A guerra colonial foi o maior
crime do regime fascista de Portugal. Custou à nação portuguesa mais de 9.000
mortos e mais de 100.000 feridos (proporcionalmente mais perdas que os
americanos no Vietname) e fez um número superior de baixas nos povos e
guerrilheiros das três frentes militares, Angola, Moçambique e Guiné.
Foram 13 anos de esforço de guerra e também de perca de imensos recursos financeiros, num país que continuava a ser o mais atrasado da Europa ocidental: paradoxalmente, o regime colonial português, caracterizado por um nível muito baixo de desenvolvimento económico e social, promoveu na altura um surto de crescimento nas suas colónias, com base numa economia de guerra assente na exploração dos diamantes e do petróleo angolano e outras matérias-primas, novos serviços e uma ampliação do mercado reservado às mercadorias provenientes da metrópole, não só para financiar o esforço bélico mas também para criar uma base social ampliada para a evolução neo-colonialista.
Foram 13 anos de esforço de guerra e também de perca de imensos recursos financeiros, num país que continuava a ser o mais atrasado da Europa ocidental: paradoxalmente, o regime colonial português, caracterizado por um nível muito baixo de desenvolvimento económico e social, promoveu na altura um surto de crescimento nas suas colónias, com base numa economia de guerra assente na exploração dos diamantes e do petróleo angolano e outras matérias-primas, novos serviços e uma ampliação do mercado reservado às mercadorias provenientes da metrópole, não só para financiar o esforço bélico mas também para criar uma base social ampliada para a evolução neo-colonialista.
A descolonização, objectivo
prioritário da revolução de Abril, provocou o regresso à metrópole de mais de
500.000 “retornados”, a maioria pertencente às classes trabalhadoras e à
pequena burguesia, incluindo funcionários e empresários que perderam a maior
parte dos seus bens, abrindo então os mercados coloniais a novas potências. Não
obstante e graças à sua cultura de trabalho e empreendedorismo e em
conformidade com o espírito de solidariedade que predomina na consciência
popular nacional, e também com medidas de apoio dos governos democráticos
pós-25 de Abril, a integração foi total e exemplar, contrastando com outros
casos europeus, marcados pelo sectarismo, a intolerância e até o confronto
violento.
A democratização do país e a
descolonização não mudaram apenas a correlação de forças no sul da África, em
resultado da independência de Angola e Moçambique (1975), que deixou a Rodésia
racista sem retaguarda, deu apoio à independência da Namíbia e isolou o regime
de apartheid da África do Sul.
A derrocada dos regimes
fascistas, militaristas e do apartheid contemporâneos, seguiria então um
processo semelhante ao da revolução democrática portuguesa, impulsionado por
crescentes ondas de manifestações e protestos populares pacíficos, que
enfrentaram a repressão e enfraqueceram as ditaduras militares e oligárquicas,
da Espanha à Grécia, ao Chile e Argentina, na Indonésia e Timor ou na África do
Sul, talvez porque a revolução democrática tardia, no Portugal colonialista e
fascista, que fez estremecer a Europa em 1974/75, tenha avisado as classes
dominantes que a luta pela democracia e pela paz pode conduzir aos mais
imprevisíveis resultados, tal como previa o XIX Congresso do PCUS (1951) e a
estratégia delineada por Álvaro Cunhal para o VI Congresso do PCP (1965).
O processo histórico que na
década de 90 do século XX viria a derrubar as repúblicas “socialistas e
populares” foi igualmente acompanhado de grandes movimentações operárias e
populares, ou da nova e mais numerosa classe média, que não tiveram de passar
pela guerra civil para provocar a mudança de regime, facto novo na história das
revoluções ( e contra revoluções) modernas, um caminho que a revolução de Abril
de 1974 abriu, através da acção política independente e muitas vezes
espontânea, de grandes massas populares,
transformando o movimento subversivo liderado pelos capitães_MFA
(Movimento das Forças Armadas) numa revolução democrática.
Será então possível ultrapassar o
papel da violência na História e encontrar uma nova estratégia para realizar as
utopias políticas que configuram o advento das democracias liberais e
socialistas? Voltaremos mais adiante a esta questão, para aprofundar a
resposta.
