11.8.11

O pesadelo neo-liberal faz nascer monstros

O que vimos nas ruas de Londres e depois Manchester e outras cidades inglesas foram jovens de todas as etnias.
O governo conservador afirma que os motins foram o resultado da falta de polícia nas ruas e são culpa do falhanço educativo das famílias e não da sua política.
O primeiro movimento de revolta foi uma reacção à morte de um cidadão, pai de quatro filhos, com um tiro no peito, abatido pela polícia num dos bairros populares, alegadamente após ter disparado contra os agentes, mas onde o inquérito em curso já desmentiu esta versão.
As ruas foram depois tomadas por gangs organizados e por uma multidão espontânea de jovens e adolescentes, que se envolveram activamente na pilhagem de lojas de produtos da moda e na violência gratuita que incendiou sobretudo os estabelecimentos comerciais.
Grupos de vizinhos formaram então patrulhas de bairro para proteger os seus bens, a segurança das famílias e as suas instituições comunitárias e desencadeou-se um movimento de apoio à polícia metropolitana.
Estes gangs crescem entre os jovens desempregados, à medida que a sociedade inglesa se torna mais competitiva e mais rica, mas também mais desigual e as claques de futebol, infiltradas pela extrema-direita, transformam-se em escolas de violência sectária que recruta os seus membros entre esta juventude sem projecto de vida e com menos oportunidades, à medida que a crise financeira destrói emprego, a unidade familiar e as políticas sociais do estado.
Estes motins, este ambiente de revolta, ocorreu recentemente em Paris e depois em Atenas e tornou-se endémico em Itália (1/3 dos desempregados são jovens), aflora na Rússia em episódios de violência racista e teve o seu equivalente em Los Angels anos atrás.
Mas gera também tragédias incontroláveis de brutal violência, como no massacre perpetrado pelo terrorista norueguês de extrema-direita ou os assassinatos múltiplos de colegas por jovens escolares americanos e europeus.
Nas circunstâncias actuais, a politização dos jovens árabes que lideram a revolução democrática em desenvolvimento, ou dos que ocuparam a Plaza Mayor de Madrid, ou dos que deram corpo em Portugal às manifestações de 12 de Março, constitui a única válvula de segurança da nossa comum civilização, dominada pela oligarquia financeira e pelo fetiche do dinheiro e dos bens de marca.
Os governos conservadores, que prevalecem na Europa desde há meio século, precisam de despertar rapidamente do seu sono monstruoso e a esquerda de construir a sua alternativa de sociedade. Ou a desordem crescente, acordará as nossas magníficas, mas condenadas, cidades modernas.

AdSQ

11.08.2011

Sem comentários: