7.4.20

O MILAGRE HUMANO DA VENEZUELA, NO COMBATE À PANDEMIA

O mundo não se divide entre os que apoiam o regime de Maduro e aqueles que o querem subverter, mas entre os que acham que só o povo da Venezuela deve poder decidir o seu destino político e os outros que promovem ou apoiam a ingerência nos assuntos internos deste país, visando o seu derrube.
A Venezuela apresenta hoje um dos mais baixos índice de infetados e de mortalidade da América Latina, apesar do boicote dos EUA se ter acentuado, impedindo a compra no exterior de suprimentos e equipamentos médicos, um cerco desumano que ignora os apelos das Nações Unidades e do seu Secretário Geral e de um número crescente de países, com destaque para a diplomacia… Espanhola!
Esse “milagre” é reconhecido pelos líderes venezuelanos como fruto de cinco fatores: o apoio das equipas médicas e de enfermagem cubanas, a chegada de donativos da China, incluindo uma equipa de 8 especialistas que estiveram na linha da frente de combate ao vírus e o apoio da Rússia, em material sanitário adequado, o suporte das Nações Unidades e em particular do seu Secretário Geral, o português António Guterres, facto que o próprio presidente Nicolás Maduro não deixa de sublinhar, em contraste com a política do governo de Portugal, que passou do pragmatismo das oportunidades de negócio para o seguidismo face à ingerência subversiva do governo americano.
Acresce, que o governo da República se tornou cúmplice da violação das regras bancárias internacionais, ao consentir que o Novo Banco congelasse os fundos venezuelanos que lhe estavam confiados, sem qualquer mandato legal, mais de 1,5 mil milhões de euros (exatamente 1.543 milhões, em fevereiro de 2019)! E cúmplice continua, agora em plena crise do COVID-19. O Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ordenou então  a transferência do gabinete europeu da petrolífera estatal PDVSA de Lisboa para Moscovo, porque “a União Europeia não garante o respeito pelos nossos ativos”
A diplomacia portuguesa, que além do respeito pelo direito internacional deveria cuidar igualmente da numerosa comunidade luso venezuelana, e ao menos convergir com as Nações Unidas, passou a valer zero na Venezuela. O que nos vale, é que o Secretário Geral é português e cumpre corajosamente os princípios da Carta das Nações Unidas, de algum modo compensando a vergonhosa política do Governo da República, uma política sem princípios, porventura ditada também pelo calculismo eleitoral!
Mas há um quinto fator: a unidade da nação venezuelana, sob a proteção de Cristo Redentor e de todas as confissões religiosas que existem neste país. Nos primeiros dias da pandemia, às oito horas da noite, hora portuguesa, o presidente Nicolás Maduro vinha à televisão Telesur fazer o ponto de situação da ameaça e interrompia o seu discurso para dar voz, sucessivamente, ao sacerdote da Igreja católica, ao capelão das Foças Armadas, ao pastor evangélico, ao imane muçulmano e ao rabi judeu, encomendando o seu povo ao Cristo Redentor, o símbolo religioso da Revolução Chavista e do “socialismo cristão”, que é a sua ideologia. O mesmo Cristo que abre os braços sobre as agora desprotegidas favelas do Rio, que cobrem todo o horizonte desde o monte do Corcovado.
O número de casos na Venezuela é de 144 e o de mortos 3, segundo a estatística da Organização Mundial de Saúde, que mantém um sistema de controle em todos os países e que tem vindo a evidencia a originalidade e os resultados positivos do sistema de prevenção e combate do Corona-19, implementados na Venezuela, como um “case-study”.
O Governo do presidente Maduro, mobilizou todas as organizações populares, para, em conjunto com as equipas sanitárias, percorrerem em quadrícula todas as cidades e aldeias do país, com a finalidade de detetarem, bairro a bairro, residência a residência, os casos suspeitos. Quando tal se verifica, é na própria residência que se faz a primeira avaliação e triagem e depois se orienta o paciente. O número de testes já realizados, ronda os 40.000.
A ação do Secretário Geral das Nações Unidas. O R4V
Esta estratégia, enfrenta hoje um novo desafio. Milhares de venezuelanos regressam às fronteiras do seu país, como refugiados proveniente do Peru,  da Colômbia, Brasil ou do Equador, onde os governos não oferecem às suas populações condições mínimas de controle da doença e os emigrantes têm vindo a ser alvo de discriminação e ataques racistas. O governo bolivariano prevê a chegada próxima de mais de 15.000 venezuelanos.
Foi António Guterres quem teve a iniciativa de criar uma estrutura e um programa específico, sob a sigla R4V, para atender à gravidade da situação dos emigrantes e refugiados da Venezuela, no âmbito do ACNUR, o alto comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, que ele próprio já coordenou e da IOM_ International Organization for Migration”.
The Regional Inter-Agency Coordination Platform was established pursuant to the request by the UN Secretary-General to UNHCR and IOM on 12 April 2018, to lead and coordinate the response to refugees and migrants from Venezuela.”
O trabalho desta estrutura das Nações Unidas, permitiu repor a realidade dos números de refugiados e migrantes venezuelanos e a sua distribuição geográfica e desconstruir o significado desses números, sem diminuir a dimensão gigantesca do êxodo, podendo ser cotejados no site do R4V, onde igualmente se enunciam as possíveis inexatidões estatísticas que eles representam:
O número de 4.933.920, aquele que conhecemos pelas grandes cadeias de comunicação social e redes sociais, refere-se ao movimento global de emigrantes e refugiados venezuelanos, que partiram para outros países. O valor associado aos períodos mais recentes de conflito político neste país, deve estar mais próximo da realidade nos quadros que aqui resumimos: 2.511.628 vistos de residência, permanente ou temporária, por ordem de grandeza, na Colômbia, Chile, Perú, Brasil, Equador…dos quais  894.787  são pedidos de asilo, ao Perú, Brasil. EUA, Espanha, México…com apenas 62.624 reconhecidos como refugiados da Venezuela.
O travalho do R4V, permite perceber que estes valores (dramáticos)  foram muitas vezes usados sem uma explicitação da sua natureza e ciclo temporal, para obter um efeito de propaganda política. Os governos que querem subverter a presidência da Venezuela,  proclamam a necessidade de derrubar o regime, perante a dimensão trágica do êxodo venezuelano e a sua grave situação social, agitando o número de mais de 4 milhões de refugiados/emigrantes e depois reconhecem esse estatuto a pouco mais de sessenta mil!
A oposição venezuelana nunca conseguiu encontrar um programa e um projeto alternativo comuns e esteve sempre dividida entre inúmeros grupos e personalidades, formando uma ala fascizante, golpista e violenta, maioritária e uma ala democrática, que nunca prevaleceu. O acordo efêmero que lhe permitiu concentrar votos e conquistar a maioria da Assembleia Nacional em 2015, num período de extremas carências provocadas pelo acentuar do cerco americano, dirigido pelo governo de Obama e de  eminente intervenção militar dos EUA, foi de imediato quebrado e essa maioria antidemocrática tomou a direção da Assembléia e passou à violência de rua. Acentuou-se então a sua divisão interna. Falhado o golpe constitucional, mas com um um êxodo crescente de  venezuelanos, uma parte dos partidos oposicionistas enveredou pela disputa eleitoral legal, concorrendo às presidenciais contra o candidato Nicolás Maduro e mantendo depois de derrotada, um diálogo para a reconciliação nacional, que o presidente reeleito lhes ofereceu. A outra parte, foi perdendo apoio popular e apostou tudo numa estratégia de intervenção militar americana, a coberto da ajuda humanitária, promovida á margem das Nações Unidas e contra as suas agências e, depois, no imposição de um presidente interino que culminou no golpe militar falhado.

