…As vítimas da omissão e
mistificação da História jazem nos campos de batalha do Afeganistão, lado a
lado, mortos que deviam estar vivos. Pereceram em vão? Sim, se não aprendermos
do seu sacrifício supremo a complexa natureza da guerra moderna…
Frank Gardner, jornalista da BBC,
contabilizava no seu artigo a 23 de maio de 2021, duas décadas de intervenção
militar dos EUA e da NATO no Afeganistão: Mais de 2.300 militares americanos
mortos e mais de 20 mil feridos. Entre
os mortos, 450 britânicos assim como centenas de soldados de 32 outras
nacionalidades. Mas foram os afegãos que sofreram o maior impacto. Houve mais
de 60 mil mortes nas forças armadas e de segurança e mais do dobro de mortes
civis.
Mais de 775.00 tropas americanas combateram
no Afeganistão.
As perdas dos Taliban não contaram
para este balanço trágico. Mas um estudo
da Universidade Brown estima a morte de mais de 51.000 combatentes. Um outro relatório,
intitulado “Body Count”, elaborado por “Physicians for Social Responsibility,
Physicians for Global Survival” e pela organização denominada Médicos
Internacionais para a Prevenção da Guerra Nuclear, laureada com o Nobel da
Paz, concluiu que entre 106.000 a 170.000
civis foram mortos como resultado de 20 anos de combates no Afeganistão.
O mesmo jornalista justificava a invasão
e a ocupação, com os argumentos difundidos pela propaganda dos governos
americanos: a guerra foi a resposta legítima aos ataques terroristas de 11 de
Setembro de 2001 ”… planeados e dirigidos pela Al-Qaeda do Afeganistão”. O
artigo reproduzia o discurso oficial sobre os resultados da guerra: os EUA
tiraram os Talibã do poder e expulsaram a Al-Qaeda temporariamente do país. E
terminava com o anúncio da retirada total das tropas, prevista simbolicamente
para 11 de setembro de 2021, deixando ao governo e às forças armadas afegãs,
treinadas e armadas pelos EUA e pela NATO, a tarefa de enfrentar os combatentes
Talibãs.
Citemos o presidente Biden, no
seu recente discurso de resposta ao avanço pacífico dos Talibans sobre Cabul,
perante o vazio de segurança criado pela deserção em massa do exército e da
polícia afegãos.
Ao longo dos 20 anos de guerra
do nosso país no Afeganistão, os Estados Unidos enviaram os seus melhores
jovens, investiram quase US $ 1 triliões de dólares, treinaram mais de 300.000
soldados e policias afegãos, equiparam-nos com equipamento militar de última
geração e mantiveram a sua Força Aérea, como parte da guerra mais longa da
história dos Estados Unidos.
Uma força militar desta dimensão
superava em cinco vezes o número de combatentes Talibãs. O seu rápido
desmoronamento torna imperativo compreender a natureza política desta guerra.
Mas desde agora se adianta que o proclamado investimento bilionário foi gasto
sobretudo em despesas militares e de segurança e não no desenvolvimento
económico e social do Afeganistão.
Recentemente (em fevereiro de 2020),
o governo do presidente Trump acordara com os representantes dos Talibãs a
saída das tropas americanas e da NATO, excluindo do processo negocial o governo
que os EUA entronizaram no Afeganistão.
O paradoxo da
Al-Qaeda: a criatura virou-se contra o seu criador
A origem, natureza política e a
evolução da Al-Qaeda e do movimento Talibã são distintas e nunca
deveriam ter sido confundidas.
Os Talibãs são afegãos, que no
Afeganistão têm as suas raízes culturais e familiares, pais e avós, irmãos e
irmãs. As mulheres afegãs são suas mães, avós, irmãs…filhas, netas…Deixaram os
campos e pastagens, as aldeias, os campos de refugiados, para combater os
invasores, como o fizeram os seus antepassados. .Aqui enterraram mais de 150.000 dos seus camaradas de
armas, ao longo de quatro décadas de
combates contra o poderio militar das duas superpotências e um número muito
superior de civis, com quem tinham laços de família ou vizinhança. Não são
guerreiros do Islão, aventureiros e mercenários como os militantes da Al-Qaeda
ou do ISIS. Esta á a sua pátria e a sua terra. O seu mundo não é o do ocidente,
nasceram num país semifeudal e, em guerra civil; onde, para a maioria, a única escola aberta era a Madrassa
corânica…
A Al-Qaeda nasceu para defender a
causa palestina, mas logo foi apoiada pelos EUA para se transformar numa
poderosa organização anti socialista, empenhada no derrube do regime da
República Democrática do Afeganistão.
Em 1997, numa entrevista com
Peter Arnett, Osama bin Laden cita a intervenção militar e a proliferação de
bases estado-unidenses no Médio Oriente (como é o caso do seu país de
nascimento, a Arábia Saudita), mas sobretudo o apoio à política israelita de
ocupação e opressão da Palestina, como as principais razões para as ações
terroristas da sua organização.
