24.7.13

A farsa política e a crise geral nacional


Significado de Farsa: comédia. Sinónimos: aleivosia, falsidade, fingimento, hipocrisia, impostura, perfídia, traição e tredice.   Dicionário da Língua Portuguesa

O quadro político de uma crise geral nacional é o de uma situação em que o tecido económico e social se rompe e entra em colapso, em que “os de cima”, os partidos que foram do anticonstitucional arco do poder, já não podem governar como dantes, mas, “os de baixo”,  não têm ainda consciência política e organização política para avançar numa alternativa de poder.

Aleivosia

O objetivo principal do governo do PSD/CDS e do presidente da república é o de “regressar aos mercados”. Os mercados financeiros, antes do acordo imposto pela Troika e durante dezenas de anos de democracia, impuseram-nos juros duas vezes superiores aos que a Troika recebe atualmente: Entre o ano 2000 e 2011 Portugal pagou 54.111€ milhões de euros de juros e a dívida elevou-se de 64.158 milhões de euros para 174.890,5 M€. Se amanhã regressássemos aos mercados, voltaríamos a pagar um valor semelhante só em juros.  Anote-se que, no que respeita às responsabilidades dos anteriores governos no acumular da dívida  e em termos relativos, foi no período em que Cavaco Silva era primeiro ministro que a dívida mais subiu, quintuplicando!

Portugal vai ter de pagar um total de 113 mil milhões de euros pelo empréstimo da troika. Ao envelope de 78 mil milhões de euros acrescerão quase 35 mil milhões em juros e comissões (34 mil milhões em juros e 655 milhões em comissões).

Estes são dados oficiais do Ministério das Finanças e do próprio governo.

Os bancos sedeados em França são os que possuem mais dívida soberana europeia ( dos estados), depois os alemães, belgas, do reino unido, holanda...

Os bancos sedeados em França são também os principais detentores da dívida privada, seguidos pelos bancos do reino unido, alemães, espanhóis, belgas e cipriotas...

Os juros altos são a fonte da exploração das nações e dos seus fabulosos lucros. A troika o seu instrumento de dominação política, que transforma os governos que assinam os acordos numa espécie de governadores coloniais.

Em 2012 cerca de 70% da dívida pública portuguesa era detida pelo FMI, os fundos europeus e o sector financeiro português e em 2014 esta percentagem poderá chegar aos 80% (Fonte:IAC). Para limpar os balanços das instituições financeiras estrangeiras (sobretudo europeias) de títulos da dívida portuguesa tornados demasiado arriscados o risco transita para os fundos europeus e o FMI. Deste modo e paradoxalmente, este facto tornará a renegociação política da dívida mais fácil.

De acordo com os dados do Banco de Portugal, os bancos portugueses somavam, à data de 30 de Junho de 2012, um valor superior a 33 mil milhões de euros em títulos de dívida pública nacional com maturidade superior a um ano. Ora o conjunto do valor das ações bolsistas dos bancos privados não chega a valer hoje sequer 3 mil milhões!? Eis uma tendência transversal à zona euro nos últimos meses, com os bancos a aproveitar o excesso de liquidez oferecidos pelos leilões do BCE para adquirir ativos com elevadas taxas de juro. Os bancos privados conseguem financiamento a 1% e aproveitam os rendimentos ( ‘yields') dos títulos de dívida pública que, no caso português, rondam os 12%. Mas os bancos nacionais, como a CGD, não têm aquele direito, por força da legislação comunitária!

Desde então até agora, as obrigações portuguesas valorizaram, em média, 15,48% no mercado secundário. O "Diário Económico" escreveu ( em 21.09.2012) que a carteira de dívida pública portuguesa dos bancos nacionais, a mais de um ano, valorizou-se, em menos de três meses, em mais de cinco mil milhões de euros. Esta evolução, ainda que potencial, reflete a positiva reação dos mercados às decisões tomadas pelo Banco Central Europeu (BCE).