Na realidade, e nestes anos de crise e global, aquilo que separa a Venezuela da fome, da doença e do caos violento, é o regime nascido da Revolução Bolivariana (pacífica e sustentada na via eleitoral), quer disso tenha consciência a comunidade internacional, quer não ( o papa tem e sempre agiu a conformidade; o bispado católico venezuelano, em toda a história contemporânea, jamais produziu um teólogo como Boff ou um bispo como D. Hélder da Câmara, tão pouco um mártir defensor da democracia e dos direitos populares, como Monsenhor Romero e ,assim, tem vindo a perder a sua base de apoio entre os mais pobres). 

Na América Latina, encontrou um largo eco a intervenção do Presidente da República de Portugal junto dos bancos, lembrando-lhes que cada português ajudou e ajuda a salvá-los com o seu próprio contributo financeiro, que o estado democrático depois canalizou para empréstimos e para o denominado  Fundo de Resolução. (recordo, que, só para o Novo Banco, no momento da venda de 75% ao fundo_ abutre _norte-americano Lone Star, foi estabelecido um máximo de 3,89 mil milhões de euros que o Fundo de Resolução poderá injetar no Até agora, já foram utilizados cerca de 2 mil milhões de euros, mas os novos donos do Novo banco  anunciaram que o vão esgotar completamente. O mesmo Novo Banco (antigo BES) que se apossou, por “congelamento”, de 1.543 milhões do povo venezuelano, em fevereiro de 2019!

De igual modo, a decisão do governo português de tratar os emigrantes em pé de igualdade com os cidadãos nacionais, foi notícia saudada no Médio Oriente e na Ásia.

Então, porque silenciam, a nossa comunicação social e as nossas redes sociais_ "europeias. modernas, livres", tanta iniquidade face à Venezuela e ao seu povo, porque não dão testemunho do trabalho dos nossos profissionais de saúde, dos seus exemplos de abnegação e vitória contra a pandemia,  tal como das propostas, decisões, dando voz das Nações Unidas e ao seu Secretário Geral, que é português!?

Pelas mesmas razões! Vocés, entendem…


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