13.3.14

Manifestação das Forças Armadas apela à participação cidadã


O movimento das forças armadas (e das forças policiais) é um movimento político  democrático e constitucionalista. Não é nem revolucionário, nem corporativo, nem ilegal. E, nessa medida, representa toda “a família militar”, que, em Portugal, por imperativo da  herança   histórica da guerra colonial, engloba  tendencialmente “Todo o povo português”,  como  o afirma a AOFA no apelo à participação na manifestação nacional de 15 de Março,

“Todos os Militares e Ex-Militares acompanhados das respectivas Famílias são Imprescindíveis como imprescindíveis são as Alunas e Ex-Alunas do Instituto de Odivelas e respectivos Familiares e Alunos e Ex-Alunos do Colégio Militar e Pupilos do Exército e respectivos Familiares. Queremos ter connosco também, naturalmente, os nossos Camaradas Ex-Combatentes e respectivas Famílias! ESTE DESFILE ESTÁ TOTALMENTE ABERTO A TODO O POVO PORTUGUÊS desde que a participação seja feita a título absolutamente individual!”

O Ministro da Defesa  coloca-se noutra trincheira e trata as associações (democráticas, constitucionais e legais) das forças armadas com sobranceria e como um inimigo político: “…as Forças Armadas sabem bem o seu papel constitucional e a sua subordinação ao poder político que é legitimado nas urnas. As Forças Armadas falam pela voz dos chefes militares, que representam 34 mil homens e mulheres. As associações representam os seus associados, que são quatro mil. Depois existem tenentes-generais reformados. Até há uma expressão nas Forças Armadas que diz que os generais no activo são muito reservados e na reserva são muito activos. O ministro não é ministro nem das corporações nem dos tenentes-generais reformados” (entrevista ao “Sol”, de 24.02.2014)

A guerra colonial   forjou a revolução democrática de Abril, a agressão financeira da troika e o papel de governo colaboracionista, que é o de Passos Coelho ( colaboracionista como o de Vichy na II Guerra), encarregaram-se de fazer nascer uma progressiva consciência política nas FA e de mobilizar os militares profissionais ( e as forças policiais), depois de esgotadas todas as vias hierárquicas Srs. Ministros da Defesa, da Administração Interna e da Justiça  (!), para as novas lutas pela democracia e pela soberania nacional.

Fato político novo na Europa e em Portugal, que os próprios protagonistas ainda não tiveram tempo de amadurecer (  e de valorizar historicamente ) e a opinião pública compreende mal, ensaia um salto qualitativo quando os militares apelam á participação de todos os cidadãos nas suas manifestações, como quando, reciprocamente, o movimento popular apelar à sua intervenção e defesa, e continuarem a convergir e  se unificarem na ação os movimentos de protesto das FA e policiais.

Mas, sobretudo, contribuirá para evitar a catástrofe iminente, se as associações e o movimento das forças armadas apontarem a sua luta para uma solução política constitucional, dirigirem o seu protesto e exigência de cumprimento da Constituição para o principal chefe (responsável) militar e magistrado da nação: o Presidente da República. E então, conscientes da cumplicidade de Cavaco Silva na ultrapassagem dos limites constitucionais, por colaboracionismo ou omissão, lhe exigirem eleições antecipadas.

A luta pela democracia (s) e pelo socialismo (s)_ democracia cristã, social-democracia, socialismo democrático, democracia socialista… verdadeiros, aspiração comum da maioria do povo português, passa por suster a atual ofensiva oligárquica e antinacional, e constituir um governo soberano e progressista.

A alternativa são mais vinte ou quarenta anos de pobreza, submissão e desastre nacional, só para pagar os juros odiosos da dívida (que não é só pública, mas e sobretudo, empresarial, dos bancos e das famílias)  e para fazer do mar português o maior botim (= saque dos vencidos) da União Europeia. Por esta via, o futuro próximo trará o perigo maior do caos social e da ascensão de um regime autoritário sob a capa do presidencialismo.

Há três anos que o diktat da troika e a chantagem da bancarrota, o medo de perdermos o que resta dos direitos democráticos fundamentais, nos retira a liberdade de decisão e a cidadania. A pátria, berço e mãe tornou-se madrasta impiedosa e amoral, pelo exercício de maus governos nacionais e comunitários e o poder absoluto da oligarquia financeira e económica.

A alternativa política das eleições antecipadas representa uma saída constitucional e democrática, e não resulta inevitavelmente no regresso ao governo do inconstitucional “arco do poder”.

Constitui uma oportunidade ( talvez a última, antes da crise geral nacional que se aprofunda)  do regresso  à política das grandes massas de cidadãos, da refundação dos partidos e do surgimento de novas forças políticas.

E assume o valor de um  ato patriótico da resistência política ao imperialismo financeiro, de reconquista da soberania mutilada e de eleição de um governo livre, disposto a enfrentar qualquer Troika, em aliança com os povos europeus, os governos democráticos e os países amigos.

Nesse quadro de renascimento nacional e de cumprimento pleno da Constituição, será de novo o povo português a escolher o seu caminho.

Sem comentários: