27.9.13

Eleições alemãs: Afinal, Merkel perdeu mais do que ganhou


Quem percorre a comunicação social portuguesa e grande parte da comunicação internacional, depara-se com a exaltação da vitória de Merkel, inquestionável como primeiro partido nos votos, mas que escamoteia a mudança da correlação de forças na política alemã a favor da esquerda, plural.
De facto Angela Merkel perdeu a maioria absoluta. Tem agora 311 lugares no Parlamento, somando os lugares ganhos pela CDU e pelo seu homólogo CSU da Baviera, num total de 630. O seu aliado à direita, o Partido Liberal, perdeu todos os parlamentares.

As bolsas europeias abriram em queda na manhã seguinte, numa primeira reação aos resultados das eleições na Alemanha. Este sinal, não diz nada aos comentadores oficiais?

A esquerda tem a maioria absoluta no Parlamento Alemão. 319 lugares: 192 do SPD                     ( socialistas), 64 do Die Linke ( a esquerda comunista e socialista) e 63 Os Verdes (Ecologistas).
A direita votou útil no partido conservador, a CDU/CSU, da Srª Merkel, mas, no seu conjunto, desce no número de deputados. A CDU e o seu aliado bávaro CSU ganharam mais 72 deputados, mas o FPD perdeu 93. O balanço final é da perda de 21 lugares no Parlamento ou Câmara Baixa, a favor do SPD.

 A derrota só não é maior porque o sistema de boletim do “bónus” (atribuído aos partidos mais votados),  e do duplo voto no deputado e no partido, favorece tradicionalmente a direita. É o denominado "mandato direto", através do qual se elegem nominalmente metade dos deputados (ou seja, 299, que representam as circunscrições existentes, uma por cada 250 mil habitantes). Em cada circunscrição ganha o candidato com maior número de votos expressos. Com o segundo voto, os eleitores escolhem quem vai ocupar os restantes 299 assentos parlamentares através do voto num partido e os partidos mais votados podem receber ainda um bónus de mais quinze mandatos. Mas a distribuição final dos lugares é proporcional ao segundo voto, no partido, dos 598 lugares (sem bónus) do Bundestag.  Nada disto evitou a histórica derrota da coligação conservadora CDU/CSU-FPD.

O Die Linke, perdendo embora votos e 12 deputados a favor do SPD,  passa a ser a terceira força política, ultrapassando os Verdes, que sofreram uma quebra de 5 lugares a favor dos socialistas. Estas eleições consolidam a ascensão da esquerda na Alemanha, que já controlava a Câmara Alta (Bundesrat), onde têm assento os 69 representantes dos 16 estados federados na Alemanha e tinha vindo a ganhar todas as eleições regionais dos estados alemães, com exceção da última.


É forçoso concluir: A política da ex-chanceler Merkel não tem o apoio da maioria do povo alemão! O FPD, com 4,8% dos votos, aliado da Srª Merkel e defensor da política pura e dura da troika é o grande vencido. Tal como o foram os partidos apoiantes da Troika nas eleições da França e da Itália.

Uma nova força política antieuropeísta, a AfD atingiu os 4,7%. Os Neo-Nazis do NPD baixaram para 1,3%. E o partido anti-partidos, Os Piratas, ficaram nos 2,2%. Outros pequenos partidos recolheram 2,8%.


Pergunta-se: Que fará o SPD, partido socialista alemão, com quem se vai coligar? Com as esquerdas ou a direita que perdeu afinal as eleições?

E para fazer que política?

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