Devemos chorar todos os
nossos mortos, cristãos e muçulmanos, xiitas e sunitas, vítimas inocentes da
guerra e do terrorismo e, para além do luto e das medidas antiterroristas, procurar
as suas causas políticas.
A invasão do Afeganistão,
liderada pelos EUA com a contribuição militar da organização armada muçulmana
Aliança do Norte e de outros países ocidentais (Reino Unido, França, Canadá e
outros 47 países, NATO-ISAF), teve início em 7 de outubro de 2001, à revelia
das Nações Unidas, que não autorizaram a invasão do país, sob o signo da “
guerra contra o terrorismo”, declarada pelo governo Bush, após os atentados de
11 de setembro.
A invasão do Iraque pela coligação EUA-UK-NATO em 2003 precedeu o
terrorismo do DAESH (ISIS).
A guerra na Síria, já
em 2011 e em plena Primavera Árabe, desencadeou-se quando esta organização
terrorista ainda estava confinada ao Iraque.
A revolução democrática
na Tunísia e no Egito, conhecida como Primavera Árabe, foi seguida em 13 de
fevereiro de 2011 pelas manifestações populares na Líbia, mas rapidamente degenerou em confronto militar,
com intervenção da NATO e dos seus aliados. O DAESH chegaria então à Líbia. entre duas
guerras civis sem fim à vista.
Afeganistão,
a invasão e ocupação
Um relatório intitulado
Body Count elaborado pela Physicians for Social Responsibility,
Physicians for Global Survival e pela organização Médicos Internacionais
para a Prevenção da Guerra Nuclear (galardoada com o Prémio Nobel da Paz) concluiu que 106.000 a 170.000 civis foram
mortos como resultado dos combates no Afeganistão.
A maioria dos soldados da
coligação que morreram no Afeganistão é norte-americana, com 2.097 mortos nos
primeiros nove anos de guerra. Aí também perderam a vida militares portugueses.
A administração Bush assumiu
que os membros da Al-Qaeda capturados no campo de batalha não seriam protegidos
pela Convenção de Genebra, uma vez que não se tratava de uma guerra
convencional e transformou a base militar de Guantánamo, que os EUA mantêm em
Cuba com a oposição do seu governo, num centro de tortura desses prisioneiros,
que se conserva até à atualidade.
Os bombardeamentos que
atingiram alvos civis, como recentemente o hospital dos médicos sem fronteiras,
grupos de civis e a exibição nas redes sociais de filmes dos talibãs mortos
profanados por soldados da coligação, causaram ondas de revolta e ódio no mundo
muçulmano.
Desde 2001, mais de 5,7
milhões de afegãos regressaram ao país, mas outros 2,2 milhões permaneciam
refugiados em 2013, sobretudo no Paquistão. Após a retirada das principais
forças estrangeiras em 2014 e apesar das negociações secretas com os talibãs,
intensificaram-se os confrontos militares, atentados bombistas, a utilização de
drones e operações de tropas especiais para liquidar
os líderes da guerrilha e o próprio Ossama, provocando nova vaga de refugiados
que começaram a chegar à Europa.
No auge da presença
americana no Afeganistão, o ano fiscal de 2011, os custos da guerra elevavam-se
a 468 biliões de dólares, uma estimativa em que os gastos com a presença
de um único soldado dos Estados Unidos no Afeganistão ultrapassava o valor
astronómico de 1 milhão de dólares por ano!
Iraque,
a invasão e ocupação
Cerca de meio milhão de
pessoas morreram no Iraque desde a invasão da coligação liderada pelas forças
norte-americanas até ao fim da ocupação
em 2011, revelou um estudo académico realizado por investigadores
universitários dos Estados Unidos, Canadá e da capital iraquiana, coordenado
por Amy Hagopian, investigadora de saúde pública na Universidade de Washington.
A última estimativa de
Bagdad, em cooperação com o Ministério da Saúde do Iraque, abrange não só as
mortes violentas, mas outras mortes evitáveis relacionadas com a intervenção
militar, guerrilha e colapso social subsequente. "A violência no Iraque
causou a maioria das mortes, mas cerca de um terço foi indiretamente ligado à guerra. Essas
mortes foram deixadas de fora das contagens anteriores", disse a principal
autora do estudo.
A imagem política das democracias ocidentais,
particularmente da coligação militar liderada
pelos Estados Unidos, que incluía forças inglesas, apoiadas por pequenos
contingentes da Austrália, da Dinamarca e da Polônia ( a que se associaria mais tarde um pequeno grupo
de forças militarizadas portuguesas), face à inexistência de armas de
destruição em massa no Iraque e de qualquer ligação entre Saddam Hussein e a Al-Qaeda, aos
custos econômicos, ao número de vítimas dos dois campos, a execução sumária de
Sadan Hussein, a tortura de prisioneiros em Abu Ghraib, aos escândalos com
firmas de segurança privada, como a Blackwater, bem como à estruturação dos
primeiros governos pró-americanos, numa base étnico-religiosa xiita, conduziu à
constituição de grupos de resistência armada de diversas tendências políticas, nacionalistas
(os Fedayin e os militantes do partido socialista árabe Baath) e islamistas ( o
Exército Mahdi, também xiita, chegou a ter 60.000 milicianos e hoje combate o
DAESH), mas com a crescente hegemonia de forças extremistas ligadas à Al Qaeda
e à sua cisão no DAESH. Com a ocupação e o emergir da guerra civil, 15% da
população fugiu para países vizinhos, contabilizando-se 4 milhões de refugiados
iraquianos.
No princípio de 2003, os Estados Unidos, o Reino Unido
e a Espanha propuseram a chamada "Resolução 18" para dar ao Iraque um
prazo para cumprir as resoluções anteriores e que seria aplicada pela ameaça de
acção militar. Esta resolução foi retirada por falta de apoio no Conselho de
Segurança das Nações Unidas. Em particular a França e a Alemanha, membros da
NATO, e a Rússia, opuseram-se à doutrina Bush da "guerra preventiva"
e a uma intervenção militar no Iraque devido ao elevado risco para a segurança
da comunidade internacional e defenderam o desarmamento através da diplomacia.
Kofi Annan, Secretário Geral
da ONU, diria depois sobre a invasão: " em conformidade com a Carta das Nações
Unidas a invasão do Iraque foi ilegal".36 milhões de pessoas
em todo o mundo tomaram parte em cerca de 3000 protestos contra a guerra do
Iraque.
Estima-se que durante os dez anos de ocupação mais de
um milhão de soldados norte-americanos foram enviados para o Iraque: 4.483
foram mortos, 33 mil feridos e mais de 200 mil diagnosticados com transtorno de
stresse pós-traumático. A taxa de suicídio alcança 26% entre os veteranos
masculinos de 18 a 29 anos.
No que se refere aos custos económicos da guerra, os
valores são assustadoras. Segundo J. Stiglitz (Premio Nobel de economia) atinge
os 4 triliões de dólares. A Dívida dos EUA subiu de $ 6,4 triliões em março de
2003 para US$ 10 triliões em 2008 (antes da crise financeira), sendo que pelo
menos 25% de montante é diretamente atribuível à guerra.
Mas do ponto de vista do setor privado, a Guerra do
Iraque trouxe um saldo extremamente positivo para o complexo industrial-militar,
os serviços de segurança privada e para as empresas de construção civil que
receberam os contratos de reconstrução
das suas infraestruturas, bem como, para a própria indústria petrolífera, que
passou por um período de pico nos preços, um aumento do preço do barril de
petróleo em quase quatro vezes entre 2003 e 2011.
Em 2003, quando os EUA
chegaram à região, o preço do barril rondava os US$25. Cinco anos depois, em
2008, os preços chegaram a US$ 140. A Guerra contra o Terror conduzida pelos
EUA, após 2001, propiciou ainda um aumento considerável na venda de armas para
os países em todo o mundo. As 100 maiores empresas produtoras de armas do mundo
venderam US$ 410 biliões em armas e serviços militares em 2011. Um estudo do
Sipri mostra que a despesa militar no mundo, em 2011, foi de 1,6 triliões de
dólares, um aumento de 40% em 10 anos.
A maior parte dos
recursos foi alocada na contratação de empresas privadas de segurança. Em 2008,
os dez principais fornecedores de serviços militares receberam cerca de US$150
biliões em contratos.
