir 200 mil portugueses - 124 morreram. Mas à
escala do mundo, a perda de vidas humanas atingiu as 600 mil pessoas.
Em 2003, foi a vez da China, com
uma nova doença respiratória denominada SARS, causada por um coronavírus
parente do atual SARS-CoV-2. E, agora, com o Coronvirus de 2019. (Ver a carta
aberta da cientista Maria de Sousa, na véspera do seu falecimento por
COVID-19).
Apesar da dimensão catastrófica
destas tragédias, a nossa memória vivida não recorda nem grandes paragonas na
comunicação social, nem economias fechadas, nem confinamentos…então, porquê,
agora tudo foi diferente e, progressivamente, todos os países se virão
confrontados com a dimensão real da tragédia e a necessidade de alterar
profundamente as rotinas sociais e pessoais?
Porque a China, assumiu perante o
mundo, a responsabilidade de proteger a vida dos seus cidadãos e da humanidade,
ao custo de gigantescas perdas económicas e do esforço nacional do seu povo,
sob orientação do governo e da Organização Mundial de Saúde
Estes são os factos que é
possível documentar e provar, no meio de uma maré suja de notícias falsas e
campanhas de contra informação, que visam proteger as oligarquias que ainda
governam a maior do mundo e das nações, e possuem o poder de virar a realidade às avessas.
O caso da Região Administrativa
Especial de Macau, pode considerar-se exemplar, como foi o de Wuhan: Para
proteger a saúde e a vida dos seus cidadãos, e bloquear a propagação do COVID
19, o Governo da Região Administrativa Especial de Macau, como em toda a China,
não hesitou em reduzir a atividade económica, sabendo que tal decisão política
significaria uma tremenda perda de rendimentos para as empresas públicas e
privadas, e para a própria administração, mas salvaria milhares e milhares de
vidas humanas.
No primeiro trimestre de 2020, o
seu PIB caiu para 48,7%. Mas todos os 45 casos diagnosticados foram importados
e as autoridades indicaram não ter existido contágio na comunidade. Todos
recuperaram!
Sigamos o desenrolar da crise do
COVID-19
Não só a investigação do novo
vírus não foi abafada, como, desde dezembro de 2019 mobilizou todos os recursos
da China, The Wuhan Center for Disease Control and Prevention (CDC), the
Chinese Academy of Medical Sciences (CAMS),
The National Health Commission (NHC)
em colaboração com os Centers for Disease Control and Prevention (CDC)
dos EUA e a Organização Mundial de Saúde (OMS/WHO),
Desde 3 de janeiro, a China tem
vindo a informar regularmente a Organização Mundial de Saúde (OMS/WHO), e os países e regiões suscetíveis de serem
primeiro afetados, Hong Kong, Macau,
Taiwan, sobre o surto de uma nova pneumonia, estabelecendo nessa data os
primeiros contactos com os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos
EUA, o seu parceiro estratégico em anteriores surtos epidémicos.
De tal modo, que no dia 7 de
janeiro ele foi identificado na China como um novo corona e no dia seguinte os
CDC dos EUA puderam receber e partilhar
toda a informação científica, que a 9 de janeiro foi plenamente
comunicada à OMS e , na mesma data, divulgada em grande escala, não apenas
entre a população de Wuhan como de toda a China, pelas autoridades!
Ainda 9 de janeiro, a OMS/WHO
publicou no seu site um comunicado sobre
um conjunto de casos de pneumonia em Wuhan, dizendo que a identificação
preliminar de um novo coronavírus num tão curto espaço de tempo constituía uma
conquista notável: “…preliminary identification of a novel coronavirus in a
short period of time is a notable achievement. data”. Uma realização
científica sem precedentes.
O conhecimento destes factos e da
sua cronologia é crucial, sobretudo para compreender a evolução da pandemia e o
surgimento da cadeia de notícias falsas, que tentam virar do avesso a história
recente do COVID-19.
Uma nota final: A expansão da
pandemia na europa, podia ter sido limitada, se logo no seu início a União Europeia
tivesse mobilizado os seus recursos para ajudar a Itália e a Espanha na sua
contenção. Mas nada foi feito. E ela evoluiu para uma dimensão trágica,
disseminando-se por todo o continente.
Só seria contida, naqueles dois
países, pela intervenção de três fatores fundamentais: a chegada de material
médico, sobretudo material de proteção e ventiladores a Espanha e a Itália,
provenientes da China, doados ou disponibilizados para um mercado fechado a
ocidente pelos egoísmos e urgências nacionais; a reconstrução dos recursos do
serviço nacional de saúde, privatizados e desmantelados pelo austeritarismo,
sobretudo em Madrid e na Lombardia, graças á intervenção das forças armadas
destes dois países, que beneficiaram igualmente, tal como a generalidade das
nações, do apoio das equipas de médicos e enfermeiros oriundos da China ( mais
de 200 países) e de Cuba ( 34 equipas em
26 países).
O ponto de viragem no combate à
pandemia em Espanha e Itália, coincide com a convergência agregada desses três
fatores: ação das FA, solidariedade internacional e SNS reconstruído.
1 comentário:
Brilhante análise à actual situação, com visão clara e real, na evolução das FA e em paralelo com a sua acção, sanitaria e logistica, num TO, que desde há muito, não coincidia no territorio nacional.
Este artigo deveria ser lido por políticos, com responsabilidades legislativas, para que se reflita, e, se tratem as FA, com responsabilidades, naturais especiais, tornando-as adaptadas às Missões do Séc. XXI, muito à frente das Ameaças da Guerra Convencional, preparadas, para preparar os cidadãos, para a defesa Nuclear, Biológica e Quimica, tendo como posdivel exemplo, a crise que vivemos, da pandemia de Covid19.
Parabéns, amigo Antonio Manuel.
Enviar um comentário