Em comunicados formais, Osama Bin
Laden preferia então usar o termo "Frente Internacional pela Jihad contra
os Judeus e Cruzados" como nome para o grupo, em vez do nome Al-Qaeda.
A sua organização como grupo
terrorista fez parte da resposta americana ao surgimento da República
Democrática do Afeganistão, nascida do golpe militar que derrubou o primeiro governo (autocrático)
constituído após a queda da monarquia afegã. A RDAf propunha realizar no seu país
uma revolução democrática e socialista assente em três linhas programáticas
principais: a fundação do estado laico, que reconhecia às mulheres um estatuto
de igualdade de direitos, a reforma agrária em favor dos camponeses, contra os
senhores da guerra latifundiários e usurários, ainda dominantes numa economia
semifeudal, o desenvolvimento económico e social do país a partir da exploração
dos seus riquíssimas recursos naturais.
De acordo com o então Secretário
de Estado dos EUA, Zbigniew
Brzezinski, o apoio da CIA aos insurgentes no Afeganistão foi aprovado
em julho de 1979, seis meses antes da intervenção da URSS. Brzezinski afirmou mesmo que a ajuda aos
insurgentes, iniciada sob a administração de Jimmy Carter, tinha a intenção de
provocar a intervenção soviética. (Consultar Vincent Javert, 'Interview with Brzezinski', (Le Nouvel Observateur, Paris, 15–21 Janeiro
de 1998, p. 76.). Seria depois significativamente impulsionada sob a
administração de Ronald Reagan, que estava empenhado em reverter a influência da
URSS no Terceiro Mundo.
A Revolução de Saur foi um golpe palaciano, sem participação
popular, sobretudo da imensa massa de camponeses afegãos, organizado pelo
Partido Democrático Popular do Afeganistão (PDPA), em 27 de abril de 1978 (Saur é o segundo mês do calendário persa),
que dispunha de uma grande influência entre os intelectuais e os jovens
oficiais, e se apresentava como força política aberta à diversidade dos ideais
democráticos, inspirado pela doutrina do
socialismo científico. Foi o seu governo quem primeiro decretou a emancipação
das mulheres do Afeganistão, através do acesso á educação e do reconhecimento
do princípio da igualdade perante a lei, país economicamente subdesenvolvido,
nalgumas áreas semifeudal, com uma população predominantemente rural iletrada e
privada dos serviços socais do estado moderno, prisoneira de usos e costumes
ancestrais consagrados pela religião, que, na ótica dos novos governantes,
deveria ser separada do estado, a República Democrática do Afeganistão.
O novo regime ganhou base de
apoio nos centros urbanos, mas foi dilacerado por conflitos internos violentos,
que culminaram na intervenção militar da URSS, país que na época tinha assumido
o seu estatuto de superpotência segundo a doutrina de Brejnev de ”soberania
limitada do campo socialista”. Os Acordos de Genebra de 15 de abril de 1988,
subscritos pelo Afeganistão e o Paquistão, terminaram com a presença das tropas
da URSS, que atravessou o período 1979-1989, prometeram a não-ingerência, e
garantiram o regresso voluntário de refugiados afegãos (4-6 milhões).
O regime fora perdendo apoio popular e a guerra consumiu os seus recursos e condicionou a realização do seu programa de desenvolvimento económico e social: 20.000 soldados afegãos e cerca de 90.000 mujahideen terão perdido a vida nesse período, sendo as baixas civis estimadas na ordem das centenas de milhar. A RDAf resistiria mais 3 anos após a retirada do exército da URSS.
A partir de 1992 a guerra civil generalizou-se entre as diferentes fações que tinham combatido a RDAf, fragmentando o estado e acirrando o conflito étnico, até à entrada violenta em Cabul dos
Talibãs em 1996, liderados na época por uma visão política ultraconservadora dos
princípios islâmicos. O que restava do núcleo mais progressista da sociedade afegã, comunistas e democratas de todas as tendências, sucumbia assim, sacrificado pela guerra
sem quartel entre as duas superpotências e os seus aliados regionais. A liquidação da elite democrática de
toda uma geração, abriria o caminho à ascensão das elites religiosas afegãs tradicionais
e, em última instância, aos Talibãs, deixando apenas no Norte, como seus opositores, as milícias dos senhores da guerra.
Durante os mais de 9 anos de
guerra, a URSS enviou um total de 620.000 soldados para o Afeganistão. Segundo
dados oficiais, pelo menos 15.400 soldados foram mortos e 50.000 feridos. Entre
os povos da URSS desenvolveu-se um
profundo sentimento contra a guerra, dirigentes do PCUS e o governo receberam incontáveis apelos e cartas pedindo o seu fim,
escritas pelas mães, esposas e irmãs dos soldados. O custo da guerra elevou-se
a mais de US$ 30 biliões, depauperando a economia da URSS já debilitada pela
corrida armamentista. O próprio Congresso dos Povos da URSS, em 1989,
considerou a incursão no Afeganistão uma "aventura desastrosa".