O BPI de Fernando Ulrich fechou o ano de 2012 com lucros de 249,1 milhões de euros, quase anulando os 285 milhões de prejuízos do ano anterior. Mais de metade dos ganhos, 160 milhões de euros, é relativa às mais-valias obtidas com a dívida pública portuguesa.)

As seguradoras que atuam no mercado português fecharam o ano de 2012 com 8,7 mil milhões de euros em títulos de dívida pública portuguesa, correspondentes a 67% do total de 13 mil milhões de euros investidos em dívida pública (Fonte: Associação Portuguesa de Seguradores (APS).

Falsidade

As dívidas dos países são compostas não apenas pela dívida pública, mas também pela dívida privada dos bancos e empresas e pelas dívidas das famílias.

A dívida do estado português, em meados de 2011, era metade da dívida privada_ empresas e banca.

A ameaça de bancarrota pesava sobretudo sobre a banca e as grandes empresas privadas, que ficaram sem crédito internacional.

Em 2011, a Grécia, diabolizada pela propaganda liberal, era afinal o país com menor taxa de dívida total ( pública + privada + mais famílias) face ao PIB e a Irlanda conservadora, apresentada como modelo da via austeritária, era afinal a única que apresentava um rácio elevadíssimo.

A Dívida das administrações públicas para efeitos do critério de desempenho do PAF_Programa de Assistência Financeira a Portugal (PAF) – dezembro 2011 era de 98,2% do PIB. Comparemos então estes resultados com os das empresas privadas:

As empresas registavam um nível de endividamento de 178% do PIB (177% em 2010) e os particulares/famílias, um nível de endividamento de 103% do PIB (104% em 2010). A banca um nível de endividamento de 55% do PIB.

Em 2011 a dívida das empresas e da banca, elevava-se a 248% do PIB, duas vezes e meia superior à dívida pública,  que era de 98,2% do PIB, na altura em que fomos obrigados a aceitar o diktat da troika, que não é apenas de natureza económica, mas sobretudo política.

Tomando como referência a percentagem da dívida total face ao PIB, Portugal, com 356% de dívida total face ao valor do PIB, estava muito abaixo da Irlanda, 663% do PIB, e do Reino Unido, 507% do PIB ou do Japão, 512% do PIB e ao mesmo nível da Espanha, 363% do PIB e França, 346% do PIB.

A dívida grega, 267% do PIB, estava muito abaixo dos principais países do euro: era de um terço da Irlanda, 663% do PIB, metade do Reino Unido, 507% do PIB e estava muito abaixo da França, 346% do PIB, da Itália, 314% do PIB, e era mesmo inferior à Alemanha, 278% do PIB. A Grécia, no quadro das dez maiores economias ocidentais e das cinco economias da eurozona em crise, apresentava um nível de endividamento inferior a todas elas.( Fonte: Mckinsey)

Fingimento

O que significa um “acordo de salvação nacional”? Quais são as suas medidas políticas, qual é o seu programa de governo, que interesses de classe social defende?  Porque não enunciou estas medidas e programa o Sr. Presidente da República, dizendo apenas que era preciso cumprir o acordo imposto pela troika, que o governo PSD/CDS reforçou em austeridade? Porque convocou apenas os 3 partidos que têm monopolizado o poder e excluiu os outros partidos que representam a nação na Assembleia da República?

Porque diziam, o líder do governo e o presidente da república, no início dos seus mandatos, que negociar o memorando eras desonra e perca de credibilidade e só serviria para aumentar a desconfiança dos mercados, e dizem agora que um compromisso a três, para cumprir o memorando a todo o custo, seria mais favorável para novas negociações? Não é verdade que no primeiro ano de aplicação do programa da Troika existiu essa tripla aliança, com o PS a votar o orçamento de estado, com resultados desastrosos no país e nos mercados da dívida?

A renegociação da dívida foi proscrita pelo governo mas também pelo Presidente da República, mas, perante o fracasso do plano da troika, começou a ser feita pelo governo PSD/CDS em segredo, sem uma ação coordenada com os outros quatro países mais expostos à crise financeira _Itália, Espanha, Irlanda, Grécia; negociando com funcionários de terceira linha, tratados como estadistas ou governadores coloniais, e não com os seus líderes políticos, os conservadores e liberais, seus correligionários,  que dominam a europa comunitária desde a sua fundação; não procurando a aliança e o apoio dos políticos que na Europa se opunham à austeridade, nem mesmo depois de estes terem ganho as eleições, como aconteceu na França… Nenhuma voz deste governo se juntou à do conservador  Pat Rabbitte, ministro da Irlanda para a Comunicação, Energia e Recursos Naturais, que perante a previsão da dívida soberana irlandesa chegar aos 250 mil milhões de euros até 2014, conduzindo à falência nacional, afirmou que é "inevitável" para a União Europeia admitir alguma forma de “perdão da dívida para amenizar a crise irlandesa”. Ou do também conservador  e  ministro italiano das Finanças, Guilio Tremonti, do governo de Berlusconi, reclamando a emissão de obrigações de dívida da zona euro, os “eurobonds”…

Afinal, tiraram proveito,  sem alguma vez terem lutado por isso, da resistência do povo grego, que nas eleições quase venceu os partidos da troika e obrigou os bancos a reduzir em 50% a dívida soberana; valeu-lhes a vitória dos socialistas de François Holland, críticos da austeridade, que forçaram o compromisso com Ângela Merkel para que o Banco Central Europeu garantisse o pagamento das dívidas soberanas; valeu-lhes o conservador Rajoy em Espanha, a exigir permissão para deficits mais altos e mais tempo para a recuperação, de que também beneficiaram; valeu-lhes o povo português, em grandes manifestações pacíficas, que conduziram os mentores políticos da troika a fazer pequenas cedências, para conter a revolta; valeu-lhes o povo de Itália, ao reduzir o partido da troika nas eleições parlamentares a menos de 10%; valeram-lhe os irlandeses conservadores, com a maior dívida global do mundo, à beira da implosão do seu estado, que exigiram mais anos e uma moratória para pagar a dívida, com baixa dos juros…(e continuam a falar-nos do exemplo da Irlanda, opondo-lhe a situação da Grécia!)
E, de novo sem qualquer mérito político, beneficiarão em 2014 do acordo com o Banco Central Europeu que a Irlanda vai negociar em Dezembro, para o que Cavaco chama o período pós-Troika.

Forçados a negociar, negociaram mal, agarrados a dogmas, enquanto vendiam ao desbarato os últimos anéis do estado democrático, que não lhes pertenciam, e eram património do estado democrático e do povo português…a EDP, ANA, TAP…e continuaram a enterrar o dinheiro dos impostos dos seus concidadãos na ajuda aos banqueiros em pré-falência, como os do BANIF. E a renegociar acordos secretos e  duvidosos nas parcerias público privadas…A pagar um milhão de euros à banca nos contratos swap, ruinosos e dolosos para o estado.

Hipocrisia,  “ inadiável” e  “irrevogável” e “de confiança”

O que significa “irrevogável” para a liderança do CDS? E democracia cristã, quando os leilões de casas, entregues aos bancos pelas famílias que deixam de conseguir pagar o empréstimo, duplicaram nos últimos anos e o mesmo aconteceu com o número de imóveis que vai à praça. Em 2011, as duas leiloeiras que dominam este mercado - a Euroestates e a Uon - realizaram quase 70 leilões com cerca de 4700 imóveis. As Finanças vendem atualmente 88 casas penhoradas por dia…

E o apoio à família? Em 2010, com a eliminação dos dois últimos escalões da prestação e do pagamento adicional de 25 por cento a famílias com baixos rendimentos, 334.806 crianças e jovens deixaram de ter acesso ao abono de família. Em 2011, 478 664. Entre 2010 e 2011 a verba respetiva, diminui de 968,2 milhões para 674,9 milhões de euros, 30,3%. Entre 2010 e meados de 2012 a redução foi de 1.707.306 para 1.186.779, 29,5%.

E para o ministro das finanças demissionário, o que representa politicamente o “incumprimento dos limites originais” em relação com o défice e dívida pública  em 2012 e 2013, quando reconhece não lhe darem a autoridade necessária para continuar no Terreiro do Paço? “A repetição destes desvios minou a minha credibilidade enquanto o ministro das Finanças”, conclui o demissionário e outrora triunfante ministro, apresentado como o campeão da austeridade em Bruxelas, como um símboço da credibilidade do governo junto dos credores, sobretudo dos todo poderosos financeiros alemães! Na carta ao primeiro-ministro – onde faz referências implícitas às divisões na coligação PSD/CDS-PP – Vítor Gaspar diz que caberá a Passos o “fardo da liderança” de uma equipa governativa a quem não poupa críticas pela falta de coesão interna. “Assegurar as condições internas de concretização do ajustamento são uma parte deste fardo”, afirma, para a seguir acrescentar: “Garantir a continuidade da credibilidade externa do país também. Os riscos e desafios dos próximos tempos são enormes. Exigem a coesão do Governo. É minha firma convicção que a minha saída contribuirá para reforçar a sua liderança e a coesão da equipa governativa”.

Impostura

Então, Sr. Presidente, esta novela (e o próximo capítulo da “moção de confiança”) serviu também para nos esquecermos das causas políticas destas duas demissões, a “ inadiável” e a “irrevogável”?

Noticiava o Jornal o Público que o PCP vai promover um “conjunto de contactos, reuniões e encontros com personalidades empenhadas na afirmação de um Portugal desenvolvido e soberano”, comunicou então Jaime Toga, membro da comissão política do comité central do PCP.

Em conferência de imprensa na sede do partido, Jaime Toga informou que o PCP “endereça convites para a realização a curto prazo de encontros com organizações sociais, com o PEV o Bloco de Esquerda e a Intervenção Democrática”. O partido a reunir com a sua própria área de influência, exceção feita ao BE !?

Questionado pelos jornalistas sobre a inclusão do PS nos contactos e reuniões a promover, o membro da comissão política comunista afirmou que “a direção do PS fez a opção de renovar o compromisso com o pacto de agressão”, ao ter iniciado este fim-de-semana as conversações com vista ao acordo tripartido para o “compromisso de salvação nacional” exigido pelo Presidente da República, Cavaco Silva, na passada quarta-feira. Concluindo que nesta frente de alianças “Cabem todos aqueles que estão identificados com os objetivos de demissão da Assembleia da República e convocação de eleições antecipadas”, frisou Jaime Toga. Objetivos com os quais, acrescentou, “o PS não está identificado”.

A direção do PS não fez a opção de renovar o compromisso com o pacto de agressão e, por conseguinte, cabe afinal entre as forças políticas identificadas com os objetivos de demissão da Assembleia da República e convocação de eleições antecipadas.

Os cidadãos, personalidades e forças sociais empenhadas na afirmação de um Portugal desenvolvido e soberano estão muito para além das organizações sociais conotadas com a linha política do PCP, com o PEV o Bloco de Esquerda e a Intervenção Democrática. E o PCP, que é nas suas propostas e alternativas estratégicas o mais nacionalista partido parlamentar do nosso país, como o reconhece implicitamente o 2º homem mais rico de Portugal e líder do grupo Pingo Doce, propondo que este partido seja incluído nas negociações para uma alternativa de governo, o PCP, com o seu programa de defesa da autonomia e independência nacionais, não retira dessa postura política, com aquela tática, nenhum resultado político relevante e deixa todo o poder nas mãos dos conservadores e liberais, mascarados de democrata-cristãos, social democratas e socialistas.

Perfídia, “mercados financeiros” e a “City”, “Agências de rating”

O mito da confiabilidade dos mercados financeiros e a City londrina

Um dos paraísos fiscais é a City em Londres. Em 1980 o governo conservador inglês legislou para que os seus bancos e sociedades financeiras se autorregulassem, à margem do estado e do direito. Os trabalhistas de Tony Blair, vitoriosos em 1997, mantiveram esta situação. O democrata Bill Clinton segui-lhe os passos nos EUA. Da longa sequência de escândalos financeiros, salientemos o que nos dá a primeira chave para entender como se manipula o mercado financeiro: o Barclays surge no centro do escândalo de manipulação das taxas LIBOR_ que regulam as transações financeiras: o seu presidente Bob Diamont fica sob investigação judicial, o banco é multado em 450 milhões de dólares e a desconfiança sobre a manipulação, no sentido da sua elevação artificial, estende-se ao painel de 18 bancos ocidentais que a fixam em regime de autorregulação, desde o Bank of America ,Bank of Tokio-Mitsubichi, USB, BNP Paribas, Deustche Bank…( Fonte: Times)

As agências de rating

A segunda chave de manipulação do mercado financeiro está na natureza e papel das agências de rating. O governo federal americano acusou a agência de rating Standard & Poor´s de fraude, em relação á crise financeira de 2008, sim, a mesma empresa que o atual primeiro-ministro cita orgulhosamente pela reclassificação da dívida pública nacional. Vejamos a acusação, segundo o jornal New York Times, de February 4, 2013:

"The Justice Department filed civil fraud charges late on Monday against the nation’s largest credit-ratings agency, Standard & Poor’s, accusing the firm of inflating the ratings of mortgage investments and setting them up for a crash when the financial crisis struck....From September 2004 through October 2007, S.&P.“knowingly and with the intent to defraud, devised, participated in, and executed a scheme to defraud investors” in certain mortgage-related securities...The case against S.& P. focuses on about 40 collateralized debt obligations, or C.D.O.’s, an exotic type of security made up of bundles of mortgage bonds, which in turn were composed of individual home loans. The securities were created at the height of the housing boom. S.& P. was paid fees of about $13 million for rating them..."

Os bancos e sociedades financeiras controlam as Agências de Rating e pagam-lhes fortunas para favorecer os seus negócios. Prossegue o jornal:

"A Senate investigation made public in 2010 found that S.& P. and Moody’s used inaccurate rating models from 2004 to 2007 that failed to predict how high-risk mortgages would perform; allowed competitive pressures to affect their ratings; and failed to reassess past ratings after improving their models in 2006.

The companies failed to assign adequate staff to examine exotic investments, and failed to take mortgage fraud, lax underwriting and “unsustainable home price appreciation” into account in their models, the inquiry found.

“Rating agencies continue to create an even bigger monster — the C.D.O. market,” one S.& P. employee wrote in an internal e-mail in December 2006. “Let’s hope we are all wealthy and retired by the time this house of card falters.”

Concluímos: Sem o fim dos paraísos fiscais; sem novas agências de rating controladas institucionalmente pelos órgãos legítimos da comunidade internacional; sem uma moeda universal, com um valor sustentado na economia produtiva, a catástrofe financeira continua a lavrar sob os nossos pés e a preparar o abismo para a economia de mercado, sim, para a economia de mercado, que afirma defender, enquanto a economia socialista de mercado e a economia nacionalizada, apresentam uma singular resiliência, da China ao Vietname, da América Latina à África....

Traição?

 Em Portugal, é tempo de avaliar os resultados da privatização da banca e das privatizações que retiraram ao estado democrático o controle dos sectores fundamentais da economia, colocando na roleta do mercado internacional os recursos fundamentais: energia, combustíveis, comunicações, aeroportos...que pertencem agora aos novos monopólios e cartéis, proibidos pela Constituição e pelas Leis da República, recursos que são fatores de competitividade e rentabilidade indispensáveis para recuperar a economia das empresas, das famílias e do setor estatal.

O (s) governo (s) vendeu o que gerações de trabalhadores, técnicos e administradores portugueses construíram com a sua inteligência, saber e suor, ao longo de gerações.

É tempo de relembrar aos líderes do PSD e CDS que a anterior política de governo do PS foi sempre por eles apoiada e referendada, quando aprovaram e viabilizaram os orçamentos do estado e depois o diktat da Troika.. Que, pela herança política deste passado recente são igualmente responsáveis, mas sobretudo, pela crise geral nacional que se avizinha.

A demissão do governo e a realização de eleições antecipadas é a última oportunidade para evitar a crise geral nacional e uma exigência política que torna o Presidente da República responsável pela continuidade do governo.

O Presidente da República tem saído quase incólume das críticas ao governo que continua a apoiar e as manifestações populares têm-no poupado, mas a próxima grande manifestação nacional, provavelmente, dirigir-se-á a S. Bento para exigir a demissão do executivo.. e a sua !?.

Essa é também a obrigação política do PS,  continuar a reclamar eleições antecipadas, após o discurso de rotura anunciado pelo atual Secretário-geral, perante a falência do governo, das suas políticas e das negociações com os partidos do governo.

A rebeldia, protesto, voto contra, auto demissão de ministros e secretários de estado, deputados, presidentes e vereadores, líderes locais e militantes...também pode contribuir para apressar a queda urgente do governo e salvar ainda o PSD e o CDS como partidos nacionais e democráticos.

Quando a crise geral nacional se tornar insuportável, os campos políticos vão extremar-se e cada uma das forças partidárias será empurrada para escolher entre a defesa dos direitos nacionais e dos privilégios do capital financeiro sem pátria, fracturando-se, regenerando-se ou decompondo-se.

À beira da crise geral nacional

Nenhuma vanguarda, nemhum lider providencial,  existe hoje para liderar pacífica e democraticamente a revolta latente.

Porque chegamos ao ponto em que uma faísca pode incendiar a revolta e suscitar um novo levantamento popular e nacional: um ato violento do governo contra as manifestações pacíficas; um ato de subversão governamental contra a independência dos tribunais e do Tribunal Constitucional em particular; o esgotamento dos recursos solidários das famílias, das instituições de solidariedade social e religiosas, de que é sinal a quebra no peditório nacional da Caritas; o desespero dos suicidas que perdem a pequena empresa, o emprego, a casa, a saúde e o pão; a ruina e abandono dos concelhos e das freguesias; a morte precoce dos nossos mais velhos; a afronta e provocação de novos escândalos financeiros, de negócios fraudulentos, enganosas renegociações das parcerias público-privadas ou até face a ofensa continuada dos discursos dos ricos e poderosos, e dos burocratas sem coração que mandam na Europa e em Portugal, que reclamam para os outros, para os que não são da sua condição e família, que aguentem mais austeridade e cortes...

Um só ato irrefletido desta deriva antinacional e autoritária que nos desgoverna, pode levantar a maré humana e lançá-la contra os centros do poder, trazendo consigo a marginalidade social ( recordo-me de Londres, em 2011 e antes Paris, agora a Turquia). Mas o risco maior não virá de uma revolta popular. Todas as revoluções conduzem a uma solução política.

Recordemos de novo Nelson Mandela: “A situação real no terreno pode justificar o recurso à violência, que mesmo os homens e mulheres bons podem ter dificuldade em evitar. Mas mesmo nestes casos a utilização da força deverá ser uma medida excecional, cujo objetivo primordial deverá ser o de criar o ambiente necessário para soluções pacíficas. São estes homens e mulheres bons que constituem a esperança do mundo.”

O risco principal é de esgotamento de forças da resistência popular, a qual, em defesa dos direitos e do regime democrático constitucionais, combate desde 1976, recuando sempre.

Não concordo com as análises políticas à esquerda que creem que a crise do governo resulta da envergadura da luta e do elevar da consciência popular. É certo que grandes manifestações tomaram a rua, mas os protestos reclamam sobretudo a restauração dos direitos democráticos fundamentais, mas não uma mudança revolucionária de regime, nenhum dos ideais do socialismo está presente nos objetivos que proclamam. Nem nenhuma força política de esquerda ganhou a sua confiança, tão pouco os pequenos grupos informais que tiveram a intuição de lançar as manifestações, mas são incapazes de elevar a sua organização a um nível superior.

Há em Portugal, como na Hungria, na Polónia, na Grécia, na Turquia, se não conseguirmos organizar politicamente o medo, o terror pelo futuro, a raiva, a frustração e o desânimo popular e da classe média, a ameaça de caminharmos para o caos social e para a democracia musculada de que falava o mais poderoso empresário da construção civil, passo a passo: pela perca total de independência dos tribunais, acusados pelos políticos que fizeram as leis de malha grossa de não fazer justiça; pelo afastamento na polícia e nas forças armadas das chefias e lideranças com consciência democrática e nacional; pela sujeição a um novo diktat dos conservadores europeus, se triunfarem nas eleições alemãs e pelo reiterado cedência do PS às exigências da banca, da finança e dos novos cartéis…

Uma deriva autoritária, legitimada mais adiante, provavelmente, pela via da redução da dimensão da Assembleia da República, uma das palavras de ordem que ganha mais adeptos na opinião pública, pelo partido único nos executivos municipais ( já acordado entre PS e PSD ) e pela mudança de regime em favor do presidencialismo, culminando com golpes mais profundos nos direitos constitucionais da República, legitimados com o voto dos plebiscitos.

Assim, que fazer para evitar a catástrofe iminente?

Há espaço político a abrir-se para um movimento/partido de centro esquerda ( por causa da contradição entre a posição dos líderes e o desejo de unidade da base dos partidos de esquerda), que tenha amplitude para enquadrar os setores mais radicais da esquerda e afastá-los do desespero de aventuras violentas.

Há também espaço político para um movimento/partido de centro direita, mas que só se abrirá quando da saída do governo do grupo radical de direita que tomou simultaneamente o PSD e o CDS.

Há ainda espaço político para a criação de um movimento presidencialista, que pode nascer como de centro direita mas cairá sempre mais para a direita, qualquer que seja a cor com que se vista.

Há, finalmente, espaço político para um projeto nacional e democrático, de frente ampla, assente num programa de renascimento nacional, alargamento das relações internacionais na direção dos BRICS/PLOP/ibero-americanos e aprofundamento da democracia em Portugal e na Europa, que reconheça a cada um dos cidadãos os seus direitos fundamentais ao trabalho, à saúde, educação, habitação, ao ambiente, à paz e à participação política, onde cabem todas as forças políticas e sociais democráticas e nacionais.

As eleições antecipadas são a medida mais urgente, capaz de criar uma nova correlação de forças, que restituirá ao país autonomia e a legitimidade política para renegociar com a Troika ( ou com o que dela restar). Exatamente ao contrário do que afirma o Sr. Presidente da República, para justificar a continuidade da sua confiança num governo que nunca contestou o programa da troika e o reforçou em austeridade, e nunca teve coragem para enfrentar o diktat conservador..

Confiança renovada por ele para servir a oligarquia e não a nação: falamos dos privilégios que permitiram a contínua redução do passivo dos bancos nacionais de 120.000 milhões de euros em 2008 para 70.000 milhões em 2012 e de um pequeno núcleo de empresas em posição de monopólio e cartel,  que forçaram a demissão de José Sócrates e meteram na ordem Paulo Portas, uma oligarquia que seleciona as elites políticas e as projeta na comunicação social e na europa comunitária..

Em alternativa, um governo de renascimento nacional, plural e democrático, nascido da luta política das grandes movimentações populares e da sua mobilização eleitoral, de uma ampla aliança política que engloba mas ultrapassa os partidos e as organizações sociais, integrado numa Europa mais democrática e solidária, mas igualmente nos novos espaços económicos dos BRICS e ibero-americanos.

Este novo governo terá também a força suficiente para negociar com a oligarquia do país os seus deveres e obrigações face à nação que os fez ricos e poderosos, garantindo-lhe ao mesmo tempo os seus direitos legais, consignados na Constituição da República, que estão a rasgar!

 Disse e não tredice!

 

 

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