Para perpetuar este
ciclo, altamente lucrativo, essas corporações
reinvestem parte dos biliões de dólares adquiridos com a guerra em ações
de lobby e contratação de antigos oficiais de topo para a sua administração,
como facilitadores do processo de contratação. A Lockheed Martin, empresa que
mais possui contratos na área de segurança militar, em todo o mundo, doou mais
de um milhão de dólares para deputados e senadores de diferentes partidos em
2009. A sua direção é composta por antigos funcionários do governo: o
ex-vice-secretário de Defesa, o ex-comandante do Comando Estratégico, o ex-vice-secretário
de Segurança Interna. O seu rendimento anual é de US$ 40 biliões de dólares,
dos quais, pelo menos 35 biliões, são provenientes de contratos com o governo
norte-americano. Mas a Lockheed Martin não é exceção: agem do mesmo modo a
Northrop Grumman, Boeing, CACI, Parsons Corp e a Pasadena.
A Organização das
Nações Unidas (ONU) informou recentemente
que 1,2 milhão de iraquianos tiveram de abandonar os seus lares desde o início
dos conflitos provocados pelo avanço do DAESH
Síria,
a intervenção estrangeira
A primeira vaga da
revolução democrática nos países árabes apanhou de surpresa as potências
mundiais.
A sua riqueza em
petróleo, gaz natural, minerais e reservas financeiras, partilhada entre as
oligarquias locais e as grandes empresas e consórcios financeiros, do ocidente
e do leste, chocava com um grande movimento popular de revolta, que exigia
liberdade política, pão e progresso social. Uma profunda inquietação invadiu
então o mundo dos negócios e das finanças. Os seus porta-vozes políticos e da
comunicação social começaram por lançar a suspeição acerca do fundamentalismo
religiosa que estaria a guiar a revolução e, quando se tornou irreversível a
queda dos regimes autoritários da Tunísia e do Egito, declararam o seu apoio à
transição para um modelo de democracia liberal.
Mas, em paralelo,
procuraram suster e limitar a vaga revolucionária: a Arábia Saudita, o Koweit,
Qatar ou os Emiratos Árabes, regimes autocráticos, foram considerados
intocáveis, tal como o Bahrein, o pequeno estado com a maior base americana do
médio oriente, invadido pelo exército dos cheques feudais sauditas, a revolta
popular sufocada em sangue e em silêncio cúmplice ocidental. A Rússia, que
dispõe na Síria da única base naval na região, adotou a mesma política face ao
seu regime.
Mas as primeiras
manifestações de protesto do povo líbio e a violência da resposta do regime
autoritário de Kadhafi permitiram ensaiar uma nova estratégia, a militarização
da revolta popular: intervenção política, económica e mediática levada até ao
extremo da guerra civil, seguida de escalada militar. Na Líbia, esta nova
estratégia foi liderada no terreno pela Nato e pela França, com o objetivo de
colocar no poder uma nova fação favorável aos seus interesses e renegociar a
gestão das suas riquezas.
O fracasso da ação
mediadora das Nações Unidas e de Kofi Annan na Síria, insere-se numa
estratégia de guerra civil e intervenção militar estrangeira, a princípio
encoberta e depois direta. A posição da China, que apoiava este plano e se
afirmava contra a intromissão nos assuntos internos da nação Síria e em favor
de uma solução política negociada, foi deliberadamente confundida com a da Rússia, potência
aliada do regime. O governo tirânico de Damasco diabolizado e acusado de
crimes de guerra contra os civis, mas como se não houvesse civis em ambos os
campos e atrocidades comuns. Os dignatários do regime de Assad que desertam
passam de imediato ao estatuto de defensores da democracia e dos direitos
humanos. O cenário político e mediático segue o modelo da Líbia.
O
Conselho Nacional Sírio_CNS, foi criado em outubro de 2011 por representantes
da Irmandade Muçulmana, dos Comitês Locais de Coordenação que lideraram as
manifestações, por liberais e também por partidos das minorias curdas e assíria,
compostos principalmente por exilados políticos, contando com o apoio do
governo da Turquia, onde se encontra instalado, da Arábia Saudita, do Qatar,
dos Emiratos Árabes e das potências ocidentais. Ele não representa no entanto a
totalidade da oposição síria, não integrando o Fórum Democrático,
particularmente as personalidades e movimentos de esquerda.
