“A Leste, nada de novo!” Apenas mais
morte e destruição, até ao apocalipse?
A ocidente, a situação dos 8 milhões de ucranianos russos e
mais de um milhão de ucranianos de outras nacionalidades, nunca esteve presente
no discurso dos líderes políticos ucranianos e europeus. No entanto, e segundo
as Nações Unidas, eles constituem hoje o maior contingente de refugiados, primeiro durante a guerra civil
de 2014/21 (2,5 milhões evacuados para a Rússia), e agora, durante a invasão
russa e a disputa do Donbass, onde predominavam, mais 2.852.395 pessoas (em
final de 2022) procurou refúgio na Rússia, segundo a Agência das Nações Unidas
para os Refugiados, representando hoje um número superior a 5 milhões, sobretudo
mulheres, crianças e idosos, oriundos das 4 províncias anexadas pela Federação
Russa, mas também das cidades e regiões que resistiram efemeramente ao golpe de
estado. Ucranianos de todas as nacionalidades, que foram privados, primeiro do uso público e
do ensino das suas línguas e cultura, depois da totalidade da sua representação
política, como aconteceu em Odessa e Kharkov, e de um modo geral em todo o
sudeste da Ucrânia
A situação política e económica da Ucrânia e da Federação
Russa, nunca serviu de base ao debate político sobra a origem da guerra e os
caminhos para a paz. No entanto, é impossível que os líderes ocidentais
desconheçam a resolução que o partido de Putin levou ao Senado, na véspera da
invasão, em cumprimento de um preceito constitucional, que obriga o presidente
a pedir autorização a este órgão para usar as forças armadas russas em
território estrangeiro. Nessa resolução não está escrito o objetivo de
conquistar a Ucrânia e de avançar para outros países, mas sim a defesa do Donbass
e a retoma de mais de metade do seu território que a ofensiva do exército e da guarda
nacional ucraniana reconquistou durante
a guerra civil, precedido, na mesma data, pelo reconhecimento como repúblicas
independentes pela DUMA, onde os partidos de oposição de centro-esquerda ao
governo de Putin, representavam pela primeira vez 33% do eleitorado (2019).
A continuação e escalada da guerra militar e económica, atingindo
a totalidade dos povos da Federação Russa, após o fracasso das negociações de
paz iniciais, permitiram ao governo de Putin alargar o objetivo inicial às duas
novas províncias, invocando razões de natureza político-militar e consumar a
sua anexação, com o apoio renovado e ampliado das duas câmaras, e de cerca de
80% da população russa, segundo as sondagens oficiais.
O Comandante-em-Chefe das Forças Armadas da Ucrânia, General
Valeriy Zaluzhny, entrevistado pelo Economist, declarou então que a sua guerra
começara em 2014, e que necessitava de imediato, por imperativo estratégico de
defender a linha da frente, de 300
tanques, 600-700 viaturas de combate de infantaria e 500 obuses. Colocou também como segunda tarefa
estratégica, uma nova onda de mobilização, para substituir os soldados
ucranianos caídos ou feridos em batalha, que a vice-ministra da Defesa apontou
para 2023 e o governo ucraniano reconheceu situar-se já na escala das centenas
de milhar. Para a contra ofensiva, seriam necessários muitos outros recursos militares e concluiu, que sem eles, lutariam
até ao fim, mas…sem aviação, com um nível de baixas ainda mais elevado, que sorte
esperar da contraofensiva?
Admitamos que as tropas russas e os mercenários do grupo Wagner
vão ser derrotadas e expulsas das 4 províncias e da Crimeia. Com elas serão
esmagadas as forças militares dos ucranianos russos do Donbass, mais de 50,000
combatentes, mas que incluem também ucranianos gregos e voluntários sérvios
(recordemos que a Jugoslávia foi bombardeada e desmembrada pela NATO em 1999,
durante a guerra separatista do Kosovo, sem a aprovação do Conselho de
Segurança das Nações Unidas, durante 68 dias, incluindo instalações civis e
militares, com um custo de mais de 6.000 mortos, maioritariamente civis e
outros tantos feridos) O último gasoduto russo, que pela Ucrânia continua a abastecer
a europa central e do norte, deixará de funcionar, e a Europa, que já paga
quatro vezes mais por esse combustível, verá
a inflação regressar em força…Assistiremos então à maior limpeza étnica
de que há memória na nossa época. E a guerra não terminará.