Em condições de ausência da
democracia, seja o militarismo dos generais brasileiros ou o autoritarismo dos
burocratas polacos, os sindicatos evoluíram para autênticas frentes políticas e
assumiram um papel decisivo na mudança de regime, no Brasil e na América
Latina, como na Polónia e no Leste europeu. E, mais recentemente, na Tunísia.
Nos países submetidos às ditaduras militares e fascistas, esse foi o papel dos
partidos de esquerda e frentes democráticas.
Em Portugal, acresceu outro
fator, determinante da queda do regime fascista: a guerra colonial prolongada.
Na Argentina, seria a aventura militar dos generais com a ocupação violenta das
ilhas Malvinas, ainda sob soberania britânica, e a guerra curta e sangrenta que
se lhe seguiu, a precipitar a queda do regime.
A História viveu sempre destes
paradoxos: as guerras, por mais brutais, são impotentes para garantir a paz
perpétua. Mesmo o recurso às modernas tecnologias militares que produziram
armas de destruição massiva, nucleares ou biológicas, significaria, para os
vencedores, o primeiro e irreversível passo no holocausto da Humanidade e da
Vida. Todas as contradições e oposições de classe e nacionalidade conduziram,
ao longo da História, e ainda mais carecem num mundo em perigo que é o do
presente e do futuro, a uma solução política!
Evocando Engels e Mandela, a propósito da violência política
Nenhuma revolução pode conservar
as suas conquistas se não se preparar para enfrentar os seus inimigos. A
legítima defesa da vida, quando ameaçada de morte, conduz o ser humano ao mais
terrível dos dilemas e, como ele, os povos revolucionários: não desarmar a
revolução significa substituir o exército de caserna e mercenário por um corpo
de profissionais e voluntários politizado, interclassista, preferencialmente
assente no serviço militar universal apenas limitado pelo respeito devido aos
objetores de consciência e outros pacifistas ( a extinção do denominado
“serviço militar obrigatório” é um passo atrás na democratização das forças
armadas e um erro crasso da esquerda); forças armadas onde prevaleçam
igualmente os Direitos Humanos e as liberdades e direitos fundamentais da
democracia. Partidariamente neutrais e orientadas estrategicamente para evitar
a guerra e proteger a soberania nacional, enfrentar as catástrofes humanitárias
e para as tarefas de pacificação dos conflitos, estendendo esta cultura às
forças policiais e a todo o aparelho repressivo do estado. Cada avanço na
democratização das forças armadas e policiais, na sua consciência política
democrática e ambiental, tal como o reforço do direito internacional e a democratização
do aparelho judicial à escala do país, resultarão num ganho estratégico contra
a ameaça de corrupção e poder arbitrário das oligarquias, a guerra civil
fratricida e o holocausto atómico ou bioquímico da Humanidade.
Nelson Mandela escreveu no seu Diário
Íntimo:
“A situação real no terreno pode
justificar o recurso à violência, que mesmo os homens e mulheres bons podem ter
dificuldade em evitar. Mas mesmo nestes casos a utilização da força deverá ser
uma medida excecional, cujo objetivo primordial deverá ser o de criar o
ambiente necessário para soluções pacíficas. São estes homens e mulheres bons
que constituem a esperança do mundo. Os seus esforços e os seus feitos são
reconhecidos para além da morte, mesmo para além das fronteiras dos seus países,
tornam-se imortais”
Frederico Engels elaborou este
mesmo ideário ainda no século XIX, na sua reflexão crítica sobre as ideias do
professor Dhüring e acerca do papel da violência na História. A história
marxista guardou-lhe um lugar na sombra de Marx e deixou de ler e estudar o seu
magnífico e original pensamento, acerca do papel do trabalho na transformação
do macaco em homem, a origem da família, da propriedade e do estado, que
resgatou o matriarcado e negou o fatalismo histórico que condenava a mulher à subalternidade
social, acerca da questão camponesa, que impunha aos revolucionários operários
e intelectuais o dever de lutar contra a destruição da pequena propriedade
rural brutalmente esmagada pelo crescimento capitalista…
Façamos agora votos para que Mandela
atinja a imortalidade.
1 comentário:
Obrigada pela partilha desta reflexão.
paula
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