A
sua estratégia foi o apelo à solução militar e à intervenção armada da Liga
Árabe, do ocidente e dos EUA.
O
porta-voz do Conselho Nacional Sírio (CNS), George Sabra, deu uma conferência
de imprensa em Istambul ( Março de 2012) afirmando: “Pedimos uma intervenção
militar dos países árabes e ocidentais para proteger os civis”. Sabra anunciou que foi estabelecido um gabinete
de coordenação para encaminhar armas para o Exército Livre. Disse que isso será
feito com o apoio de governos estrangeiros. O CNS rejeitou o plano de paz das
Nações Unidas, baseado no cessar-fogo e nas negociações políticas para uma
solução pacífica e política do conflito.
A guerra na Síria já provocou
mais de 230.000 mortes. O número de refugiados sírios ultrapassou a barreira
dos quatro milhões. O balanço é feito pela ONU que alerta para o facto de nem
todas as pessoas em fuga estarem registadas.
A guerra na Síria provocou, ainda, mais de seis milhões de deslocados. Feitas
as contas, cerca de metade da população foi obrigada a fugir.
Segundo a Amnistia
Internacional, 95% dos refugiados sírios estão em apenas cinco países: Turquia,
Líbano, Jordânia, Iraque e Egito. A Turquia, com 1,6 milhão de refugiados
sírios, e o Líbano, com 1,1 milhão, são os principais destinos. Cinco países
ricos do Golfo, Catar, Emirados Árabes,
Arábia Saudita, Kuwait e Bahrein exigem um visto prévio de entrada, muito
difícil de conseguir. No entanto, fazem parte da coligação que promoveu a
militarização da primavera árabe na Síria e financia os grupo armados da oposição.
Líbia,
a intervenção estrangeira
No final da primeira guerra
civil e da intervenção estrangeira, da NATO, liderada pela França e pelos seus aliados, que foram muito para além do mandato da ONU, o número de mortos na Líbia era
estimado em pelo menos 30.000 e o número de feridos em pelo menos 50.000, sendo
20.000 com ferimentos considerados graves. De entre os mortos pelo menos metade
seria de combatentes do regime deposto de Kadhafy.
Em fevereiro de 2015,
os danos e a desordem causados pela segunda guerra civil fizeram cair a
produção de petróleo de 1,4 milhões de barris por dia em maio de 2013 para
300.000 barris por dia em janeiro de 2015, com uma perda de receita de 90%.
Mais de 3.000 pessoas morreram por causa dos
combates, há 400.000 pessoas deslocadas no interior do país e uma nova onda de
refugiados de nacionalidade líbia chega à Tunísia e tenta alcançar a Europa
pelo Mediterrânio.
Acresce que mais de 90%
dos refugiados e migrantes que chegam à costa italiana passam pela Líbia, agora
um “Estado-fantasma” dividido entre dois “governos” rivais (e dois
parlamentos), um em Tripoli outro em Tobruk. O Egipto, os Emirados e os
sauditas apoiam Tobruk, tal como Paris. Tripoli tem a ajuda do Qatar e da
Turquia e de Roma. As companhias petrolíferas da França e da Itália, as suas
empresas de construção disputam o mercado líbio e os terroristas do Daesh conquistam pelas armas
o seu próprio território. Tal como a Al Qaeda, desde o princípio da intervenção
estrangeira que foram tolerados e integrados na coligação anti-Kadaphy.
À Líbia chegam os
refugiados que fogem da Nigéria e do Boko Haram. Da República Centro-Africana e
do Mali. Da Somália, em guerra civil desde 1994, da Eritreia, do Sudão
(governado pelo general Omar al-Bashir que tem um mandato de captura internacional)
e do Sudão do Sul, onde não há paz. O regime laico de Kadhafy era o pêndulo que
equilibrava estrategicamente este fluxo e a única força militar no terreno
capaz de se opor ao fundamentalismo islâmico. A NATO recusou todas as propostas
de solução política para a guerra civil, aceites por Kadhafy, viessem de
Chavez, da Liga Árabe ou da União Africana e dos BRICS.