O atual governo dos EUA e a
maioria dos representantes dos dois partidos americanos que monopolizam o
poder, parecem estar longe de aceitar a lição histórica de que É impossível
trazer a democracia pela guerra. (Malalai Joya, ex- membro do Parlamento afegão, e autora de
"Raising My Voice”) e continuam a esconder do seu povo e do mundo, a razão
fundamental da continuidade da sua intervenção militar no Afeganistão para além
da saída da Al-Qaeda e da morte do seu fundador: a cobiça das imensas reservas
minerais do Afeganistão, sobretudo das “terras raras”, sem as quais não é
possível prosseguir a 4ª revolução industrial.
Os Estados Unidos e a URSS também
assinaram em 1988 uma declaração sobre a garantia internacional de não
intervenção. A ação terrorista de 11 de Setembro de 2001 forneceu aos
americanos o pretexto político para quebrar o compromisso e invadir e ocupar o
Afeganistão. Essa é a parte da história que falta analisar.
Um movimento político difuso e
divido em várias tendência e grupos, maioritariamente conservador, começou a
organizar-se para se opor ao regime da RDAf, apoiando-se nas populações rurais
e nas suas crenças e costumes religiosos, para organizar ações de guerrilha,
logo apoiadas pelos governos do Paquistão e dos EUA. Osama bin Laden, membro de
uma abastada e proeminente família árabe-saudita, liderou então um grupo plurinacional,
que se organizou como uma grande agência de levantamento de fundos e
recrutamento para a causa antissocialista afegã. Esse grupo recrutou
combatentes islâmicos para o conflito, distribuiu dinheiro e forneceu logística
e recursos à guerrilha e aos refugiados afegãos. A sua base no Afeganistão, que
lhe daria o nome, foi o primeiro local
de refúgio do líder da Al-Qaeda Osama bin Laden, após os ataques terroristas de 11
de setembro de 2009. O grupo evoluíra então para a oposição violenta à política
anti Palestina de Israel, que os EUA promoviam e estava contra a instalação de
mais bases militares americanas no Médio Oriente e África, destinadas a controlar
as suas reservas de petróleo e gás e outros recursos estratégicos, que a Guerra
do Golfo lhes proporcionou. Os elementos congregados na sua fundação já eram
suspeitos de outros atentados e devem ser politicamente associados à vaga de
milhares de combatentes em nome do Islão, que as intervenções militares e
políticas dos EUA e de alguns países seus aliados nos países árabes_ do Iraque
ao Egipto e à Síria, fizerem irromper e multiplicar nos últimos decénios.
Em 2 de maio de 2011, por ordem
direta do presidente Obama, as forças especiais dos Estados Unidos realizaram
uma operação na cidade paquistanesa de Abbottabad que culminou com a execução de Osama bin Laden . A
presença da Al-Qaeda no Afeganistão tornara-se residual e a guerrilha Talibã
evoluiu para um movimento político-militar, com um programa de “libertação
nacional” e de instauração de um regime de inspiração religiosa islâmica,
interclassista, que associava a expulsão das forças militares estrangeiras ao
objetivo da paz e da reconstrução económica e moral da sociedade, considerando
o governo negociado entre os senhores da
guerra e os EUA como um mero agente dos interesses imperialistas da NATO, que
pretendiam através dele manter sob a sua mira as imensas e preciosas riquezas
minerais do Afeganistão.
Nos Estados Unidos, a guerra foi
batizada pela propaganda como "Operação Liberdade Duradoura", pois
prometia instaurar a democracia liberal para os afegãos. E a invasão militar foi justificada, segundo a "Doutrina Bush", porque não
havia distinção entre a Al-Qaeda e as nações que a abrigavam (sic)!
Na atualidade, no seu discurso já
citado de 16.08.2021, Biden afirmou que o objetivo dos Estados Unidos em
relação ao Afeganistão era capturar os responsáveis pelos ataques de 11 de
setembro de 2001, que enlutaram a nação americana e o mundo, procurando assegurar que a Al-Qaeda não atacaria de novo
a nação americana, considerando que a “guerra civil” deve ser resolvida pelos afegãos (sic),
O presidente afirmou também que os Estados Unidos deram “todas as opções” ao
exército afegão para combater os talibãs e defendeu, contraditoriamente, que as forças norte-americanas não devem
morrer numa guerra onde “as forças afegãs não têm vontade de lutar”. O objetivo
de instaurar “a democracia”, desapareceu assim do balanço, mas ficou claro que
os EUA julgavam ter deixado para trás um exército da afegãos capaz de defender
os seus interesses.
