O movimento das forças armadas (e
das forças policiais) é um movimento político democrático e constitucionalista. Não é nem
revolucionário, nem corporativo, nem ilegal. E, nessa medida, representa toda
“a família militar”, que, em Portugal, por imperativo da herança
histórica da guerra colonial, engloba tendencialmente “Todo o povo português”, como o afirma
a AOFA no apelo à participação na manifestação nacional de 15 de Março,
“Todos os Militares e Ex-Militares acompanhados das respectivas Famílias são Imprescindíveis como imprescindíveis são as Alunas e Ex-Alunas do Instituto de Odivelas e respectivos Familiares e Alunos e Ex-Alunos do Colégio Militar e Pupilos do Exército e respectivos Familiares. Queremos ter connosco também, naturalmente, os nossos Camaradas Ex-Combatentes e respectivas Famílias! ESTE DESFILE ESTÁ TOTALMENTE ABERTO A TODO O POVO PORTUGUÊS desde que a participação seja feita a título absolutamente individual!”
O Ministro da Defesa coloca-se noutra trincheira e trata as
associações (democráticas, constitucionais e legais) das forças armadas com
sobranceria e como um inimigo político: “…as Forças Armadas sabem bem o seu
papel constitucional e a sua subordinação ao poder político que é legitimado
nas urnas. As Forças Armadas falam pela voz dos chefes militares, que
representam 34 mil homens e mulheres. As associações representam os seus
associados, que são quatro mil. Depois existem tenentes-generais reformados.
Até há uma expressão nas Forças Armadas que diz que os generais no activo são
muito reservados e na reserva são muito activos. O ministro não é ministro nem
das corporações nem dos tenentes-generais reformados” (entrevista ao “Sol”, de
24.02.2014)
A guerra colonial forjou a revolução democrática de Abril, a
agressão financeira da troika e o papel de governo colaboracionista, que é o de
Passos Coelho ( colaboracionista como o de Vichy na II Guerra), encarregaram-se
de fazer nascer uma progressiva consciência política nas FA e de mobilizar os
militares profissionais ( e as forças policiais), depois de esgotadas todas as
vias hierárquicas Srs. Ministros da Defesa, da Administração Interna e da
Justiça (!), para as novas lutas pela
democracia e pela soberania nacional.
Fato político novo na Europa e em
Portugal, que os próprios protagonistas ainda não tiveram tempo de amadurecer
( e de valorizar historicamente ) e a
opinião pública compreende mal, ensaia um salto qualitativo quando os militares
apelam á participação de todos os cidadãos nas suas manifestações, como quando,
reciprocamente, o movimento popular apelar à sua intervenção e defesa, e continuarem
a convergir e se unificarem na ação os
movimentos de protesto das FA e policiais.
Mas, sobretudo, contribuirá para
evitar a catástrofe iminente, se as associações e o movimento das forças
armadas apontarem a sua luta para uma solução política constitucional, dirigirem
o seu protesto e exigência de cumprimento da Constituição para o principal
chefe (responsável) militar e magistrado da nação: o Presidente da República. E
então, conscientes da cumplicidade de Cavaco Silva na ultrapassagem dos limites
constitucionais, por colaboracionismo ou omissão, lhe exigirem eleições
antecipadas.
A luta pela democracia (s) e pelo
socialismo (s)_ democracia cristã, social-democracia, socialismo democrático,
democracia socialista… verdadeiros, aspiração comum da maioria do povo português,
passa por suster a atual ofensiva oligárquica e antinacional, e constituir um
governo soberano e progressista.
A alternativa são mais vinte ou
quarenta anos de pobreza, submissão e desastre nacional, só para pagar os juros
odiosos da dívida (que não é só pública, mas e sobretudo, empresarial, dos bancos
e das famílias) e para fazer do mar
português o maior botim (= saque dos vencidos) da União Europeia. Por esta via,
o futuro próximo trará o perigo maior do caos social e da ascensão de um regime
autoritário sob a capa do presidencialismo.
Há três anos que o diktat da
troika e a chantagem da bancarrota, o medo de perdermos o que resta dos
direitos democráticos fundamentais, nos retira a liberdade de decisão e a
cidadania. A pátria, berço e mãe tornou-se madrasta impiedosa e amoral, pelo
exercício de maus governos nacionais e comunitários e o poder absoluto da
oligarquia financeira e económica.
A alternativa política das
eleições antecipadas representa uma saída constitucional e democrática, e não
resulta inevitavelmente no regresso ao governo do inconstitucional “arco do
poder”.
Constitui uma oportunidade ( talvez
a última, antes da crise geral nacional que se aprofunda) do regresso à política das grandes massas de cidadãos, da
refundação dos partidos e do surgimento de novas forças políticas.
E assume o valor de um ato patriótico da resistência política ao
imperialismo financeiro, de reconquista da soberania mutilada e de eleição de
um governo livre, disposto a enfrentar qualquer Troika, em aliança com os povos
europeus, os governos democráticos e os países amigos.
Nesse quadro de renascimento
nacional e de cumprimento pleno da Constituição, será de novo o povo português
a escolher o seu caminho.
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