Retomar a tradição social-democrata, com o estado
social como bandeira política e introduzir reformas democráticas na União
Europeia_ da mutualização da divida à coordenação do combate às novas pandemias,
foi o caminho escolhido pelo governo e a sua experiência de alianças, tomados
como exemplo pela Internacional Socialista _IS, em Espanha, como agora na Alemanha. O BE, mudou então a
sua tática política, que pouco antes conduzira à divergência que criou o Livre
e associou-se à frente parlamentar da esquerda.
“A geringonça”, um
conceito político que iludiu os partidos da direita
Ainda hoje os ideólogos da
direita, que de forma precipitada e
errónea, classificaram como
“geringonça”, coisa improvisada, pronta a desconjuntar-se, uma aliança que
perdurou por seis anos, fazem pagar aos
seus partidos um elevado preço político por esse erro descomunal, que os poderá
afastar do poder muitos e longos anos…ou não, se a crise económica e social se
agravar na Europa e nos atingir mais profundamente.
A maioria social de esquerda foi
o fruto da falência dos bancos, do abuso das PPP, do desbaratar de
privatizações, da corrupção dos líderes e da brutalidade da troika… que mudaram
a consciência popular.
Como corolário da falta de
cultura política e desrespeito pelas suas ciências, que prevalece neste “Reino Da Dinamarca”, os partidos da direita substituíram
a difícil elaboração de um programa alternativo pela propaganda radical: PCP e
BE, partidos constitucionalistas, rotulados da extrema-esquerda; o regime atual,
de socialista, mesmo depois da troika ter obrigado o estado a vender os seus
últimos anéis empresariais; o orçamento do governo, despesista...
A diabolização do
Orçamento 2022
O orçamento é o instrumento
económico fundamental da política
nacional e da soberania do país.
O orçamento para 2022 dava um pequeno passo para recuperar direitos democráticos e de soberania, de trabalhadores como de empresários, esmagados pela política de austeridade (recordemos a subida do IVA na restauração): graças ao aumento das pensões e do salário mínimo, e dos salários da função pública, embora escasso; o fim dos pagamentos por conta do IRC, de todas as empresas e não apenas das MPME; ao pequeno alargamento dos escalões do IRS; à restituição progressiva do direito à exclusividade no SNS, que um governo do PS baniu e um anterior do PSD reconhecera… num contexto em que o déficit orçamental poderia crescer em favor de maior investimento público, desenvolvendo o mercado interno! As maiores economias_ EUA e China, têm uma estratégia de crescimento baseada no desenvolvimento do mercado interno, com um peso decrescente da contribuição das exportações para o PIB, embora com objetivos opostos: a concentração do capital e da riqueza, como condição da hegemonia dos EUA, face à harmonização e longevidade das empresas públicas e privadas, de todas as dimensões, para uma progressiva distribuição da riqueza produzida, no caso da RPChina
A queda do
governo: todos são responsáveis
Se PCP e BE se abstivessem, (o
PCP fê-lo no anterior orçamento e o PAN pela segunda vez) a eles deveriam os
reformados, a classe média, os trabalhadores, os empresários beneficiados pelo
maior investimento público, de todas as simpatias partidárias, os magros ganhos,
agora perdidos ou adiados.
Assim, vão partilhar o ónus da ascensão antecipada no parlamento dos
liberais de direita e da extrema-direita, como grupo parlamentar, com o
Presidente da República, que poderia manter o governo em funções e em
negociações, por meses ou anos, como é frequente na europa, ( Alemanha, Bélgica, Espanha… ) tal como com os restantes
partidos, de direita e de esquerda, à exceção do PAN.
Uma Nova Era e a
impossibilidade de governar como dantes
Num mundo onde os governos
dos EUA colocam a sua hegemonia acima de
tudo e a China os ultrapassou em Poder de Compra Comparado (PPP), a UE, minada
pelo Brexit e novos regimes autoritários, não tem estatura política para apoiar
as forças democráticas que nos EUA estão a ser desmanteladas, nem para ombrear
com a China num futuro sustentável e
pacífico para a Humanidade. Mas o debate sobre a alternativa do Federalismo
Democrático continua bloqueado.
Revendo seis anos de aliança
política, uma questão prévia se coloca: a alegação que PCP e BE perderam votos
devido à aliança parlamentar com o PS. Comparemos as eleições de 2015 e 2019
para a Assembleia da República: O BE
manteve os 19 deputados e o corpo fundamental de votos e o PAN, não obstante o
seu alinhamento com a maioria de esquerda, duplicou os votos. O enfraquecimento
do PCP tem outras causas.
E chegamos à questão-chave:
A aliança política promovida pelo
PS tinha apenas um valor tático conjuntural e destinava-se a recuperar a hegemonia que
as maiorias absolutas proporcionam? A resposta a esta pergunta não passa pela
fulanização da política e o estéril
debate dos culpados, mas pelo programa político e o posicionamento dos partido
face à questão do governo, reservado para o PS ou partilhado?
A aliança política proposta pelo
PCP tinha apenas como objetivo conter a política de austeridade e não era parte
de uma estratégia de frente ampla para acumular forças e conduzir à formação do
governo democrático e patriótico, que já proclamou?
A mesma questão se coloca ao BE: A
aliança política em que integrou tinha
apenas como objetivo conter a política de austeridade e não era parte de uma
estratégia de frente ampla para acumular forças e conduzir à constituição (e
participação) de um governo progressista, mais além da social-democracia?
À luz de dois grandes problemas nacionais _ a descapitalização do estado democrático, banca e empresas, e famílias e a sujeição ao Federalismo Monetário e Burocrático da UE, as disputas de liderança no seio do PSD e do CDS são irrelevantes, pois o que parece estar em causa é apenas a luta pelo poder.
Assim, no Reino da Dinamarca, onde escrevo:
“Neste país do monólogo,
do fala-só, muitos poucos
conversatam uns co’os outros,
e é sempre uma conversata
triste e chata,
um não-ter-que-dizer que não se
esgota
senão em palavras pela boca
fora.”
…/…
Se estes partidos, todos eles, mais o PAN, o Livre e qualquer dos outros, não responderem na sua estratégia às nossas verdadeiras crises e problemas nacionais, então, caminharemos todos, "quase todos", como os ratos de O´Neill, de costas para o abismo!
Responde-me o poeta:
“Ó formiga operosa,
julgas-te mais do que a cigarra?”
(A.O’Neill)
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