Uns meses antes, na receção do
último contingente português destacado para aquele país, em maio, o Ministro da Defesa justificava o esforço de
4.500 soldados portugueses ( sem referir
a morte de dois militares), enquanto “…20 anos de contributo nacional para a
estabilidade e segurança de um país que é remoto, mas que pertence ao mesmo
planeta e cujas dinâmicas afetam as nossas dinâmicas na Europa". Prolixo,
revelou: "Ao fim de 20 anos, coletivamente, na NATO, chegámos ao momento
de poder dizer que as forças [da aliança atlântica] devem agora sair do país,
havendo condições para termos alguma segurança quanto ao Afeganistão nunca mais
ser utilizado como uma base para o terrorismo internacional como aconteceu no
final do século passado e início deste século", referiu o ministro. De
acordo com o comunicado divulgado então, a saída das forças militares
internacionais não era sinónimo de um ponto final no envolvimento da NATO no Afenanistõ.
O ministro confirmou que estava a ser estudada a hipótese de uma nova missão no
país, que ainda não estava desenhada (sic).
O cruzamento destes fatos e
discursos, evidencia contradições, que nos revelam uma outra realidade
diferente.
A evolução
política do movimento Talibã
A abertura em 2013 de uma
representação política dos Talibã,
em Doha, capital do Qatar e país neutro,
assinala a fase final da transformação do grupo guerrilheiro num movimento
político-militar. É o ato político que torna visível o processo negocial já
encetado em segredo com os EUA, depois que este país iniciou em 2011 o programa
de retirada das forças da NATO e a sua substituição por um exército
profissional, superiormente armado e equipado, ao serviço do governo
pró-americano e guardião dos seus
interesses.
Para a estratégia dos Talibã
ficava aberta a solução política da guerra, convictos que estavam da vitória
final sobre tal governo.
Os seus porta-vozes, falando em
nome do Emirato Islâmico do Afeganistão, colocaram na mesa de negociações, como
condição fundamental para o fim das hostilidades e a negociação da paz com o
governo, a retirada efetiva e programada de todas as tropas estrangeiras. A contrapartida americana impunha negociações
diretas para a partilha do poder com o governo que haviam criado, na convicção
da sua superioridade militar sobre os combatentes talibãs.
Os seus representantes políticos,
difundiam perante a comunidade internacional o projeto de um Emirato
congregando “todos os irmãos muçulmanos” do Afeganistão como a chave da paz
duradora, a abertura económica e social e o desenvolvimento de relações amistosas
com todos os vizinhos e a comunidade internacional, com base na aceitação do
princípio da coexistência pacífica entre diferentes regimes políticos. Tal
significa dar continuidade ao comércio com a Índia e o Paquistão, que nesta
ordem de grandeza representam 80% das exportações afegãs, mas também, no que
respeita às importações, com o Irão_14,56%, a China_13.92. o Paquistão_12,87%,
os EUA_9,15% . A China, apesar do estado de guerra, incluíra o Afeganistão no
seu projeto da Rota da Seda, tornando-se o terceiro mercado das exportações
afegãs. A abertura e a pacificação prometida pelo novo governo Talibã,
significa igualmente criar condições para a plena realização dos grandes
projetos industriais negociados não apenas com a China_ como a mina de cobre
Ainak, envolvendo o investimento de US $ 2,8 biliões, capaz de gerar empregos
para 20 mil afegãos e uma receita anual de cerca de US $ 400 milhões para o
governo afegão. Mas também com a AFISCO, um consórcio indiano/canadiano que
deveria investir US $ 14,6 biliões no desenvolvimento da mina de ferro Hajigak.
Desenvolver os planos de ordenamento urbanístico das maiores cidades, como
Cabul e Herat, lançados em parceria com o Japão e a França, liderados pela
iniciativa privada. A exploração do gás e petróleo, que tradicionalmente têm na
Rússia e na China os principais mercados…e, obviamente, a continuidade do apoio
do Banco Mundial.
Vale a pena reproduzir aqui, um
extrato do artigo de opinião que Sirajuddin
Haqqani, identificado como o vice-líder
dos Talibãs, publicou no jornal New York Times em 20 de fevereiro de 2020,
intitulado O que nós, os Talibãs, queremos
Estou confiante de que,
libertados da dominação e interferência estrangeira, juntos encontraremos uma
maneira de construir um sistema islâmico em que todos os afegãos tenham
direitos iguais, onde os direitos das mulheres são garantidos pelo Islão - do
direito à educação ao direito a trabalhar – e estão protegidos, e onde o mérito
é a base para oportunidades iguais.
Também estamos cientes das
preocupações sobre o potencial do Afeganistão ser usado por grupos desestabilizadores
para ameaçar a segurança regional e mundial. Mas essas preocupações estão
inflacionadas: relatórios sobre grupos estrangeiros no Afeganistão são exageros
politicamente motivados pelos jogadores belicistas de todos os lados da guerra.
Não é do interesse de nenhum
afegão permitir que tais grupos sequestrem o nosso país e o transformem num
campo de batalha.
Pelo seu lado, os EUA e a NATO
tinham tomado consciência do elevado custo em vidas humanas e capitais pago
pela ocupação da terra afegã, da impossibilidade de obter uma vitória militar
definitiva sobre a guerrilha e do agravamento da crise económica e social do
país, que a partir da invasão passou a reger-se pelo modelo ultraliberal do
mercado, sob a direção do Banco Mundial, que representava a conferência dos
investidores internacionais.
A
queda do governo pró EUA: A falência do modelo económico liberal
O relatório de março de 2011 do “Congressional Research Service” concluiu, após o anúncio de escalada no Afeganistão em 2009, que os gastos do Departamento de Defesa para o Afeganistão aumentaram em 50 %, passando de $4.4 bilhões para $6.7 bilhões por mês. Durante esse tempo, as tropas aumentaram de 44.000 para 84.000, e era esperado que atingissem 102.000, o custo total no ano fiscal de 2011 estimava-se em $468 biliões. A estimativa para o custo de implantação de um soldado dos Estados Unidos no Afeganistão era então de mais de US$1 milhão por ano!
Até 2021, um estudo feito pela Universidade Brown calculou o custo
total da Guerra no Afeganistão para os Estados Unidos num valor em torno de US$
2,261 triliões de dólares. O complexo militar-industrial que controla o
Departamento de Defesa, tinha ido longe demais. Os seus lucros com a guerra,
que se mantêm em segredo, abalavam o orçamento do próprio estado americano!
Os resultados da “economia de mercado livre”, proclamada após o
derrube do governo Talibã, caraterizava-se vinte anos depois, segundo a última análise do Banco Mundial, pelo seguinte quadro geral:
…/…
A economia do Afeganistão é
moldada pela fragilidade e dependência da ajuda. O setor privado é extremamente
restrito, com empregos concentrados na agricultura de baixa produtividade (44%
da força de trabalho total labora na agricultura e 60% das famílias obtêm
alguma renda da agricultura). Os gastos com segurança (segurança nacional e
polícia) são altos, cerca de 28 por cento do PIB em 2019, em comparação com a
média de países de baixos rendimentos de cerca de três por cento do PIB, representando
a despesa pública um total de cerca de 57 por cento do PIB.
A economia ilícita é
responsável por uma parcela significativa da produção, das exportações e do
emprego, e inclui a produção de ópio, contrabando e mineração ilegal.
…desacelerou o progresso
econômico e social, com a economia crescendo apenas 2,5% ao ano entre 2015-2020
e os ganhos em relação aos indicadores de desenvolvimento desacelerando ou - em
alguns casos - revertendo. Os fluxos de ajuda diminuíram de cerca de 100 por
cento do PIB em 2009 para 42,9 por cento do PIB em 2020
O Banco Mundial comprometeu mais
de 5,3 mil milhões de dólares em projetos de desenvolvimento. O Fundo
Fiduciário de Reconstrução do Afeganistão, administrado pelo Banco, angariou
mais de 12,9 mil milhões de dólares.
No mesmo Relatório pode
observar-se, a partir da invasão, um crescimento significativo da
escolarização, só comparável o período da RDAf, mas igualmente um aumento brutal
da pobreza na última década, que atinge atualmente mais de metade da população,
quase duplicando, acompanhada pela redução do PIB per capita no mesmo sentido,
em conformidade com a evolução geral do país, caraterizada pelo progresso desigual nas
cidades e o abandono do mundo rural. O abastecimento de água e saneamento, não chegaram à maioria da população. Mas talvez o seu pior indicador seja a
segunda maior taxa de mortalidade infantil do mundo!.A economia afegã continuou a
assentar nas monoculturas e criação de
rebanhos, apesar de dispor apenas de 12% de terra cultivável e de metade dessa área
em uso; a área das florestas naturais, em crescente devastação, cobria menos de 3% do território. O setor
de serviços crescera com a chegada de grandes contingentes militares, mas foi entretanto
bloqueado pelo abandono progressivo do contingente da NATO.
No entanto, o Afeganistão possui uma imensa riqueza de recursos naturais
inexplorados, incluindo depósitos de gás, petróleo, carvão, mármore, ouro,
cobre, cromita, talco, barites, enxofre, chumbo, zinco, minério de ferro, sal,
pedras preciosas e semipreciosas. e muitos elementos de “terras raras”. Um
memorando do Pentágono afirmava que o Afeganistão poderia tornar-se a “Arábia
Saudita do lítio”. Uma outra estimativa do US Geological Survey, de setembro de 2011,
mostrou que os carbonatitos de Khanashin, na província de Helmand, no país, têm
uma estimativa de 1 milhão de toneladas métricas de elementos de terras raras. As
propriedades químicas e físicas das terras raras são utilizadas numa grande
variedade de aplicações tecnológicas, que vão desde a constituição de
catalisadores à produção de materiais luminescentes e de magnetos. Os metais de
terras raras estão incorporados em aplicações como os supercondutores e os laser.
Estima-se que 97% das terras-raras estejam localizadas na Ásia, especialmente
na China, que detém 2/3 das reservas globais e 87% do total comercializado no
mundo.