Os
golpes de estado na Argélia e no Egito
Os movimentos políticos
de influência islamita que escolheram a via democrática ocidental, como a a
Frente Islâmica de Salvação que em 2001 ganhou a primeira volta das eleições
legislativas na Argélia, foram vítimas de golpes de estado apoiados pelas
potências ocidentais; neste país, a seguir ao cancelamento da segunda volta
eleitoral, a FIS sofreu brutal repressão. Após a proibição da FIS e a detenção
de milhares de seus membros, os seus apoiantes começaram uma guerra de
guerrilha contra o governo que provocou 150 mil e 200 mil mortos: apesar da
derrota das forças principais da guerrilha, em 2002, ainda hoje se mantém um
conflito armado de baixa intensidade conduzido pelo Grupo Salafista para a
Pregação e o Combate (GSPC), que, entretanto, declarou o seu apoio à Al-Qaeda.
Nas primeiras eleições
parlamentares no Egito após a queda de Mubarak, em 2011, o Partido Liberdade e Justiça, PLJ,
nascido da moderada Irmandade
Muçulmana, ganhou quase metade dos
assentos na Assembleia do Povo, enquanto, o também islâmico-salafista, Partido
Nour ficou em segundo lugar, o que deu aos islâmicos cerca de 70% dos assentos
na Câmara Baixa e um resultado semelhante na escolha dos integrantes da Câmara
Alta (Conselho Shura). Em 2012, Mohammed Morsi, presidente do PLJ, venceu as
primeiras eleições presidenciais democráticas no Egito. Com 51% dos votos na
segunda volta, derrotou Ahmed Shafiq, ex-comandante da Força Aérea. Morsi
procurou tranquilizar os adversários, declarando que, como presidente, queria
construir um "Estado democrático, civil e moderno" que garantisse a
liberdade de religião e o direito de protesto pacífico. O referendo da nova
constituição voltou a conceder ao PLJ a maioria dos votos. Em 2013, no Egipto,
um outro golpe de estado conduzido pelos
militares afastou do poder e ilegalizou o PLJ, prendeu e reprimiu os seus
membros, condenando à morte os seus líderes, de novo com a cumplicidade das
potências ocidentais. Assim, estendeu a influência da Al Qaeda e do Daesh à
península do Sinai e ao território deste país.
Em paralelo, o
arrastamento do conflito israelo-palestino, a progressão ilegal dos colonatos e
as violentas incursões da máquina de guerra judaica, radicalizaram os
movimentos políticos palestinianos e serviram igualmente de bandeira de
recrutamento ao DAESH. Apesar de tudo,
as organizações políticas palestinas condenaram sem reservas o terrorismo do
DAESH e opuseram-lhe uma barreira eficaz à sua penetração entre a nação da
Palestina e a sua diáspora.
O
financiamento do DAESH
O encontro dos
"Amigos do povo da Síria", realizado em Abril de 2012, na Turquia,
juntou representantes diplomáticos de cerca de 70 países ocidentais e árabes,
onde se proclamou o CNS Conselho Nacional Sírio como o legítimo representante
da Síria. O Conselho Nacional Sírio garantiu nessa altura os salários para todos
os rebeldes que combatam o regime do Presidente Bashar Al-Assad. Entre eles já
se encontravam os grupos ligados à Al Qaeda e ao DAESH. Os militares desertores
também seriam pagos, com milhões de dólares doados por vários países do Golfo
Pérsico. Ausências relevantes foram as da Rússia, China e Irão, que em Teerão
realizaram uma outra Conferência internacional.
A Conferência
Nacionalista Árabe, reunida em Junho desse ano na Tunísia, envolvendo os
partidos nacionalistas e laicos nasseristas ou “bassitas”, e outros de
esquerda, defendeu a solução política não militar, mas não mereceu qualquer
apoio das potências ocidentais.
No dia 2 de Setembro de
2014, a representante da União Europeia (UE) no Iraque, Jana Hybášková, disse
no Parlamento Europeu que alguns países da UE estavam a comprar petróleo ao
DAESH através da Turquia. Bruxelas negou mas avançou ter provas de que esse
comércio estaria nas mãos de rotas clandestinas controladas por empresários
turcos, iranianos e curdos iraquianos. Os Estados Unidos, por seu lado, alegam
que o petróleo segue para a Turquia, Jordânia e Arábia Saudita –também acusada,
com o Qatar e os Emiratos de financiar
diretamente os sunitas radicais, na guerra e na propaganda feita a partir da criação
de pseudo escolas corânicas a ocidente.
Segundo a imprensa internacional, o ‘desconto’ praticado pelo EI pode chegar
aos 60% e o lucro obtido ultrapassa os 2 milhões de dólares por dia.
Para além de petróleo,
o DAESH drena para os mercados internacionais ópio, arte (que rouba dos campos
arqueológicos que também controla e que vai destruindo), fosfatos, gás natural,
cimento, trigo e cevada – este agregado pesa um pouco mais que o petróleo no
seu orçamento.
Nos territórios
ocupados saqueia ( dos bancos de Mossul terá retirado 498 milhões de dólares) e
impõe impostos de guerra e, com a economia desagregada e os serviços sociais
destruídos, pratica uma política de distribuição de bens e serviços básicos às
populações civis, que dele dependem para a sobrevivência quotidiana.
O porto turco de Ceyhan
é o centro deste mercado negro. O petróleo chega do território conquistado pelo
DAESH em longos e regulares comboios de camiões. Mas foi preciso o último
ataque terrorista em Paris para que a aviação americana atacasse pela primeira
vez esse alvo. A ofensiva aérea russa intensificou-se então, atacando em força
as instalações petrolífera, reservatórios e comboios do DAESH.
Ao mesmo tempo, as
principais potências ocidentais, o Irão e a Rússia, acordavam finalmente na
abertura de uma via negocial para uma solução política da guerra civil na
Síria, que inclua o seu atual presidente neste processo, apesar da insistência
no seu afastamento posterior.
A
Europa numa nova situação de “guerra de baixa intensidade”
Este balanço incompleto
e sumário permite perceber que as principais vítimas desta vaga de invasões e
terrorismo foram e são, em primeiro lugar, os povos e as nações muçulmanas e
percecionar como a violência, o sofrimento e o luto atingiram esse outro lado
da humanidade, semeando o terreno para o desespero de grandes massas populares,
revoltadas, gerando milhões de refugiados e migrantes, favorecendo a propaganda fundamentalista. E
desacreditaram a opção democrática proclamada a ocidente.
A Primavera Árabe de 2010 e 2011 inaugurou o período das
revoluções democráticas no norte da África e nos países árabes, retomando, mais
de meio século depois, o programa incumprido dos jovens oficiais nacionalistas
que na década de 50 do século XX enfrentaram as potências neocoloniais
vencedoras da II guerra Mundial e os seus aliados monárquicos e feudais;
fundando então os primeiros partidos democráticos, socialistas e comunistas no
mundo árabe, nacionalizando o petróleo, o gaz, as empresas mineiras e o Canal
do Suez e prometendo aos seus povos o pão, a liberdade e a independência.
O avanço espontâneo da
revolução democrática na Tunísia como no Egipto no século XXI, continha desde
logo uma lição de ciência e de ética políticas:
A democracia não se
exporta e impõe com exércitos de ocupação, como aconteceu no Iraque e no
Afeganistão. Os povos árabes têm dentro de si a força e a capacidade de lutar
pelas suas reivindicações políticas fundamentais e vencer o terrorismo na sua
origem.
A revolução democrática
dos povos árabes foi truncada pela sua militarização: o resultado é que a
Europa está hoje numa situação de “guerra de baixa intensidade” e todas as
guerras, exigem uma solução política.
Os refugiados (4 milhões de refugiados iraquianos; 4 milhões de
refugiados sírios; mais de 2,2 milhões de refugiados afegãos; quantos milhões, provenientes
da Líbia e da África do norte e central?) e migrantes são-o,
afinal, de uma guerra que também foi provocada e alimentada por alguns dos governos
conservadores, trabalhistas, republicanos e democratas ocidentais e o
terrorismo é uma das suas manifestações mais abjetas. Um número superior a um milhão e trezentos
mil mortos, nos países muçulmanos, representa um preço intolerável para a Humanidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário