O mais recente e avançado porta-aviões da Marinha dos EUA partiu para a sua primeira missão com aliados e parceiros nas áreas de responsabilidade da 2ª e 6ª frota do Oceano Atlântico e no Mar Mediterrâneo, para se exercitar com as marinhas de guerra do Canadá França, Alemanha, Holanda, Espanha, mas também da Dinamarca, Finlândia e Suécia, desenhando já o novo plano de batalha da NATO alargada, com o teatro de guerra da Ucrânia no horizonte próximo.
Projetado para operar durante
cinquenta anos, o seu custo de
construção atingiu 13.300 milhões de dólares. Mas é necessário
adicionar-lhe o custo colossal do grupo de ataque que o apoia, composto por uma
flotilha de navios de superfície e submarinos. É um monstro de 100.000
toneladas, impulsionado por dois reatores nucleares, que lhe permitirão avançar
mais de 1.100 Km por dia, uma guarnição
de 4.300 operacionais e 2.600 técnicos, com mais de 330 m de comprimento, 76 de
altura e um convés de voo com 78 m de largura. Transporta cerca de 80
aeronaves, entre aviões, helicópteros e aeronaves não tripuladas, servidas por
um sistema de lançamento eletromagnético e protegidas por sofisticados sistemas
de radar, mísseis terra ar, metralhadores e outras armas eletrónicas, capaz de
realizar 270 missões diárias.
O custo real em operação tem de
ser atualizado, mas foi estimado em 6,5 milhões por dia. E se considerarmos os
seus sistemas de armas, os gastos elevam-se ainda mais: um míssil pode custar 1
milhão e 789.00 USD _ RIM-162 Evolved SeaSparrow Missile (ESSM). Cada avião Navy's
F-35Cs, 9,9 milhões de dólares.
Os dois próximos porta-aviões
desta classe, serão entregues em 2024 e 2028. Em 2019, o Congresso concordou em
comprar o terceiro e o quarto porta-aviões da classe Ford.
Um gigantesco
monopólio tentacular
A Newport News Shipbuilding, é o
único estaleiro na América capaz de construir porta-aviões de grande porte
movidos a energia nuclear. Para a grande maioria dos componentes usados na
construção de navios de guerra dos EUA, há apenas uma fonte doméstica
qualificada. A Marinha e a indústria estabeleceram a estratégia chamada de
2-3-4 . O estado contrata duas fornecedoras de cada vez, com três anos de
financiamento alocado para a compra antecipada de componentes de longa duração para
cada navio, e um novo processo é iniciado a cada quatro anos. Planeamento e
racionalidade na gestão, no reino do neoliberalismo, sem dúvida, mas, também
financiamento garantido e em grande, às empresas beneficiadas, ausência de
competição e de risco para os acionistas.
A Newport
News Shipbuilding, do grupo HII, é uma das duas empresas dos EUA que
fabricam submarinos nucleares, e está a produzir os submarinos de ataque da classe Virgínia, com
a parceria da General Dynamics Electric Boat. Prepara o lançamento do programa
de construção dos novos submarinos de mísseis balísticos da classe Colúmbia.
Com aproximadamente US$ 4 mil milhões em receitas e mais de 23.000
funcionários, é o maior empregador industrial da Virgínia e a maior empresa de
construção naval dos Estados Unidos.
A Ingalls Shipbuilding é uma
divisão da HII, com quase 11.000 funcionários e o maior empregador industrial
no Mississippi, tal como um dos principais contribuintes para o crescimento
econômico do Mississippi e do Alabama. A Ingalls desenvolve e produz navios de
guerra tecnologicamente avançados e altamente capazes para a Marinha dos EUA,
Guarda Costeira dos EUA, Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA e clientes
internacionais e comerciais, produzindo quase 70% da frota de navios de guerra
de superfície da Marinha. Ingalls é o construtor dos destroieres de mísseis
guiados da classe Arleigh Burke (DDG 51), os navios anfíbios de grande
plataforma da classe America (LHA 6); e o único construtor dos navios de
assalto anfíbio da classe Navy San Antonio (LPD 17) e da classe Legend National
Security Cutters para a Guarda Costeira.
As duas empresas do grupo estão a
recrutar em 2022, mais 10.000 construtores navais, um aumento de um quarto dos
seus atuais efetivos. Este crescimento e o impacto económico nos estados onde
estão implantados, criam uma larga base social de apoio, para as indústrias da
guerra. O seu estatuto de monopólio financiado pelo estado, atrai toda a classe
de acionistas e amplia essa base social de suporte. Bill Gates, comprou no ano
2000 uma participação de 8% na Newport News Shipbuilding através da Cascade
Investment LLC, a sua empresa de
investimento, no valor de 68,9 milhões de dólares. Em 2001, a gigante do armamento Northrop
Grumman Corporation (NYSE:NOC), comprou a Newport News Shipbuilding Inc. (NYSE:NNS).
Com a Newport News, criou uma empresa gigante
de construção naval, com 4 mil milhões de capital acionista, a HII.
Do negócio da guerra
Reler:http://portugaldiarioilustrado.blogspot.com/2022/04/em-nome-da-paz-e-da-solidariedade.html#more
São americanas as cinco maiores
empresas da indústria de guerra: Lockheed Martin, Raytheon, General Dynamics,
Boeing, Northrop Grumman. Durante a guerra no Afeganistão receberam contratos
do governo no valor de 2,02 milhares de milhares de milhões, ou seja, 2.02 biliões
de dólares. Constituem lobbies tão poderosos que chegam a absorver 1/3 do
orçamento do Pentágono. Graças à sua influência, o orçamento militar dos EUA
supera várias vezes os orçamentos militares de qualquer outro país e, nos
últimos cinco anos, as vendas de armamento ao estrangeiro cresceram 14%,
enquanto baixavam 4,6% no contexto mundial. Desde que a tensão aumentou na
Ucrânia, no final de 2021, a Lockheed Martin aumentou os seus preços de venda
de material militar 28,83%, tal como a Raytheon, 17,95% e a Northrop Grumman,
27,88 %, que está no centro deste artigo por ter absorvido a Newport News
Shipbuilding.
Ausentes do ciclo infernal de
despesas militares e sobrecarga orçamental do estado americano, estão as
reflexões críticas sobre a necessidade de manter uma tão evidente superioridade
dos EUA neste domínio militar, face ao poder naval dos países a quem as estratégias de defesa e
segurança nacionais dos EUA classificam como adversários ou inimigos. A China
possui duas unidades concebidas para a defesa das suas águas territoriais. A
Rússia, terá o seu único porta-aviões operacional apenas em 2024.
É óbvio então, que o grupo de porta-aviões constitui não uma
arma estratégica de defesa marítima dos EUA, mas sim uma arma ofensiva capaz de
se projetar para qualquer área do planeta e intervir nos teatros de guerra
continentais, num quadro político de intimidação, coação e intervenção
imperialista e hegemonista, coberto politicamente pela chamada da NATO ao
teatro de operações, como o testemunham as guerras contra a Jugoslávia, o
Iraque, o Afeganistão…
Mas, mesmo à luz de dois séculos
de ingerência e intervenção militar noutros países, esta opção representa um
esforço financeiro do estado americano, que não só é excessivo, mas,
provavelmente insustentável. E revela um contexto político que evidencia a
captura do estado e dos seus orçamentos, pelo complexo militar-industrial dos
EUA, que se vai fundindo com o setor financeiro dos fundos abutre e bancos
gigantes, imbricados com a especulação imobiliária (como a última crise
financeira do subprime revelou), integrando também o setor dos combustíveis
fósseis/nucleares, que quer prevalecer e eternizar-se, negando a gravidade da
crise ambiental.
A sombra dos
couraçados
Essa ânsia de lucros
incontroláveis, parece estar a obliterar a própria racionalidade e proficiência
da estratégia militar dos EUA: os países que as suas estratégias de defesa e
segurança nacional colocam no campo de opositores, optaram pelo desenvolvimento
de armas submarinas, mísseis hipersónicos, uma nova geração de aviões de ataque
furtivos e letais, novas armas eletrónicas, de laser e uma sofisticada panóplia de drones, de
muito menor custo e vulnerabilidade.
Terão as unidades navais que
acompanham estes porta-aviões colossais, capacidade para neutralizar um ataque
maciço de mísseis ou sequer de um enxame interminável de drones de última
geração?
Não terão já hoje, esses monstros
marinhos, símbolos da barbárie do século XXI, que abrasam os céus das cidades e
países indefesos, o mesmo destino marcado dos “inexpugnáveis” couraçados do século XX, condenados
precocemente à sucata?
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