A queda do governo
pró EUA. A causa política fundamental:
É impossível trazer a democracia pela guerra
Os soldados americanos destacados
no Afeganistão, quando questionados sobre a sua missão, respondiam com duas
ideias chave: estavam a fazer o trabalho para que são pagos; e a defender os
interesses do seu país. Duvido que estas tropas e as dos aliados da NATO, tivessem consciência de quem
realmente beneficiava com a guerra, mas, sobretudo, que na sua preparação
militar, tenham sido instruídos sobre a história e a cultura dos povos que
constituíram a nação afegã, e a natureza política desta guerra. Quando tal não acontece, um exército em armas
em terra estrangeira, comporta-se como uma força opressora, não consegue
distinguir os combatentes dos civis e diaboliza o inimigo Os seus
comandantes, mesmo colocando-lhes nas mãos as armas de última geração,
deixam-nos politicamente indefesos e induzem-nos a agir sem regras nem moral, e
a aceitar como justificada toda a barbárie dos “danos colaterais”. No cimo
dessa cadeia de comando, no topo da responsabilidade e acima dos chefes militares,
está a presidência e o governo dos seus país de origem.
A atitude do governo americano de
acordar com os Talibãs em 2020 a saída definitiva das suas tropas e da NATO,
sem a presença do governo do Afeganistão no processo negocial, significou tratá-lo
como um fantoche político.
O último sinal do menosprezo pelos comandos americanos dos seus aliados
afegãos, residiu no modo como abandonaram a gigantesca base aérea de Bragan, situada
nos arredores de Cabul. Esta base ganhou fama por albergar não apenas o maior
centro de prisioneiros políticos, mas sobretudo pela prática sistemática da tortura
(reconhecida pelo governo Obama). As tropas americanas saíram sem aviso, numa operação noturna realizada secretamente no
princípio de junho, certamente para diminuir o risco de uma ataque talibã. A
base ficou abandonada e foi parcialmente pilhada antes das forças armadas
afegãs a recuperarem, ainda assim sem acesso imediato aos códigos que a tornariam
operacional,
Mas o mais trágico sinal da
prevalência desta orientação política, seria a prática sistemática do blooding pelas tropas da NATO:
Em julho de 2010, o site
Wikileaks (Fugas de Informação) divulgou 92 mil documentos secretos do exército
dos Estados Unidos, reportando a morte de milhares de civis no Afeganistão, por
militares norte-americanos. O vazamento teve enorme repercussão mundial. A. Wikileaks
passou as informações para o The New York Times, The Guardian e Der Spiegel, e
depois publicou-os na Internet. Os relatórios abrangem o período de janeiro de
2004 a dezembro de 2009. O porta-voz da Wikileaks, Julian Assange, tornou-se então
um alvo a abater…pelo estado americano e resiste hoje, às mãos da justiça do
Reino Unido, contra o pedido de extradição para aquele país…. O mais alto
responsável militar australiano, o general Angus Campbell, descreveu a prática
de ‘blooding’ como “vergonhosa e horrível” Após a “matança ilegal de civis e
prisioneiros”, os responsáveis simulavam um cenário de combate para justificar
a ação criminosa… A Aliança do Norte (sofisma que esconde a realidade dos “senhores da
guerra” locais), aliada dos Estados Unidos, foi igualmente acusada de crimes
cometidos desde 2001, contra os prisioneiros talibãs e da Al-Qaeda… Desde o massacre
de Dasht-i-Leili, em dezembro de 2001, que provocou a morte de cerca de três
mil prisioneiros talibãs, assassinados sumariamente, a lista dos bombardeamentos, prisões e
execuções sumárias não tem fim…Mesmo que só na parte final da guerra tais
crimes tenham sido reconhecidos pelas autoridades, governo e aliados internacionais,
e apenas 10% da população tenha acesso à energia elétrica que é o suporte da comunicação
moderna, estas notícias passaram de boca em boca até às aldeias mais remotas do
país e percorreram todo o mundo muçulmano: raras, fugazes e tardias, mal se
viram e ouviram na comunicação social do Afeganistão e do ocidente.
No campo oposto, sobretudo na
fase de enfraquecimento da sua capacidade militar, dezenas de milhar de sangrentos
atentados bombistas dos Talibãs atingiram
militares opositores e civis.
A guerra total e os seus horrores
lavraram no Afeganistão o mais largo e duradouro campo de morte contemporâneo.
A rendição e deserção em massa das
forças armadas e de segurança do Afeganistão, a sua decisão de não combater,
não foram politica e moralmente compreendidas pelo todo-poderoso presidente
democrata dos EUA, que esteve a um passo de as insultar por cobardia, para além
de as acusar de ingratidão.
Quando os Talibãs irromperam em
Cabul, para garantir a ordem e a segurança, poderiam ter cercado, capturado ou massacrado
o que restava das tropas americanas e da Nato e os seus cidadãos e
colaboradores. Não o fizeram deliberadamente. Antes foram elas que garantiram
ao aeroporto de Cabul as condições logísticas de evacuação, que não tinham sido
previstas nem criadas pelos lideres (formais) da NATO, que se destacam pela sua retórica belicista.
