2.8.11

Os aprendizes de feiticeiro e a agonia da banca nacional

A oligarquia política que se instalou no PS e no PSD enterrou no BPN cerca de 5 mil milhões de Euros, nacionalizando mais de 2 mil milhões das suas dívidas com o Governo Sócrates e, já no governo de Passos Coelho, cobrindo com outros 2 mil milhões os custos da sua privatização e venda ao BCI luso-angolano, por apenas quarenta milhões; ao mesmo tempo que lançava um pesado imposto sobre o subsídio de Natal dos trabalhadores e quadros, isentando os rendimentos financeiros, elevava os custos dos transportes públicos e entregava aos accionistas da PT e da EDP sem contrapartidas o poder que as acções especiais do Estado detinha nessas sociedades, aumentando de imediato o seu valor no mercado.

Em suma, sacrificou a maioria dos cidadãos contribuintes para obter receitas que são insignificantes face ao desperdício dos recursos que despendeu naquelas operações financeiras, ruinosas para o estado democrático.

O passo seguinte vai ser o de garantir com 12 mil milhões de Euros provenientes do empréstimo da CE-FMI-BCE, as responsabilidades financeiras dos bancos portugueses, sobretudo o seu serviço de dívida. Ou seja, as garantias dos empréstimos internacionais da banca já foram nacionalizadas, cada cidadão contribuinte transformado em seu avalista, de novo sem nenhuma contrapartida, nem mais fundos disponíveis para as empresas, nem menores taxas de juro para as famílias, nada.

Entretanto, o BCE e o FMI exigem o reforço das reservas financeiras dos bancos portugueses. Os seus lucros anunciados caem para metade, e mesmo que nos soe aos ouvidos o valor de centenas de milhões de euros em lucros semestrais, é a voz do presidente do BCI que assume o sentido da realidade: a banca nacional não vai poder sobreviver ao jogo impiedoso das regras de mercado financeiro que alimentaram a sua própria natureza, existência e aparente prosperidade.

Todas aquelas benesses e privilégios, serão inúteis. A banca portuguesa, em conjunto, não chega a 2% do capital financeiro existente na Europa. Vivemos hoje o princípio do fim dos bancos privados nacionais, que a tomada do Santander Totta anunciou. Já não há espaço no mercado financeiro global para as famílias nacionais da banca, todo poderosas no seu pequeno mundo português, mas irrelevantes no plano internacional. Resta-lhes apenas vender as suas posições e fá-lo-ão sem pruridos morais mais cedo que tarde, talvez conservando um lugar de honra no Conselho de Administração e, certamente, ficando individualmente mais ricos, como cresceram, em 2010, 17,8% as maiores fortunas nacionais, em plena crise da nação portuguesa!. O mesmo caminho percorrerão rapidamente os accionistas portuguesas das grandes empresas, como a PT, EDP, Galp, etc…Aí, os seus gestores, pagos a peso de ouro, continuarão a fazer o papel, desculpem o francesismo queirosiano, de “fou du roi”!.

A salvação do país não virá pois da oligarquia política e financeira portuguesa. E é imprevisível a dimensão da tragédia económica e social que estão a gerar.

Há no entanto uma esperança no horizonte: nos EUA, o presidente Obama, perante a ameaça de default, anuncia o fim de uma era: talvez que nem ele próprio compreenda, completamente, as exigências dessa nova política para a América. O seu grande, mas imperial país, já não pode continuar a dominar o mundo como dantes!

E a esperança europeia, poderá materializar-se de novo na derrota em cadeia dos conservadores e cúmplices políticos do capital financeiro sem pátria, que governam a Alemanha, a França, a Itália e a Inglaterra…

Será então a nova esquerda europeia que poderá salvar o actual governo português do fracasso inevitável.

Trágico paradoxo. Como aconteceu recentemente com a troca de casaca dos líderes da oligarquia política de Portugal, que aderiram num ápice ao programa de renegociação da dívida soberana, quando na véspera o diabolizavam como uma provocação esquerdista, ainda veremos essa geração de líderes, sem pensamento político próprio, colar-se pragmaticamente às reformas sociais e democráticas, que as sequelas da cegueira neo-liberal tornou imperativas para salvar o mundo da catástrofe iminente.

Como sempre aconteceu em Portugal, o preço a pagar pela nação será demasiado pesado e a esquerda, perdida na sua incapacidade para elaborar uma alternativa de poder e um programa de transição para o socialismo, pouco terá contribuído para a viragem política e, sobretudo, para minorar o sofrimento do povo que pretende representar politicamente.


1 de Agosto de 2011

AdSQ

Sem comentários: