19.7.24

O QUE VALE O RANKING DAS ESCOLAS?


Respondo com uma pergunta: Há algum estudo que demonstre que os alunos dos colégios de topo, são os melhores no ensino superior e os que sobem mais alto no elevador social? Não conheço nenhum. Então, este ranking serve sobretudo para induzir as famílias a optar pelo ensino privado. E é inútil

Se avaliarmos o ranking, à luz das ciências da educação, não lhe reconhecemos nenhuma credibilidade, nem na sua metodologia, nem nas suas conclusões. Assentar a avaliação das escolas num único fator, os exames nacionais, é desconhecer a complexidade e a dialética do processo educativo. Regressamos ao tempo em que a finalidade da escola era preparar os alunos para uma escalada de exames seletivos. É ainda uma postura de ignorância face à Lei de Bases do Sistema Educativo, na democracia, que prescreve como função da escola a construção de um pensamento científico e do pensamento crítico, mas também a educação cívica_ princípios, atitudes e valores, na sua universalidade e pluralidade.

Meter no mesmo saco o conjunto das escolas públicas e privadas, é também um ato irracional. Porque compara o que não tem comparação, pois não há duas escolas iguais, nem no setor público, nem no setor privado. Há escolas no ranking que realizaram um número de exames na escala inferior a duas centenas e outras que ultrapassam o milhar! A avaliação entre pares, pressupõe, como uma corrida, que se conheça o ponto de partida e que ele seja o mesmo, para validar o lugar da chegada!

Enfim, a investigação científica articula uma hermenêutica negativa e uma hermenêutica positiva. Que parâmetros devem integrar um estudo com valor científico sobre os fatores de crise e de sucesso escolares, que nos permitam construir preposições não falsificáveis? Como exemplos: a relação entre o número de alunos por turma e os seus resultados. O ambiente de comunicação e sociabilização, dominante na escola. A política para a educação, vertida no estatuto da carreira docente. O nível de integração entre o Ensino e a Educação Formal, Não Formal e Informal. A imagem do docente projetada pelos média e pelas redes sociais…

Os ministros passam, os professores prevalecem na escola

Na comunicação social e nos discursos partidários dominantes, na internet, acerca do sistema educativo, proclama-se a ideia do “facilitismo”, como o maior mal, e cola-se este epíteto ao público, isto é, os alunos passam sem saber nem competências, enquanto se omite a mais pequena crítica às escolas privadas, que raras vezes são escrutinadas e se escondem os problemas dos seus docentes e alunos.

Mas os resultados dos nossos alunos, comparados e reconhecidos internacionalmente, mostram que não é o facilitismo a minar o sistema educativo

Inúmeros prémios internacionais têm sido ganhos pelos nossos estudantes, em todos os domínios científicos e níveis de ensino, nos últimos anos: Alunos portugueses vencem medalha de bronze nas Olimpíadas Internacionais de Biologia, Agência Lusa, 22 julho, 2019. Estudante portuguesa vence prémio mundial que distingue jovens investigadores, prémio mundial atribuído pela Global Biodiversity Information Facility Young Researchers Award (GBIF), Agência Lusa, DN/Lusa, 26 setembro 2018. Dois jovens cientistas portugueses foram premiados num concurso de ciência e tecnologia para adolescentes, que decorreu na China, SIC Notícias, 21.08.2018. Português vence prata nas Olimpíadas Internacionais de Informática, jornal Público, 13 de agosto de 2019. Os alunos portugueses voltaram a distinguir-se nas Olimpíadas Internacionais de Matemática (IMO, na sigla em inglês), arrecadando duas medalhas (uma de prata e outra de bronze) e quatro menções honrosas na competição que decorreu entre 14 e 21 de julho, no Reino Unido. Todos os participantes da delegação portuguesa vieram assim premiados. Estas olimpíadas são a maior competição internacional de Matemática. Nesta edição participaram delegações de 112 países com mais de 600 alunos. Jornal Público, 22 de julho de 2019… Esta escolha é aleatória e poderia prolongar-se indefinidamente…deixo ao leitor interessado atualizar estes dados, com a informação pós-Covid 19.

Os relatórios internacionais sobre a educação em Portugal:

O sistema educativo português "é o único da OCDE que apresenta melhorias significativas" em leitura, matemática e ciências, desde a primeira edição do PISA, no ano 2000.” O PISA (Programme for International Students Assessment) é um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), elaborado de três em três anos, e que mede o desempenho dos alunos de 15 anos em diversas competências. Jornal Correio da Manhã, 3 de dezembro de 2019. Portugal conseguiu que seus alunos de 15 anos ficassem acima da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, organização também conhecida como "clube dos ricos"), nos domínios avaliados pelo Pisa: ciências, leitura e matemática.

Assim, há pelo menos uma década e meia, o país europeu mantém essa trajetória nos seus resultados e é o único do continente que melhora seu desempenho a cada ano. Nem mesmo nos períodos mais duros da última grande crise, com a redução de investimentos e o ajuste fiscal imposto pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Central Europeu e pela Comissão Europeia, essa evolução cessou. A colocação final dos alunos portugueses posiciona o país entre os melhores do mundo, mas distante ainda do desempenho dos sistemas educacionais de referência globais Leia-se, das grandes potências. BBC News, outubro 2019.

O referido Relatório da OCDE, salienta que os alunos em Portugal passam muito tempo nas salas de aula, fenómeno que a OCDE já havia salientado num relatório anterior. Os alunos do primário e secundário nacional passam 8214 horas em aulas; lá fora, passam em média 7590 horas. Já o tamanho das turmas está na média internacional, com 21 alunos em média no ensino primário e 22 no secundário (21 e 23 na OCDE).

Em relação ao Ensino Superior, Portugal continua a ter menos diplomados que a média internacional (25% dos adultos, 40% na OCDE). O ensino pré-primário também tem crescido, e Portugal tem agora a nível internacional percentagens relativamente altas de inscritos, particularmente abaixo dos três anos de idade. Quase 20% das crianças com menos de 1 ano de idade estão em creches, o quarto valor mais alto em toda a OCDE, cuja média é 9%.

O envelhecimento do corpo docente é outro aspeto em que Portugal se destaca. Em 2005, afirma a OCDE, 16% dos professores do primário e secundário tinham menos de 30 anos, 22% tinham mais de 50 anos. Hoje, são 1% e 40% respetivamente (36% e 10% na OCDE).

Estes dados, permitem-nos perceber que, apesar de todas as vicissitudes, os professores representam a pedra angular, o fator decisivos no sistema educativo e a educação de base, tal como a redução de alunos por turma, constituem elementos estruturantes do sucesso escolar.

A Reforma Democrática… do Ministério da Educação

No entanto, a realidade é que o Ministério da Educação não possui nenhum mecanismo institucional para recolher e sistematizar as realizações e avanços pedagógicos e científicos dos docentes nas suas escolas e reduz o trabalho dos seus inspetores pedagógicos à vigilância burocrática das escolas, sobrecarregando os docentes com tarefas burocráticas inconsequentes. Tão pouco se apoia nas associações científicas dos docentes.

A propaganda sobre o facilitismo, demagógica e populista, que atravessa o discurso dos ministros de educação e dos sucessivos governos, e encontra na comunicação social e nas redes sociais as suas câmaras de eco, constitui na verdade uma arma de combate político e ideológico desigual, que pretendeu justificar perante a opinião pública o congelamento das carreiras e o esbulho do tempo de serviço, que persistiu até à data, e ameaça o futuro de todos os outros trabalhadores.

Essa política violou diretamente a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que esses governos, comunicação social e redes sociais não conhecem e reduzem a slogans diferentes da letra e do significado do texto aprovado pelas Nações Unidas em 1948, escrito a duas mãos, pelo representante dos governos canadiano J. P. Humphrey e chinês P. Chang, e  apoiada pelo entusiamo de Eleanor Roosevelt, que presidia à comissão da ONU . Essa medida viola o artigo 17º e põe em causa a correta aplicação dos artigos 22º e 23º.

 


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