Chegou a vez de Passos Coelho... após dizer: “Estamos com uma demografia decrescente, como todos sabem, e portanto nos próximos anos haverá muita gente em Portugal que, das duas uma: ou consegue nessa área fazer formação e estar disponível para outras áreas ou, querendo manter-se sobretudo como professores, podem olhar para todo o mercado da língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa”, explicou.
Todos os partidos de esquerda exprimiram a sua indignação, acusando-o de não assumir as suas responsabilidades na criação de uma alternativa de emprego para os docentes e de promover a emigração dos professores. Mesmo na sua área política foi avisado de que ia “borrando a pintura”.
Mas analisemos toda a declaração do primeiro-ministro e o seu contexto: as críticas não referem a primeira parte do que afirmou, isto é, que é necessária a reciclagem nas formações e que há um recurso no mercado de emprego dos países lusófonos, que há muito existe e está em carência crescente.
Anteriormente, José Sócrates recebeu um coro de censuras porque teria afirmado que as dívidas não são para se pagar, quando se limitou a evidenciar que os estados são geridos com uma dívida crónica e que ela é muitas vezes necessária para promover o desenvolvimento global do país, frisando que não deve ser excessiva e que o investimento privado só por si não consegue realizar esse objectivo.
Já o vice-presidente da bancada parlamentar do PS, foi igualmente acusado de não querer pagar a dívida pública, quando se insurgiu e sublinhou-o bem, contra as condições desses empréstimos e defendeu a concertação dos países esmagados pela dívida face ao cartel dos bancos credores.
Da esquerda à direita o debate político resvala sobre o fio da navalha da demagogia populista. O coro, abaixo os políticos, todos os políticos, alimenta-se destas proclamações radicais.
A partir das afirmações em causa, podíamos e devíamos questionar o primeiro-ministro e sobretudo todos os partidos que afirmam ser os do arco do governo, sobre o que propõem para fazer face ao futuro demográfico de Portugal ( menos 1 milhão de jovens e mais 900.000 idosos, no censo de 2011), a previsão da queda da nação para 7,5 milhões de habitantes num prazo de apenas algumas dezenas de anos, num país que não será para velhos nem para novos e para forjar o mais amplo consenso para suster e resolver este problema, que é de sobrevivência nacional!?
Podíamos questioná-lo sobre as consequências da liberalização cavaquista do ensino superior, que permitiu a proliferação de universidades de baixo investimento, que saturaram as Humanidades, em paralelo com o aumento tendencial dos alunos por turma no ensino básico e secundário, que é condição pedagógica insuportável, geradora da indisciplina, do insucesso e da baixa qualidade das aulas, mas também do desemprego entre os docentes, chamados a leccionar turmas de 28 alunos…e, isso, iria proporcionar o debate político e elevar a consciência política dos cidadãos!
Poderíamos perguntar aos líderes socialistas em causa, porque seguiu o seu partido a táctica suicida de abandonar a Grécia à sua sorte, depois a Irlanda, proclamando sempre que éramos melhores que os gregos, em vez de concertar políticas e construir uma frente comum de negociação face ao sistema financeiro internacional, que hoje já não poupa sequer os seus pares nacionais, bancos que perderam a confiança das praças financeiras e arruinaram os pequenos investidores, portadores de acções sem valor?
E questioná-los porque negociaram e renegociaram, segundo as auditorias do Tribunal de Contas, mais de 100 parcerias público-privadas e empreitadas, em valores estimados de 50.000 milhões de euros, ruinosas para o estado e à margem das regras de risco e concorrência do mercado e do rigoroso cumprimento das leis da República? E isso iria proporcionar o debate político e elevar a consciência política dos cidadãos!
A comunicação social trata estas questões como se a informação só tivesse duas faces, a do escândalo político e a do crime.
A culpa esmagadora da dívida, que seria do estado social e o dever de todos os contribuintes, trabalhadores e empresários, de a pagar com austeridade.
A bondade dos credores e senhores da Europa e o dever da submissão nacional.
Nem uma imagem televisiva, nem uma notícia documentada, sobre a Iniciativa de Auditoria Cidadã à Dívida Pública, que reuniu em Lisboa a sua Convenção. E esta é a questão chave para a solução da crise, do progresso social e da sobrevivência da democracia em Portugal.
Porquê?
Sem comentários:
Enviar um comentário