Os falcões de Moscovo tomarão nas suas mãos a condução da
nova etapa da guerra, prevista na sua doutrina militar que prevê a “desescalada
nuclear”, uma fórmula estratégica paradoxal que integra a doutrina de segurança
e defesa da Federação Russa e que consiste em utilizar armas nucleares táticas
para preservar a integridade da nação, sem recorrer às armas estratégicas. E a Federação
Russa levantará um novo exército de um milhão de homens, conscritos e
voluntários e a escalada da guerra pode avassalar a europa e o mundo.
E a Ucrânia? No caso de vitória, temporária ou de derrota,
pelo colapso das suas forças armadas, a economia e os serviços sociais do
estado, estarão exauridos, a imensa dívida a pagar pela ajuda militar irá
transferir para as multinacionais estrangeiras, a propriedade dos campos
férteis de trigo, que já foram a moeda de troca do FMI e da agência americana
para o desenvolvimento, durante a guerra civil, incluindo a poderosa indústria
bélica da Ucrânia, privatizada na atual
guerra.
O caos tomará conta desta nação multinacional. Os 14 partidos
da oposição de centro-esquerda, foram já ilegalizados pelo Presidente Zelensky,
sob a acusação de pró-russos; não sabemos até que ponto sobrevivem na
clandestinidade os mais representativos, mas, nas eleições que levaram ao poder
o partido do atual presidente (2017), 51% dos eleitorais abstiveram-se e entre
os 49% votantes, estavam milhões de eleitores
do Partido Comunista da Ucrânia e do antigo Partido das Regiões, que em
conjunto representavam 40% do eleitorado e deram o seu voto útil ao programa do
atual presidente, de autonomia e pacificação.
Quem pode derrotar o partido
oligárquico de Putin? O povo russo
Mas quem pode afinal derrotar o governo oligárquico e
militarista do partido de Putin? A Aliança entre os povos das duas nações,
historicamente irmãs, desde a fundação das suas Repúblicas Populares, na resistência
e enfrentamento da besta nazi, até aos “liquidadores de Chernobil”, 500.00
voluntários de todas as nacionalidades da Federação Russa e da Ucrânia, que contiveram
as fugas radioativas e salvaram a Europa e o Mundo, da tragédia nuclear.
O povo russo (e o povo ucraniano), as forças políticas
democráticas que o representam, que não os líderes fabricados pela propaganda
ocidental, que são figuras ligadas à extrema direita russa e oligarcas também, que
com os oligarcas de Putin e as multinacionais do ocidente, controlavam 90% do
comércio e 70% da indústria na Federação Russa e orientavam as suas
instituições financeiras (sim, e não saíram da Rússia, entregaram a gestão dos
negócios aos seus sócios russos, 106 saíram de facto, mais de 1500 permanecem).
Povos e nações que a NATO, a UE e os EUA trataram como se
fossem apoiantes do partido de Putin, a quem as sanções mais dano causaram, em
violação também do direto internacional e dos princípios da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, porque só as Nações Unidas têm esse poder de
sancionar e a discriminação por origem nacional é proibida logo nos primeiros
artigos da referida Declaração.
Que as iniciativas de paz da China,
da França e do Brasil, salvem a Ucrânia e a Rússia, de um banho de sangue, que
manchará as mãos de todos os promotores da guerra e da sua escalada, inútil e
trágica, que contribuam para o armistício e afastem o espetro da guerra nuclear.
E as duas nações, se apoiem nessas
iniciativas para construir em paz, sem mais ingerência estrangeira, o difícil caminho da reconciliação, da integridade
da segurança, em reciprocidade e da cooperação, sob a égide das Nações Unidas e
a bênção de todas as igrejas.
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