E, ao mesmo tempo, os Talibãs, prometeram a amnistia
geral.
Uma tal conduta de contenção, disciplina e humanitarismo, só mereceu
palavras de desconfiança dos grandes meios de comunicação social a ocidente, esquecidos
como estão dos acontecimentos sangrentos que marcaram a chegada a Cabul dos EUA
e dos seus aliados, NATO e senhores da guerra, em 2001. Maior olvido e omissão
mereceram os combatentes e militantes da República Democrática do Afeganistão,
que foram praticamente exterminados quando da tomada do poder pelos insurgentes
Talibã de primeira geração em 1996, sujeitos ao abandono da URSS, já em decomposição e vítimas
das armas ultramodernas fornecidas pelo governo americano, através da Al-Qaeda e
de Bin Laden!
Os Direitos Humanos
e o uso da comunicação e das redes sociais para os mutilar e mistificar
As oligarquias que controlam a
comunicação social e as redes sociais,
desde o início da Guerra Fria que prosseguem uma campanha para apagar da memória
dos povos e nações o conteúdo do Preambulo e dos 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem_ DUDH.,
elaborada e aprovada em 1947 pelas Nações Unidas, com os contributos decisivos
dos representantes do Canadá e da China, substituindo-os por uma noção vaga de
democracia, que associam à democracia liberal e às suas liberdades formais.
E têm-no conseguido. Mesmo na
academia, nas suas mais democráticas universidades e sobretudo entre as pessoas
comuns, contam-se pelos dedos os que conhecem ou leram o documento fundador dos
Direitos Humanos contemporâneos.
Por liberdades formais quero significar,
por exemplo, que nas democracias liberais se diz que a imprensa é livre e
plural, mas omite-se que são os acionistas das suas empresas_ cada vez mais
concentradas num punhado de grandes grupos internacionais que produzem e
difundem os mesmos conteúdos, quem
escolhe e controla as administrações e redações, conforme os seus interesses
económicos e políticos. Nós, cidadãos, não temos nenhum poder real sobre a
natureza do seu discurso de propaganda comercial, política e ideológica.
O imperativo da paz, a rejeição
do colonialismo, e do hegemonismo, do racismo e da discriminação sexual ou
cultural, atravessam a Declaração Universal
dos Direitos do Homem, desde o preâmbulo e os primeiros artigos, até ao
conjunto dos artigos finais. Essa é a razão porque os seus relatores não podiam
ser os representantes dos governos americano, inglês, ou francês…Humphrey,
representava o Canadá e o discurso mais progressivo dos países a ocidente e
Chang, a China, os países asiáticos, as novas nações que quebravam o jugo colonial
e imperial. Eleanor Roosevelt presidiu à comissão da ONU e aderiu com entusiasmo ao
seu conteúdo, permitindo aos EUA beneficiar dessa imagem, para mera propaganda.
A URSS era vista na altura como a
república multinacional que, com o sacrifício de 26 milhões de soviéticos (compare-se
com as 340.000 baixas americanas), mais contribuíra para uma nova ordem
internacional, liberta da ameaça fascista e militarista, onde cada nação teria o direito a escolher o seu regime político,
da democracia liberal ao socialismo, do federalismo à autonomia e
independência.
O artigo 20º da DHDH não prescreve
a democracia liberal, ao contrário, defende o direito de cada nação escolher o
seu modelo de democracia, que não resume às liberdades formais. Os direitos
trabalhistas e sociais_ emprego, saúde, habitação, segurança social… em nome do
princípio ético de salvaguarda da dignidade humana, são elevados ao estatuto
superior de direitos humanos fundamentais e consignados nos artigos intermédios
da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Uma razão acrescida para a propaganda dos regimes neoliberais os mutilar
e mistificar, que se acentuou com a primeira fase do processo da globalização,
conduzida pelo capital financeiro dominante nos países ricos ocidentais e asiáticos.
Ao ponto de criarem organizações paralelas à Comissão dos Direitos Humanos da
ONU. A mais conhecida e mais bem disfarçada, usa o nome de Human Rights Watch
_HRW, mas nasceu como. Helsinki Watch.
A HRW foi fundada em pela guerra
fria como entidade independente, sob o pretexto de supervisionar, em nome da
sociedade civil, os Acordos de Helsínquia, que reconheceram a geografia
política nascida da II Guerra Mundial. A
Helsinki Watch pode assim instalar a sua sede no coração da URSS, em Moscovo. Foi
criada pelos serviços de inteligência do governo dos EUA e no seu currículo público vangloria-se de ter
usado o tema dos Direitos Humanos para desgastar a imagem do socialismo e
enfraquecer os regimes dos países de leste e a URSS. A velha raposa da contrainformação
travestiu-se depois em HRW.
Mudou de nome, mas não de missão:
a HRW defende causas como os direitos das minorias e das mulheres, e critica os
aspetos mais negativos das políticas das democracias liberais e de outros
regimes face aos direitos humanos, procurando com esta estratégia ganhar
credibilidade. Mas, no essencial, está alinhada com a política governamental dos EUA e, atualmente,
sob o controle do Partido Democrático, que a financia através da Fundação Ford.
É neste contexto que estendeu os
seus tentáculos a todas as regiões do mundo, envolvendo personalidades e
público que a seguem de boa-fé. A sua duplicidade permite-lhe encabeçar todas
as campanhas ideológicas alinhadas com as estratégias de defesa e segurança
nacional dos EUA e, ao mesmo tempo, criticar aspetos conjunturais da ação dos
seus governos, um jogo duplo que às vezes se vira contra os seu mentores.
É o que podemos constatar, no que
concerne à mutilação e mistificação dos Direitos Humanos, quando citamos as palavras do seu diretor
executivo Kenneth Roth, no âmbito da apresentação do Relatório relativo a 2020:
Nos EUA… Tradicionalmente,
estes (Os direitos humanos) são vistos como apenas direitos civis e políticos,
como liberdade de expressão, direito a um julgamento justo, direito a não ser
torturado. Mas acabam aí. (sic)
Ficam por aí. Nos EUA e na maioria dos países da democracia liberal!
…O Governo de Donald Trump…
fomentou o ódio contra as minorias raciais e religiosas…. O apoio à liberdade religiosa
no exterior foi minado pela política islamofóbica interna…
Nas últimas décadas, a chegada
de cada novo residente da Casa Branca trouxe grandes oscilações na política de
direitos humanos dos Estados Unidos. A “ guerra global contra o terrorismo ” de
George W. Bush, com a sua tortura sistemática e detenções sem acusações em
Guantánamo, foi o seu ponto mais baixo
anterior. Barack Obama rejeitou partes importantes dela, embora tenha mantido e
até expandido elementos como ataques ilegais de drones, vigilância intrusiva e
venda de armas para autocratas…”
Mas é o controle dos grandes
maios de comunicação social e das novas redes sociais, que, em última instância,
forma e deforma a opinião pública.
Os Direitos Humanos vão ser
invocados de novo, como arma estratégica de propaganda, no caso do Afeganistão.
Tanto mais que, como se evidencia nesta já longa análise, o corpo político do movimento
Talibã é composto por velhas e novas interpretações das leis e dos princípios
islâmicos, potencialmente em conflito e que deverão resultar em .práticas
contraditórias.
Vejamos um caso exemplar: Em
2000, os Talibã, tinham imposto a proibição da produção de ópio, o que levou à
sua redução drástica em 90%.
Logo após a invasão do 2001, ela
aumentou consideravelmente e em 2005, o
Afeganistão tinha recuperado a sua posição de maior produtor, detendo 90% da produção mundial, dados que
todas as fontes internacionais confirmam. As estimativas do Escritório das
Nações Unidas sobre Drogas e Crime mostravam que 52% do PIB do Afeganistão, sob
o governo atual, era gerado pelo
comércio da droga (“CIA - The World Factbook”). Cerca de 3,3 milhões de
camponeses afegãos estavam envolvidos na produção de ópio. No entanto, a
informação que prevalece na comunicação social escamoteia estes factos e incide
sobre os rendimentos obtidos pelos Talibã com tal comércio.
"O Afeganistão não voltará a
ser um país de cultivo de ópio", A produção será praticamente
"reduzida a zero" de novo. Afirmou o porta-voz dos talibãs,
Zabihullah Mujahid, agora,(17.08.2021) , mas a notícia não passa nos
telejornais.
Estas vozes, dos outros povos que
não pensam como nós e possuem os seus próprios valores morais, continuam
silenciadas e a consciência política dos cidadãos do mundo obliterada pela vaga
de notícias que exploram o primeiro sinal negativo da ação do nosso (?)
“inimigo”, minam o esforço de pacificação e fortalecem, no interior do
movimento Talibã, os seus setores mais reacionários.
Uma tal estratégia de propaganda
foi a adotada pela mesma superpotência derrotada no Irão, para justificar o boicote económico, impiedosamente mantido
mesmo durante a pandemia e atos repetidos de terrorismo de estado, assumidos
pelo próprio governo dos EUA. É um caminho de continuação da guerra, por outros
meios, que não conduz a nenhuma solução política. O povo do Irão, como o povo do
Afeganistão, já mostraram ter em si mesmo o talento e a força para escolher
o seu próprio caminho para o progresso, se liberto de ingerências externas.
As vítimas da omissão e
mistificação da História jazem nos campos de batalha do Afeganistão, lado a
lado, mortos que deviam estar vivos. Pereceram em vão? Sim, se não aprendermos
do seu sacrifício supremo a complexa natureza da guerra moderna e a sua origem
na economia política, que não existe outra economia e na globalização do capital
sem pátria.
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