Significado de Farsa:
comédia. Sinónimos: aleivosia, falsidade, fingimento, hipocrisia, impostura,
perfídia, traição e tredice. Dicionário da Língua Portuguesa
O quadro político de uma crise geral
nacional é o de uma situação em que o tecido económico e social se rompe e
entra em colapso, em que “os de cima”, os partidos que foram do anticonstitucional
arco do poder, já não podem governar
como dantes, mas, “os de baixo”, não têm
ainda consciência política e organização política para avançar numa alternativa
de poder.
Aleivosia
O objetivo principal do governo do
PSD/CDS e do presidente da república é o de “regressar aos mercados”. Os
mercados financeiros, antes do acordo imposto pela Troika e durante dezenas de
anos de democracia, impuseram-nos juros duas vezes superiores aos que a Troika
recebe atualmente: Entre o ano 2000 e 2011 Portugal pagou 54.111€ milhões de
euros de juros e a dívida elevou-se de 64.158 milhões de euros para 174.890,5
M€. Se amanhã regressássemos aos mercados, voltaríamos a pagar um valor
semelhante só em juros. Anote-se que, no que respeita às responsabilidades dos anteriores governos no acumular da dívida e em termos relativos, foi no período em que Cavaco Silva era primeiro ministro que a dívida mais subiu, quintuplicando!
Portugal vai ter de pagar um total de
113 mil milhões de euros pelo empréstimo da troika. Ao envelope de 78 mil
milhões de euros acrescerão quase 35 mil milhões em juros e comissões (34 mil
milhões em juros e 655 milhões em comissões).
Estes são dados oficiais do Ministério
das Finanças e do próprio governo.
Os bancos sedeados em França são os que
possuem mais dívida soberana europeia ( dos estados), depois os alemães, belgas, do reino
unido, holanda...
Os bancos sedeados em França são também
os principais detentores da dívida privada, seguidos pelos bancos do reino
unido, alemães, espanhóis, belgas e cipriotas...
Os juros altos são a fonte da exploração
das nações e dos seus fabulosos lucros. A troika o seu instrumento de dominação
política, que transforma os governos que assinam os acordos numa espécie de
governadores coloniais.
Em 2012 cerca de 70% da dívida pública
portuguesa era detida pelo FMI, os fundos europeus e o sector financeiro
português e em 2014 esta percentagem poderá chegar aos 80% (Fonte:IAC). Para limpar os balanços das instituições financeiras
estrangeiras (sobretudo europeias) de títulos da dívida portuguesa tornados
demasiado arriscados o risco transita para os fundos europeus e o FMI. Deste modo e paradoxalmente, este facto tornará a renegociação política da dívida mais fácil.
De acordo com os dados do Banco de
Portugal, os bancos portugueses somavam, à data de 30 de Junho de 2012, um
valor superior a 33 mil milhões de euros em títulos de dívida pública nacional
com maturidade superior a um ano. Ora o conjunto do valor das ações bolsistas
dos bancos privados não chega a valer hoje sequer 3 mil milhões!? Eis uma tendência
transversal à zona euro nos últimos meses, com os bancos a aproveitar o excesso
de liquidez oferecidos pelos leilões do BCE para adquirir ativos com elevadas
taxas de juro. Os bancos privados conseguem financiamento a 1% e aproveitam os
rendimentos ( ‘yields') dos títulos de dívida pública que, no caso português,
rondam os 12%. Mas os bancos nacionais, como a CGD, não têm aquele direito, por
força da legislação comunitária!
Desde então até agora, as obrigações
portuguesas valorizaram, em média, 15,48% no mercado secundário. O "Diário
Económico" escreveu ( em 21.09.2012) que a carteira de dívida pública
portuguesa dos bancos nacionais, a mais de um ano, valorizou-se, em menos de
três meses, em mais de cinco mil milhões de euros. Esta evolução, ainda que
potencial, reflete a positiva reação dos mercados às decisões tomadas pelo
Banco Central Europeu (BCE).
O BPI de Fernando Ulrich fechou o ano de
2012 com lucros de 249,1 milhões de euros, quase anulando os 285 milhões de
prejuízos do ano anterior. Mais de metade dos ganhos, 160 milhões de euros, é
relativa às mais-valias obtidas com a dívida pública portuguesa.)
As seguradoras que atuam no mercado
português fecharam o ano de 2012 com 8,7 mil milhões de euros em títulos de
dívida pública portuguesa, correspondentes a 67% do total de 13 mil milhões de
euros investidos em dívida pública (Fonte: Associação Portuguesa de Seguradores
(APS).
Falsidade
As dívidas dos países são compostas não
apenas pela dívida pública, mas também pela dívida privada dos bancos e
empresas e pelas dívidas das famílias.
A dívida do
estado português, em meados de 2011, era metade da dívida privada_ empresas e
banca.
A ameaça de
bancarrota pesava sobretudo sobre a banca e as grandes empresas privadas, que
ficaram sem crédito internacional.
Em 2011, a
Grécia, diabolizada pela propaganda liberal, era afinal o país com menor taxa
de dívida total ( pública + privada + mais famílias) face ao PIB e a Irlanda
conservadora, apresentada como modelo da via austeritária, era afinal a única que
apresentava um rácio elevadíssimo.
A Dívida das administrações públicas
para efeitos do critério de desempenho do PAF_Programa de Assistência
Financeira a Portugal (PAF) – dezembro 2011 era de 98,2% do PIB. Comparemos
então estes resultados com os das empresas privadas:
As empresas registavam um nível de
endividamento de 178% do PIB (177% em 2010) e os particulares/famílias, um
nível de endividamento de 103% do PIB (104% em 2010). A banca um nível de
endividamento de 55% do PIB.
Em 2011 a dívida das empresas e da
banca, elevava-se a 248% do PIB, duas vezes e meia superior à dívida pública, que era de 98,2% do PIB, na altura em que
fomos obrigados a aceitar o diktat da troika, que não é apenas de natureza
económica, mas sobretudo política.
Tomando como referência a percentagem da
dívida total face ao PIB, Portugal, com 356% de dívida total face ao valor do PIB,
estava muito abaixo da Irlanda, 663% do PIB, e do Reino Unido, 507% do PIB ou
do Japão, 512% do PIB e ao mesmo nível da Espanha, 363% do PIB e França, 346%
do PIB.
A dívida grega, 267% do PIB, estava
muito abaixo dos principais países do euro: era de um terço da Irlanda, 663% do
PIB, metade do Reino Unido, 507% do PIB e estava muito abaixo da França, 346%
do PIB, da Itália, 314% do PIB, e era mesmo inferior à Alemanha, 278% do PIB. A
Grécia, no quadro das dez maiores economias ocidentais e das cinco economias da
eurozona em crise, apresentava um nível de endividamento inferior a todas elas.(
Fonte: Mckinsey)
Fingimento
O que significa um “acordo de salvação
nacional”? Quais são as suas medidas políticas, qual é o seu programa de
governo, que interesses de classe social defende? Porque não enunciou estas medidas e programa
o Sr. Presidente da República, dizendo apenas que era preciso cumprir o acordo
imposto pela troika, que o governo PSD/CDS reforçou em austeridade? Porque
convocou apenas os 3 partidos que têm monopolizado o poder e excluiu os outros
partidos que representam a nação na Assembleia da República?
Porque diziam, o líder do governo e o
presidente da república, no início dos seus mandatos, que negociar o memorando
eras desonra e perca de credibilidade e só serviria para aumentar a
desconfiança dos mercados, e dizem agora que um compromisso a três, para
cumprir o memorando a todo o custo, seria mais favorável para novas
negociações? Não é verdade que no primeiro ano de aplicação do programa da Troika existiu essa tripla aliança, com o PS a votar o orçamento de estado, com resultados desastrosos no país e nos mercados da dívida?
A renegociação da dívida foi proscrita pelo governo
mas também pelo Presidente da República, mas, perante o fracasso do plano da
troika, começou a ser feita pelo governo PSD/CDS em segredo, sem uma ação
coordenada com os outros quatro países mais expostos à crise financeira
_Itália, Espanha, Irlanda, Grécia; negociando com funcionários de terceira
linha, tratados como estadistas ou governadores coloniais, e não com os seus
líderes políticos, os conservadores e liberais, seus correligionários, que dominam a europa comunitária desde a sua
fundação; não procurando a aliança e o apoio dos políticos que na Europa se
opunham à austeridade, nem mesmo depois de estes terem ganho as eleições, como
aconteceu na França… Nenhuma voz deste governo se juntou à do conservador Pat Rabbitte, ministro da Irlanda para a
Comunicação, Energia e Recursos Naturais, que perante a previsão da dívida
soberana irlandesa chegar aos 250 mil milhões de euros até 2014, conduzindo à
falência nacional, afirmou que é "inevitável" para a União Europeia
admitir alguma forma de “perdão da dívida para amenizar a crise irlandesa”. Ou
do também conservador e ministro italiano das Finanças, Guilio Tremonti,
do governo de Berlusconi, reclamando a emissão de obrigações de dívida da zona
euro, os “eurobonds”…
Afinal, tiraram proveito, sem alguma vez terem lutado por isso, da
resistência do povo grego, que nas eleições quase venceu os
partidos da troika e obrigou os bancos a reduzir em 50% a dívida soberana;
valeu-lhes a vitória dos socialistas de François Holland, críticos da
austeridade, que forçaram o compromisso com Ângela Merkel para que o Banco
Central Europeu garantisse o pagamento das dívidas soberanas; valeu-lhes o
conservador Rajoy em Espanha, a exigir permissão para deficits mais altos e
mais tempo para a recuperação, de que também beneficiaram; valeu-lhes o povo
português, em grandes manifestações pacíficas, que conduziram os mentores
políticos da troika a fazer pequenas cedências, para conter a revolta;
valeu-lhes o povo de Itália, ao reduzir o partido da troika nas eleições
parlamentares a menos de 10%; valeram-lhe os irlandeses conservadores, com a
maior dívida global do mundo, à beira da implosão do seu estado, que exigiram
mais anos e uma moratória para pagar a dívida, com baixa dos juros…(e continuam
a falar-nos do exemplo da Irlanda, opondo-lhe a situação da Grécia!)
E, de novo sem qualquer mérito político, beneficiarão em 2014 do acordo com o Banco Central Europeu que a Irlanda vai negociar em Dezembro, para o que Cavaco chama o período pós-Troika.
E, de novo sem qualquer mérito político, beneficiarão em 2014 do acordo com o Banco Central Europeu que a Irlanda vai negociar em Dezembro, para o que Cavaco chama o período pós-Troika.
Forçados a negociar, negociaram mal, agarrados a
dogmas, enquanto vendiam ao desbarato os últimos anéis do estado democrático,
que não lhes pertenciam, e eram património do estado democrático e do povo
português…a EDP, ANA, TAP…e continuaram a enterrar o dinheiro dos impostos dos
seus concidadãos na ajuda aos banqueiros em pré-falência, como os do BANIF. E a
renegociar acordos secretos e duvidosos
nas parcerias público privadas…A pagar um milhão de euros à banca nos contratos
swap, ruinosos e dolosos para o
estado.
Hipocrisia, “ inadiável” e
“irrevogável” e “de confiança”
O que significa “irrevogável” para a
liderança do CDS? E democracia cristã, quando os leilões de casas, entregues
aos bancos pelas famílias que deixam de conseguir pagar o empréstimo,
duplicaram nos últimos anos e o mesmo aconteceu com o número de imóveis que vai
à praça. Em 2011, as duas leiloeiras que dominam este mercado - a Euroestates e
a Uon - realizaram quase 70 leilões com cerca de 4700 imóveis. As Finanças
vendem atualmente 88 casas penhoradas por dia…
E o apoio à família? Em 2010, com a
eliminação dos dois últimos escalões da prestação e do pagamento adicional de
25 por cento a famílias com baixos rendimentos, 334.806 crianças e jovens deixaram de
ter acesso ao abono de família. Em 2011, 478 664. Entre 2010 e 2011 a verba
respetiva, diminui de 968,2 milhões para 674,9 milhões de euros, 30,3%. Entre
2010 e meados de 2012 a redução foi de 1.707.306 para 1.186.779, 29,5%.
E para o ministro das finanças demissionário,
o que representa politicamente o “incumprimento dos limites originais” em
relação com o défice e dívida pública em
2012 e 2013, quando reconhece não lhe darem a autoridade necessária para
continuar no Terreiro do Paço? “A repetição destes desvios minou a minha
credibilidade enquanto o ministro das Finanças”, conclui o demissionário e
outrora triunfante ministro, apresentado como o campeão da austeridade em Bruxelas,
como um símboço da credibilidade do governo junto dos credores, sobretudo dos
todo poderosos financeiros alemães! Na carta ao primeiro-ministro – onde faz
referências implícitas às divisões na coligação PSD/CDS-PP – Vítor Gaspar diz
que caberá a Passos o “fardo da liderança” de uma equipa governativa a quem não
poupa críticas pela falta de coesão interna. “Assegurar as condições internas
de concretização do ajustamento são uma parte deste fardo”, afirma, para a
seguir acrescentar: “Garantir a continuidade da credibilidade externa do país
também. Os riscos e desafios dos próximos tempos são enormes. Exigem a coesão
do Governo. É minha firma convicção que a minha saída contribuirá para reforçar
a sua liderança e a coesão da equipa governativa”.
Impostura
Então, Sr. Presidente, esta novela (e o próximo capítulo da “moção de confiança”) serviu também para nos esquecermos das causas políticas destas duas demissões, a “ inadiável” e a “irrevogável”?
Noticiava o Jornal o Público que o PCP vai promover um “conjunto de contactos, reuniões e encontros com personalidades empenhadas na afirmação de um Portugal desenvolvido e soberano”, comunicou então Jaime Toga, membro da comissão política do comité central do PCP.
Em conferência de imprensa na sede do
partido, Jaime Toga informou que o PCP “endereça convites para a realização a
curto prazo de encontros com organizações sociais, com o PEV o Bloco de
Esquerda e a Intervenção Democrática”. O partido a reunir com a sua própria
área de influência, exceção feita ao BE !?
Questionado pelos jornalistas sobre a
inclusão do PS nos contactos e reuniões a promover, o membro da comissão
política comunista afirmou que “a direção do PS fez a opção de renovar o
compromisso com o pacto de agressão”, ao ter iniciado este fim-de-semana as
conversações com vista ao acordo tripartido para o “compromisso de salvação
nacional” exigido pelo Presidente da República, Cavaco Silva, na passada
quarta-feira. Concluindo que nesta frente de alianças “Cabem todos aqueles que
estão identificados com os objetivos de demissão da Assembleia da República e
convocação de eleições antecipadas”, frisou Jaime Toga. Objetivos com os quais,
acrescentou, “o PS não está identificado”.
A direção do PS não fez a opção de renovar
o compromisso com o pacto de agressão e, por conseguinte, cabe afinal entre as
forças políticas identificadas com os objetivos de demissão da Assembleia da
República e convocação de eleições antecipadas.
Os cidadãos, personalidades e forças
sociais empenhadas na afirmação de um Portugal desenvolvido e soberano estão
muito para além das organizações sociais conotadas com a linha política do PCP,
com o PEV o Bloco de Esquerda e a Intervenção Democrática. E o PCP, que é nas
suas propostas e alternativas estratégicas o mais nacionalista partido
parlamentar do nosso país, como o reconhece implicitamente o 2º homem mais rico
de Portugal e líder do grupo Pingo Doce, propondo que este partido seja
incluído nas negociações para uma alternativa de governo, o PCP, com o seu
programa de defesa da autonomia e independência nacionais, não retira dessa
postura política, com aquela tática, nenhum resultado político relevante e
deixa todo o poder nas mãos dos conservadores e liberais, mascarados de
democrata-cristãos, social democratas e socialistas.
Perfídia, “mercados financeiros” e a
“City”, “Agências de rating”
O mito da confiabilidade dos
mercados financeiros e a City
londrina
Um dos paraísos fiscais é a City em
Londres. Em 1980 o governo conservador inglês legislou para que os seus bancos
e sociedades financeiras se autorregulassem, à margem do estado e do direito.
Os trabalhistas de Tony Blair, vitoriosos em 1997, mantiveram esta situação. O
democrata Bill Clinton segui-lhe os passos nos EUA. Da longa sequência de
escândalos financeiros, salientemos o que nos dá a primeira chave para entender
como se manipula o mercado financeiro: o Barclays surge no centro do escândalo
de manipulação das taxas LIBOR_ que regulam as transações financeiras: o seu
presidente Bob Diamont fica sob investigação judicial, o banco é multado em 450
milhões de dólares e a desconfiança sobre a manipulação, no sentido da sua
elevação artificial, estende-se ao painel de 18 bancos ocidentais que a fixam
em regime de autorregulação, desde o Bank of America ,Bank of Tokio-Mitsubichi,
USB, BNP Paribas, Deustche Bank…( Fonte: Times)
As agências de rating
A segunda chave de manipulação do
mercado financeiro está na natureza e papel das agências de rating. O governo
federal americano acusou a agência de rating Standard & Poor´s de
fraude, em relação á crise financeira de 2008, sim, a mesma empresa que o atual
primeiro-ministro cita orgulhosamente pela reclassificação da dívida pública
nacional. Vejamos a acusação, segundo o jornal New York Times, de February 4,
2013:
"The
Justice Department filed civil fraud charges late on Monday against the
nation’s largest credit-ratings agency, Standard & Poor’s, accusing the
firm of inflating the ratings of mortgage investments and setting them up for a
crash when the financial crisis struck....From September 2004 through October
2007, S.&P.“knowingly and with the intent to defraud, devised,
participated in, and executed a scheme to defraud investors” in certain
mortgage-related securities...The case against S.& P. focuses on about
40 collateralized debt obligations, or C.D.O.’s, an exotic type of security
made up of bundles of mortgage bonds, which in turn were composed of individual
home loans. The securities were created at the height of the housing boom.
S.& P. was paid fees of about $13 million for rating them..."
Os bancos e sociedades financeiras
controlam as Agências de Rating e pagam-lhes fortunas para favorecer os seus
negócios. Prossegue o jornal:
"A
Senate investigation made public in 2010 found that S.& P. and Moody’s
used inaccurate rating models from 2004 to 2007 that failed to predict how
high-risk mortgages would perform; allowed competitive pressures to affect
their ratings; and failed to reassess past ratings after improving their models
in 2006.
The companies
failed to assign adequate staff to examine exotic investments, and failed to
take mortgage fraud, lax underwriting and “unsustainable home price
appreciation” into account in their models, the inquiry found.
“Rating
agencies continue to create an even bigger monster — the C.D.O. market,” one
S.& P. employee wrote in an internal e-mail in December 2006. “Let’s
hope we are all wealthy and retired by the time this house of card falters.”
Concluímos: Sem o fim dos paraísos
fiscais; sem novas agências de rating controladas institucionalmente pelos
órgãos legítimos da comunidade internacional; sem uma moeda universal, com um
valor sustentado na economia produtiva, a catástrofe financeira continua a
lavrar sob os nossos pés e a preparar o abismo para a economia de mercado, sim,
para a economia de mercado, que afirma defender, enquanto a economia socialista
de mercado e a economia nacionalizada, apresentam uma singular resiliência, da
China ao Vietname, da América Latina à África....
Traição?
O (s) governo (s) vendeu o que gerações
de trabalhadores, técnicos e administradores portugueses construíram com a sua
inteligência, saber e suor, ao longo de gerações.
É tempo de relembrar aos líderes do PSD
e CDS que a anterior política de governo do PS foi sempre por eles apoiada e
referendada, quando aprovaram e viabilizaram os orçamentos do estado e depois o
diktat da Troika.. Que, pela herança política deste passado recente são
igualmente responsáveis, mas sobretudo, pela crise geral nacional que se
avizinha.
A demissão do governo e a realização de
eleições antecipadas é a última oportunidade para evitar a crise geral nacional
e uma exigência política que torna o Presidente da República responsável pela
continuidade do governo.
O Presidente da República tem saído
quase incólume das críticas ao governo que continua a apoiar e as manifestações
populares têm-no poupado, mas a próxima grande manifestação nacional,
provavelmente, dirigir-se-á a S. Bento para exigir a demissão do
executivo.. e a sua !?.
Essa é também a obrigação política do
PS, continuar a reclamar eleições
antecipadas, após o discurso de rotura anunciado pelo atual Secretário-geral,
perante a falência do governo, das suas políticas e das negociações com os
partidos do governo.
A rebeldia, protesto, voto contra, auto
demissão de ministros e secretários de estado, deputados, presidentes e
vereadores, líderes locais e militantes...também pode contribuir para apressar
a queda urgente do governo e salvar ainda o PSD e o CDS como partidos nacionais
e democráticos.
Quando a crise geral nacional se tornar
insuportável, os campos políticos vão extremar-se e cada uma das forças
partidárias será empurrada para escolher entre a defesa dos direitos nacionais
e dos privilégios do capital financeiro sem pátria, fracturando-se,
regenerando-se ou decompondo-se.
À beira da crise geral nacional
Nenhuma vanguarda, nemhum lider providencial, existe hoje para
liderar pacífica e democraticamente a revolta latente.
Porque chegamos ao ponto em que uma
faísca pode incendiar a revolta e suscitar um novo levantamento popular e
nacional: um ato violento do governo contra as manifestações pacíficas; um ato
de subversão governamental contra a independência dos tribunais e do Tribunal
Constitucional em particular; o esgotamento dos recursos solidários das
famílias, das instituições de solidariedade social e religiosas, de que é sinal
a quebra no peditório nacional da Caritas; o desespero dos suicidas que perdem
a pequena empresa, o emprego, a casa, a saúde e o pão; a ruina e abandono dos
concelhos e das freguesias; a morte precoce dos nossos mais velhos; a afronta e
provocação de novos escândalos financeiros, de negócios fraudulentos, enganosas
renegociações das parcerias público-privadas ou até face a ofensa continuada
dos discursos dos ricos e poderosos, e dos burocratas sem coração que mandam na
Europa e em Portugal, que reclamam para os outros, para os que não são da sua
condição e família, que aguentem mais austeridade e cortes...
Um só ato irrefletido desta deriva
antinacional e autoritária que nos desgoverna, pode levantar a maré humana e
lançá-la contra os centros do poder, trazendo consigo a marginalidade social (
recordo-me de Londres, em 2011 e antes Paris, agora a Turquia). Mas o risco
maior não virá de uma revolta popular. Todas as revoluções conduzem a uma
solução política.
Recordemos de novo Nelson Mandela: “A
situação real no terreno pode justificar o recurso à violência, que mesmo os
homens e mulheres bons podem ter dificuldade em evitar. Mas mesmo nestes casos
a utilização da força deverá ser uma medida excecional, cujo objetivo
primordial deverá ser o de criar o ambiente necessário para soluções pacíficas.
São estes homens e mulheres bons que constituem a esperança do mundo.”
O risco principal é de esgotamento de
forças da resistência popular, a qual, em defesa dos direitos e do regime democrático
constitucionais, combate desde 1976, recuando sempre.
Não concordo com as análises políticas à
esquerda que creem que a crise do governo resulta da envergadura da luta e do
elevar da consciência popular. É certo que grandes manifestações tomaram a rua,
mas os protestos reclamam sobretudo a restauração dos direitos democráticos
fundamentais, mas não uma mudança revolucionária de regime, nenhum dos ideais
do socialismo está presente nos objetivos que proclamam. Nem nenhuma força
política de esquerda ganhou a sua confiança, tão pouco os pequenos grupos
informais que tiveram a intuição de lançar as manifestações, mas são incapazes
de elevar a sua organização a um nível superior.
Há em Portugal, como na Hungria, na
Polónia, na Grécia, na Turquia, se não conseguirmos organizar politicamente o
medo, o terror pelo futuro, a raiva, a frustração e o desânimo popular e da
classe média, a ameaça de caminharmos para o caos social e para a democracia
musculada de que falava o mais poderoso empresário da construção civil, passo a
passo: pela perca total de independência dos tribunais, acusados pelos
políticos que fizeram as leis de malha grossa de não fazer justiça; pelo
afastamento na polícia e nas forças armadas das chefias e lideranças com
consciência democrática e nacional; pela sujeição a um novo diktat dos
conservadores europeus, se triunfarem nas eleições alemãs e pelo reiterado
cedência do PS às exigências da banca, da finança e dos novos cartéis…
Uma deriva autoritária, legitimada mais
adiante, provavelmente, pela via da redução da dimensão da Assembleia da
República, uma das palavras de ordem que ganha mais adeptos na opinião pública,
pelo partido único nos executivos municipais ( já acordado entre PS e PSD )
e pela mudança de regime em favor do presidencialismo, culminando com golpes
mais profundos nos direitos constitucionais da República, legitimados com o
voto dos plebiscitos.
Assim, que fazer para evitar a
catástrofe iminente?
Há espaço político a abrir-se para um
movimento/partido de centro esquerda ( por causa da contradição entre a posição
dos líderes e o desejo de unidade da base dos partidos de esquerda), que tenha
amplitude para enquadrar os setores mais radicais da esquerda e afastá-los do
desespero de aventuras violentas.
Há também espaço político para um
movimento/partido de centro direita, mas que só se abrirá quando da saída do
governo do grupo radical de direita que tomou simultaneamente o PSD e o CDS.
Há ainda espaço político para a criação
de um movimento presidencialista, que pode nascer como de centro direita mas
cairá sempre mais para a direita, qualquer que seja a cor com que se vista.
Há, finalmente, espaço político para um
projeto nacional e democrático, de frente ampla, assente num programa de
renascimento nacional, alargamento das relações internacionais na direção dos
BRICS/PLOP/ibero-americanos e aprofundamento da democracia em Portugal e na
Europa, que reconheça a cada um dos cidadãos os seus direitos fundamentais ao trabalho, à saúde, educação, habitação, ao ambiente, à paz e à participação política, onde cabem todas as forças políticas e sociais democráticas e nacionais.
As eleições antecipadas são a medida
mais urgente, capaz de criar uma nova correlação de forças, que restituirá ao
país autonomia e a legitimidade política para renegociar com a Troika ( ou com o
que dela restar). Exatamente ao contrário do que afirma o Sr. Presidente da República,
para justificar a continuidade da sua confiança num governo que nunca contestou
o programa da troika e o reforçou em austeridade, e nunca teve coragem para
enfrentar o diktat conservador..
Confiança renovada por ele para servir a
oligarquia e não a nação: falamos dos privilégios que permitiram a contínua
redução do passivo dos bancos nacionais de 120.000 milhões de euros em 2008
para 70.000 milhões em 2012 e de um pequeno núcleo de empresas em posição de
monopólio e cartel, que forçaram a
demissão de José Sócrates e meteram na ordem Paulo Portas, uma oligarquia que
seleciona as elites políticas e as projeta na comunicação social e na europa
comunitária..
Em alternativa, um governo de
renascimento nacional, plural e democrático, nascido da luta política das
grandes movimentações populares e da sua mobilização eleitoral, de uma ampla
aliança política que engloba mas ultrapassa os partidos e as organizações
sociais, integrado numa Europa mais democrática e solidária, mas igualmente nos
novos espaços económicos dos BRICS e ibero-americanos.
Este novo governo terá também a força suficiente para negociar com a oligarquia do país os seus deveres e obrigações face à nação que os fez ricos e poderosos, garantindo-lhe ao mesmo tempo os seus direitos legais, consignados na Constituição da República, que estão a rasgar!
Este novo governo terá também a força suficiente para negociar com a oligarquia do país os seus deveres e obrigações face à nação que os fez ricos e poderosos, garantindo-lhe ao mesmo tempo os seus direitos legais, consignados na Constituição da República, que estão a rasgar!
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